Não é difícil reconhecer que as exortações bíblicas são
demasiado difíceis para serem colocadas em prática sem falhas. Paulo sabia
disso, João também deixa bastante claro que, quando falhamos, temos advogado
junto ao pai (I Jo 2:1). Um homem
natural não tem condições alguma de vencer a guerra contra o pecado – mas quem
disse que o crente é um homem comum, um homem natural (I Co 2:13) apesar de às vezes não agirem assim (I Co 3:1)? O homem natural é vendido à
escravidão do pecado, não consegue nem ver nem compreender as coisas de Deus –
mas aquele que é nascido de Deus é capacitado pelo próprio Deus para vencer o
pecado (I Jo 5:4) e ser, por meio de
Cristo Jesus, mais do que vencedor (Rm
8:37). O mesmo texto que diz aos crentes que eles devem fazer tudo em nome
do Senhor Jesus para glória de Deus pai nos dá algumas preciosas instruções
sobre como, com as armas espirituais (II
Co 10:4), fazer tudo de maneira que glorifique o Senhor (I Co 10:31).
2 Perseverai na oração, vigiando com ações de graças. 3
Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à palavra,
a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual também estou algemado; 4 para
que eu o manifeste, como devo fazer. 5 Portai-vos com sabedoria
para com os que são de fora; aproveitai as oportunidades. 6 A vossa palavra seja sempre agradável,
temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um.
Cl 4.2-6
INTRODUÇÃO
Podemos dividir a carta de Paulo aos colossenses da seguinte
maneira: a primeira seção (1.1 – 12)
na qual ele expõe seu interesse e suas orações em favor dos colossenses; depois
ele mostra quem Cristo é (1.13-20)
seguido do resultado da chegada do evangelho (e que é evangelho é esse) na vida
dos colossenses (1.21-2.5). Na
segunda seção Paulo da várias exortações aos colossenses sobre como viver esta
nova vida após terem recebido a Cristo e estarem neles edificados e
confirmados: eles devem andar em Cristo (2.6-7);
cuidar para não serem enganados (8-15);
não se submeterem a nenhuma forma de jugo humano (16-23); buscar e pensar nas coisas do alto (3.1-4) de maneira a fazer morrer a natureza terrena (5-10); revestir-se de um novo princípio
de vida (11-16) tudo fazendo em nome
de Cristo (17-4.1). Como fazer isso?
Como fazer tudo em nome de Cristo se o próprio Paulo diz que o bem que ele
queria fazer ele não conseguia, mas que, ao final, acabava fazendo o mal que
não queria (Rm 7:19). Como fazer
tudo para agradar a Deus sabendo que ninguém consegue cumprir a lei, não há
ninguém que nunca peque e sempre faça o bem (Ec 7:20). De onde tirar poder para fazer tudo em nome do Senhor
Jesus Cristo? O mesmo Paulo que nos exorta a tudo fazer em nome de Cristo para
glória de Deus pai é o mesmo que nos fornece os meios para, mesmo quando não
conseguirmos, perseverarmos sempre e não perdermos o ânimo jamais. Quais são as
características, afinal, daqueles que, renascidos pela graça de Deus,
prosseguem para o alvo da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Fp 3:14).
DEPENDÊNCIA DE DEUS
2 Perseverai na oração, vigiando com ações de graças. 3
Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à
palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual também estou
algemado
Como fazer tudo perfeito (Mt 5:48) sendo imperfeito? Como acertar
sempre se, desde o ventre, carregamos a marca do pecado e da iniquidade (Sl 51:5). Uma das atitudes mais comuns
é o desespero, como vemos, ainda que encontrando solução imediata, em Paulo (Rm 7:24) ou a desorientação que vemos
nos hebreus após a mensagem acusadora e redentora do pentecostes (At 2:37). Há os que preferem se
entregar a um tipo qualquer de vida sem sentido e sem esperança (I Co 15:32). Paulo nos propõe a não
confiarmos em nós mesmos porque em nós não habita bem algum (Rm 7:18) e colocarmos toda a nossa
confiança naquele que já fez tudo o que era necessário ser feito para que
tivéssemos nova vida, para que lhe pertencêssemos e, por meio dele, fossemos
tornados aceitáveis pelo Senhor (Tt 2:14).
Dependência de Deus em todo o tempo. Esta é a resposta. Eu não posso – e Deus e
eu sabemos quanto eu não posso. Mas
nós sabemos também que você não pode. Não adianta você me dizer que consegue.
Não adianta você dizer que vai tentar mais uma vez – será mais um fracasso. Não
adianta perseverar tentando sozinho, mas há algo que você pode fazer –
entregar-se como criança nas mãos do Senhor e assumir que depende dele para
tudo, em todo o tempo. A orientação de Paulo é para perseverar em oração, e
oração não é outra coisa senão dizer a Deus que depende dele para a vitória
sobre o pecado e a solução dos problemas da vida, e, também, agradecer a Deus
pelo muito que ele já fez. A receita de Paulo é desistir de lutar com suas
próprias forças e aceitar a vitória conquistada pelo Senhor Jesus, que faz
daqueles que nele esperam mais do que vencedores (Rm 8:37). Somente um ímpio não encontra motivos para agradecer a
Deus por todos os seus benefícios (Sl
116:12) sempre constantes e que se renovam todas as manhãs (Lm 3.22-23). Já se colocou diante de
Deus para agradecer porque ele te livrou do império das trevas e te fez cidadão
do reino do filho do seu amor? Devoção perseverante e ações de graças
constantes. Isso é algo para ser feito por si mesmo, vigiando-se a si mesmo, e
não aos outros. Paulo nos diz para não nos preocuparmos com os outros, mas para
orarmos e vigiarmos por nós mesmos (Rm
14:4). Este senso de dependência de Deus expressa-se também e ao mesmo
tempo em intercessão. A mesma oração que agradece a Deus pela vitória concedida
intercede para que novas vitórias sejam alcançadas. A Paulo havia sido dado a
missão de tornar conhecido perante todos o que antes era reservado para poucos
(Mc 4:11). Paulo afirma ter recebido
a revelação deste mistério (Ef 3:3)
concomitantemente com a ordem para fazê-lo conhecido perante os gentios (Ef 6:19). Para cumprir sua missão Paulo
mais de uma vez roga que os crentes intercedam por ele. E esta é uma das
características da nova vida em Cristo, do fato de ter sido feito nova criatura
(II Co 5:17) e retirado do império
das trevas. O egoísmo dá lugar ao altruísmo – e diferente do que estamos
acostumados a ver atualmente, Paulo não queria que orassem por sucesso
financeiro ou profissional – ele queria que os colossenses orassem em favor
dele para que o Deus que os livrou do império das trevas lhe concedesse, a
Paulo, oportunidades para proclamar o conhecimento que antes era oculto, ao
qual ele chama várias vezes de mistério – o evangelho que vem de Cristo, é
Cristo e é sobre Cristo. Qual o propósito disto? É pela dependência de Deus que
o cristão recebe poder para viver de modo digno do evangelho (Fp 1:27) e, assim, testemunhar a graça
salvadora de Deus em Cristo Jesus.
DISPOSIÇÃO
PARA OBEDIÊNCIA A DEUS
4 para que eu o manifeste, como devo fazer.
Se a primeira característica é a
dependência de Deus, esta dependência, inclusive na intercessão, tem como alvo
ser capacitado para a obediência. Paulo foi chamado para pregar o evangelho
perante os gentios (At 9:15) e é
para pregar este evangelho, para os gentios, que ele pede para que os
colossenses intercedam por ele (Ef 6:19).
Para pregar o evangelho Paulo não precisava de retorica ou palavras
persuasivas, comuns aos mestres de seus dias (I Co 2.1-2) porque a persuasão para os corações dos pecadores
deveria vir do próprio Deus – e não dos homens, porque, se de homens, ela é
falha (Gl 5:7-8). O que Paulo
precisava, e queria, era o poder de Deus capacitando-o a tornar conhecido o
evangelho de Cristo, mesmo que os judeus considerassem um escândalo a adoração
a alguém que fora crucificado, sinal maior de maldição, e os gentios
considerassem esta história uma tolice ou loucura, pois adorar um herói
era-lhes natural, mas adorar alguém que foi morto de maneira vergonhosa
era-lhes absurdo (I Co 1:23). Paulo
queria poder para obedecer. Queria que Deus lhe abrisse a porta para proclamar
o evangelho de Cristo, para tornar conhecido a salvação por intermédio deste
mesmo Cristo, único meio de salvação. Esta obediência era uma obrigação (I Co 9:16) a que ele se sentia
constrangido pelo amor de Deus (II Co
5:14) que ele sabia, era muito grande e foi a motivação para a sua própria
salvação e a de todos os demais pecadores, mortos em delitos e pecados (Ef 2.4-5). Isto não é realidade apenas
para Paulo – nós também fomos chamados à obediência, e é uma tolice achar que
meros sacrifícios (I Sm 15:22) ou
cultos elaborados, animados ou “espirituais” (Ml 1:10) são mais agradáveis a Deus do que obedecê-lo de coração (Mt 15:8). Tanto faz que seja eu ou
você, Paulo ou Paulina… todos fomos chamados à mesma forma de obediência ao
evangelho que recebemos – se é que ele não foi recebido em vão, com alegria
passageira em reuniões muitas vezes cheias de manipulação e promessas de
prosperidade e vitórias fantasiosas para logo ser abandonado quando a vida real
se apresenta com seus reclames, porque para obedecer a Jesus (Jo 15:14) guardando os seus mandamentos
(Jo 14:15) tem-se que estar disposto
a resistir, se necessário, até que o seu próprio sangue seja derramado (Hb 12:) por amor àquele que é nosso
modelo e, por nós, derramou todo o seu sangue em nosso favor (Fp 2:8). Qual o propósito disto? É pela
dependência de Deus que o cristão recebe poder para viver de modo digno do
evangelho, testemunhando a graça salvadora de Deus em Cristo Jesus obedecer ao
mandato de fazer discípulos (At 26.19-20).
SABEDORIA
DE DEUS
5 Portai-vos com sabedoria para com os que são de fora; aproveitai as
oportunidades. 6 A vossa palavra seja sempre
agradável, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um.
O apóstolo Tiago nos diz que, se
alguém quer sabedoria, deve pedi-la a Deus que ele concede com liberalidade (Tg 1:5), e é ele quem capacita o
cristão a tudo fazer em nome de Cristo, para glória de Deus pai, e, certamente
isto inclui ser sábio para discernir tanto a vontade de Deus quanto a maneira
de agir em meio a uma geração que desconhece esta mesma vontade (Mc 13:11). A orientação de Paulo é para
que aqueles que entregaram o seu caminho ao Senhor confiadamente e nele acham
graça (Hb 4:16) façam o seu próprio
caminho junto com sua vizinhança com sabedoria, e precisamos ser lembrados que
há caminhos que ao homem parecem direitos, mas ao cabo dão em morte (Pv 14:12). A bíblia nos diz aqui que o
caminho do crente deve ser orientado de tal modo que isto beneficie os de fora
– devemos aproveitar as oportunidades não por nós, mas para beneficio dos que
ainda não conhecem a Jesus Cristo. O crente já tem tudo, já tem o Senhor como
seu pastor, e isto é fonte de satisfação (Sl
23:1). Se alguém ousar dizer que ter Jesus não é suficiente, que ter o
Senhor de tudo como o maior interessado no seu bem estar é insatisfatório,
então, posso dizer sem sombra de duvida que este alguém ainda não experimentou
o amor de Deus, e na verdade, ama o mundo (I
Jo 2:15). Então, se temos tudo, as oportunidades que nos são dadas não podem ser para nosso próprio
beneficio, como, por exemplo, o encontro de Filipe com eunuco etíope (At 8:29 -), ou de Paulo com o
carcereiro de Filipos (At 16:31) ou
até mesmo o envio de José para o Egito (Gn
50:20). Esta sabedoria para perceber as oportunidades, aproveitando-as em
beneficio dos que estão próximos também se revela-se em falar para edificação,
em usar as palavras certas, no momento certo. Isto não quer dizer palavras agradáveis,
mas palavras abençoadoras, palavras que lembram ao homem o resultado dos seus
pecados (I Co 15:26) mas ao mesmo
tempo apresentam a salvação através da mensagem redentora, contendo a verdade
do evangelho da graça do nosso Senhor Jesus Cristo (At 20:24). É a sabedoria que vem de Deus que dá discernimento para
que o crente possa responder às oportunidades que surgirem, proporcionando o
bem a cada um que questionar a razão da esperança que há em seus corações (I Pe 3:15). Qual o propósito disto? É
pela dependência de Deus que o cristão recebe poder para viver de modo digno do
evangelho, testemunhando a graça salvadora de Deus em Cristo Jesus obedecer ao
mandato de fazer discípulos, abençoando suas vidas com a redenção graciosamente
oferecida em Cristo Jesus, enquanto eles eram, ainda, sem Deus no mundo (Ef 2:12).
E VOCÊ, LEITOR
Em primeiro lugar, não espere que
eu peça desculpas por lhe dizer que, sem crer em Cristo, sem confessá-lo como
seu Senhor e salvador você está perdido, é, segundo as palavras da bíblia, uma
pessoa sem Deus no mundo, vivendo em inimizade contra o Senhor que chama quem
assim vive de ímpio, fraco e pecador (Rm
5.6-8). O que fazer? Perguntar-se como os judeus no pentecoste (At 2:37) e aceitar as mesmas
orientações (At 2:38). Não há outro
jeito. A alternativa é receber a ira de Deus (Jo 3:36).
E VOCÊ, CRENTE
Se esta primeira etapa, a de
deixar de ser inimigo de Deus para ser adotado como seu filho (Gl 4:5) já foi alcançada, resta aos
filhos de Deus andarem como filhos de Deus. Os filhos da luz devem andar como
filhos da luz (Ef 5:8). Não basta
ser religioso – religiosos conspiraram para matar o Senhor Jesus. É necessário
mais – é necessário ser amigo do Senhor Jesus – obedecendo-lhe em tudo (Sl 119:4) porque só assim é possível
demonstrar que, realmente, é amigo do Senhor (Jo 15:14). É preciso depender de Deus e confiar nele, esperando
dele o poder para obedecer-lhe em tudo – e tornar sua graça conhecida àqueles
que, de outra maneira, continuariam perdidos sem a luz do evangelho.
E VOCÊ, AGORA
Certa vez alguém disse que não importa em qual classificação
você consegue entrar numa faculdade – o que importa realmente é você sair dela
com o curso concluído. Da mesma maneira o que é mais importante não é como você
começou, nem como você se sentia, mas quais disposições tomarão conta do seu
coração. E somente três disposições são, realmente, aceitáveis:
i.
Coração dependente de Deus
para viver de modo digno do evangelho testemunhando a graça salvadora de Deus
em Cristo Jesus;
ii.
Coração disposto a obedecer
ao Senhor, seguindo-o e fazendo discípulos, como ele ordenou;
iii.
Coração dependente e
obediente, aproveitando as oportunidades para abençoar àqueles que viviam sem
Deus no mundo.
Não é admissível que aqueles que foram libertos do império
das trevas ainda queiram viver nas trevas. Não é admissível que aqueles que
eram escravos do pecado e foram chamados à liberdade por meio do Espírito
queiram retornar à escravidão dos dominadores das trevas. Não é possível que
insistam em cometer o mesmo erro cometido por Adão e Eva, que, desejosos de
serem independentes de Deus, não entendiam que estavam sob sua proteção
soberana que evitava que se tornassem escravos da morte. Não é possível que não
de disponham a obedecer por amor quando obedeciam por medo da morte (Hb 2:15) e mais inadmissível é que não
queriam livrar outros deste mesmo pavor. Agora você já não é mais o mesmo – sabe
o que o Senhor espera de você. Não importa como você estava – o que importa é
como você está agora e o que fará daqui pra frente. Diante da ordem de tudo
fazer em nome de Jesus para glória de Deus temos que nos deparar com o fato de
que não conseguimos ser perfeitos como pais ou maridos – e lamentar a dor de
falhar. Também não há quem consiga ser esposa e mãe perfeita, e é triste chorar
por estar aquém do padrão de Deus e até mesmo do nosso próprio desejo (Rm 7:19). Não fomos os filhos que
deveríamos ser, ou não somos os filhos que devemos ser, e isto é triste e
lamentável. Falhamos como patrões e empregados, e, principalmente, toda e
qualquer falha é uma falha diante de Deus, é uma transgressão à sua lei e o
nome disso é pecado. Mas ao invés de desanimarmos, o que devemos fazer? A única
coisa certa – confessar os nosso pecados, buscar o Senhor de toda misericórdia
(Hb 4:16), deixar para trás as
coisas vergonhosas e prosseguir para o alvo da soberana vocação de Deus em
Cristo Jesus (Fp 3.13-14). E que
ele, com sua imensa misericórdia e para sua própria glória, nos ajude.
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