7 Quanto à minha situação,
Tíquico, irmão amado, e fiel ministro, e conservo no Senhor, de tudo vos
informará.
8 Eu vo-lo envio com o
expresso propósito de vos dar conhecimento da nossa situação e de alentar o
vosso coração.
9 Em sua companhia, vos envio
Onésimo, o fiel e amado irmão, que é do vosso meio. Eles vos farão saber tudo o
que por aqui ocorre.
Cl 4.7-9
Preso, provavelmente em Roma, como a maioria dos estudiosos
defende, Paulo encontrava-se impossibilitado de continuar seu trabalho de
pregação e confirmação das Igrejas. Já havia muitas Igrejas que ele havia
estabelecido, e outras surgiam como fruto do trabalho de discípulos seus, como
Epafras, de Colossos, que, por algum motivo, estava na prisão com ele e não
podia retornar para sua cidade. Junto com ele também estava Timóteo, o qual não
é mencionado estar preso. Outros companheiros estão presentes, mas dois se
tornam especialmente importantes neste contexto – Tíquico, conhecedor de boa
parte das Igrejas e conhecido por elas, sendo, portanto, um excelente emissário
para as Igrejas em nome de Paulo, e Onésimo, um desconhecido de todos, menos de
uma família colossense – uma família que tinha razões para não gostar nem um
pouco dele.
Tíquico recebe três missões nestes breves versos, e as
cumpre. Paulo lhe dá três funções que, creio, deveriam ser desempenhadas por
todos os cristãos, e, se fosse, teríamos Igrejas mais sadias, abençoadas e
abençoadoras.
INTRODUÇÃO
A carta de Paulo aos colossenses é uma resposta a uma visita
de Epafras, enquanto este estava preso. Epafras era um nativo de Colossos,
provavelmente comissionado por Paulo para evangelizar aquela cidade no vale do
rio Lico quando da sua passagem por Éfeso (cerca de 10 anos antes – At 19.10). É possível que tenha passado
por aquele antigo centro comercial, agora decadente, mas não conhecia
pessoalmente os cristãos locais (Cl 2.1).
A visita de Epafras lhe traz informações sobre o progresso dos crentes e os
perigos doutrinários que ameaçavam a Igreja, especialmente na forma de um
sincretismo judaico-helenístico e seus cultos de mistério. Acredita-se que a
Igreja era uma comunidade jovem composta de imigrantes de várias regiões, frígios,
gregos e judeus, gerando este sincretismo com diversos cultos de “mistério”,
palavra que Paulo usa para falar da revelação de Deus através de Cristo Jesus
em contraposição aos cultos místicos e muitas vezes ininteligíveis do
paganismo. Paulo faz mais de uma dezena de alusões à conversão dos colossenses,
indicando que era algo que ainda estava muito nítido para aqueles cristãos.
EPAFRAS, UM MINISTRO FIEL
A Epafras Paulo chama de fiel ministro de Cristo (Cl 1.7). Provavelmente ele
compartilhava de sua prisão (Fm 1.23)
não podendo voltar a Colossos quando a carta ficou pronta, por isso ela foi
levada por Tíquico, em companhia de Onésimo, que também era de Colossos, embora
um escravo fugido que pertencia a Filemom, mas, agora, um irmão em Cristo. A
Igreja, que podia estar preocupada pelo fato de seu pastor não retornar, agora
era convidada a ouvir e entender a graça de Deus – mesmo no fato de Epafras ter
sido aprisionado.
TÍQUICO, UM OBREIRO
CONFIÁVEL
É sabido que Paulo estava na
prisão e que Tíquico, um dos representantes das Igrejas da Ásia na visita a
Jerusalém (At 20:4) também estava em Roma, embora não estivesse preso. Aparece
novamente sendo enviado para Éfeso (II
Tm 4.12) e é mencionado outra vez numa missão que não sabemos se foi
concretizada em direção a Creta (Tt 3.12).
Era homem de confiança de Paulo, como vemos em sua visita à Igreja colossenses
(Ef 6:21). Os irmãos colossenses
desejavam saber como estava o apóstolo – e, também, seu evangelista ou pastor,
Epafras. Mas o que tem de mal ou extraordinário nisso? Não há nada de anormal,
e, pelo contrário, é absolutamente desejável que irmãos tenham interesse em
saber como estão, cuidando uns dos outros porque é isso que os irmãos devem
fazer (Gl 6:2).
É absolutamente estranho que, numa
Igreja, composta por irmãos que se amam, não haja interesse em estabelecer
laços de comunhão. Aliás, mais do que interesse, o que deve haver entre
cristãos é amor, genuíno, de coração, ardente (I Pe 1:22), o genuíno amor de irmãos que considera o seu próximo
como digno de honra e cuidados (Rm 12:10)
como Paulo lembra haver por parte dos gálatas para com ele, uma lembrança que
ele guarda com carinho mesmo após os desvios adotados naquela região (Gl 4:15).
FIDELIDADE NO SERVIÇO DO
SENHOR
7 Quanto à minha situação, Tíquico, irmão amado, e
fiel ministro, e conservo no Senhor, de tudo vos informará.
A Igreja não é um organismo
unicelular – ela é composta por muitos membros mas
ela é, ao mesmo tempo, um só corpo, o corpo de Cristo (Rm 12:5) e, como corpo, cada um tem sua função para que todo o
corpo seja edificado (Ef 4:16). E
este companheiro de Paulo, Tíquico, é um exemplo de companheiro de caminhada
cristã – não o companheiro que deveríamos desejar ter, mas o companheiro e
irmão que deveríamos ser. Tíquico é recomendado como sendo um irmão amado – o
que não poderia ser diferente, sendo Paulo quem é, e conhecendo a vontade do
Senhor Jesus como ele conhecia, desejoso de coloca-la em prática porque
desejava ser irrepreensível, como exorta a Timóteo a respeito tanto do ministro
(I Tm 6.13-14) quanto dos
presbíteros (Tt 1:7), como ele
próprio se esforçava por ser (Fp 3:6).
Não há como ser irrepreensível se, sendo cristão, não amar ao próximo e,
especialmente, ao seu irmão (Rm 12:5).
Tíquico é, também, um servo fiel (e
é exatamente isto o que se espera de um servo, que seja fiel - I Co 4:2) – o que não quer dizer que
ele fosse um pastor ou um evangelista, mas que era um associado a Paulo em seu
ministério, e o termo usado, diácono indica um serviço pessoal, representando
Paulo onde este não podia ir, servindo-lhe como olhos, ouvidos no cuidado
pastoral das Igrejas às quais ele não podia atender pessoalmente, especialmente
por causa da sua prisão. É provável que algumas das cartas de Paulo tivessem a
mão de Tíquico como amanuense. Tantas vezes Tíquico aparece indo de um lado para
outro que Paulo não poderia se referir a ele de outra maneira que não “servo
fiel”, mas não seu servo pessoal – mesmo atendo às necessidades de Paulo era,
em primeiro lugar, às necessidades da Igreja que Tíquico atendia. E é com isto
em mente que Paulo o chama de conservo no Senhor - apesar de servir com
dedicação a Paulo e, desta maneira, atender aos interesses das Igrejas, na
verdade, era ao Senhor que eles estavam servindo. É bastante significativo que
Paulo diga isto na mesma carta em que exorta os crentes em Colossos a fazerem
tudo em nome de Jesus Cristo para glória de Deus Pai (Cl 3:23). Tíquico é colocado na posição não de um serviçal de
Paulo, mas como um companheiro, um igual digno de ser honrado pelo serviço que
prestava (Rm 12:10) com a humildade
que se esperava de um servo do Senhor (Lc
22:26).
INSTRUMENTO DE CONSOLO DA
PARTE DE DEUS
8 Eu vo-lo envio com o expresso propósito de vos dar
conhecimento da nossa situação e de alentar o vosso coração.
Não deve ter sido fácil para Paulo abrir mão da companhia de
Tíquico, bem como da de Onésimo, justamente quando ele mais precisava do
conforto da companhia destes servos do Senhor. Mas, mais uma vez Paulo mostra
que o bem que ele mais desejava era o bem da Igreja, não o bem pessoal (Fp 1.23-24) – e ele sabia que a Igreja
de Colossos precisava ser confortada, tanto a seu respeito quanto a respeito de
Epafras, seu pastor, ausente e que não lhes podida ser restituído naquele
momento.
Paulo sabia o que era ser confortado em meio ao sofrimento –
e ele sabia que não deixaria de ser confortado pelo Espírito do Senhor (II Co 1.3-4) porque ele estava sofrendo
por causa de Cristo (II Co 1:5 -
Porque, assim como os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande medida a
nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio de Cristo) e
não como um criminoso ou malfeitor (I Pe
4:15).
Paulo sabia o que era ser consolado com a chegada de alguém
amado com notícias de outros a quem ele também amava e que o amava (II Co 7:6) e sabia que efeito a chegada
de Tíquico faria entre os colossenses. Eles não apenas teriam notícias mas
também poderiam contar com o cuidado pastoral deste importante colaborador de
Paulo no evangelho, especialmente num momento em que a Igreja enfrentava
algumas dificuldades doutrinárias e, assim, poderia ter a voz de alguém que
conhecia muito bem ao apóstolo e poderia dizer com autoridade o que ele tem
ensinado.
Tíquico poderia dar pleno conhecimento de tudo quanto
interessava à Igreja colossenses – atender às suas necessidades até que seu
pastor retornasse. Tíquico é o que toda Igreja precisa, e que cada membro da
Igreja precisa – uma pessoa que, com suas ações, faça o papel de paráclito, de
instrumento de Deus para consolação dos irmãos. Todavia, nenhum de nós tem
licença para ficar procurando Tíquico no meio da Igreja – pelo contrário,
devemos nos sentir exortados a procurarmos ser como Tíquico, tanto para os que
precisam de conforto na Igreja como para os que, fora da Igreja, precisam de
uma palavra amorosa e ao mesmo tempo verdadeira que os conduza a Cristo (Sl 119:50).
INTERMEDIÁRIO DE
RECONCILIAÇÃO ENTRE IRMÃOS
9 Em sua companhia, vos envio Onésimo, o fiel e amado
irmão, que é do vosso meio. Eles vos farão saber tudo o que por aqui ocorre.
A missão de Tíquico não estaria
completa se ele não desempenhasse um terceiro papel. No cárcere Paulo havia
travado conhecimento com um homem de Colossos chamado Onésimo. E por estas
circunstâncias que só a providência de Deus explica (não sabemos se Paulo o
reconheceu ou se, através de conversas) Paulo fica sabendo que aquele Onésimo,
escravo fugitivo, na verdade pertencia a um amigo chamado Filemom.
Aparentemente Onésimo havia dado dois tipos de prejuízo a Filemom – sua fuga (e
os escravos eram tidos como um bem, algo de valor monetário) levando algum
pertence de seu Senhor.
No lugar onde os homens perdem a
liberdade encontramos um escravo (alguém sem liberdade) fugitivo (sem destino
certo) preso (e, nas circunstâncias isso podia significar a morte numa arena ou
nas galés, como remadores em barcos de guerra) Filemom encontra Paulo, o
prisioneiro de Cristo (Fm 1:1) – e
de escravo fugitivo, digno de morte, este homem é transformado em fiel e amado
irmão, colocado no mesmo patamar que Tíquico e até mesmo Filemom.
Não sabemos por que meios Paulo
consegue a liberdade de Onésimo, mas resolve enviá-lo para Filemom junto com
Tíquico, portador de uma carta onde a transformação ocorrida em Onésimo é
relatada, de maneira que este passa a fazer jus ao seu nome (Onésimo significa
útil).
Tíquico é considerado fiel para
transmitir as notícias a respeito de Paulo e Epafras; é também instrumento de
Deus para consolar os corações dos colossenses a respeito de seu pastor e do
apóstolo em cadeias. Estas ações são importantes, mas nada pode ser mais
importante do que a reconciliação entre irmãos. Caso Onésimo, da prisão, fosse
encaminhado a Colossos pelas autoridades estaria debaixo de sentença de morte
para servir de exemplo aos demais escravos do império romano. Mas, por
intermédio de Cristo e do apóstolo Paulo ele foi direcionado diretamente para
seu Senhor – agora seu irmão, e, como tal, deveria ser tratado.
Paulo pede, em sua carta, que
Filemom o trate como se fosse ao próprio Paulo, lembrando-lhe que ele lhe devia
a sua própria vida por ter sido evangelizado pelo apóstolo. Podendo exigir,
Paulo prefere interceder em nome de Cristo para que a recepção de Onésimo não
fosse um fardo de uma obrigação, mas a alegria de um irmão que recebe um dom de
Deus.
Filemom havia perdido Onésimo (e
algum bem). Filemom havia perdido um escravo fujão e problemático. E agora
ganhava um servo fiel, alguém a quem estava ligado pelo sangue de Cristo e em
quem podia confiar – o que não é pouco porque não era incomum que escravos
denunciassem seus senhores cristãos às autoridades romanas. O que antes fora
motivo de tristeza era, agora, motivo de alegria e segurança. E Tíquico é o
intermediário desta maravilhosa transação. A Igreja precisa de pessoas assim,
que intercedam para que haja paz, harmonia e alegria entre irmãos. Você precisa
de alguém que seja promotor da paz, e a Igreja precisa que você seja assim,
para bênção de todos (Mt 5:9).
QUE DISPOSIÇÕES DEVE HAVER
NO SEU CORAÇÃO
Não é incomum haver na Igreja
motivos de tristeza ou desentendimentos entre irmãos. Às vezes irmãos pequenos precisam
compartilhar a cama, ou pais precisam acomodar seus filhos consigo na cama e
quase sempre isto significa incômodo, pés nas costas, no rosto e outros
pequenos acidentes noturnos. Quanto mais próximos estiverem os irmãos, mais
contato haverá entre eles e nem sempre estes contatos serão agradáveis a todos.
E não é incomum que estes pequenos contatos se transformem em amargura que,
começando em um, acabam atingindo toda a Igreja (Hb 12:15).
Embora isto não seja incomum, não é o ideal porque o que deve
haver no coração dos cristãos não é a amargura, mas a paz de Cristo que faz de
cada membro da Igreja um só corpo (Cl
3:15).
Gente ferida é gente insensata. Gente ansiosa é gente
insensata. Gente crente, cujo coração está nas mãos do Senhor é gente ponderada
e confiante em todas as circunstâncias da vida (Lc 12:22) porque sabe que tem alguém a quem recorrer, tem ao Senhor
de tudo e de todos como seu pai e provedor (Lc 12:22).
Para ajudar a Igreja a caminhar Deus coloca em seu meio os
pacificadores, que andam como filhos de Deus (Mt 5:9) promovendo a paz e consolando o povo de Deus (Is 40:1) como instrumentos do Senhor.
Rogamos ao Senhor para que haja mais pessoas como Tíquico, portadores fiéis da
palavra de Deus, instrumentos do Senhor para consolo do seu povo e
intermediários da reconciliação entre irmãos que, por algum motivo, tenham se
magoado.
Não fique olhando para o lado e pensando: “quem é o Tíquico
da minha Igreja?”. Você tem que olhar para si mesmo e indagar-se “como eu posso
ser como Tíquico na minha Igreja”? Como, ao invés de reclamar ou maldizer meu
irmão pelos corredores e cantos da Igreja posso andar com ele no caminho da
vida? Como eu posso ser conhecido como filho de Deus e não incorrer em um dos
pecados que o Senhor abomina (Pv 6.16-19
- Seis coisas o SENHOR aborrece, e a sétima a sua alma abomina: (1) olhos altivos, (2) língua mentirosa, (3) mãos que derramam sangue
inocente, (4) coração que
trama projetos iníquos, (5) pés
que se apressam a correr para o mal, (6)
testemunha falsa que profere mentiras e (7) o que semeia contendas entre irmãos.
Lembrem-se: bem aventurados são os
pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Bem aventurados os que,
como Tíquico, ficam conhecidos como filhos de Deus, porque promovem a paz entre
os irmãos. Bem aventurado ou abominável – o que você quer ser?
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