sexta-feira, 31 de julho de 2015

A ORAÇÃO NO BREVE CATECISMO - TODOS OS LINKS

ORAÇÃO NO BREVE CATECISMO – TODOS OS TEXTOS EM UM SÓ LINK

P. 107. BREVE CATECISMO - QUE NOS ENSINA A CONCLUSÃO DA ORAÇÃO DOMINICAL?

R. A conclusão da Oração Dominical, que é: "Porque Teu é o reino, o poder e a glória, para sempre. Amém", ensina-nos que na Oração devemos confiar somente em Deus, e louvá-lo em nossas orações, atribuindo-Lhe reino, poder e glória. E em testemunho do nosso desejo e certeza de sermos ouvidos, dizemos: Amém.
Dn 9.18-19; Fp 4.6; I Cr 29.11-13; I Co 14.16; Ap 22.20-21

A conclusão da oração ensinada pelo Senhor é tanto uma doxologia, uma forma de louvor e exaltação, como, também, um reconhecimento de que aquilo que pedimos a Deus, segundo a sua vontade, será concedido. A prática de louvar a Deus no fim das orações não era incomum entre os hebreus, como vemos em Davi (I Cr 29.10-13), em diversos salmos que concluem com a expressão "Aleluia", que significa louvado seja o Senhor, sempre no singular.
EXPRESSÃO DE LOUVOR
Esta expressão de louvor doxológica foi mantida na Igreja cristã (Ap 5.9-10). Os cristãos primitivos consideravam tão seriamente a filiação divina que somente os crentes professos tinham o privilégio de participarem da oração comunitária doxológica, segundo atesta Cirilo de Jerusalém (350 d.C.).
CIDADÃOS DE UM OUTRO REINO
Ninguém podia, em tempos de perseguição como foram os três primeiros séculos da Igreja cristã, admitir publicamente que havia um reino além do reino de César, que havia um outro imperador que não o César romano. Ninguém, a não ser os verdadeiros cristãos (I Co 12:3) numa atitude que podia significar a morte. Mas os cristãos faziam-no (Fp 2:11) porque temiam muito mais aquele que pode enviar para o inferno corpo e espírito (Mt 10:28).
CIDADÃOS DE DOIS REINOS
Não havia necessidade de antagonismo entre César e Cristo, pois Cristo havia dito claramente que seu reino não é deste mundo (Jo 18:36) mas César, como usurpador que queria ser adorado como Deus, não aceitava a dupla cidadania cristã – e estes optavam pelo reino mais importante, o dos céus, porque este era eterno (Lc 12.32-34).
NOSSO VERDADEIRO REINO
Como cidadãos dos céus, concidadãos dos santos e membros da família de Deus não podemos perder tempo amando as coisas deste reino que não é nosso (Ef 2:19), portanto, as coisas que este reino valoriza não devem ocupar o nosso coração porque elas fazem mal (I Pe 2:11). Entretanto, enquanto estivermos neste reino, aguardando o reino vindouro, devemos ter uma postura irrepreensível (I Pe 1:17) agir como embaixadores (II Co 5:20) deste reino não envergonhando aquele que nos enviou como suas testemunhas (At 1:8).
AS CARACTERÍSTICAS DESTE REINO
O reino de Cristo não é deste mundo, não é comida, nem bebida, nem filosofia nem absolutamente nada que o homem possa produzir (Rm 14:17). O que é este reino, então.
UM REINO PODEROSO
Jesus fez questão de afirmar aos seus discípulos que todo o poder lhe foi dado (Mt 28:18), cumprindo as profecias de Isaías (Is 40:10), que, já cumpridas em Cristo, em breve serão cumpridas integralmente em nossas vidas (Mt 24:30) e, então, poderemos usufruir da plenitude deste reino (Ap 11:17).
UM REINO GLORIOSO
Jesus afirma que seu reino será um reino glorioso (II Tm 4:18), e é este reino pelo qual almejamos, que desejamos ver chegar em sua plenitude e experimentar com grande gozo (Jd 1:25). Ao tentar Jesus satanás lhe prometeu as glórias dos reinos da terra (Mt 4.8-9). O problema é que tudo lhe pertencia por direito de criação e, no tempo próprio, tudo lhe seria entregue sem que precisasse se dobrar perante o usurpador. Ele receberia a glória dos reis da terra (Ap 21:24) e também a das nações (Ap 21:26).
UM REINO ETERNO
Diferente das coisas passageiras do mundo (Mt 24:35) o reino de Cristo, do qual fazemos parte e para onde nos dirigimos. Diferente dos grandes impérios que caíram, o reino de Cristo terá a seu serviço todos os reinos do mundo (uma figura de linguagem para expressar grandeza) e com duração eterna (Dn 7:27). É neste reino que estaremos (II Pe 1:11), eternamente, pois, nele, até a morte estará vencida (I Co 15:26).


domingo, 26 de julho de 2015

CABRITOS NUNCA OUVEM O PASTOR - Mc 2.18-28

18 Ora, os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando. Vieram alguns e lhe perguntaram: Por que motivo jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam? 19 Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Durante o tempo em que estiver presente o noivo, não podem jejuar.  20 Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; e, nesse tempo, jejuarão.
21 Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha; porque o remendo novo tira parte da veste velha, e fica maior a rotura. 22 Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos.
23 Ora, aconteceu atravessar Jesus, em dia de sábado, as searas, e os discípulos, ao passarem, colhiam espigas. 24 Advertiram-no os fariseus: Vê! Por que fazem o que não é lícito aos sábados? 25 Mas ele lhes respondeu: Nunca lestes o que fez Davi, quando se viu em necessidade e teve fome, ele e os seus companheiros? 26 Como entrou na Casa de Deus, no tempo do sumo sacerdote Abiatar, e comeu os pães da proposição, os quais não é lícito comer, senão aos sacerdotes, e deu também aos que estavam com ele?
27 E acrescentou: O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado; 28 de sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado.
Nos primeiros momentos do ministério de Jesus parecia que um dilema iria se impor na mente dos que o acompanhavam – de um lado, os religiosos, com suas regras e suas cobranças, atando pesados fardos sobre os homens (Mt 23:4) mesmo sendo, eles próprios, incapazes de cumprir integralmente a lei. Vigiavam os homens com olhos de águia, mas eram cegos como morcegos para a dureza de seus próprios corações. Coavam mosquitos na vida dos outros, mas deixavam passar camelos em suas próprias (Mt 23:24).
Quando veem Jesus agindo diferente, evangelizando os pobres, cuidando dos enfermos, alcançando com graça os perdidos e desprezados pelos próprios religiosos (Jr 50:) eles se indignam. Queriam ser o centro das atenções, queriam ser o modelo de seguidores da lei e dos profetas, mas não passavam de sepulcros caiados, filhos (no sentido de seguidores) dos assassinos dos profetas que vieram antes deles.
Jesus significa uma nova forma de olhar para Deus, significava liberdade da escravidão à lei e uma nova forma de relacionamento do homem com Deus – mais leve que a que eles ofereciam, menos opressiva que a religião baseada interpretações meticulosas dos mandamentos do Senhor – não que nos mandamentos houvesse algo errado (I Jo 5:3), mas porque eles não eram entendidos corretamente.
Porque, então, eles não se alegravam com o que Jesus lhes oferecia? Porque eles não se alegravam com os que eram curados? Porque não louvavam a Deus, como tantos que acompanhavam os atos e ditos de Jesus, por seu ensino maravilhoso, por seus atos de misericórdia? A resposta é dada pelo próprio Senhor Jesus – eles não eram das ovelhas de Jesus (Jo 10:26), não podiam ser contados entres os bem aventurados que creram em Jesus (Jr 6:10).
Ao invés de atenderem ao chamado de Jesus para irem a ele e encontrarem descanso (Mt 11:28) preferem a escravidão religiosa e, ao invés de beijarem o Filho (Sl 2:) preferem servir ao seu “pai” (Jo 8:44).
Lamentavelmente, ao invés de seguirem ao Senhor Jesus, eles se colocam como opositores de Jesus. Não querem ser seus discípulos, preferem se apresentar como seus censores – a criatura censurando o criador, os intérpretes censurando o autor. E, pior que tudo, ao invés de se ajudarem, preferem espalhar (Lc 11:23). Não queriam seguir a Jesus e preferiam impedir outros que poderiam desejar segui-lo, como faziam os inimigos de Paulo e do evangelho (I Ts 2.14).
E o que Jesus tem a dizer em relação a isto? Não, ele não está interessado, nunca esteve, em convencer os que não são das suas ovelhas, ele sabe que elas são incapazes de ouvirem a sua voz (Jo 10:27), mas, ao serem repreendidas, ao terem acesso ao seu ensino, tornam-se indesculpáveis em sua incredulidade (Jo 9:41). Mas o que Jesus tem a dizer para você? Você quer ouvir o que Jesus tem a lhe dizer? Então, vamos ao evangelho.

A RELIGIOSIDADE NUNCA É SUBSTITUTO ADEQUADO PARA A FÉ

18 Ora, os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando. Vieram alguns e lhe perguntaram: Por que motivo jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam? 19 Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Durante o tempo em que estiver presente o noivo, não podem jejuar. 20 Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; e, nesse tempo, jejuarão.
21 Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha; porque o remendo novo tira parte da veste velha, e fica maior a rotura. 22 Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos.
Marcos registra que os fariseus e os discípulos de João estavam, naqueles dias, jejuando. As razões podem ser diversas. Os discípulos de João provavelmente tinham uma calamidade diante de si (a prisão ou até a morte do batista) e os fariseus tinham suas tradições e consideravam o ápice da religiosidade jejuarem duas vezes por semana (Lc 18:12) porém faziam questão de ganharem créditos no banco da popularidade por causa disso (Mt 6:16).
É provável que estes dois grupos, juntos, fariseus e batistas, tenham vindo a Jesus para questionar o fato de que ele comia alegremente com publicanos e com os pecadores, mas não jejuava como os demais. Traziam uma exigência de suas tradições e preocupações particulares como se estas fossem a agenda de Deus para seu povo. Qual o propósito de Jesus, então, se ele não viera para trazer os pecadores e publicanos à religião tradicional? Por qual motivo eles se achavam no direito de não jejuarem, quebrando as tradições? O problema subjacente é que o jejum habitual e fora do tempo de calamidade era apenas uma tradição, não era exigido pela lei do Senhor do qual apenas o dia da expiação, tradicionalmente, era dedicado ao jejum legal (Lv 16.29-34) e o jejum hipócrita era apenas uma ofensa a Deus, como se estivessem tentando enganar ao Senhor – ou, na verdade, enganar ao povo por uma religiosidade aparente, mas não piedosa (II Tm 3:5).
A pergunta é: deviam aqueles que tinham motivos para festejar jejuarem? Deviam aqueles que haviam encontrado o salvador jejuar? Deviam aqueles que tinham segurança e paz jejuar como quem vivia em tempo de juízo e guerra? Deviam aqueles que se alegravam no Senhor (Sl 97:12) agir como quem estava triste? E, ainda que jejuassem, deviam mostrar para todos que estavam jejuando (Mt 6:16)?
A resposta de Jesus é: quem está celebrando a chegada do noivo, quem está na presença daquele que era esperado e finalmente chegou deve festejar. Não que não devam jejuar – na verdade, é mais que isso, devem se alegrar, o caso é que não lhes é permitido, nem é imposto pela lei nem permitido pelos costumes, jejuar.
Sim, é lícito aos cristãos jejuarem. Jesus não é contra o jejum – mas não em sua presença, não enquanto é motivo de celebração por sua chegada e a instauração de seu reino. Como celebrar uma vitória com jejum? Como celebrar a chegada do rei, do messias, com aquilo que é um sinônimo de apreensão e tristeza? Não, não era o tempo, não naqueles dias.
Jesus continua dizendo que não se deve inventar motivos novos para tentar complementar a lei que já foi dada. Remendo novo em pano velho, e vinho ainda em processo de fermentação em odres já ressequidos só resulta em dano ainda maior – e os fariseus sabiam muito bem do que Jesus estava falando. Eles requeriam jejuns literais em várias ocasiões: do nascer ao por do sol (Jz 20.26); por sete dias (I Sm 31:13); três semanas (Dn 10:3); no quinto e sétimo mês (Zc 7:5) e no quarto, quinto, sétimo e décimo mês (Zc 8:19).
O problema dos fariseus era, na verdade, acabarem invalidando a palavra de Deus por causa de suas tradições que se tornavam em laços de escravidão (Mc 7:13).

A RELIGIOSIDADE NUNCA É UM CUMPRIMENTO ADEQUADO DA VONTADE DE DEUS

23 Ora, aconteceu atravessar Jesus, em dia de sábado, as searas, e os discípulos, ao passarem, colhiam espigas. 24 Advertiram-no os fariseus: Vê! Por que fazem o que não é lícito aos sábados? 25 Mas ele lhes respondeu: Nunca lestes o que fez Davi, quando se viu em necessidade e teve fome, ele e os seus companheiros? 26 Como entrou na Casa de Deus, no tempo do sumo sacerdote Abiatar, e comeu os pães da proposição, os quais não é lícito comer, senão aos sacerdotes, e deu também aos que estavam com ele?
Já dissemos que os religiosos profissionais não conheciam a Jesus porque não queriam reconhecê-lo como o que ele era: o messias, o enviado por Deus para salvação de todo aquele que nele cresse (Jo 3:36). Eis aqui o mais preciso diagnóstico do problema da religiosidade – ela cega a tal ponto que, sob o pretexto de zelo pelas coisas de Deus (Rm 10:2) estabelece-se, na verdade, uma atitude de franca rebeldia.
Eles, junto com a multidão, seguiam a Jesus – e viram algo que, acreditavam, desacreditaria profundamente Jesus e seus discípulos perante o povo: de passagem por um campo, eles colheram espigas num dia de sábado. Não havia nada de anormal em um transeunte colher algumas espigas, desde que não usasse uma foice (Dt 23:25), em um campo qualquer – isso era lícito. Mas colher espigas (trigo ou cevada) e, esmagando-as com as mãos, comê-las, era visto como uma quebra do mandamento de não trabalhar no sábado.
Depois de terem sido duramente “ensinados” por Jesus, eles acreditaram que, agora, poderiam reprovar ao Senhor sem medo de serem, mais uma vez, envergonhados publicamente. Eles advertiram Jesus, literalmente exortaram com reprovação: Veja… olha só… e agora… seus discípulos, aqueles que te seguem, estão colhendo espigas… estão fazendo, no sábado, o que não é lícito, o que é ilegal fazer. Quem lhes permitiu fazerem isso? Quem os ensinou? Eles são discípulos de quem? Eles estão quebrando o mandamento. O que você tem a nos dizer?
O sábado era tido como um dos fundamentos da existência de Israel (Ez 20:12). Os judeus se apegavam tanto à guarda do sábado que quase deixam de existir quando da revolta dos macabeus – durante algum tempo recusavam a se defender se o inimigo os atacasse no sábado, mas logo perceberam que a sobrevivência dependia de um entendimento diferenciado a respeito de como guardar o dia do Senhor. E defender sua vida e a vida dos seus familiares certamente entraria naquilo que se podia fazer no sábado, aliás, isso não era proibido, proibido era fazer o trabalho regular no dia do Senhor.
A guarda do sábado era um distintivo dos crentes, e era quase impossível aos publicanos e pecadores guardarem-no por causa da natureza de seu trabalho em uma região dominada pelos gentios que não tinham os mesmos escrúpulos dos judeus. Para responder aos religiosos Jesus cita as Escrituras, censurando-os por não conseguirem entende-la corretamente. Jesus lhes diz que eles nunca tiveram um conhecimento adequado da palavra de Deus, embora se gabassem de serem conhecedores e guardadores da lei. E lhes cita um exemplo: o rei Davi.
Perseguido por seu sogro, o rei Saul, Davi passa por Nobe e recebe das mãos do sacerdote Abiatar os pães da proposição, ou pães da presença do Senhor. Eram 12 pães que representavam cada uma das doze tribos de Israel, e eram colocados na mesa, defronte ao santo dos santos, aos sábados e só eram retirados no sábado seguinte. Somente os sacerdotes era permitido comê-los. Nem mesmo os demais levitas tinham este privilégio. Mas Davi teve. Como os fariseus explicariam isso? A resposta: tudo em torno da lei visa o bem estar do homem, seja o seu bem estar espiritual em seu relacionamento com Deus, seu bem estar físico e emocional em seu descanso e seu bem estar relacional, com seus semelhantes, indicando o tríplice mandato dado por Deus ao homem no Éden – o mandato espiritual, cultural e social.
Jesus faz uma analogia entre ele e Davi (e, evidentemente, Davi é, nas escrituras, em inúmeras passagens, um tipo de Cristo) e os seguidores de Davi e os seus discípulos. Se a Davi, por causa de uma necessidade (quando teve fome) foi permitido comer dos pães da presença do Senhor mesmo não sendo sacerdote (era rei e profeta) e dar aos seus discípulos, porque a ele, o antítipo, a realidade, não seria permitido comer ou deixar seus discípulos comerem na presença do Senhor, mesmo colhendo as espigas no sábado? Se Davi não pôde passar fome, porque aos seguidores do pão da vida seria imposto esta exigência?
Lembremos, mais uma vez, o propósito da lei: ela foi dada para o bem do homem. Tudo na lei tem como objetivo conduzir o homem a Deus. Tudo quanto foi escrito foi escrito para nossa instrução e para o nosso bem. A disposição a respeito da colheita com as mãos nas bordas dos campos foi dada para que ninguém passasse fome nas estradas. Era uma disposição de misericórdia – assim como o sábado era uma disposição da misericórdia de Deus visando ao bem estar espiritual, emocional e físico do homem.
Os discípulos colheram e comeram as espigas por terem fome – era a satisfação de uma necessidade essencial, não era um trabalho. Davi e seus seguidores comeram dos pães da proposição porque tinham fome, não deveriam morrer de fome assim como não deveriam morrer nas mãos de Saul. De novo, afirmo que ninguém deve sofrer por causa da lei do Senhor – e Jesus escolhe Davi para ser o modelo porque os judeus o tinham na mais alta conta, logo, se ele, Jesus, fazia algo semelhante a Davi, os judeus não estavam seguindo o exemplo de Davi – podiam ser considerados apostatas ou, no mínimo, ignorantes, como Jesus os chama.

RELIGIÃO X FÉ – UM DILEMA INEXISTENTE

Às vezes ouço debates sobre um dilema entre ser religioso ou ser crente. Isto não é procedente. Todo crente é religioso – o verdadeiro dilema é entre uma religiosidade como a dos fariseus, sem conhecimento cristalino da Palavra de Deus, baseada em tradições vazias e vãs, obscurecidos de entendimento por terem corações endurecidos (Ef 4:18) e absolutamente cegos para a verdade espiritual que é colocada diante dos teus olhos por sua sujeição ao diabo (Jo 12:40).
Porque os escribas encontravam dificuldades para crer no Senhor Jesus? Porque eram simplesmente adeptos de uma forma de religiosidade, mas não estavam dispostos a serem religados com Deus mediante Jesus Cristo (II Co 5:18). Cristo era e é o único meio de alguém estar em paz com Deus (Rm 5:1) e não receber a Cristo é rejeitar o único caminho de reconciliação, o único meio de estar em paz com Deus, a única forma de obter a salvação (At 4:12).
Para ilustrar esta escravidão religiosa Jesus lhes diz que eles eram escravos do sábado, e ele, Jesus, era Senhor do sábado. Ora, Deus chama o sábado, por diversas vezes, de meus sábados (15 vezes, como em Êx 31:13), e o sábado é chamado de sábado do Senhor (4 vezes, como em Lv 23:3).
Jesus lhes diz duas coisas surpreendentes:
i.                   O sábado, as leis, tudo o que Deus deu foi para beneficio do homem, e nada foi dado para escravizar o homem, já bastando sua escravidão ao pecado;
ii.                Ele se identifica como o filho do homem, título de significado escatológico (Dn 7:13) e senhor (termo usado para identificar o próprio Deus - neste caso, ainda mais, por estar em conexão com o senhorio sobre o sábado - em inúmeras passagens neotestamentárias) do sábado.
Em conexão com o sábado, com o jejum e com o perdão de pecados, não podia restar nenhuma dúvida de que Jesus era, de fato, o messias prometido. Não podia restar duvidas na mente dos ouvintes, independente do fato de serem seguidores de Jesus, de João Batista ou dos fariseus, que Jesus realmente se apresentava como o enviado de Deus e era capaz de ações que só o enviado de Deus poderia ser capaz de fazer. E porque, ainda assim, não criam?
Porque eles eram iguais a mim e a você. Porque eles estavam mortos espiritualmente e, embora tendo olhos e ouvidos, eram incapazes de ver e de entender (Mt 13:13) e, vendo e entendendo, viessem a ase converter e fossem salvos (Mt 13:15).
Deixe-me perguntar-te uma coisa: você tem alguma dúvida sobre o que estou lhe dizendo? Você tem dúvidas a respeito da identidade de Jesus? Você duvida que Jesus seja, de fato, o filho de Deus? Então, porque você não para de agir como os fariseus? Porque não para de agir como os escribas? Porque você, aqui e agora, não se rende aos pés do Senhor Jesus e faz como Tomé, reconhecendo-lhe a divindade e o senhorio (Jo 20:28)?
Vinte anos depois disso Paulo teve que dizer as mesmas coisas, agora com uma palavra final de julgamento (Jo 1:11) a um grupo de enviados dos judeus, em Roma, a centenas de quilômetros da Judéia (At 28:27-28).
Dois mil anos depois e ainda há quem não creia – e você? Você crê? Se você tem Jesus, você pode fazer como os discípulos de Jesus, ao invés de viverem como escravos da religiosidade, com os corações endurecidos e obscurecidos de mente, você pode se alegrar na presença do Senhor. Eles celebravam a chegada do noivo, e, como era costume, os amigos do noivo não apenas se alegravam como faziam de tudo para que todos os demais se alegrassem naquele momento. Um casamento não era momento para tristezas, mas para júbilo e alegria. E os crentes no Senhor Jesus se alegram uns com os outros na presença do Senhor Jesus (I Jo 1:4).

NÃO CAIA NA ARMADILHA DA RELIGIOSIDADE

A religiosidade impõe regras, estabelece limites, enche a vida de exigências que trazem alguma espécie de conforto emocional, porque exigências da religiosidade são exigências humanas e podem ser, de alguma forma, alcançadas – e quando não são alcançadas podem ser compensadas.
Mas a religiosidade é uma armadilha porque impede um encontro pessoal real com Jesus. Assim como a religiosidade impediu os fariseus, impediu os escribas, impediu os zelotes e os saduceus de, de fato, terem um encontro salvador com Jesus, embora tivessem tido vários encontros pessoais com ele, ela continua fazendo os mesmos estragos na atualidade.
O que aprendemos é que, ontem e hoje, somente reconhecendo Jesus como o messias, somente recebendo-o como Senhor e salvador estamos livres da prisão da religiosidade e podemos, através de uma atitude correta de mente e coração, experimentar a alegria de conhecer verdadeiramente ao Senhor Jesus como ele deve ser conhecido, de recebe-lo e receber dele a vida plena que ele veio trazer a todo aquele que nele crê.
É possível ser infeliz sendo adepto do cristianismo, mas é impossível não ser feliz na presença do filho de Deus, do Deus que se fez carne, daquele cuja companhia produz plenitude de alegria (Sl 16:11). Ter Jesus é viver na presença daquele que diz que, no mundo, teremos dificuldades, mas que devemos ter bom animo por que o mundo já foi vencido (Jo 16:33) pela fé (I Jo 5:4).
Como não cair na armadilha da religiosidade? Crendo em Jesus. Como não se deixar encarcerar na prisão da religiosidade? Reconhecendo Jesus como seu Senhor e salvador, o messias, o enviado por Deus.
Evite os erros que os fariseus e escribas cometiam:
i.                   Não confie que uma prática religiosa seja substituto para a fé em Jesus. Não é suficiente estar presente na Igreja, ser filho ou neto de crentes, amigo de crentes. Nada disso substitui a fé pessoal e salvadora no Senhor Jesus Cristo. Os fariseus confiavam no jejum para obter o favor de Deus – mas cometeram o erro de rejeitar a maior expressão do favor de Deus para com pecadores porque não se achavam pecadores;
ii.                Não confie que suas práticas pessoais, até mesmo oferecendo algo que Deus nunca pediu, ações religiosas mas sem a entrega do coração, sejam suficientes para colocar-se diante de Deus e dizer-se merecedor da atenção do Senhor. Na verdade, só merecemos a atenção do Senhor pelo que fazemos se for para sermos julgados pelos nossos pecados.
É preciso lembrar o que Jesus disse aos fariseus e escribas logo depois de lhes dizer que a sua religiosidade e até mesmo os complementos religiosos que eles adotaram, os seus acréscimos de piedade pessoal não lhes davam: o reconhecimento do senhorio de Jesus. Se eles jejuavam para entrar na presença de Deus, Jesus lhes diz que o jejum não lhes era permitido porque ele, Jesus, estava presente. Se eles brigavam pela tradição religiosa e pelo sábado, no qual deviam descansar, Jesus lhes diz que, com ele presente, os discípulos podiam descansar seus corações e teriam tudo o que necessitavam.
Não te ofereço nem religião nem regras. Isso você pode encontrar em qualquer lugar. Te ofereço aquilo que Jesus oferecia – a salvação de sua alma, o perdão de seus pecados, a experiência de um encontro pessoal e salvador com o Senhor Jesus. Como? Entregando sua vida a ele, aqui e agora. Assumindo um compromisso pessoal com ele, aqui e agora. Fazendo como Levi, fazendo como os demais discípulos fizeram. A outra opção é continuar rejeitando-o. Não se trata de receber Jesus e ser salvo ou negar Jesus e tornar-se um rebelde. A situação é receber Jesus ou manter-se rebelde (Jo 3:36).
Crer ou continuar rejeitando. Não há uma terceira opção. Não importa quão religioso você é. Não importa quanto tempo de tradições religiosas você tenha. Ou você crê ou é apenas um rebelde. Para os crentes o Senhor oferece a vida eterna – para os rebeldes, a ira de Deus.

Receba Cristo, receba a vida, hoje, aqui e agora.

domingo, 19 de julho de 2015

ENCONTRAR O REI OU SER CONVOCADO POR ELE?

13 De novo, saiu Jesus para junto do mar, e toda a multidão vinha ao seu encontro, e ele os ensinava. 14 Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu.
15 Achando-se Jesus à mesa na casa de Levi, estavam juntamente com ele e com seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque estes eram em grande número e também o seguiam. 16 Os escribas dos fariseus, vendo-o comer em companhia dos pecadores e publicanos, perguntavam aos discípulos dele: Por que come e bebe ele com os publicanos e pecadores? 17 Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores.
Mc 2.13-17

PORQUE AS PESSOAS TEM DIFICULDADE PARA ENCONTRAR O JESUS DAS ESCRITURAS?

Será que as pessoas estão à procura de Jesus? Você está, realmente, à procura de Jesus? Bom, talvez esteja, mas, preciso ser um pouco mais incisivo: a qual Jesus você está procurando? Talvez pareça meio estranho eu fazer uma pergunta destas, uma vez que você está numa Igreja – e está ouvindo um pastor pregando sobre ninguém menos que Jesus. E você pode responder: eu estou à procura deste Jesus que você prega. Bom, isto é muito bom. Então, vamos conhecer, primeiro, o Jesus que eu não prego, o Jesus que não é digno de ser anunciado de púlpito algum – e, creiam-me, não estou ficando louco.
Eu não acredito que o Jesus a ser anunciado seja aquele que trabalha numa espécie de pronto socorro, bastando ser invocado para vir correndo resolver problemas emergenciais e logo retornar ao seu posto de observação aguardando o próximo chamado. Se você procura este Jesus, ele não está aqui.
Eu não acredito que o Jesus a ser pregado seja aquele que funciona como um senhor serviçal sempre pronto a atender aos caprichos de seus grandes servos sempre cheios de vontades – e, creiam, senhor serviçal e servo grande são paradoxos, coisas que não podem jamais existir.
Eu não acredito que o Jesus a ser pregado seja o filósofo com respostas profundas e enigmáticas, mas que não passa de um grande mestre, um homem iluminado ou possuído de alguma força sobrenatural, mas que é incapaz de responder aos anseios mais profundos da alma humana.
Eu não acredito que o Jesus a ser pregado seja este dado a espetáculos com hora marcada e lugar definido, em troca de generosas doações financeiras, mas que é absolutamente incapaz de acompanhar qualquer um destes grandes milagreiros a um simples hospital e fazer os doentes se levantarem e irem para casa sem cobrar.
Enfim, eu não acredito que o Jesus a ser pregado seja o marxista, o comunista, o pensador, o revolucionário, o anjo, o homem iluminado – nada disso é digno de ser mencionado de um púlpito cristão. E é por isso que eu convido você a buscar conhecer o Jesus das Escrituras, porque eu acredito que a maioria das pessoas que não conhece Jesus, o verdadeiro Jesus, é simplesmente porque está buscando outro Jesus, não o Jesus das Escrituras.
Talvez você tenha vindo a este local depois de passar por vários outros – e eu espero sinceramente que sua busca tenha chegado ao fim. Mas chegado ao fim não porque você vai escolher, dentre todos os que já te foram apresentados, este de quem eu vou falar.  Eu sinceramente espero que sua jornada chegue ao fim porque você vai ouvir a voz do Senhor te chamar, porque ele te escolheu e  você o ouve chamando para segui-lo. A qualquer outro dos Jesus que são pregados por aí é possível escolher – ao Jesus das Escrituras é impossível, porque ele mesmo diz que você não pode escolhê-lo, pelo contrário, é ele quem te escolhe (Jo 15:16).

DIANTE DE JESUS COM DIFICULDADE PARA ENCONTRÁ-LO

Mesmo diante de Jesus nos dias de seu ministério terreno, porque encarnado ele ainda está, todavia glorificado (Cl 2:9) havia pessoas com grande dificuldade para encontrá-lo. Mas esta dificuldade não é porque ele se escondesse, ou porque ele evitasse as pessoas, pelo contrário, Jesus estava sempre seguido pelas multidões, e Marcos quase sempre o apresenta cercado por muita gente, que sabia onde ele ia, onde repousava, onde morava, onde e com quem comia, o que falava e como falava. Encontrar Jesus era algo muito fácil, para quem tivesse este desejo.
Mas havia pessoas que, mesmo perto, mesmo seguindo Jesus de muito perto, mesmo observando atentamente tudo quanto Jesus fazia ou falava, ainda assim não o encontravam porque eles não queriam o Jesus que o Senhor havia enviado (Jo 1:11), porque não eram das ovelhas do Senhor e nada do que ele fizesse lhes seria atrativo, pelo contrário, eles o rejeitariam ainda mais (I Pe 2:7). Eles queriam o seu Jesus, não o Jesus que Deus lhes deu. O problema é que o Jesus que eles queriam não estava disponível e nunca viria, nem nunca virá, o Jesus que Deus deu já veio, é o Jesus das Escrituras.

O JESUS QUE DEVE SER ANUNCIADO

É este Jesus, o Jesus das Escrituras, que deve ser anunciado, como Paulo fazia (I Co 15:3-4). É este Jesus, rejeitado pelos religiosos profissionais, que você está sendo convidado a conhecer. O que podemos dizer sobre este Jesus?

JESUS FAZIA ÀS CLARAS, RELIGIOSOS QUEREM AS TREVAS

13 De novo, saiu Jesus para junto do mar, e toda a multidão vinha ao seu encontro, e ele os ensinava.
Todos sabiam onde e como encontrá-lo.
Como é costume de Marcos, Jesus está sempre indo, sempre em atividade contínua. Nesta seção todos os versos começam com um conectivo (e então) para expressar a movimentação constante de Jesus. Somos informados que, como era seu costume e era de conhecimento de todos em Cafarnaum, Jesus mais uma vez deslocou-se, agora da cidade para uma região mais erma, para os lados do mar. Para sair de Cafarnaum, atravessando os subúrbios em direção ao lago, certamente teria que passar pela região mais pobre, e, também, onde estavam os grupos mais desprezados pelos judeus: os publicanos (cobradores de impostos) e os pecadores (que ordinariamente se relacionavam com os gentios, sendo, por isso, desprezados pelos religiosos).
Depois de tanto ensino, e ensino substancial, não retórico e vazio como o ministrado pelos escribas, depois de tantos milagres, de tantas curas inexplicáveis e, principalmente, da cura do paralítico, o fluxo de pessoas a segui-lo inevitavelmente tendia a não diminuir, embora muitos seguissem a Jesus pelas razões erradas – queriam ver ou receber o resultado de alguma de suas ações. Mas não criam nele, a ponto de alguns perguntarem que sinais (entre tantos que estava fazendo) ele mostrava para que pudessem crer (Jo 6:30).
Mesmo assim, mesmo que não tivessem fé e que seus interesses fossem mais mundanos e materiais, Jesus não deixava de cumprir a sua missão de anunciar o evangelho aos pobres (Lc 7:22). À multidão que o procurava por sinais e maravilhas ele respondia com o anuncio da chegada do reino. Àqueles que queriam sentir a ação do seu poder ele lhes ensinava, conduzia-os com simplicidade e clareza de maneira que eles aprendessem a verdade sobre o reino de Deus.
O problema para aqueles que não encontram Jesus não é que ele seja difícil de ser encontrado – é que os que não o encontram simplesmente não querem encontra-lo. Não é falta de conhecimento sobre o Senhor, é falta de interesse e, pior ainda, é franca rejeição (Jo 1:11). O problema é que eles, embora fosse de Israel, não eram das ovelhas que o Senhor Jesus veio buscar (Mt 15:24). Eram como muitos que, embora talvez estejam dentro das Igrejas, como muitos judeus estavam na casa de Israel, não tinham nenhum relacionamento com o Senhor da Igreja. Tinham aparência de piedade, mas sem eficácia espiritual alguma (II Tm 3:5).

JESUS AGE COM AUTORIDADE, RELIGIOSOS QUEREM IMPOSIÇÃO

14 Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu.
A autoridade de Jesus era inquestionável.
Quando Jesus ensinava ficava claro que ele possuía autoridade que não era compartilhada pelos demais doutos e mestres do seu tempo (Mc 1:22). Quando lidava com as enfermidades a mesma coisa acontecia (Mc 1:31). Nem mesmo o próprio diabo duvidava de sua autoridade (Mc 5:12).
De saída de Cafarnaum, em direção ao mar, Jesus tinha que passar pela alfândega onde eram cobradas taxas de quem vinha ou ia para as cidades de Tiro, Damasco ou Jerusalém, além de outras cidades menos importantes. Aquele lugar era, para os judeus, um símbolo de opressão, um lugar mais que detestado por eles porque ali estavam aqueles que eles consideravam seus espoliadores, ladrões que tiravam deles, o povo de Deus, para dar aos gentios romanos. Se os judeus já odiavam os cobradores de impostos, mais ódio ainda eles devotavam aos publicanos judeus, vistos como traidores de seu povo e traidores de Deus. Triplamente detestados: porque traíram sem povo, traíram seu Deus e se misturavam em negócios com os gentios.
Ao passar pela coletoria Jesus diz a Levi, filho de Alfeu: Segue-me. Sem razões, sem explicações, sem promessas. Quanto do nosso evangelismo passa tão longe disso? Precisamos explicar mil razões, dar mil motivos e, às vezes, fazer mil promessas de bonança – quando a única promessa a ser feita é que todo aquele que crê no Senhor Jesus recebe, dele mesmo, a vida eterna (Jo 10:28). Só isso realmente importa – o límpido chamamento do Senhor para suas ovelhas (Jo 10:27). Não pensemos que Levi nada soubesse sobre Jesus. Levi não era diferente de nenhum de nós aqui. Dificilmente Levi não tivesse ouvido algo a respeito de Jesus, não soubesse de seu ensino e de suas ações. Levi não era diferente de nenhum de nós – ele sabia algo sobre Jesus, como todos aqui sabemos algo sobre Jesus, e como os escribas e fariseus sabiam algo sobre Jesus. A resposta a este conhecimento é que é diferenciada entre os que são de Jesus e os que não são.
O que ele não esperava era que Jesus o chamasse. Não a ele, Levi, o filho de Alfeu, o traidor de seu povo, o detestado publicano. Mas foi ao perdido, ao desprezado, ao proscrito que Jesus disse: Segue-me. Venha após mim. Seja meu discípulo. E a resposta de Levi é imediata, pronta, resoluta, sem questionamentos ou sem vacilos. Ele ouviu o chamado e foi, simplesmente atendeu ao chamado de Jesus. Razões para não ir ele tinha muitas, razões para ir ele tinha apenas uma: o chamado irresistível de Jesus e o segue, sem olhar para trás.

JESUS AGE COM LIBERDADE, RELIGIOSOS QUEREM TRADIÇÕES

15 Achando-se Jesus à mesa na casa de Levi, estavam juntamente com ele e com seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque estes eram em grande número e também o seguiam.
Jesus era capaz de ações surpreendentes.
Da coletoria somos informados por Lucas que Levi oferece uma grande refeição com a participação de Jesus (Lc 5:29). Entrar na casa de alguém significava das duas uma, ou as duas coisas: que se comungava com o que o hospedeiro fazia, considerando-o digno de uma visita, ou que o visitante era tido como um igual ou partidário das mesmas opiniões. Nenhuma das duas depunha a favor de Jesus. Para Lucas isso é importante porque descreve Jesus como aquele que penetrava em todos os estratos da sociedade de seu tempo, para Marcos o que é realmente importante registrar é o fato de que Jesus fala com um publicano, convida-o para ser seu seguidor, vai até a sua casa e se reclina à mesa tanto com ele quanto com outros cobradores de impostos, na verdade, muitos outros cobradores.
Aos publicanos Marcos acrescenta um outro grupo igualmente detestado pelos judeus: os pecadores. Jesus é o rabino que permite que prostitutas o toquem (Lc 7:39), que toca em leprosos (Lc 5:13), com uma mulher samaritana (Jo 4:27) e agora se banqueteava com os pecadores – literalmente os que se devotavam, que viviam na prática cotidiana do pecado, que tinham o pecado (na ótica deles) como meio de vida (na maioria dos casos por trabalharem direta ou indiretamente com os gentios).
O termo “pecadores” é um termo técnico, mais que um apelido, é um título de desprezo e escárnio dos mestres religiosos contra aqueles que eles desprezavam. Eis uma primeira consequência na vida daqueles que creem em Jesus: mesmo com a melhor das intenções, dar um jantar, leva-lo para dentro de sua casa para o convívio dos familiares e amigos logo são desprezados pelos que já estão acostumados à vida religiosa mas não são discípulos de Jesus, não entram nem desejam que outros venham a encontrar a porta, e entrem por ela, e sejam salvos (I Ts 2.14).

JESUS AGE COM PROPÓSITO, RELIGIOSOS PREFEREM PRECONCEITOS

16 Os escribas dos fariseus, vendo-o comer em companhia dos pecadores e publicanos, perguntavam aos discípulos dele: Por que come e bebe ele com os publicanos e pecadores?
Meros religiosos não aprendem nunca.
Existe grande diferença entre fé e religiosidade, muito clara na história da fé. Caim era religioso, chegava mesmo a oferecer culto (Gn 4:3) Abel era crente (Mt 23:35); honrar a Deus com lábios mas sem coração nunca foi novidade (Is 29:13) chegando a ponto de Deus desejar que as portas do templo permanecessem fechadas tamanha pode ser a hipocrisia de falsos adoradores, meros religiosos (Ml 1:10).
Os escribas, da facção religiosa dos os fariseus, guardadores estritos da torá e de muitas tradições orais, estavam observando o que Jesus dizia e fazia e certamente não entraram na casa de Levi, afinal, não lhes era permitido misturar-se com os detestados publicanos. Pior ainda era constatar que Jesus, o rabino, se reunia não apenas com muitos publicanos e também com os que chamavam pecadores, com a plebe que julgavam rude e ignorante (Jo 7:49). Sem coragem para enfrentar Jesus eles preferem a conversa de bastidores, dirigindo-se aos seus discípulos (que estavam há pouco tempo com Jesus). Os escribas, apesar de doutos, tinham medo de Jesus porque o Filho do Homem já havia desnudado seus corações malignos quando eles duvidaram da autoridade de Jesus para perdoar pecados, mesma autoridade que ele tinha para mandar a um paralitico que tomasse o seu leito e voltasse para casa andando.
Seu questionamento era lógico, dentro de sua lógica religiosa baseada na guarda exterior de mandamentos – como Jesus poderia ser, de fato, o messias, ser um bom rabino e um mestre qualificado se não ensinava as pessoas a se afastarem dos pecadores, a rejeitar a comunhão com os pecadores, a, de acordo com a cultura, demonstrar algum grau de aprovação pelo que eles faziam e como viviam porque não os censurava, não lhes dizia para abandonarem sua prática de pecados? Esta era a lógica da religiosidade, mas estava muito longe de ser o propósito da vinda de Jesus, que veio para dar a sua vida para resgatar, justamente, os pecadores (I Pe 3:18).

JESUS AGE DIDATICAMENTE, RELIGIOSOS QUEREM POLITICAGEM

17 Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores.
Jesus não se prende ao politicamente correto.
Certa vez vi uma frase que afirma que líderes elogiam publicamente e corrigem em particular – bom, acho que Jesus não ouviu esta frase. Ela é fruto de um nefasto pensamento chamado de politicamente correto. A hipocrisia dos fariseus era pública, seu questionamento à autoridade de Jesus era pública, sua atitude de desprezo por Jesus também. E eles estavam errados, tanto quanto em relação ao que pensavam a respeito de Jesus quanto, pior ainda, quanto ao que pensavam a respeito de si mesmos, o que os levava a pensar que não tinham qualquer necessidade da mediação de Cristo. Jesus, ouvindo o que eles falaram, age imediatamente. É óbvio que a autoridade de Jesus estava sendo contestada e precisava ser defendida, mas o problema maior estava no coração dos fariseus, e não nos ouvidos dos discípulos. Eles acreditavam que não precisavam de Jesus. Eles criam que podiam conseguir a salvação por sua própria obediência à lei mosaica – esquecendo-se que ninguém conseguia obedecer perfeitamente (Ec 7:20) e uma obediência imperfeita sempre será desobediência (Tg 2:10).
Enquanto eles murmuram Jesus lhes fala clara e publicamente, dizendo-lhes o que eles precisavam e não o que queriam ouvir. Jesus não lhes dá explicações, pelo contrário, mais uma vez lhes desnuda os corações, dizendo que eles se achavam justos, que se achavam santos, que se sentiam capazes de alcançarem a vida eterna (Mt 19:16). Embora Jesus dê instruções práticas, que qualquer fariseu daria, ele acrescenta uma exigência que nenhum fariseu estava disposto a cumprir: segui-lo, justamente o que Levi, um publicano, fez (Mt 19:21).
Para Jesus os que se julgam sãos não precisam de médico, ele não se encarnou para chamar justos, ou, como o termo usado por Marcos indica, pessoas capazes, poderosas, mas para convocar pecadores, miseráveis e fracas ao arrependimento. É a primeira vez que Jesus usa a adversativa mais forte (alla), enfatizando a absoluta incompatibilidade entre sua vinda e a salvação mediante alguma forma de justiça própria, de virtude auto atribuída. Ele não espera que os pecadores se tornem sãos, ele os faz sãos. Ele não espera que eles consertem a sua vida, ele é o próprio conserto para estas vidas (Ef 2:17). Jesus vem para chamar os praticadores de pecado ao arrependimento – e nada veio fazer por quem despreza seu chamado. A convocação é para os cansados e sobrecarregados – não para os que estão satisfeitos com suas cargas (Mt 11:28).

PORQUE AS PESSOAS TEM DIFICULDADE PARA ENCONTRAR O JESUS DAS ESCRITURAS?

É possível que as pessoas tenham dificuldade para encontrar o Jesus das Escrituras porque tem dificuldade com o seu evangelho, com a sua mensagem, com o que significa a sua vinda. O que significa o evangelho para pecadores – pecadores como os publicanos, pecadores como os desprezados homens e mulheres da vila de Cafarnaum? Pecadores como nós, pecadores do sec. XXI, tão pecadores quanto os mais pecadores entre os pecadores de todos os séculos?

O EVANGELHO MOSTRA QUE CRISTO VEIO PARA PECADORES

Em nenhum momento somos convidados a imaginar Cristo vindo para dizer para alguém que ele foi perfeito, e que, por isso, mereceu a recompensa de entrar na vida eterna, até porque a vida eterna é sempre uma dádiva, é sempre um presente de Deus (Rm 6:23) que é dado a pecadores.
Quem não encontra o Cristo das Escrituras é porque não consegue se ver nesta categoria, a de pecadores, e, por isso, insiste em chamar Deus de mentiroso (I Jo 1:10) rejeitando atender ao chamado do evangelho. Jesus se fez carne assumindo uma natureza de servo como sinal de humilhação para resgatar perdidos, se fez pecador para salvar pecados, seu perdão é expressão de misericórdia e graça – e só busca misericórdia e graça, só busca salvação quem está perdido. Só encontra o Cristo das Escrituras quem é fraco, perdido, pecador.
O evangelho é uma mensagem clara de perdão de pecados. E perdão de pecados só pode ser dado a pecadores. O evangelho é uma mensagem clara de justificação, de doação de justiça para injustos – e só podem ser justificados aqueles que forem injustos. O evangelho humilha o homem para salvá-lo. Os outros falsos cristos, os cristos que promovem harmonia do homem consigo mesmo em seu estado de pecado, que prometem exaltar o homem o fazem somente com o intuito de mantê-lo cativo em sua arrogância.
Jesus se fez homem para levar o homem para a cruz – não para colocá-lo em um pedestal. A morte e a ressurreição de Jesus foi em lugar do pecador, foi por causa do pecador, por causa da culpa do pecador e foi para retirar esta culpa de pecadores que tudo o que é relatado nos evangelhos aconteceu. Só aceita a humilhação de ser declarado incapaz de alcançar justiça quem se reconhece como injusto – e só encontra o Cristo das Escrituras quem é fraco, perdido, pecador, injusto.
O evangelho que os fariseus rejeitaram e que muitos rejeitam humilha o homem dizendo que a sua sabedoria não está em conhecimento de qualquer espécie, mas em reconhecer a sua situação de perdido, de pecador, de incapaz. A única sabedoria que o evangelho permite é a sabedoria de olhar para si mesmo com o mesmo olhar do evangelho para os pecadores – um olhar de reprovação para os pecados e de misericórdia para com pecadores, perdidos, mortos (Ef 2:1).
A verdadeira sabedoria é aceitar ser guiado por onde a lâmpada da Palavra de Deus guiar – mesmo que considere outros caminhos melhores (Pv 16:25 ). Não há outra forma de sabedoria. Só aceita ser visto desta maneira, destituído de sabedoria, quem, de fato, se reconhece tolo e só encontra o Cristo das Escrituras quem é fraco, perdido, pecador, injusto, destituído de sabedoria.

O PROPÓSITO DO EVANGELHO

E tudo isto para que? Para que, pelo evangelho, o pecador deixe de ser pecador, seja santificado, tenha sua mente mudada, seja reconciliado com Deus (II Co 5:18) e seja santificado.
O evangelho acaba com toda vaidade. O evangelho produz no coração do regenerado o sentimento de gratidão para com o seu salvador (I Tm 1:12). Faz com que a experiência de ser perdoado transborde no anúncio deste gracioso e imerecido perdão.

O propósito do evangelho é para que você conheça o Jesus das Escrituras – e que, conhecendo-o, creia nele como o filho de Deus, e, crendo nele, seja diferente dos fariseus que buscavam o “seu messias” e rejeitaram o messias que Deus deu (Jo 20:31). Em qual Jesus você crê, afinal? O único que pode te dar a vida eterna é o das Escrituras – e isto é mais valioso do que todo o ouro e prata do mundo. 

ESCATOLOGIA NOS SÍMBOLOS DE FÉ

Em primeiro lugar, precisamos definir quais são os nossos símbolos de fé. Ao lado da bíblia, única regra de fé e prática, única autoridade incontestável a definir o que devemos crer e como devemos dirigir a vida em toda e qualquer circunstância, temos alguns outros documentos humanos que expressam o melhor entendimento que se tem sobre a bíblia e são adotados pela Igreja reformada, da qual a Igreja Presbiteriana do Brasil faz parte. São eles a Confissão de Fé de Westminster, o Breve Catecismo e o Catecismo Maior. Existem outros credos e confissões que também expressam com fidelidade o ensino das Escrituras – mas por uma questão de opção e momento histórico não são adotados como nossos símbolos de fé, embora reconhecidos como fiéis.
O que eles têm a nos dizer sobre a doutrina das últimas coisas?
A primeira coisa que a CFW nos diz sobre as últimas coisas é que a morte uma certeza absoluta para todos os homens – até a intervenção última de Deus mediante o retorno glorioso de Cristo, assunto também deste estudo.

O QUE ACONTECE COM O HOMEM APÓS A MORTE

Art. XXXII. 1- Os corpos humanos, depois da morte, convertem-se em pó e vêm a corrupção (Gn 3.19; At 13.36); mas as suas almas – que nem morem nem dormem – tendo uma substância imortal, voltam imediatamente para Deus que as deu (Lc 23.43; Fp 1.23; II Co 5.6-8). As almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas na santidade, são recebidas no mais alto dos céus, onde vêm a face de Deus em luz e glória, esperando a plena redenção dos seus corpos (Lc 16. 23; Rm 8.23); e as almas dos ímpios são lançadas no inferno, onde ficarão em tormentos e em trevas espessas, reservadas para o juízo do grande dia final (Lc 16.23,14; II Pe 2.9). Além destes dois lugares, destinados às almas separadas de seus respectivos corpos, as Escrituras não reconhecem nenhum outro lugar.
De acordo com a confissão de fé, há três fatos que são inescapáveis a respeito da morte:
1.       Todos os seres humanos que morrerem verão a corrupção do corpo – entretanto, a corrupção do corpo do justo não é definitiva;
2.       O “anima”, aqui chamado de alma, recebe consciente e imediatamente a prova inicial do que lhe é reservado, até que os crentes recebam seu corpo de volta, sem mortalidade e corrupção, para viverem em gozo eternos, e os ímpios para a punição eterna;
3.       Inexiste uma terceira opção – seja sono da alma até a ressurreição, seja aniquilamento da alma dos ímpios.

A MORTE

A morte não é algo natural para o homem – o homem não foi criado para morrer. A morte é uma sentença punitiva para o homem, anunciada em caso de transgressão e imposta por causa do pecado. Ao criar o homem Deus estabeleceu um pacto (pacto federal) mediante o qual, em caso de obediência, ele receberia o privilégio de viver para sempre. Adão era o representante de todos os seres humanos, de onde eles procederiam como herdeiros da vida ou da morte (Gn 2.16,17; Gn 3.17-19; Rm 5.12). Poderíamos afirmar que a punição de Deus ao homem, por seu pecado, era fazê-lo voltar a ser o que ele já era sem Deus – do pó retornar ao pó, mas isto ainda não satisfaria a ofensa infinita praticada, requerendo ainda uma condenação posterior, o inferno. Por outro lado, Deus também manifesta a sua graça livrando o homem do domínio da morte pelo poder da ressurreição, concedida aos eleitos e justificados em Cristo Jesus (Rm 5.18).
Pergunta 84. Morrerão todos os homens? R. A morte, sendo imposta como o estipêndio do pecado, está decretada a todos que uma vez morram, pois todos são pecadores (Rm 6:23; Hb 9:27; Rm 5:12).
O Catecismo Maior afirma que a morte é uma experiência comum a todos os homens, como um decreto divino sobre os pecadores, como já afirmamos, daquele que ordena e faz cumprir as suas ordens.
A todos os homens está ordenado a experiência da morte física (Hb 9.27) Todos os seres humanos, até o fim da presente ordem, experimentarão a morte física. Se a morte é um pagamento justo pelo pecado (Rm 6.23) porque aqueles que são justificados em Cristo ainda tem que experimenta-la? A morte tem o mesmo significado para crentes e descrentes? A esta questão a pergunta 85 do Catecismo Maior nos oferece a seguinte resposta:
P. 85. A morte sendo o estipêndio do pecado, por que não são os justos livrados dela, visto que todos os seus pecados são perdoados em Cristo? R. Os justos no último dia serão libertados da própria morte, e no ato de morrer estarão isentos do aguilhão e maldição dela, de modo que, embora morram, contudo, vem isto do amor de Deus, Para os livrar perfeitamente do pecado e miséria e os tornar capazes de maior comunhão com Cristo na glória, na qual eles imediatamente entram (I Co 15:26, 55-57; Rm 14:8; Sl 116:15; Ap 14.:13; Lc 16:25, e 23:45; Fl 1:23).
Para os justos a morte não é a consumação de uma tragédia, mas a entrada em uma qualidade de vida superior – a morte não é a prisão tumular, mas a libertação da própria morte, a libertação do seu aguilhão e, embora morram, entram na vida (Jo 11.25). Os justos, cujas almas são levadas para o seio de Abraão, isto é, para a proteção de Deus, aguardam em conforto e relativa glória o juízo final. Mas o que entendemos por este “conforto e relativa glória” aguardando o juízo final? De novo, temos as palavras do Catecismo Maior a nos trazerem instrução:
P. 86. Que é a comunhão em glória com Cristo de que os membros da Igreja invisível gozam imediatamente depois da morte? A comunhão em glória com Cristo de que os membros da Igreja invisível gozam imediatamente depois da morte, consiste em serem aperfeiçoadas em santidade as suas almas e recebidas nos mais altos céus onde veem a face de Deus em luz e glória, esperando a plena redenção de seus corpos, os quais até na morte continuam unidos a Cristo, e descansam nas suas sepulturas, como em seus leitos, até que no último dia sejam unidos novamente às suas almas. Quanto às almas dos ímpios, são imediatamente depois da sua morte lançadas no inferno onde permanecem em tormentos e trevas exteriores; e os seus corpos ficam guardados nas suas sepulturas, como em cárceres, até à ressurreição e juízo do grande dia (At 7:55, 59; Ap 7:13;14, e 19:8; II Co 5:8; Fl 1:23: At 3:21; Ef 4:20; Ap 7:15; I Co 13:12; Rm 8:11, 23; I Ts 4:6; I Rs 2:10; Jo11:11; I Ts 4:14; Lc 16:23-24; Jd 7).
Tudo aquilo que era motivo de tristeza e choro, especialmente o temor da morte, a relativo desconhecimento do que há após a morte, todas as dúvidas e mazelas impostas ao homem em decorrência do pecado são imediatamente retiradas, os crentes são plenamente santificados, não restando nenhum resquício do pecado, e até mesmo o medo de pecar deixa de existir (non posse pecare) e agora aguardam gozosamente o momento de serem restituídos aos seus corpos e entrarem na plenitude da redenção.
Os injustos, sobre os quais as Escrituras falam pouco, deixando, entretanto, antever o seu sofrimento (Lc 16:23) sem, entretanto, qualquer possibilidade de mudança de estado ou de intervenção nas coisas desta vida (Sl 146.4), também ressuscitarão, mas para o juízo eterno. A morte vence-os, já no estado intermediário, e suas almas destinam-se ao Hades – ou inferno - (Lc 16.19-31), lugar em que as ausências da luz, da vida, da paz, da graça e da misericórdia divinas, submetem-nos a uma condição permanente de angústia inenarrável (Lc 16.23-24) e sofrendo a ira do cordeiro (Ap 6.16).

LUGAR INTERMEDIÁRIO

As Escrituras desconhecem lugares intermediários, criados pela dogmática romana, como o “Limbo”, para as crianças que morrem sem batismo; “Purgatório”, para as almas que, em vida, cometeram apenas pecados veniais, ou o lugar de sono da alma descrito pelo adventismo. Já vimos o destino dos justos (Ec 12.7) e dos ímpios (Lc 16.19-31). Este estado intermediário, de justos e injustos cujos espíritos e corpos estarão separados durará até a ressurreição geral e o juízo final, quando então cada um receberá o seu destino definitivo – não se trata de um julgamento no sentido de verificar o que cada um merece, mas da aplicação de uma sentença já predefinida (Jo 3.18-19). É a fé ou a incredulidade que são determinantes para o estado do homem após a morte - Os crentes em Cristo gozarão as bênçãos da vida eterna; os ateus, as maldições eternas.
Pergunta 37 – Quais são as bênçãos que os crentes recebem de Cristo na hora da morte? As almas dos crentes, na hora da morte, são aperfeiçoadas em santidade, e imediatamente entram na glória; e seus corpos, estando ainda unidos a Cristo, descansam na sepultura até a ressurreição (Lc 23.43; Lc 16.23; Fp 1.23; II Co5.6-8; I Ts 4.14; Rm 8.23; I Ts 4.14).
É isso o que afirma categoricamente o Breve Catecismo (pergunta 37) ao responder à seguinte questão: Quais são as bênçãos que os crentes recebem de Cristo na hora da morte? Segundo o Breve Catecismo as almas dos crentes, na hora da morte, são aperfeiçoadas em santidade, uma expressão para descrever o processo de glorificação, e imediatamente (sem período de sono) imediatamente entram na glória, e seus corpos, estando ainda unidos a Cristo, descansam na sepultura até a ressurreição. Este descanso não pressupõe a ausência de corrupção, mas a certeza de que a ressurreição verdadeiramente se dará (I Co 15.20), mesmo que seus corpos tenham sido lançados no mais profundo do mar (Ap 20.13). Para os incrédulos a sepultura é um cárcere – de onde os corpos serão chamados para poderem experimentar a plenitude da ira de Deus.

TODOS EXPERIMENTARÃO A MORTE

A confissão de fé faz uma importante ressalva quanto à experiência da morte – apesar de ela ser comum a todos os homens, e todos os homens estarem destinados a ela, ao mesmo tempo nem todos os homens perecerão porque alguns irão direto para a glória ou para a condenação no momento do retorno de Jesus Cristo – estes não morrerão nem ressuscitarão, serão mudados.
XXXII. 2- No último dia, os que estiverem vivos não morrerão, mas serão mudados (I Ts 4.17; I Co 15.51-52); todos os mortos serão ressuscitados com os seus mesmos corpos e não outros, posto que com qualidades diferentes, e ficarão reunidos às suas almas para sempre (I Co 15. 42-44).
Podemos afirmar, de acordo com a CFW, que os que estiverem vivos, no dia do juízo, não morrerão fisicamente, mas serão transformados para serem apropriados à nova natureza de vida – ou de condenação – que lhes está reservada (I Ts 4.17). Os justos ressuscitarão com seus próprios corpos, aperfeiçoados, conforme o propósito de Deus (I Co 15.42-44). Estes novos corpos serão definitivos e eternos, tanto para justos quanto para injustos.

A RESSURREIÇÃO

Que nos dizem os símbolos a respeito da ressurreição? O Catecismo Maior afirma que
P. 87. Que devemos crer acerca da ressurreição? Devemos crer que no último dia haverá uma ressurreição geral dos mortos, dos justos e dos injustos; então os que se acharem vivos serão mudados em um momento, e os mesmos corpos dos mortos, que têm jazido na sepultura, estando então novamente unidos às suas almas para sempre, serão ressuscitados pelo poder de Cristo. Os corpos dos justos, pelo Espírito e em virtude da ressurreição de Cristo, como cabeça deles, serão ressuscitados em poder, espirituais e incorruptíveis, e feitos semelhantes ao corpo glorioso dEle; e os corpos dos ímpios serão por Ele ressuscitados para vergonha, como por um juiz ofendido (At 24:15; I Co 15:51-53: I Ts 4:15-17; I Co 15:21-23, 42-44; Fp 3:21; Jo 5:28-29; Dn 12:2).
As Escrituras afirmam que Deus determinou um dia de julgamento para toda a humanidade, dia a que ela chama de grande e terrível dia do Senhor (II Ts 1.7-10). Ninguém escapará a este dia, nem mesmo através da morte. Os que tiverem morrido serão ressuscitados – os justos terão seus corpos transformados igualando-se aos santos ressurretos, revestidos de imortalidade e incorruptibilidade. Como é glorioso pensar que todas as marcas do pecado, no corpo, na mente e na alma, serão completamente eliminadas. Estudiosos defendem que as marcas da perecividade (infância, juventude e velhice) serão de todo banidas, sem evolução (pois o aperfeiçoado – isto é, aquele que não possui perfeição em si mesmo – não evolui) nem degeneração. A humanidade total, como idealizada por Deus, com todos os seus eleitos e salvos por Cristo, finalmente estar pronta para glorificar eternamente o seu criador.
Quantos aos ímpios continuaram com as marcas do pecado, sofrerão novos flagelos e, se seus corpos sofrerem alguma forma de transformação, é tão somente para que sejam aptos a sofrerem as duras condenações do inferno por seus pecados que não foram remidos em Cristo Jesus (Is 66.24). Os ímpios não se libertarão da corrupção decorrente das consequências da queda, nem de seus atos pecaminosos pessoais porque estas consequências não foram eliminadas pela regeneração ou pela justificação, mas levarão eternamente a sua culpa e lamentarão eternamente as suas atitudes de rebeldia e incredulidade contra o Redentor (Ap 20.10, 14).
A síntese do que vai acima é mostrada na CFW:
XXXII. 3- Os corpos dos injustos serão, pelo poder de Cristo, ressuscitados para desonra; os corpos dos justos serão, pelo seu Espírito, ressuscitados para honra e para serem semelhantes ao próprio corpo glorioso de Cristo (At 24.15; Jo 5. 28,29; Fp 3. 21).

A RESSURREIÇÃO DOS JUSTOS

Segundo as Escrituras os justos ressuscitarão em corpos aperfeiçoados, sem mácula espiritual, moral, mental e física do pecado – não trarão as contaminações da queda nem dos pecados pessoais. O corpo ressuscitado levantará do túmulo com a mesma personalidade, racionalidade e identidade mas sem as imperfeições que caracterizavam o fruto do pecado e sendo, novamente, à imagem e semelhança do varão perfeito (Ef 4.13). Sem considerar os aspectos da divindade, o homem ressurreto tornar-se à como o filho ressurreto (I Co 15.42-44).

A PAROUSIA E O ARREBATAMENTO

O Catecismo Maior afirma o seguinte sobre a volta de Jesus, no dia do juízo:
P. 90. Que sucederá aos justos no dia do juízo? No dia do juízo os justos, sendo arrebatados para encontrar a Cristo nas nuvens, serão postas à sua destra e ali, abertamente, reconhecidos e justificados, se unirão com Ele para julgar os réprobos, anjos e homens; e serão recebidos no céu, onde serão plenamente e para sempre libertados de todo o pecado e miséria, cheios de gozos inefáveis, feitos perfeitamente santos e felizes, no corpo e na alma, na companhia de inumeráveis santos e anjos, mas especialmente na imediata visão e fruição de Deus o Pai, de nosso Senhor Jesus Cristo e do Espírito Santo, por toda a eternidade. É esta a perfeita e plena comunhão de que os membros da Igreja invisível gozarão com Cristo em glória, na ressurreição e no dia do juízo (I Ts 4:17; Mt 25:33, e 10:32; I Co 6:2-3; Mt 25:34, 46; Ef. 5:27; Sl 16:11; Hb 12:22-23; I Jo 3:2; I Co 13:12; I Ts 4:17-18).

A RESSURREIÇÃO DOS ÍMPIOS

Quanto aos ímpios o Breve Catecismo ensina que
P. 89 Que sucederá aos ímpios no dia do juízo? No dia do juízo os ímpios serão postos à mão esquerda de Cristo, e sob clara evidência e plena convicção das suas próprias consciências terão pronunciada contra si a terrível, porém justa, sentença de condenação; então serão excluídos da presença favorável de Deus e da gloriosa comunhão com Cristo, com e seus santos, e com todos os santos anjos e lançados no inferno, para serem punidos com tormentos indizíveis, do corpo e da alma, com o diabo e seus anjos para sempre (Mt 25:23, e 22:12; Lc 19:22; Mt 25:41-42, 46; II Ts 1:8-9).
Os injustos também terão seu estado definitivo na eternidade, carregando eternamente o peso de seus pecados, que lhes trará punição eterna, acarretando angústias e sofrimentos inomináveis, tudo sob a condição de angústia e desesperança irremediável porque sabem que além de infindável é inescapável. A ausência da graça de Deus lhes será insuportável, mesmo a graça comum que tornar possível a muitos ímpios gozarem de relativa felicidade nesta vida!

O ESTADO DEFINITIVO

Tanto justos quanto injustos serão, ambos, ressuscitados pelo poder de Cristo – a diferença está no destino a ser dado a cada um deles. Os novos corpos dos servos de Cristo não mais sofrerão modificações ou transformações (por terem sido aperfeiçoados, não por serem perfeitos por sua própria natureza), nem estarão sujeitos mais à queda (porque Deus não os deixará mais pecar – non posse pecare). Isto será assim porque o Rei e Senhor, Jesus Cristo, os preservará sob sua proteção, graça e misericórdia, e o tentador também não terá acesso aos santos, pois estará em tormento junto com seus anjos e seguidores humanos (Mt 25.41). Os discípulos de Cristo serão, finalmente, um com seu mestre.

O REINO ETERNO

O Breve catecismo afirma em sua pergunta 88 que imediatamente após a ressurreição se seguirá o juízo final e a destinação de justos para a glória e de ímpios para a condenação eterna, sem período intermediário ou oportunidade de reconhecimento da gloria de Deus fruto da graça de Deus, mas este reconhecimento se dará pela aplicação de sua justiça.
P. 88. Que se seguirá imediatamente depois da ressurreição? Imediatamente depois da ressurreição se seguirá o juízo geral e final dos anjos e dos homens, o dia e a hora do qual homem nenhum sabe, para que todos vigiem, orem e estejam sempre prontos para a vinda do Senhor (Mt 16:27; II Pe 2:4; II Co 5:10; Mt 36, 42, 44).

A REJEIÇÃO DOS MILENARISMOS

A fé reformada rejeita todas as formas de milenarismo que são aceitas, de maneira consciente ou não, nas Igrejas de um modo geral, embora elas se façam presentes (propositalmente ou não) no ensino de muitos pastores presbiterianos que, sob muitos aspectos, não são reformados – são apenas presbiterianos inconsistentes. Os símbolos de fé adotados pela Igreja Presbiteriana do Brasil rejeitam o pre-milenismo, dispensacionalista e pós milenismo tribulacionalista que pregam dois (e em alguns casos menos consistentes, até três retornos de Cristo), duas ou mais ressurreições, dois ou mais juizões e duas batalhas entre o bem e o mal (Armagedom e Gogue e Magogue), chegando a preconizar um arrebatamento secreto da Igreja e a restauração de Israel (com a lei mosaica e o sacerdotalismo). Anuncia também a implantação de um reino terreno por parte de Jesus com a restauração de um trono davídico literal e culto sacrificial no templo em Jerusalém (contrariando as palavras de Jesus em Jo 18.36).

CRISTO VENCEDOR

A CFW, bem como o Catecismo Maior e o Breve Catecismo alinha-se com a ideia de que tudo o que era sombra (reino, templo, sacerdócio, sacrifícios) já se cumpriu de maneira total e final na pessoa de Cristo. O reino de Cristo já está presente e é a Igreja, reino de caráter eterno que existe e não será jamais destruído (Mt 16.18). As escatologias milenaristas baseiam-se na premissa de que Cristo não cumpriu totalmente o que precisava ser feito para instaurar o reino (Jo 19.30) e de que alguma forma de sofrimento e tribulação tem que ser vivenciada pela Igreja em um tempo sob o controle satânico para que, então, o reino possa ser definitivamente instaurado.
Para pós e pré milenistas Cristo teria sido incapaz de cumprir as profecias de restauração do templo (Jo 2.19) e ainda não teria poder suficiente para reinar sobre as nações. Pós milenistas creem que Cristo só volta depois do milênio que será implantado progressivamente – com ou sem uma prévia intervenção direta sua. Já os pré milenistas creem que Cristo voltará antes do milênio, arrebatando a Igreja de maneira secreta, deixando o papel de seu representante para o estado de Israel, e, depois, voltando, mais uma vez, para inaugurar seu reino terreno de maneira mais plena.
Cremos que Cristo já é rei sobre toda a terra (Mt 28.18), cremos que ele reina sobre a sua Igreja (que não deve ser confundida com denominações, parcial ou integralmente). Cremos que o estado de Israel não tem nenhum significado especial para Deus, sendo como qualquer outra nação política.
Cristo reina sobre o seu povo, povo que ele mesmo formou mediante o seu sangue (Tt 2.14), e que este povo é a Igreja invisível, triunfante, formada por todos aqueles que ele escolheu e salvou, no passado, no presente e que ainda hão de ser salvos.
Oportunamente vamos analisar a base de sustentação do milênio em Ap 20.4-7, que, interpretado literalmente num livro profundamente simbólico e alegórico. De qualquer maneira, pré-milenistas e pós-milenistas incorrem em erro hermenêutico que contamina toda a sua escatologia.

O REINO JÁ ESTÁ INSTAURADO

Os símbolos de fé adotados pela IPB, e subscritos pelos pastores presbiterianos ao serem ordenados, defendem uma visão escatológica chamada de amilenismo, isto é, na inexistência de um período milenial literal. Se o livro e o texto usados como base para o milênio são simbólicos e alegóricos, então a interpretação do milênio também precisa partir do mesmo viés simbólico e tipológico. Vamos ver um breve resumo da posição oficialmente aceita pela Igreja Presbiteriana do Brasil, em que pese não ser a posição da maioria dos membros da mesma Igreja por desconhecimento e falta de instrução por parte de seus ministros.
Cristo, o rei e messias, inaugurou e consumou o seu reinado na Igreja – e este reino está em marcha da mesma maneira que Israel marchou pelo deserto. Israel já era o povo de Deus, mas ainda não estava estabelecida como nação na terra prometida (Dt 10.11). Entretanto, como aquela era a terra que Deus havia dado a Israel (Js 21.43), também o reino escatológico já está conquistado e estabelecido pelo rei que é da raiz de Davi, o Leão da Tribo de Judá (Lc 1.33). O reino de Cristo é Cristo, e seu reino está tão presente quanto ele está vivo (Mt 28.28), embora seja um reino sem pátria, sem território neste mundo (cp. I Pe  2:11 e o envolvimento dos cristãos com o reino do mundo com Ef 2:19 e a real natureza da cidadania dos cristãos). O povo de Deus encontra-se sob dupla regência: a de Deus (Fp 2.11) e das autoridades constituídas, mesmo ímpias (I Pe 2.13).
À partir do juízo final, do grande e terrível dia do Senhor haverá um só povo, um só reino, um só rei. E o milênio? É o período em que a Igreja enfrenta as provações e perseguições, não necessariamente durando mil anos exatos, porque, para Deus, mil anos podem ser como um dia (II Pe 3.8) ou uma parte ainda menor dele (Sl 90.4).

Sim, cremos que satanás será solto, assim como os ímpios também sairão dos seus túmulos – mas não para tentar a vitória, porém, para serem fragorosamente derrotados por aquele que saiu vencendo e para vencer (Ap 6.2), não numa batalha com armas exércitos, mas pelo simples poder de sua Palavra e, então, as hostes satânicas serão final e totalmente encarceradas, e o povo de Deus herdará o novo céu e a nova terra, fruindo o gozo eterno da presença do seu Senhor onde a morte e o pecado, definitivamente, não mais estarão presentes.

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