quarta-feira, 22 de maio de 2013

PARTE II. PASTOREANDO UMA IGREJA QUE JÁ NÃO EXISTE MAIS

A IGREJA E OS SÍMBOLOS DE FÉ

Recentemente questionei um público que tinha, em média, 20 anos de vida eclesiástica, o que era a Confissão de Fé e a primeira resposta obtida foi que é “a responsabilidade cristã de não negar o Senhor Jesus”. Perguntei ao restante se concordavam com aquela resposta e alguns concordaram, enquanto os demais permaneciam impassíveis. Sem dúvida foi uma resposta “piedosa”, mas ao mesmo tempo estarrecedora e reveladora.
Mais estarrecedor se torna o fato se observamos que na plateia havia presbíteros, oficiais da Igreja, com mais de uma dezena de anos de oficialato que desconheciam em absoluto os símbolos de fé adotados pela Igreja Presbiteriana do Brasil.
Como já abordamos a necessidade de recepção da bíblia como autoritativa, tratamos agora dos documentos criados pelo homem como exposição desta palavra mediante profunda reflexão e estudo: a Confissão de Fé de Westminster e os Catecismos, Maior e Breve.
Deve a Igreja submeter sua consciência a tais documentos? Não a qualquer documento, mas é lícito que o faça em relação a documentos que expressam da melhor maneira possível e com alto grau de fidelidade o conteúdo das sagradas Escrituras.
A Igreja Presbiteriana se define como uma Igreja confessional e busca encontrar esta característica nas diversas denominações, tecendo-lhes pesadas críticas e já tendo chegado ao ponto de engaveta-las, com a sua filosofia subjacente ou até mesmo a absoluta falta de parâmetros doutrinários dentro de uma perspectiva que eles próprios não pretendem para si. É justa esta perspectiva? Por contraditório que possa parecer, a resposta é: sim, é justo, mas não, não é justo. Como assim?
É uma cobrança justa na medida em que uma instituição deve ter uma identidade claramente explícita para que seus adeptos e simpatizantes saibam exatamente do que estão fazendo parte.
Todavia é uma cobrança injusta quando parte de quem apenas teoricamente professa possuir tais documentos de identificação, mas na prática os desconhece e quando os mesmos lhe são apresentados os rejeitam, ou tacitamente ou, mais honestamente, mediante negativa e confronto.
Sejamos honestos, como instituição afirmamos uma confessionalidade mas, na prática, esta afirmação é, inúmeras vezes, hipócrita. Lamentavelmente são obras raramente encontradas nas prateleiras, e, em boa parte destas elas permanecem em um canto empoeirando.
Vale lembrar que não são livros difíceis de serem entendidos, pois ao menos um destes documentos foi escrito para crianças, e, ninguém ousaria admitir que presbíteros e pastores do séc. XXI são menos inteligentes e incapazes que as crianças do séc. XVI. Ninguém admitiria isto. Ninguém admitiria ser chamado de menos inteligente que aquelas crianças.
O problema não é de desinteligência, mas de rejeição. O problema é de desconhecimento, isto é, de esquecimento, de falta de interesse, ou, para ser mais direto e mais preciso, de falta de confessionalidade.
Em primeiro lugar esta irresponsabilidade é fruto de uma liderança mal formada, leniente e relapsa que se omite de afadigar-se no estudo e no ensino, afirmando que “a Igreja não quer”, e não quer mesmo, mas se não for ensinada ela nunca vai aprender. Se não lhes for apresentada ela nunca vai desejar ou amar, nunca vai se interessar a ponto de amar e obedecer.
Esta falta de confessionalidade é fruto de concílios lenientes que não supervisionam adequadamente a obra que está sob seus cuidados, enfatizando muito mais eventos, muito mais o que se vai fazer, qual a próxima atividade [que inúmeras vezes gera cansaço e conflitos] e nunca qual a razão essencial de tais ações.
Para que a responsabilidade não fique apenas sob os ombros da liderança [embora sejam os maiores responsáveis] é verdade que a Igreja não quer ser confessional. É verdade que a Igreja não quer ser confessional. É trabalhoso, exige dispêndio de tempo, de esforço, e o que o povo mais almeja é ter, é fazer em busca de resultados a curto prazo.
E os resultados da confessionalidade só são experimentados a longo prazo. Podemos verificar isto de uma maneira bem simples: quando precisamos de um ensinador em um momento de crise ou emergência olhamos primariamente e imediatamente para um ancião formado em igrejas onde ainda havia confessionalidade.
Onde está esta Igreja que ainda possui confessionalidade? Com raras exceções deu lugar ao pragmatismo que tem preguiça de refletir a sua fé. Com raras exceções esta é uma Igreja que não existe mais. Talvez por isso haja grande aceitação por liderança agradável, amiga, engraçada e prudente [ou deveria preferir a expressão “politicamente correta”], mas rejeita a biblicidade e a confessionalidade.

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