segunda-feira, 28 de julho de 2014

UMA IGREJA DIFERENTE: A IGREJA DE DEUS

23 Uma vez soltos, procuraram os irmãos e lhes contaram quantas coisas lhes haviam dito os principais sacerdotes e os anciãos.
24 Ouvindo isto, unânimes, levantaram a voz a Deus e disseram: Tu, Soberano Senhor, que fizeste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há; 25 que disseste por intermédio do Espírito Santo, por boca de Davi, nosso pai, teu servo: Por que se enfureceram os gentios, e os povos imaginaram coisas vãs?
26 Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o seu Ungido; 27 porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, 28 para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram; 29 agora, Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra, 30 enquanto estendes a mão para fazer curas, sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo Servo Jesus.
31 Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus.
At 4.23-31

O que esperamos encontrar quando procuramos uma Igreja? O que você espera encontrar quando sai de casa e se dirige a uma instituição que chama a si mesma de Igreja do Senhor Jesus Cristo? O que você espera encontrar, nesta noite, ao entrar nesta Igreja Presbiteriana?
É provável que não tenha sido algum convite feito através de um carro de som? Também não foi a promessa de algum milagre para sua vida, ou a presença de algum “grande servo de Deus” - ainda que eu não entenda um milagre oferecido em praça pública mas entregue somente na Igreja em dia e hora marcado, e somente em uma determinada Igreja. Também é menos inteligível ainda a frase contraditória sobre um grande servo, porque, se é grande, não é servo, e, se é verdadeiramente servo, não pode ser grande.
Espero que sua busca seja por um encontro verdadeiro com o Deus verdadeiro. Aqui você não ouvirá falsas promessas, nem promessas verdadeiras que não podem ser cumpridas.
No entanto, eu gostaria que você encontrasse uma Igreja que se parecesse com a Igreja descrita no livro de Atos. Antes que você pense nos eventos extraordinários, milagres, revelações, curas eu quero lhe falar de uma outra característica desta Igreja que é fundamental. É claro que os sinais foram feitos por Deus através dos apóstolos e que demonstravam que a mensagem sobre um Jesus ressurreto, vivo, glorificado era uma mensagem real sobre um Deus real, e não mais um dos muitos mitos que eram contados por todas as partes do mundo greco-romano (At 3:16).
Que característica é esta? Apesar da presença dos sinais não foram os sinais que tornaram a Igreja forte. Não foram os sinais que funcionaram como o cimento que uniu os cristãos e impressionou o mundo. A mensagem da cruz era que, em Cristo, o mundo estava reconciliado com Deus (II Co 5.18-19).
Ora, se o mundo estava reconciliado com Deus, era natural que aqueles que, do mundo, foram chamados para Cristo não fossem mais uma multidão de estrangeiros, mas uma nova comunidade (Ef 2.14-16).
Quando olhamos para o que a bíblia nos diz a respeito desta Igreja, logo identificamos uma Igreja que tinha tudo em comum (At 2:44), que abria mão do próprio conforto para que os irmãos estivessem assistidos (At 2.45) e procuravam estar sempre juntos (At 2.46) para louvar a Deus que a cada dia trazia parra o seio da Igreja novos irmãos (At 2.47).
Quero ser pastor e parte de uma igreja diferente da maioria das Igrejas que vemos atualmente. Quero que você conheça o meu sonho de Igreja, o meu modelo de Igreja - e se Deus falar ao seu coração, se for isto o que você está procurando, se for este o anseio do seu coração após ouvir a Palavra, então, quero te convidar a andar comigo neste propósito (Hb 4:7).
VOCÊ PRECISA SER UMA IGREJA ONDE AS PESSOAS TÊM GENUÍNO INTERESSE PELA HISTÓRIA PESSOAL DE CADA UM
Pedro e João haviam estado presos - foram interrogados, ameaçados, proibidos de falarem sobre a redenção em Jesus, foram ameaçados e, finalmente, foram libertos porque não havia do que acusá-los. A primeira ação de Pedro e João foi procurarem os irmãos - compartilharem sua experiência que não deve ter sido das mais agradáveis. Foram levados presos - ninguém gosta de ser preso. Foram ameaçados pelas maiores autoridades de seu povo - as mesmas autoridades que haviam decidido e levado a cabo a morte de Jesus, com o concurso dos romanos.
Não entenda que a Igreja existe para ser algo parecido como um grupo de autoajuda onde cada um conta o que lhe aconteceu, trocam conselhos e cada um segue a sua vida como bem entender. Não é isso - mas ela é uma comunidade de pessoas que, embora de diferentes famílias, de origem e historias bem diferentes, foram tornadas um em Cristo Jesus (Ef 2:14).
Todos temos algum tipo de diferença em nossa história, e isto deve contribuir não para afastar pessoas, como costuma acontecer, mas para que elas se completem, se compreendam. Paulo diz isto de maneira magistral ao afirmar que as nossas dores, nossas experiências com Deus em meio às lutas servem de instrumento de consolo para os sofredores (II Co 1:4).
Na Igreja vamos encontrar pessoas que nasceram e cresceram dentro dos muros santos, e certamente tem experiências maravilhosas para contar a respeito de seu relacionamento com Deus, podendo habilmente instruir os novos na fé a andarem na presença do Senhor. Certa vez ouvi um tolo afirmar que somente quem já andou em meio à desgraça do pecado e foi liberto pode falar com autoridade sobre a liberdade que Jesus Cristo dá através da sua Palavra (Jo 8:32).
Isto é uma tolice por dois motivos: em primeiro lugar mesmo o filho de crente é um pecador, tem experiência com o pecado e também tem que clamar como Paulo fez pela libertação que Deus dá (Rm 7:24). O segundo motivo pelo qual isto é uma tolice é porque ninguém precisa experimentar dar um tiro na própria cabeça para saber que isto pode ser mortal.
Por outro lado, na Igreja também existem pessoas com histórias tristes, que, de alguma forma, foram escravas do pecado e foram libertas (Gl 5:1). Conhecem a graça transformadora de Cristo (I Tm 1:15-16) e podem testemunhar dela. Mais ainda, podem advertir os incautos sobre os perigos que eles próprios conhecem - mas que, muitas vezes, aqueles que cresceram protegidos dentro dos muros da Igreja não conhecem, não reconhecem nem podem se precaver.
O importante não é como você chega na Igreja - mas de que maneira sua chegada vai contribuir para a edificação do corpo e, também, de que maneira o corpo vai contribuir para seu próprio fortalecimento. Todos chegamos com fardos, mesmo os que já estão dentro da Igreja. Os fardos dos costumes, das tradições, dos mandamentos humanos, da religiosidade vazia, das andanças sem direção, de escolhas religiosas equivocadas, de idolatria e misticismo, de escolhas pessoais que deram errado, de relacionamentos quebrados, de dores do corpo e da alma, de sofrimento moral e espiritual.
Você traz sua história, e com os demais, constrói a história da Igreja da qual você faz parte. Sua história é importante. Suas lutas são importantes, as lições que Deus lhe deu são de extrema importância porque nada acontece por acaso, o Senhor tem diante dele todos os nossos dias, certos e determinados (Sl 139:16) porque Deus, em tudo, tem um propósito (Ec 3:1) que resulta em vermos cumprida sua vontade para benção daqueles a quem ele ama (Rm 8:28).
Você já sabe qual o propósito de Deus em sua vida? É lamentável que muitos não saibam, e, pior ainda, é lamentável que muitos frequentem uma Igreja há dias, meses, até mesmo anos ou décadas e ainda não saibam. Porque? Porque não há outro jeito de saber senão se aproximando dele, e, lembre-se: a morte de Jesus foi para criar um povo (Tt 2:14), gente que anda junto, que adora junto com alegria (Sl 100:2), que serve a Deus e se auxilia mutuamente (Gl 6:2).
VOCÊ PRECISA SER UMA IGREJA ONDE AS PESSOAS RECONHECEMA SOBERANIA DE DEUS EM SUA PRÓPRIA HISTÓRIA
É profundamente edificante observar como os servos de Deus do passado lidavam com as dificuldades de viverem sua fé. Pedro, o mesmo Pedro que esteve preso e foi ameaçado pelo sinédrio, exprime com clareza cristalina o que ele sentia, e o que muitos outros cristãos sentiam diante da oposição do mundo (I Pe 4:13). Eles certamente se lembravam das palavras de Jesus (Lc 21:12) e sabiam que outros irmãos também viviam o mesmo tipo de experiência (I Pe 5:9).
O relato bíblico mostra que os cristãos tinham uma visão muito clara da soberania de Deus. Eles entendiam que os eventos relativos à traição de Judas (Jo 17:12), o abandono por parte dos discípulos (Mt 26:31) ao julgamento injusto e ilegal imposto a Jesus (Mt 26:60-61), sua morte e tudo o mais que houve naqueles dias eram a expressão da vontade soberana de Deus. Eles viam Deus como o criador de todas as coisas - diferente da visão que prevalecia entre os incrédulos gnósticos e diferente da visão dos pseudocientistas e deístas evolucionistas do séc. XXI.
Na sua história havia um propósito (v. 28), assim como na história de cada um que está aqui neste momento. Você não viveu o que viveu por acaso. Você não passou pelas experiências que passou por um mero acaso. Você não está aqui por acaso. Tudo o que lhe aconteceu, tudo o que lhe acontece e tudo o que lhe acontecerá concorre para que você esteja pronto para, conhecendo a Deus, conhecendo o seu propósito, entender que ele é o Deus soberano que dirige todas as coisas, inclusive a sua vida.
O apóstolo Paulo exemplifica isto de maneira muito clara. Ele fora um dos expoentes religiosos entre o seu povo (Gl 1:14), respeitado (At 22:20) mas, ao mesmo tempo, e justamente por causa disto, entendeu mais tarde que Deus o estava preparando para ser, a despeito da sua carreira triste como perseguidor da Igreja (I Tm 1:13) um modelo para todos aqueles que viessem a crer em Cristo Jesus (I Tm 1:16).
Os cristãos não lamentavam o que passavam naqueles dias - eles louvaram a Deus porque sabiam que Deus estava no controle, que Deus conduzia suas vidas, que Deus conduzia sua nação e seu destino estava nas mãos daquele que é poderoso para guarda-los de quaisquer males (II Tm 1:12).
Se você tem aprendido a espernear, a reclamar, a rejeitar, a declarar, a amarrar é porque tem aprendido no lugar errado. Aprendemos da bíblia que a verdadeira Igreja é aquela que recebe das mãos do Senhor o que ele tem preparado (Jó 2:10) porque sabe que é o melhor para o seu destino final (Tg 1:17).
VOCÊ PRECISA SER UMA IGREJA ONDE AS PESSOAS ADOREM A DEUS CHEIAS DO ESPÍRITO SANTO
A Igreja do Senhor glorificou a Deus em sua soberania, poder e sabedoria. Sua atitude, mesmo diante das adversidades, era continuar glorificando a Deus. É impressionante, por exemplo, a atitude dos apóstolos Paulo e Silas. Presos e açoitados não apenas injusta mas, também, ilegalmente, ainda assim não havia amargura ou tristeza, mesmo na prisão (At 16:25).
Como isso seria possível? A atitude normal de alguém que estivesse passando pelas mesmas situações de Pedro, João, Paulo e Silas seria levantar a voz, clamar por direitos, por um advogado, pela comissão nacional de direitos humanos, pela mamãe ou algo semelhante... A atitude dos cristãos em Jerusalém, e a de Paulo em Filipos, é uma só: orar a Deus, adorar a Deus, cantar louvores ao Senhor, confiando que ele responderá a oração do seu povo (Sl 141:2).
Mesmo em meio às tormentas, em meio às dificuldades e ansiedades, cabe-nos buscar o Senhor e expressar nossos anseios diante dele (Fp 4:6). Por duas vezes Jesus diz-nos para não andarmos ansiosos por uma série de coisas, como comer, beber, corpo ou vestimenta e exorta-nos a não andar ansioso nem mesmo pela própria vida.
A Igreja de Cristo, que se apresenta perante ele, cheia do Espírito não apenas passa pelas dificuldades, mas cresce em meio as dificuldades, e, fortalecida pelo Espírito de Deus enchem-se de intrepidez para fazer exatamente aquilo que os homens haviam proibido: anunciar a Palavra de Deus porque para eles importava muito mais obedecerem a Deus do que aos homens (At 5:29).
O que significa ser cheio do Espírito Santo? Significa receber poder para testemunhar do Senhor em qualquer lugar e circunstância (At 1:8), diante de quem quer que seja confiando somente no poder persuasivo do Espírito Santo e não na sabedoria dos homens (Mt 10:19-20).
Ser cheio do Espírito significa não retribuir ao mal com o mal, antes, ser cheio do fruto do Espírito e demonstrar bondade, amor, longanimidade em situações nas quais a maioria das pessoas reagiria com dureza ou ira (Sl 37:8).
Ser cheio do Espírito Santo significa que, independente das circunstancias, o cristão reconhece que o Senhor não o desampara, não o abandona, e está sempre ao seu lado, reconhecendo-o em seus caminhos (Sl 145:17) e percebendo seu cuidado amoroso e constante (Sl 23:4).
VOCÊ PRECISA SABER ONDE ENCONTRAR UMA IGREJA ASSIM
Há algumas coisas que você precisa saber antes de sair buscando uma igreja perfeita.
A primeira é que não existe nenhuma igreja perfeita aqui, antes do retorno do Senhor Jesus. Igreja perfeita só na glória, até lá vamos nos deparar com várias Igrejas que apresentam maior ou menor grau de imperfeição.
A segunda é que, enquanto você olhar para as imperfeições você não usufruirá das bênçãos de pertencer a uma Igreja que caminha para perto do Senhor, que se auxilia mutuamente, que ama, que, às vezes, se fere mas também que trata e é instrumento de Deus para sarar as dores da alma, como solidão, desamparo, tristeza, angústias, repreendendo o pecador e confortando o arrependido.
A terceira é que os nossos olhos não devem estar postos nos homens como a razão da nossa esperança ou nosso modelo último. Ainda que haja homens e mulheres que nos sirvam de modelo (I Tm 1:16) e padrão (I Tm 4:12), nosso alvo maior é Jesus (Cl 3:10).
A quarta é que não devemos imitar ninguém cegamente, mas apenas naquilo que eles imitam a Cristo (I Co 11:1).
A última e mais importante: não use ninguém como desculpa para seus pecados, para sua indisposição em obedecer a Deus - você não obedece por causa de sua própria rebeldia - e você também colherá exatamente aquilo que escolher colher. Se escolher o caminho do bem, receberá bênçãos (Ez 18:20), mas se escolher o caminho da rebeldia, colherá exatamente aquilo que objetiva (Is 1:20).
VOCÊ PRECISA TOMAR UMA ATITUDE
Nosso boletim desta semana abordou uma questão muito importante - queremos ter uma Igreja, queremos fazer parte de uma Igreja mas, muitas vezes, nos esquecemos que precisamos, antes de mais nada, ser Igreja.
É possível alguém fazer parte de uma comunidade de crentes mas, mesmo assim, após longos anos perceber que nunca foi, realmente, Igreja (I Jo 2.19).
É possível até acreditar e pregar o verdadeiro evangelho e, no fim das contas, jamais ter conhecido, de fato, o evangelho que é o próprio Senhor Jesus Cristo (Fp 1:17).
Não pretendo sequer me deter em denunciar os falsos mestres, os mestres da mentira, muitos que a bíblia chama acertadamente de ministros de satanás (II Co 11:14-15) que não querem outra coisa além de perverterem o evangelho (Gl 1:6-7).
Todavia, uma vez que você conhece o evangelho, conhece a graça do Senhor Jesus, então, você não pode ficar procurando uma Igreja que lhe agrade, porque você vai encontrar muitos que vão dizer exatamente o que seus ouvidos querem ouvir (II Tm 4:3).
O que você precisa é ser Igreja. É crer no Senhor Jesus mesmo que isto signifique desconsiderar tudo o que você acreditava e desejava antes (Fp 3:8). Mesmo que isto signifique, e realmente significa, começar tudo de novo, como se fosse uma criança aprendendo a dar os primeiros passos (Mc 10:15), a comer os primeiros alimentos (I Pe 2:2).
O Senhor Jesus nos diz que precisamos nascer de novo (Jo 3:3). Ele não vai apagar da sua mente suas experiências, suas alegrias e tristezas, mas vai dar a você uma nova direção, um novo princípio de vida, e tudo se fará novo, nova luz será lançada sobre sua vida, seus caminhos serão iluminados e tudo fará sentido. Você não sofrerá amnésia, você receberá perdão que vem da certeza de que o Senhor não lhe cobrará o passado, o tempo do desconhecimento, da ignorância (At 17:30), mas andará contigo em novidade de vida (Rm 6:4).
Quero desafiar você a tomar uma decisão hoje, agora... Não deixe para amanhã. Já mencionamos aqui neste lugar a história de Ezequias e Manassés. Ezequias obteve graça antes do sofrer... Manassés obteve graça no sofrimento... Mas Amom, filho de Manassés, sofreu sem obter graça.
Está cansado e sobrecarregado? Vem, ele te dá descanso (Mt 11:28). Está sem ânimo? O Senhor multiplica suas forças (Is 40:29). Está com sede e fome? Ele te sacia (Sl 90:14). Sente-se como morto espiritualmente? O Senhor vivifica (Ef 2:1).

Mas vem! Vem agora! Vem. Este é o tempo sobremodo oportuno, o tempo que o Senhor se dispõe a socorrer-te (II Co 6:2). Vem, antes que o tempo se vá (Pv 1:28-30).

quinta-feira, 24 de julho de 2014

SÉRIE PERSONAGENS - NOEMI, DE DITOSA A AMARGURADA

DE DITOSA A AMARGURADA
A linda história de Rute traz embutida a história de Noemi e sua família, Elimeleque (cujo nome significa Deus é meu rei), Malom e Quiliom (ambos os nomes são cananeus, significando, respectivamente, fraqueza, doença e definhamento, tristeza porque provavelmente nasceram no tempo de provação, de fome em Belém). Esta história está ambientada num período nebuloso e turbulento da história do povo de Deus. O período dos juízes, cuja principal característica era que cada um fazia o que bem lhe parecia (Jz 21:25 - Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto). É, também, um período de julgamento sobre este povo que costumeiramente se desviava do caminho do Senhor (Jz 3:7 - Os filhos de Israel fizeram o que era mau perante o SENHOR e se esqueceram do SENHOR, seu Deus; e renderam culto aos baalins e ao poste-ídolo).
Os dias de Noemi eram do tipo “piores tempos”. Tratava-se de uma época terrível na qual perdurava a anarquia e as constantes guerras.
Desta forma, o período relatado no inicio do livro de Rute reflete um período de julgamento, de disciplina de Deus sobre Israel (veja Lv 26.14-39; vd. 26.20 - Debalde se gastará a vossa força; a vossa terra não dará a sua messe, e as árvores da terra não darão o seu fruto).
É no intuito de fugir ao julgamento do Senhor que Elimeleque  conduz sua família para longe  de Belém, da terra que o Senhor lhes deu - e vão em direção à terra de Moabe que desde o princípio os queria amaldiçoados (Nm 22.5-6 - Enviou ele mensageiros a Balaão, filho de Beor, a Petor, que está junto ao rio Eufrates, na terra dos filhos do seu povo, a chamá-lo, dizendo: Eis que um povo saiu do Egito, cobre a face da terra e está morando defronte de mim. Vem, pois, agora, rogo-te, amaldiçoa-me este povo, pois é mais poderoso do que eu; para ver se o poderei ferir e lançar fora da terra, porque sei que a quem tu abençoares será abençoado, e a quem tu amaldiçoares será amaldiçoado), rejeitados por Deus (Nm 25.1-3 - Habitando Israel em Sitim, começou o povo a prostituir-se com as filhas dos moabitas. Estas convidaram o povo aos sacrifícios dos seus deuses; e o povo comeu e inclinou-se aos deuses delas. Juntando-se Israel a Baal-Peor, a ira do SENHOR se acendeu contra Israel) oprimidos e destruídos (Jz 3:12 - Tornaram, então, os filhos de Israel a fazer o que era mau perante o SENHOR; mas o SENHOR deu poder a Eglom, rei dos moabitas, contra Israel, porquanto fizeram o que era mau perante o SENHOR).
Assim, a história de Noemi não é a história de uma busca por melhores condições de vida, mas a tentativa de ficar fora do alcance do braço do Senhor (Sl 139:7 - Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face?).
Noemi era apenas uma esposa, uma mulher israelita que acompanhou seu marido e viveu num período em que seu povo não andava nos caminhos do Senhor, a ponto de Elimeleque não ver problema algum em morar entre os moabitas e tomar esposas para seus filhos de entre aquele povo idólatra (Ed 9:12 - Por isso, não dareis as vossas filhas a seus filhos, e suas filhas não tomareis para os vossos filhos, e jamais procurareis a paz e o bem desses povos; para que sejais fortes, e comais o melhor da terra, e a deixeis por herança a vossos filhos, para sempre).
EM BUSCA DO QUE NÃO DEVERIA SER BUSCADO
O mesmo texto que registra a promessa de Deus de lançar sobre o seu povo a sua ira em caso de desobediência diz-lhes o que eles deveriam buscar - e não era uma nova terra.
40 Mas, se confessarem a sua iniqüidade e a iniqüidade de seus pais, na infidelidade que cometeram contra mim, como também confessarem que andaram contrariamente para comigo, 41 pelo que também fui contrário a eles e os fiz entrar na terra dos seus inimigos; se o seu coração incircunciso se humilhar, e tomarem eles por bem o castigo da sua iniqüidade, 42 então, me lembrarei da minha aliança com Jacó, e também da minha aliança com Isaque, e também da minha aliança com Abraão, e da terra me lembrarei.
Lv 26:40-42
Eles precisavam era de arrependimento, de confissão de pecados, de buscar a Deus e não aos moabitas. Durante os dias de fome, previstas por Deus ao estabelecer o pacto com Israel, aceitas por Israel ao entrarem na terra prometida mesmo depois de serem advertidos por Josué (Js 24.19-21 - Então, Josué disse ao povo: Não podereis servir ao SENHOR, porquanto é Deus santo, Deus zeloso, que não perdoará a vossa transgressão nem os vossos pecados. Se deixardes o SENHOR e servirdes a deuses estranhos, então, se voltará, e vos fará mal, e vos consumirá, depois de vos ter feito bem. Então, disse o povo a Josué: Não; antes, serviremos ao SENHOR).
Elimeleque cometeu o erro de tentar fugir à disciplina de Deus que, como pai amoroso, busca trazer os seus de volta não apenas à obediência mas à santidade (Hb 12:10-11 - Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade. Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça). Israel havia pecado e precisava ser disciplinado - e Deus é fiel, mesmo quando somos infiéis (II Tm 2:13 - ...se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo), em todas as suas promessas (Lc 1:37 - Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas).
Quais os erros de Elimeleque que Noemi testemunhou a ponto de, tendo saído de Israel fazendo jus ao nome que tinha (Noemi, que significa ditosa, feliz, agradável) e, ao retornar, pedir para ser chamada de Mara, que significa amargor?
I. FIZERAM ALIANÇA COM OS MOABITAS
Abstém-te de fazer aliança com os moradores da terra para onde vais, para que te não sejam por cilada.
Ex 34.12
O livro de Êxodo trás instruções claras sobre a atitude de um hebreu para com os povos da terra - especialmente os moabitas que intentaram amaldiçoá-los e, orientados por Balaão, sabiam quais seriam os seus pontos fracos. Eles não deveriam ser combatidos pela guerra, mas minados em tempos de paz com alianças.
Eles não conseguiriam morar, plantar, colher, negociar em terras moabitas se não fizessem algum tipo de aliança ou acordo com os moabitas - e é bom lembrar que as alianças antigas eram feitas na forma de pacto religioso, através de uma oferenda, do sacrifício de um animal ou de uma pessoa. Talvez como Ló em Sodoma tenham se apresentado como imigrantes de paz, desejosos apenas de ter uma nova pátria já que a sua não lhes permitia sobreviver.
II. NÃO SE OPUSERAM AO CULTO IDÓLATRA MOABITA
Mas derribareis os seus altares, quebrareis as suas colunas e cortareis os seus postes-ídolos (porque não adorarás outro deus; pois o nome do SENHOR é Zeloso; sim, Deus zeloso é ele); para que não faças aliança com os moradores da terra; não suceda que, em se prostituindo eles com os deuses e lhes sacrificando, alguém te convide, e comas dos seus sacrifícios.
Ex 34.13-15
Era impossível aos imigrantes hebreus se colocarem como opositores aos cultos idólatras moabitas. Se eles estavam aceitando o culto aos baalins em suas terras, edificando altares no meio de suas cidades, então, como se opor à prática dos mesmos nas terras dos moabitas? Como anunciar a fé no Deus vivo, verdadeiro, que odeia a idolatria habitando de favor entre eles? Como denunciar Quemos, Moloch, Ishtar ou os baalins de cada cidade como inúteis, vãos e perniciosos e demoníacos se ele já havia aceito sacrificar aos mesmos?
 É o mesmo dilema que enfrenta o cristão que está de tal forma identificado com o estilo de vida que o cerca, com as mesmas práticas. Elimeleque fora aceito entre os moabitas porque aceitara algumas de suas práticas. Havia se tornado um como eles, embora não pudesse se tornar um deles.
III. APARENTARAM-SE COM OS MOABITAS
...e tomes mulheres das suas filhas para os teus filhos, e suas filhas, prostituindo-se com seus deuses, façam que também os teus filhos se prostituam com seus deuses.
Ex 34.16
Anos à frente Salomão faria uso da prática de casar-se com as filhas dos reis e príncipes das redondezas e estabelecer com eles alianças familiares, econômicas e militares. Mas esta prática foi adotada pelos filhos de Noemi, que casaram-se com duas moabitas, Orfa e Rute. Não pretendo traçar aqui o perfil de nenhuma delas, apenas lembrar que eram moabitas, politeístas, adoradoras de ídolos pagãos e, para que seus pais as entregassem por esposas, eles tiveram que se prostituir com os deuses das famílias delas, o que provavelmente seria ensinado aos seus filhos se eles tivessem nascido, como aconteceu mais tarde, entre os judeus no período pós-exílico.
Dez anos depois, sem que gerassem filhos, Malom e Quiliom falecem e Noemi, que já havia perdido o esposo, agora tem que defrontar-se com a viuvez e a terrível escolha de ser uma viúva entre os pagãos ou entre seu próprio povo, descobrindo que é melhor sofrer nas mãos de Deus, dentro do plano de Deus do que entregue a sofrimentos de qualquer outra natureza (I Cr 21:13 - Então, disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; caia eu, pois, nas mãos do SENHOR, porque são muitíssimas as suas misericórdias, mas nas mãos dos homens não caia eu).
O DIFÍCIL RETORNO
Aquela que saíra de Israel, da terra que Deus dera a seus pais, da cidade de Belém (casa de pão) em busca de alimento e prosperidade no meio pagão agora vê-se obrigada a retornar com duas jovens moabitas, atestando a completa derrocada que lhe sucedera. Como sustentar estas jovens, tanto econômica quanto socialmente numa terra que já olharia para ela com algum grau de desdém? Se seus filhos fossem vivos, se houvesse netos, eles poderiam tomar posse das terras da família, mas uma mulher não poderia fazer isso. Assim, para facilitar a sua vida e a das moabitas ela se despede das noras, sendo surpreendida por Rute que havia, de alguma forma e pela graça de Deus, compreendido que o Deus de Israel era verdadeiro Deus (Rt 1:16 - Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me obrigue a não seguir-te; porque, aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus).
Ao ser reconhecida, mesmo depois de 10 anos e muito sofrimento, que envelhece muito mais, provavelmente com cerca de 50 anos,  as mulheres se perguntavam num misto de piedade e curiosidade se ela era mesmo aquela que as deixara (Rt 1:19 - Então, ambas se foram, até que chegaram a Belém; sucedeu que, ao chegarem ali, toda a cidade se comoveu por causa delas, e as mulheres diziam: Não é esta Noemi?).
Noemi responde com gravidade, com a consciência de ter ido buscar pão longe da casa de pão, de ter ido buscar água em cisternas rotas (Jr 2:13 - Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas) e uma preciosa lição de vida para os hebreus - na terra de Deus, mesmo com dificuldades, ela tinha tudo o que uma mulher podia querer, mas, por causa da desobediência e das escolhas erradas de seu esposo ela foi amargurada e empobrecida - sem terra, sem marido, sem filhos, sem herança (Rt 1:20-21 - Porém ela lhes dizia: Não me chameis Noemi; chamai-me Mara, porque grande amargura me tem dado o Todo-Poderoso. Ditosa eu parti, porém o SENHOR me fez voltar pobre; por que, pois, me chamareis Noemi, visto que o SENHOR se manifestou contra mim e o Todo-Poderoso me tem afligido?).

Ela percebeu e ensinou ao povo que seu sofrimento era obra de Deus, pois ela, seu marido e filhos, bem como o povo de Israel, haviam abandonado ao Senhor seu Deus e, por isso, deveriam esperar que ele os disciplinasse com justiça. Assim como um dia Ló aprendeu ao sair da companhia de Abraão com muito rebanho e ficar apenas com duas filhas ímpias, também Noemi nos instrui a não buscar satisfação nas campinas de  Moabe, pois as concupiscência do mundo passam (I Tm 6:9 - Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição).

segunda-feira, 21 de julho de 2014

NÃO DESTRUA SUA IGREJA - IV

Vamos lembrar os passos já abordados: se você não quer destruir sua Igreja não rejeite o ensino da verdade (Jo 8.32); também não rejeite quem lhe fala a verdade, mesmo que você não goste da verdade, e, também, rejeite quem ensina o erro, por mais agradável que ambos, o falso mestre e o erro, possam parecer.
NÃO ABRACE A FALSA DOUTRINA
Nada mais natural para quem rejeitar a verdade buscar encontrar algo para por no lugar. Assim é com a falsa adoração (Rm 1.25), por mais verdadeira e sincera que ela seja.  Alguém sinceramente errado é só isso: alguém sinceramente errado.
Há algum tempo estava em uma igreja e uma pessoa me disse que fez uma pesquisa sobre o que a Igreja queria ouvir nos sermões dominicais noturnos. Quero crer que com boas intenções, mas a lista não incluía o item “o que Deus quiser falar”... Mas há um caso ainda pior, de instituições eclesiásticas que contratam agências de pesquisa de mercado para orientarem seus departamentos de marketing com vistas a determinarem as estratégias para obterem resultados numéricos e financeiros. O propósito é: falar o que as pessoas querem ouvir, do jeito que querem ouvir. Agradar ouvidos com coceiras.
É impossível não pensar, e para o ser humano, é impossível não pensar religiosamente - mesmo o ateu precisa de um Deus para combater, e, assim, cria seu próprio deus, sua própria religião - nem que admita ser fruto de um deus chamado acaso e de uma deusa chamada natureza.
Costumo dizer que, em matéria de religião e filosofia, sempre que surge uma nova tolice há uma multidão de ávidos consumidores de novidades, em nada diferente dos atenienses dos dias do apóstolo Paulo (At 17.21). Consumidores de novidades, mas sempre prontos a rejeitar a verdade. Aceitam qualquer nova teoria, mas de pronto rejeitam o que Deus tem para lhes dizer porque a verdade de Deus é exigente e incômoda. Exige exclusividade e mudança.
Quem não quer a verdade rejeita quem diz a verdade. Quem quer a mentira, o erro e o engano sempre vai encontrar falsos mestres, ou, como prefiro dizer, mestres da mentira, do erro e do engodo. Assim, serão facilmente enganados, especialmente se os ardilosos falsos mestres se apresentarem com a mais astuta aparência de verdade (Rm 16.18). Ninguém consegue abandonar a verdade sem abraçar a mentira. Ninguém consegue ficar sem uma referência - ainda que esta referência seja uma miragem no deserto, ou aponte para uma utopia, uma miragem inalcançável.
Ovelhas sem pastor sempre encontram lobos vorazes, ou salteadores prontos a arrebatá-las. Nada há mais fácil de ser apresado do que uma ovelha longe do seu pastor. É triste ver cristãos abraçando e defendendo o erro combatendo a verdade dentro das Igrejas porque encontraram mestres que lhes conquistaram - iludidos e rebelados prontos a defender o que Deus odeia e destruir tudo o que Deus ama, buscando novidades e usando o nome do próprio Deus.
Deixe-me esclarecer uma coisa: o caminho do erro é multíplice, tem muitas variantes e aparências, oferece várias opções. É largo, espaçoso, cheio de alternativas como um corredor de shopping. Mas o caminho da verdade é absolutamente estreito. Não há outra opção. Não pode haver outra verdade. Se algo é verdadeiro aquilo que é diferente dele tem que ser, obrigatoriamente, falso, por isso Paulo denuncia que os gálatas estavam seguindo outro evangelho (Gl 1.6) que não era evangelho nenhum, mas uma doutrina perniciosa que os levava a perverter o genuíno evangelho do Senhor Jesus Cristo (Gl 1.7).

Assim, se você não quer destruir a sua Igreja, só lhe resta uma opção: não aceitar, de maneira alguma, as falsas doutrinas, mesmo que lhe sejam apresentadas por alguém muito conhecido e que já tenha merecido algum crédito (como, por exemplo, Caio Fábio, Silas Malafaia - Gl 1.8) ou popular (Thales Roberto, R.R. Soares). Não contribua, não proporcione ao inimigo ferramentas para atacar cada vez mais duramente a sua fé. É fácil rejeitar o erro quando se conhece e se ama a verdade. Assim, você preserva a sua Igreja, coluna e baluarte da verdade (I Tm 3.15).

terça-feira, 15 de julho de 2014

NÃO DESTRUA SUA IGREJA III

Passo nº I: Não rejeite o ensino da verdade de Deus, porque só a verdade é libertadora (Jo 8.32). A falsidade proporciona uma falsa sensação de alívio, mas, no fundo, ela não liberta de nada, apenas aprisiona ainda mais no pecado.
Passo nº II: Não rejeite quem lhe fala a verdade, pois quem lhe fala a verdade é como uma placa advertindo que uma determinada estrada é ruim - você pode até não gostar do aviso ou da estrada, mas o aviso poderá livrar de sérios problemas.
Voltemos a Adão e Eva. O primeiro erro foi dar ouvidos à mentira em lugar da verdade. Seu segundo erro foi rejeitar a autoridade de quem lhes falara a verdade. E, então, eles caminham para o terceiro erro que a Igreja pode, com segurança, evitar.
NÃO ACEITE QUEM ENSINA O ERRO
O terceiro erro de Eva - e, consequentemente, de seu esposo, Adão, foi aceitar como mestre quem tinha somente o erro para ensinar (Jo 8.44).
Isto é algo que não precisaria ser dito para a Igreja. É evidente que não deveria ser necessário dizer para a Igreja rejeitar os falsos profetas - mas ao mesmo tempo é lamentável que isto não apenas seja necessário como esteja caindo em ouvidos insensíveis, na melhor das hipóteses, ou já rebeldes, o que não tem sido tão raro assim de encontrar.
É possível encontrar falsos mestres que apresentem seu ensino de forma absurdamente fora do normal, e mesmo assim encontrando grande número de seguidores. Estes, por mais estranho que pareça, não representam nenhuma ameaça à verdadeira Igreja do Senhor. Entre estes podemos citar Inri Cristo, Edir Macedo ou Valdomiro Santiago. Eles são perigosos apenas para seus seguidores, pois são cegos guiando cegos.
É possível encontrar falsos mestres que apresentem ensinos nos quais rejeitem declaradamente apenas partes da verdade. Assim se deu com o liberalismo teológico, rejeitando partes das Escrituras (especialmente os pontos fundamentais da fé cristã, como nascimento virginal do Senhor Jesus, autoridade infalível das Escrituras, ressurreição corpórea ou milagres) e representam um grande perigo para a fé. Muitas Igrejas e denominações abraçaram estas ideias e morreram espiritualmente - algumas ainda se acham vivas.  Estes representam um perigo maior porque tem, de alguma maneira, ouvidos atentos dentro da Igreja e parecem ensinar a verdade.
O terceiro tipo, e o mais perigoso, é aquele que, aparentemente, ensina a verdade mas camufla seu erro de maneira que é quase imperceptível. É como uma gota de veneno numa belíssima taça de refresco. Parecem ser cristãos, ensinam com palavras cristãs, proclamam conceitos cristãos mas com o tempo vão destilando dentro da Igreja doutrinas que rejeitam as verdades centrais das Escrituras e, assim, conduzindo os incautos para cada vez mais longe de Cristo (Mt 24.24).
Isto sem dúvida acontecerá no coração daqueles que rejeitarem a verdade e depois abandonarem aqueles que podem ensiná-la, pois a verdade é o único antídoto para o erro. E em casa desocupada sempre há alguém desejoso de morar. É inevitável que quem rejeita a Palavra de Deus mais cedo ou mais tarde acabará deliciando-se no ensino de homens (Is 29.13) e demônios (I Tm 4.1). E farão isso não porque os falsos mestres sejam mais capazes do que os fiéis - mas porque se atirarão alegremente do penhasco ao ouvirem exatamente aquilo que querem ouvir. Não é de estranhar que haja muitas “faculdades de teologia” em que a presença de matérias como “estratégias de marketing”, “pesquisa de mercado” seja fundamental. A proposta é dizer o que os pecadores inconvertidos querem ouvir. E assim os perdidos se afundarão cada vez mais em seus pecados, guiados por quem lhes diz exatamente o que querem ouvir. E assim temos o anúncio da novidade, do aceitável socialmente e agradável ao mundo - mas não o anúncio do evangelho.
A Igreja que não abandonou a verdade e mantém-se sob o cuidado vigilante de mestres fiéis estará capacitada a rejeitar os falsos mestres - mesmo que sejam agradáveis.

NÃO TIRE FÉRIAS DE DEUS

II Cr 33.1-19
Manassés era filho do rei Ezequias - um dos reis dos quais as Escrituras dizem ter sido um bom rei, apesar de ter cometido falhas que desagradaram a Deus. Apesar dos erros de Ezequias, podemos afirmar que ele teve oportunidade de aprender sobre quem era o Deus de Israel, sobre seus grandes e poderosos feitos. Entretanto, ele preferiu não fazer o que era agradável a Deus, e seguir seus próprios caminhos (Pv 14:12 - Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte).
O texto sagrado afirma que Manassés fez o que era mau perante o Senhor:
* seguiu as abominações dos gentios (Dt 32:16 - Com deuses estranhos o provocaram a zelos, com abominações o irritaram);
* edificou altos, lugares de cultos aos deuses gentios (Ez 16:16 - Tomaste dos teus vestidos e fizeste lugares altos adornados de diversas cores, nos quais te prostituíste; tais coisas nunca se deram e jamais se darão);
* levantou altares aos baalins (Jz 2:11 - Então, fizeram os filhos de Israel o que era mau perante o SENHOR; pois serviram aos baalins);
* fez postes-ídolos (Jz 3:7 - Os filhos de Israel fizeram o que era mau perante o SENHOR e se esqueceram do SENHOR, seu Deus; e renderam culto aos baalins e ao poste-ídolo);
* se prostrou e serviu aos astros (Dt 4:19 - Guarda-te não levantes os olhos para os céus e, vendo o sol, a lua e as estrelas, a saber, todo o exército dos céus, sejas seduzido a inclinar-te perante eles e dês culto àqueles, coisas que o SENHOR, teu Deus, repartiu a todos os povos debaixo de todos os céus);
* profanou a casa do Senhor edificando altares pagãos (Ex 34:12-14 - Abstém-te de fazer aliança com os moradores da terra para onde vais, para que te não sejam por cilada. Mas derribareis os seus altares, quebrareis as suas colunas e cortareis os seus postes-ídolos [porque não adorarás outro deus; pois o nome do SENHOR é Zeloso; sim, Deus zeloso é ele]);
* queimou seus filhos como oferta aos deuses pagãos (Dt 18:10 - Não se achará entre ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro);
* era adivinho (vd. Dt 18.10);
* era agoureiro (vd. Dt 18.10);
* era feiticeiro (vd. Dt 18.10);
* era necromante (Dt 18:11 - nem encantador, nem necromante, nem mágico, nem quem consulte os mortos);
* colocou uma imagem de escultura na casa de Deus (Lv 26:1 - Não fareis para vós outros ídolos, nem vos levantareis imagem de escultura nem coluna, nem poreis pedra com figuras na vossa terra, para vos inclinardes a ela; porque eu sou o SENHOR, vosso Deus);
* conduziu o povo ao erro e negou-se a ouvir (obedecer) ao Senhor (Lv 26:18 - Se ainda assim com isto não me ouvirdes, tornarei a castigar-vos sete vezes mais por causa dos vossos pecados);
* era sanguinário (II Rs 21:16 - Além disso, Manassés derramou muitíssimo sangue inocente, até encher Jerusalém de um ao outro extremo, afora o seu pecado, com que fez pecar a Judá, praticando o que era mau perante o SENHOR).

O BOM USO DA MEMÓRIA
De imediato somos tentados a pensar: como alguém pode cometer tantos pecados, tendo sido instruído aos pés de um rei piedoso, tendo nascido como fruto da graça de Deus que deu mais tempo para que seu pai o gerasse, 3 anos que ele foi milagrosamente curado pelo Senhor quando adoeceu e orou ao Senhor (II Rs 20:2-3 - Então, virou Ezequias o rosto para a parede e orou ao SENHOR, dizendo: Lembra-te, SENHOR, peço-te, de que andei diante de ti com fidelidade, com inteireza de coração, e fiz o que era reto aos teus olhos; e chorou muitíssimo) nos dias do profeta Isaías (II Rs 20.5-6 - Volta e dize a Ezequias, príncipe do meu povo: Assim diz o SENHOR, o Deus de Davi, teu pai: Ouvi a tua oração e vi as tuas lágrimas; eis que eu te curarei; ao terceiro dia, subirás à Casa do SENHOR. Acrescentarei aos teus dias quinze anos e das mãos do rei da Assíria te livrarei, a ti e a esta cidade; e defenderei esta cidade por amor de mim e por amor de Davi, meu servo).
Talvez nenhum homem tenha merecido mais o nome que tinha do que Manassés - seu nome significa esquecimento (Gn 41:51 - José ao primogênito chamou de Manassés, pois disse: Deus me fez esquecer de todos os meus trabalhos e de toda a casa de meu pai). Diferente dos reis pagãos, Manassés não podia dizer: “Eu não sabia”. Aliás, nem mesmo os pagãos podem dizer isso (Rm 2:14-15 - Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se). Mas Manassés era um caso pior. Ele sabia, e ainda assim rejeitava. Ele trocou a verdade de Deus pela mentira que agradava seu coração (Rm 1:25 - ...pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!).
A história de Manassés nos instrui que:

NÃO DEVEMOS NOS ESQUECER DE DEUS
O grande problema do rei Manassés é que, embora tendo conhecimento dos acertos de Davi, e também dos terríveis erros  de Acabe e sua ímpia esposa Jezabel ele preferiu se esquecer de Deus, da Sua fidelidade e das inúmeras vezes que o Senhor havia mostrado que só o Senhor é Deus, e que os baalins não eram nada (I Rs 18:36-39 - No devido tempo, para se apresentar a oferta de manjares, aproximou-se o profeta Elias e disse: Ó SENHOR, Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, fique, hoje, sabido que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo e que, segundo a tua palavra, fiz todas estas coisas. Responde-me, SENHOR, responde-me, para que este povo saiba que tu, SENHOR, és Deus e que a ti fizeste retroceder o coração deles. Então, caiu fogo do SENHOR, e consumiu o holocausto, e a lenha, e as pedras, e a terra, e ainda lambeu a água que estava no rego. O que vendo todo o povo, caiu de rosto em terra e disse: O SENHOR é Deus! O SENHOR é Deus!).
Não pensemos que esquecer signifique apenas não lembrar - é pior que isso. A bíblia fala do povo de Deus se esquecendo do Senhor com um sentido muito mais terrível, indicando conhecimento, mas falta de consideração. É pura e simples rejeição (Os 4:6 - O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos).
Nestes dias, nos dias do rei chamado esquecimento, Isaías advertira constantemente a Israel para não se esquecer do Senhor (Is 46:9 - Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim), e Israel sabia que havia transgredido, exatamente como fizera nos dias dos juízes (Jz 6:13 - Respondeu-lhe Gideão: Ai, senhor meu! Se o SENHOR é conosco, por que nos sobreveio tudo isto? E que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o SENHOR subir do Egito? Porém, agora, o SENHOR nos desamparou e nos entregou nas mãos dos midianitas). O tempo passara, mas Deus continuava o mesmo, e o coração de Israel também.
Ninguém precisava dizer para Manassés do que ele estava se esquecendo - porque ele não tinha amnésia, o problema dele era rejeição, abandono... Ele havia tomado, conscientemente, a decisão de não fazer o bem (Tg 4:17 - Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando). Ele escolhera o mal e sabia o que merecia das mãos do Senhor (Dt 30:15-18 - Vê que proponho, hoje, a vida e o bem, a morte e o mal; se guardares o mandamento que hoje te ordeno, que ames o SENHOR, teu Deus, andes nos seus caminhos, e guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, então, viverás e te multiplicarás, e o SENHOR, teu Deus, te abençoará na terra à qual passas para possuí-la. Porém, se o teu coração se desviar, e não quiseres dar ouvidos, e fores seduzido, e te inclinares a outros deuses, e os servires, então, hoje, te declaro que, certamente, perecerás; não permanecerás longo tempo na terra à qual vais, passando o Jordão, para a possuíres).
O julgamento de Deus sobre Manassés é terrível (II Rs 21.11 - Visto que Manassés, rei de Judá, cometeu estas abominações, fazendo pior que tudo que fizeram os amorreus antes dele, e também a Judá fez pecar com os ídolos dele), mas não é muito distante do que é dito sobre aqueles que, tendo conhecimento da graça de Deus em Cristo Jesus, preferem viver como se nunca a houvessem experimentado (Hb 10:29 - De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?).
Não precisamos nos perguntar sobre como Deus vê um cristão que não pensa como discípulo de Cristo, que não anda como discípulo de Cristo, que não adora como discípulo de Cristo. Já sabemos a resposta: Deus considera o abandono como uma forma de prostituição (Jz 2.12 - Deixaram o SENHOR, Deus de seus pais, que os tirara da terra do Egito, e foram-se após outros deuses, dentre os deuses das gentes que havia ao redor deles, e os adoraram, e provocaram o SENHOR à ira) mesmo que não se edifique deuses de ouro e prata, mas adora-se os deuses do coração, o ego, a cultura, algo como a carreira ou alguém. Era este o diagnóstico apresentado para os erros do povo nos dias dos juízes (Jz 21:25 - Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto).
Não é preciso dizer para um crente de verdade, que tem o Espírito de Deus lembrando-lhe que é um filho de Deus (Rm 8:16 - O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus) que o Senhor não aprova seu abandono, seus atos maus, sua negligência, sua preguiça, sua falta de testemunho, sua covardia. Da mesma maneira que Deus não aprovou o esquecimento de Manassés, também não aprova o esquecimento de um crente no século XXI porque ele não mudou e continua olhando para nós com os mesmos olhos, com o mesmo padrão... Se agirmos como Manassés, esquecendo-nos de servir ao Senhor, então, podemos ter certeza que o Senhor terá o mesmo sentimento que teve para com Manassés.
A primeira lição que aprendemos com Manassés é que não podemos nos esquecer de Deus - isto vale para qualquer um, de qualquer idade. À partir daqui veremos que este esquecimento inevitavelmente resultará em consequências desastrosas. A segunda lição que aprendemos com Manassés é que:

APOSTASIA TEM CONSEQUÊNCIAS
11 Pelo que o SENHOR trouxe sobre eles os príncipes do exército do rei da Assíria, os quais prenderam Manassés com ganchos, amarraram-no com cadeias e o levaram à Babilônia.
Usamos a palavra esquecimento para traduzir uma mais séria, mais profunda e mais dolorida: apostasia. Na vida de Manassés podemos ver que o julgamento de Deus sobre ele foi expresso de duas maneiras bastante duras. É verdade que Deus já havia previsto o cativeiro através do profeta Isaías (Is 6:11 - Então, disse eu: até quando, Senhor? Ele respondeu: Até que sejam desoladas as cidades e fiquem sem habitantes, as casas fiquem sem moradores, e a terra seja de todo assolada, e o SENHOR afaste dela os homens, e no meio da terra seja grande o desamparo. Mas, se ainda ficar a décima parte dela, tornará a ser destruída. Como terebinto e como carvalho, dos quais, depois de derribados, ainda fica o toco, assim a santa semente é o seu toco) mas os feitos de Manassés superaram tudo o que já havia acontecido antes, e sua apostasia trouxe consequências funestas.
O esquecimento de Manassés não poderia ficar sem consequências (Os 8:14 - Porque Israel se esqueceu do seu Criador e edificou palácios, e Judá multiplicou cidades fortes; mas eu enviarei fogo contra as suas cidades, fogo que consumirá os seus palácios). A bíblia considera a atitude de Manassés como um ultraje ao Senhor (Hb 10:29 - De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?).
A primeira das consequências refere-se a ele próprio. Foi feito cativo - teve seu corpo perfurado por ganchos e foi levado amarrado para a Babilônia. Mas foi vivo - sua vida foi preservada. É bom lembrar que tudo que lhe ocorreu ainda expressa, de alguma forma, a misericórdia de Deus. Os assírios eram conhecidos por sua crueldade no trato com os inimigos vencidos. Conta-se que um rei, percebendo que seria vencido, fez um trato com os assírios: ele se renderia desde que o sangue de seu povo não fosse derramado. E assim foi - todos foram enterrados vivos.
Seu pecado, sua apostasia, sua rebelião levou-o não apenas a ser rejeitado por Deus como sobre si e sobre seu povo trouxe a ira de Deus. Diferente do que costumamos pensar, não foi o poderio militar dos assírios que lhe abriu a porta para entrar em Israel. É muito comum culpar os homens ou o diabo pelos males que surgem, mas a Palavra de Deus diz que foi o Senhor quem fez ir sobre eles o pior, o mais cruel dos povos da antiguidade (II Cr 33.11 - Pelo que o SENHOR trouxe sobre eles os príncipes do exército do rei da Assíria, os quais prenderam Manassés com ganchos, amarraram-no com cadeias e o levaram à Babilônia). Deus havia advertido que seria assim quando fez Israel entrar na terra prometida (Is 1:20 - Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do SENHOR o disse).
Como esperar que um povo seja abençoado se seu líder máximo os conduz para longe da fonte das bênçãos (Tg 1:17 - Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança)? Como esperar que um povo seja abençoado se não observa a instrução que Deus lhes dá (Dt 13:1-3 - Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti e te anunciar um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver falado, e disser: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras desse profeta ou sonhador; porquanto o SENHOR, vosso Deus, vos prova, para saber se amais o SENHOR, vosso Deus, de todo o vosso coração e de toda a vossa alma). Se esta instrução valia para profetas, evidentemente também tinha valor para os seus reis e sacerdotes e era aplicável ao caso de  Manassés.
A segunda das consequências sofrida por causa dos atos de Manassés foi em relação a sua descendência. Manassés teve um filho, que reinou em seu lugar. Seu nome era Amom. O que dele é dito não é nada elogioso: ele perseverou nos maus caminhos que seu pai havia escolhido (II Rs 21.19-22 - Tinha Amom vinte e dois anos de idade quando começou a reinar e reinou dois anos em Jerusalém. Sua mãe se chamava Mesulemete e era filha de Haruz, de Jotbá. Fez o que era mau perante o SENHOR, como fizera Manassés, seu pai. Andou em todo o caminho em que andara seu pai, serviu os ídolos a que ele servira e os adorou. Assim, abandonou ele o SENHOR, Deus de seus pais, e não andou no caminho do SENHOR).
Porque Amom escolheu o caminho dos baalins? Evidentemente foi influenciado por seu pai. Tornou-se rei e preferiu o culto licencioso aos baalins ao culto formal, ordeiro e santo que era prestado ao Senhor Deus. Sabemos que servir ao Senhor exige dedicação, renúncia... Mesmo com influências positivas já não é fácil um filho seguir o caminho dos pais (Pv 22.6 - Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele) quanto mais com abundantes exemplos para o mau. É fácil imaginar Amom vendo seu pai dirigir o opulento e luxurioso culto a Baal. Assumindo o trono aos 22 anos era natural que ele se inclinasse para aquilo que agrada aos seus instintos. Isto não tira a culpa de Amom, mas demonstra a influência que um mau pai pode ter para seus filhos.
É desnecessário observar que os males que vieram sobre Manassés e seu filho (mesmo após um período de bons exemplos) também podem sobrevir sobre qualquer família na qual um pai resolva, durante o período formativo de seu filho, dar-lhe somente maus exemplos. Não está fácil educar filhos no contexto cultural desfavorável em que vivemos. Já temos que enfrentar a TV, a internet, os amigos - mas certamente fica ainda mais difícil se os promotores dos maus exemplos forem os próprios pais. Já pensou, pai, se você for a principal influência para que seu filho seja um apóstata?

ACERTE SUA VIDA COM DEUS
12 Ele, angustiado, suplicou deveras ao SENHOR, seu Deus, e muito se humilhou perante o Deus de seus pais; 13 fez-lhe oração, e Deus se tornou favorável para com ele, atendeu-lhe a súplica e o fez voltar para Jerusalém, ao seu reino; então, reconheceu Manassés que o SENHOR era Deus.
 Após ser preso, encadeado, deportado, finalmente Manassés sentiu que sua independência juvenil era uma grande bobagem. Para sua alegria ele logo descobre que Deus é fiel, mesmo quando nós lhe somos infiéis (II Tm 2:13 - se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo). Deus havia prometido que se seu povo se arrependesse dos seus pecados, voltando-se para ele, encontraria perdão (Is 55:7 - Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar) e restauração (Jr 32:37 - Eis que eu os congregarei de todas as terras, para onde os lancei na minha ira, no meu furor e na minha grande indignação; tornarei a trazê-los a este lugar e farei que nele habitem seguramente).
Manassés, embora tenha se esquecido de Deus (lembremos que esquecimento aqui significa rejeição, falta de interesse, desprezo) lembrou-se do que Deus havia feito com seu pai quando ele tinha apenas 7 anos. Deus havia lhe dito que ele deveria colocar em ordem a sua casa (isto é, a sua vida) porque em breve seria chamado à presença do criador (Ec 11.9 - Alegra-te, jovem, na tua juventude, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade; anda pelos caminhos que satisfazem ao teu coração e agradam aos teus olhos; sabe, porém, que de todas estas coisas Deus te pedirá contas).
Já era algo completamente fora do normal Manassés ainda estar vivo nas mãos dos assírios - Deus lhe dava provas da sua graça apesar de ele ainda estar afundado no seu pecado de rebelião, pecado tão tenebroso quanto a feitiçaria (I Sm 15:23 - Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei) que era punida com a mais dura pena aplicada em Israel (Ex 22:18 - A feiticeira não deixarás viver). E Manassés era rebelde, obstinado, idólatra e feiticeiro. Como manter no trono um rei assim?
E o Deus todo poderoso age: ou tirava o feiticeiro do trono ou o feiticeiro do rei. O que era mais fácil? Tirar o feiticeiro do trono? Tirar o feiticeiro do rei? Qualquer exército poderia fazer a primeira parte - e Deus usa os assírios para isso (Is 10:5 - Ai da Assíria, cetro da minha ira! A vara em sua mão é o instrumento do meu furor). O propósito de Deus era maior que isso. E ele o faria acontecer (Sl 81:13 - Ah! Se o meu povo me escutasse, se Israel andasse nos meus caminhos!).
Já tirar o feiticeiro do rei era mais difícil. Isto implicava em mudança de orientação do coração, mudança de vida (Ez 36:26 - Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne). Isso só Deus poderia fazer. E o Senhor faz exatamente isto. Leva Manassés a um momento de humilhação, arrependimento e concerto de vida com Deus (II Cr 7:14 - ...se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra). Manassés cumpriu as condições estabelecidas por Deus. Ele se humilhou, orou, e quando Deus o atendeu ele mostrou que realmente havia se arrependido (At 26:20 - ...mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento).
Mas, antes de concluir, quero lembrar-lhe alguns pormenores desta história familiar. Ezequias teve tempo para se arrepender. Deus lhe mandou o profeta Isaías - arrependeu-se mediante o aviso da palavra, muito se humilhou, orou ao Senhor e foi atendido. Manassés, contra todos os prognósticos, também teve tempo de se arrepender - Deus lhe mandou os grilhões assírios. Ele foi humilhado, orou ao Senhor e foi atendido. Mas há um terceiro personagem, chamado Amom. Filho de Manassés, viu a humilhação de seu pai - não sabemos se também ele foi enviado ao exílio, mas o fato é que viu seu país ser invadido, suas cidades destruídas, seu povo massacrado, seu pai aprisionado e humilhado. Viu o arrependimento de Manassés e a inesperada restauração que Deus lhe concedeu - e aos 22 anos assume o trono.
Seria de esperar que ele tivesse aprendido com seu avô e com seu pai. Havia abundantes registros disponíveis nos livros dos videntes e dos reis. Mas ele preferiu cometer as mesmas bobagens que aprendera com seu pai antes da humilhação.
Amom fez o que era mau aos olhos do Senhor - abandonou ao Senhor, escolheu o mesmo caminho de seu pai e não andou no caminho do Senhor. Mas não teve a mesma oportunidade - foi morto no segundo ano de seu reinado (II Rs 21.23 - Os servos do rei Amom conspiraram contra ele e o mataram em sua própria casa). Amom, filho de Manassés, que aprendeu com Manassés a andar longe do Senhor, não teve tempo de se arrepender. É tolice fazer pouco caso de Deus (Gl 6:7 - Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará). A família real vinha plantando rebeldia - só poderia, inevitavelmente, colher tragédia de suas malignas sementes. Plantaram corrupção, rebeldia, se esqueceram de Deus e conduziram o povo para longe do Senhor - não poderiam escapar indefinidamente da ira do Senhor.
A Palavra de Deus, porém, afirma que o Senhor não tem prazer na morte do ímpio (Ez 18:23 - Acaso, tenho eu prazer na morte do perverso? - diz o SENHOR Deus; não desejo eu, antes, que ele se converta dos seus caminhos e viva?). Por isso ele enviou os seus profetas, por isso ele enviou Jesus e, por isso Jesus ainda não voltou (II Pe 3:9 - Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento).
Ezequias ouviu um aviso através do profeta Isaías. Você ouviu o aviso através da pregação da Palavra. Manassés foi humilhado nas mãos dos assírios. Você pode se colocar diante do Senhor e admitir que tem andado nos caminhos dos homens e não no de Deus. Você não precisa esperar as duras consequências de se esquecer do Senhor.

QUERO TRAZER À MEMÓRIA
Diante do que acabamos de aprender sobre Manassés, lembro-me da palavra de Deus que nos diz do que devemos nos lembrar (Lm 3:21 - Quero trazer à memória o que me pode dar esperança). Num contexto de desolação após o reinado de Manassés e Amom, o profeta Jeremias diz que, diferente de Manassés, o rei esquecido e que se esqueceu de instruir seu filho, ele quer se lembrar somente do Deus que é a sua fonte de esperança.
Que há muita coisa fora do lugar, não resta dúvida. A ordem de Deus para que coloquemos em ordem a nossa casa permanece válida porque há coisas fora de lugar, há coisas erradas, há coisas que precisam ser corrigidas, há coisas que precisam ser abandonadas, há altares que precisam ser derrubados, casas que precisam ser purificadas e um templo a ser restaurado.
A primeira coisa que precisamos lembrar é que Deus diz: Se o meu povo, que se chama pelo meu nome... O que está errado com o povo de Deus? O que o povo de Deus deve fazer?
Em seguida, quero trazer à memória o caminho da esperança - e ele não passa pelos sacrifícios de tolos (Ec 5:1 - Guarda o pé, quando entrares na Casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal). Mais que sacrifícios, ele quer conhecimento e obediência (I Sm 15:22 - Porém Samuel disse: Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros).
A segunda coisa que precisamos lembrar é que, mesmo povo de Deus, podemos incorrer em erros - e, caídos, precisamos ser levantados pela graça de Deus. O caminho da esperança passa pela conversão: ...[se o meu povo] se humilhar, orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos... É por isso que ele nos chama graciosamente (Is 55.6-7 - Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar).
Há mais um passo a ser dado. Deus é gracioso, e se deixa achar por quem o busca de todo o coração (Jr 29:13 - Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração). Esta busca tem que ser feita no tempo oportuno (II Co 6:2 - ...porque ele diz: Eu te ouvi no tempo da oportunidade e te socorri no dia da salvação; eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação) antes que o tempo da oportunidade tenha cessado (Pv 1.28-31 - Então, me invocarão, mas eu não responderei; procurar-me-ão, porém não me hão de achar. Porquanto aborreceram o conhecimento e não preferiram o temor do SENHOR; não quiseram o meu conselho e desprezaram toda a minha repreensão. Portanto, comerão do fruto do seu procedimento e dos seus próprios conselhos se fartarão).
A terceira coisa que precisamos lembrar é que o caminho da graça, do arrependimento, da obediência passa inapelavelmente também pela ação graciosa e redentora de Deus. Ele promete: “Eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra. A promessa de restauração de Deus é para aqueles que se arrependeram, que buscaram ao Senhor, que oraram e se humilharam, exatamente como Ezequias e Manassés.
Resta ainda observar que o caminho do Senhor, no final, é um caminho onde o crente é abençoado pelo Senhor. Enfermidade ou inimigos se tornaram apenas aspectos de um longo e negro vale pelo qual o Senhor conduziu seus filhos. Mas, mesmo no vale da sombra da morte, ele os conduziu. Observe que tanto Ezequias (II Cr 32:33 - Descansou Ezequias com seus pais, e o sepultaram na subida para os sepulcros dos filhos de Davi; e todo o Judá e os habitantes de Jerusalém lhe prestaram honras na sua morte; e Manassés, seu filho, reinou em seu lugar) quanto Manassés (II Cr 33:20 - Assim, Manassés descansou com seus pais e foi sepultado na sua própria casa; e Amom, seu filho, reinou em seu lugar) descansaram em paz por causa de sua humildade diante do Senhor. Mas não Amom (I Cr 33.23-24 - Mas não se humilhou perante o SENHOR, como Manassés, seu pai, se humilhara; antes, Amom se tornou mais e mais culpável. Conspiraram contra ele os seus servos e o mataram em sua casa). Não houve glória, não houve descanso, não houve paz para o ímpio (Is 48:22 - Para os perversos, todavia, não há paz, diz o SENHOR).
A quarta coisa que observamos que somente para o justo há verdadeira paz. Pode ser maltratado, perseguido, mas, humilhado pelo Senhor e diante do Senhor, será levantado e honrado (Lc 14:11 - Pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado).

O QUE FAZER
Só tenho uma resposta. Se você tem sido como Manassés, tem se esquecido do seu Deus, tem andado como se ele não existisse, tem feito pouco caso de sua presença e de sua Palavra, só lhe resta uma coisa a fazer: arrepender-se. Humilhar-se como fez Ezequias. Humilhar-se como fez Manassés. Reconhecer que o Senhor é Deus e abandonar os ídolos que você tem cultivado no seu coração, porque tudo o que ocupa o lugar que é do Senhor é um ídolo, é um adultério espiritual, é uma forma de apostasia.
O Senhor disse que seu povo precisa se arrepender - precisa se converter a Deus e praticar obras que mostrem este arrependimento. Nas palavras de Isaías, contemporâneo de Manassés, precisa de uma purificação pessoal (Is 1:16-17 - Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas).
Colocando isto de outra maneira, é como se Deus estivesse dizendo para você, aqui e agora: muda de vida. Muda sua vida. Conserte sua vida. Você está avisado. Já viu os exemplos de Ezequias, Manassés e Amom. Não se esqueça de Deus, porque isto não fica impune. Arrependa-se e retorne, e Deus será compassivo contigo.
Que tal você fazer como Ezequias - virar para a parede, tirar os olhos de tudo o mais que o cerca, de todos os atrativos do mundo, de seus ídolos do coração e humilhar-se na presença de Deus?
Que tal você se humilhar perante o Senhor sem precisar passar pela humilhação de perder tudo como aconteceu com Manassés antes de se arrepender e reconhecer que só o Senhor é verdadeiro Deus?
Que tal você buscar ao Senhor antes que sejas como Amom - pois o Senhor garante que chegará o dia em que será buscado, mas não será achado (Pv 1.28 - Então, me invocarão, mas eu não responderei; procurar-me-ão, porém não me hão de achar). Talvez você esteja pensando: é, eu preciso consertar minha vida para buscar a Deus - eu tenho que te dizer que estás errado: você tem que buscar a Deus para ele consertar sua vida, te dando não um monte de regrinhas, mas um novo coração (Ez 36:26 - Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne).

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