A IGREJA E A COERÊNCIA ENTRE O “CRER”, O “SER” E O “AGIR”
Pode parecer contraditório mas a Igreja está sendo absolutamente coerente com o que ela acredita ser [Pv 23.7: Porque, como imagina em sua alma, assim ele é; ele te diz: Come e bebe; mas o seu coração não está contigo]. Permita-me explicar: a Igreja torna-se uma grande massa sem forma definida, uma grande tenda que abriga todo tipo de tendência em sua grande maioria desobedientes às autoridades anteriormente mencionadas: Escrituras, símbolos de fé e oficiais.
Já se caminhou uma grande distância nesta direção e o retorno é difícil, custoso e demorado. Ilustro esta verdade com uma viagem feita alguns anos atrás, de carro, entre o Pará e a Bahia. Resolvi ir por um caminho novo, mais curto, e cometi três equívocos: uma grande vontade de chegar logo [expressa na velocidade impressa ao veículo]; distrações [perdi uma entrada ao cruzar com várias carretas no exato momento em que deveria tê-la visto] e, finalmente, falta de balizas, de sinalização, de manutenção e de placas. Isto significou percorrer 240km a mais - mas houve um momento em que uma nova informação foi dada com conhecimento e autoridade, e o retorno teve que ser empreendido. Ainda sem as balizas, foi oferecida uma nova orientação: a entrada ficava a exatos tantos quilômetros de onde estávamos. Havia um novo e confiável referencial: o odômetro que dizia exatamente o quão longe ou perto eu me encontrava de onde precisava estar.
Isto se aplica à Igreja. A Igreja que deveria existir já andou para muito longe do que ela deveria ser. Ela tem sido coerente com suas escolhas - tem rejeitado toda e qualquer autoridade que não faça aquilo que gostaria de ver sendo feito. Só que, por causa disso, ela não tem sido coerente com o que ela deveria ser, com sua natureza original e teleológica.
Mas isto tem um custo que é o de reconhecer que não é o que deveria ser, que não está onde deveria estar, ou, mais diretamente, que é falha em atingir os alvos que lhe foram propostos pelo seu Senhor.
Como fazer isto? Como empreender este retorno? Sugiro três passos, ainda que existam outros, possivelmente. O primeiro envolve uma análise do que a Igreja tem crido, para ver se ela, de fato, pode dizer-se segura [II Tm 1.12: ...e, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia]. Certamente será exigida uma transformação, uma mudança nas suas crenças, mas não sem um norte diretivo, e isto nos conduz ao ponto seguinte, que é o de adequar a crença existente à fé verdadeira, alicerçada na única norma realmente autoritativa: a Palavra de Deus.
Ao aceitar a autoridade das Escrituras a Igreja estará finalmente pronta para ser coerente, mas uma coerência não apenas na sua prática, mas entre aquilo que ela deve ser, o que está se tornando e qual o meio para que ela não se desvirtue: as autoridades que Deus estabeleceu mediante a própria bíblia: seus oficiais individualmente e, quando reunidos, suas decisões e orientações daí resultantes [determinações conciliares, normativos e os símbolos de fé].
Por onde começar? Pela membresia ou pela liderança? O senso comum apontaria para a liderança, mas ela já está estabelecida e intrinsecamente comprometida com esta Igreja que já não existe mais. Alguém precisa descobrir que está sendo mal alimentado [e tenho visto que é mais fácil deixar-se enganar do que deixar-se convencer de que está sendo enganado] e deve ansiar por alimento verdadeiramente puro, consistente - e deve começar submetendo-se ao próprio Deus mediante a sua Palavra reconhecendo nela a voz de Deus, rejeitando toda e qualquer voz dissonante por mais sirênia que ela possa soar aos ouvidos - e esta voz melodiosa sempre terá ouvidos ansiosos para ouvir, porque tomados de coceiras [II Tm 4.3: Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos].
Da submissão à Palavra a Igreja será levada a entender, a receber e a amar o que a Igreja tem dito a respeito desta palavra com a ressalva de que são documentos humanos sujeitos à ordenança superior de origem divina.
Autoridades constituídas que proclamem o conselho divino com fidelidade, que se submetem voluntaria e conscientemente a voz da Palavra devem ser vistos com legitimidade e devem ser honrados por sua fidelidade, cumprindo assim os seus votos feitos no batismo e na profissão de fé.
Como pastorear uma Igreja que já não existe mais? Pastoreando a Igreja que deve existir. Pastorear a Igreja que não existe do jeito dela, da maneira que ela quer ser pastoreada, significa a sua morte - é o que ela quer, mas não é o que ela precisa.
E o trabalho de fazê-la é semelhante ao de tirar gato preso em árvore: o gato precisa ser resgatado, mas, em seu receio, arranha, fere o salvador. Mas o resultado final é o abraço agradecido da garotinha dona do gato. É isso que os pastores devem almejar: serem fiéis e, no fim, ouvirem do seu Senhor as palavras de aprovação pelo serviço executado [Mt 25.21: Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor].
Nenhum comentário:
Postar um comentário