Há 498 a Alemanha viu, assombrada, surgir um homem que ousava desafiar o poder teocrático exercido pela maior organização política e religiosa que já governou parte deste planeta: a Igreja católica, que elevava e depunha reis, prendia, exilava e matava quem dela ousasse discordar (que o digam John Wicliff, Ian Huss e Jerônimo de Praga).
No dia 31 de outubro de 1517, em resposta à pregação de Iohan Tetzel o monge agostiniano Martin Luther (Martinho Lutero), após perceber o problema de oferecer perdão de pecados mediante a compra de indulgências papais e pregar três sermões contra as indulgências, finalmente afixou 95 teses ou proposições de debate [algo muito comum na época) na porta da Igreja do castelo de Wittenberg.
Esta atitude deflagraria o movimento que ficou conhecido como Reforma Protestante, tendo como lema cinco frases que ficaram conhecidas como os 5 Solas da Reforma Protestante:
· Sola Fide (somente pela fé), anunciando a doutrina da justificação pela fé e não mediante indulgências ou méritos;
· Sola Scriptura (somente a Escritura), anunciando não apenas a supremacia das Escrituras sobre os decretos e cânones papais, mas, principalmente a autoridade absoluta e definitiva das Escrituras;
· Solus Christus (somente Cristo), anunciando Cristo como o único meio de salvação, o único intercessor apto a apresentar o pecador diante de Deus;
· Sola Gratia (somente pela graça) anunciando a salvação pela fé como um dom de Deus, que elege livremente aqueles a quem deseja salvar;
· Soli Deo Glória (glória somente a Deus), anunciando Deus como o autor e consumador da salvação, único que deve ser glorificado na Igreja e fora dela.
Apesar de ter acontecido há tantos anos, os efeitos da ousadia de Lutero, logo seguido por outros como Melanchton, Zwínglio, Beza, Farel e, um pouco mais tardiamente, Calvino ainda se fazem presentes em nossos dias.
A Reforma não é um artigo de museu, não é algo para os livros empoeirados das bibliotecas dos teólogos e seminários, não é a toa que o lema da Igreja reformada é “ecclesia reformata, semper reformanda”, isto é, uma Igreja que é herdeira da rica herança teológica do sec. XVI e XVII, mas, ao mesmo tempo, não está presa aos costumes (e nem mesmo aos erros cometidos) daquela época.
À Igreja não é exigido que ela seja medieval em seus ensinos e costumes, nem em sua liturgia - é exigido, sim, que ela seja bíblica, que fale e aja segundo as Escrituras (Is 8.20) respondendo a demandas do seu tempo. Assim como a Reforma Protestante não pode ser enclausurada num mausoléu medieval, a Igreja também não está limitada às decisões tomadas há quase cinco séculos porque isso seria o mesmo que negar a direção do Espírito Santo na vida da Igreja atual, especialmente com as novas demandas que surgem constantemente.
Sejamos criteriosos em observar os princípios da Reforma, todavia, não sejamos tolos nem xiitas para adentrarmos na prisão das formas que os teólogos e pastores medievais adotaram - porque nem eles mesmos pretendiam criar uma nova estrutura absolutista como era a Igreja que eles próprios combatiam.
A Reforma Protestante não cabe em um museu porque ela continua - a Reforma Protestante não cabe em um museu e a Igreja Presbiteriana, apesar de haver quem queira isso, não é o Museu da Reforma. A Igreja é Igreja, uma comunidade de crentes vivos, que vivenciam dilemas e encontram poder para testemunhar na atuação constante do Espírito do Senhor em seu meio.
Sim, sejamos gratos a Deus pela Reforma Protestante do sec. XVI, mas não, não criaremos um pedestal para ela nem para seus líderes nem devemos nos submeter a xiitas que, com sua chatice elaborada e embolorada, querem agrilhoar a Igreja nos costumes do passado.
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