A IGREJA E A AUTORIDADE
Por favor, sejam pacientes pois é necessário aprofundar um pouco mais. A Igreja Presbiteriana vive uma grave crise de autoridade, ainda que sob uma capa de verniz conciliar. A Igreja não tem autoridade coercitiva, ela não tem autoridade para obrigar ou proibir qualquer ação. A autoridade que a Igreja possui é espiritual, moral e institucional, isto é, para quem rejeita a autoridade moral e espiritual da Igreja esta pode, em seu máximo grau de uso da autoridade, usar o poder e direito que tem de excluir de seu rol quem dissidiosamente rejeita sua autoridade.
De onde vem sua autoridade, afinal? Não é de sua antiguidade, pois práticas antigas podem ser facilmente abandonadas por não se coadunarem com a luz da revelação e até mesmo em relação aos costumes de um certo tempo.
Esta autoridade também não pode vir de força política ou militar, porque a Igreja é uma parte do reino de Deus neste mundo, mas não é um reino deste mundo, ela não é nem pode ser mantida por coisas deste mundo - e muitas vezes ela está inserida em ambientes em que a força política e militar lhe é hostil ou, no mínimo, indiferente.
Como fruto de uma cultura individualista e liberacionista encontramos na Igreja grave crise de autoridade. Mas, vamos ser um tanto quanto prudentes sem sermos politicamente corretos [quase sempre biblicamente descomprometidos] e tenhamos a coragem de admitir que não é a cultura circundante a principal causadora desta crise de autoridade.
A causa real pode e deve ser buscada nos dois aspectos precedentes: o abandono de sua biblicidade e de sua confessionalidade. Sem a autoridade da bíblia, ou com a autoridade da bíblia reduzida e submissa ao juízo particular e personalístico na verdade já não existe mais autoridade final, já rejeitou-se o seu juízo e julgamento.
Sem os fundamentos, de que maneira poderá a justiça ser estabelecida? A quem deve ou poderá apelar o justo [Sl 11.3: Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?]?
Continuemos. Sem a autoridade da bíblia a autoridade dos símbolos de fé, os credos, as confissões, os catecismos e demais documentos que balizaram a vida da Igreja por alguns séculos perde-se na névoa do voluntarismo, ou seja, obedece-se apenas àquilo que é conveniente.
Tal voluntarismo pode ser observado em todos os níveis da vida eclesiástica. Os concílios são sistematicamente desobedecidos pelas autoridades da Igreja, especialmente, e lamentavelmente, pelos líderes ordenados. O exemplo vem de cima. Se a Igreja rejeita a palavra, se rejeita as confissões, se a liderança escolhe a quem e ao que obedecer, se a questão é voluntarismo, então os membros sentem-se absolutamente livres para submeter-se ou não a qualquer forma de autoridade.
Perde-se até mesmo a ressalva que se faz quanto ao que chamo de “direito de desobedecer”, isto é, a promessa que os membros fazem de obedecer às autoridades apenas enquanto estas forem fiéis às sagradas Escrituras. Mas a Escritura já foi abandonada. Já não há mais fonte absoluta de autoridade - já não se tem mais como saber se as lideranças estão sendo fiéis ou não, porque não há mais como julgar se há ou não fidelidade.
É risível que autoridades que rejeitam autoridades queiram que a Igreja se lhes submeta. É um contrassenso, e a membresia da Igreja não é cega a esta realidade. As desobediências dos líderes gerarão comunidades desobedientes, voluntaristas e, em situações extremas, rebeldes, que ignorarão toda e qualquer forma de autoridade e disciplina eclesiástica.
O ovo da serpente só pode gerar serpentes. E a Igreja tem acalentado este ovo em seu seio, com algumas serpentes já tendo eclodido e picado a Igreja em seu próprio coração. Em lugar da autoridade bíblica outra autoridade será colocada, e normalmente a autoridade que se estabelece é a de personalidade, humana e egocentrada de líderes carismáticos - e isto explica tantas crises eclesiásticas, tantos traumas e tantas rupturas institucionais.
Mencionamos o princípio que a obediência aos símbolos de fé é voluntária, mas é uma obediência fruto de uma transformação interior subjacente, fruto da ação do Espírito Santo na vida da Igreja, do individuo. E esta transformação é fruto da Palavra de Deus. E esta palavra tem que ser fielmente interpretada. E esta interpretação deve ser eficientemente anunciada.
Isto nos remete ao quarto e ultimo aspecto que pretendo abordar, já a guisa de considerações finais, que é a necessidade de coerência entre o que se afirma crer e como isto influencia a maneira de agir daquela que é, essencialmente, submisso à Palavra, conhece os termos de sua fé e, nesta base, submete-se consciente e voluntariamente às autoridades humanas embasadas nas autoridades espirituais.
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