Boletim da Igreja Presbiteriana de Paragominas, 2018, Abril, 15.
É muito natural que, em situações como esta, nós nos
perguntemos: porque isto aconteceu? Já vi e ouvi muitas tolices quando acontece
algum tipo de calamidade, especialmente em locais onde o cristianismo não é
aceito ou, pior ainda, onde tem sido sistematicamente repudiado pela população
que um dia foi cristã, como ouvimos e vimos tantas vezes nas redes sociais como
facebook e grupos de WhatsApp.
Sempre tem aqueles que, afoita e
irresponsavelmente, num julgamento totalmente destituído e sabedoria que dizem:
foi a mão de Deus... É julgamento. É a ira de Deus se abatendo sobre fulano ou
sicrana. E ainda abrem a bíblia para citar textos que se referem à torre de
Babel, ou Sodoma e Gomorra, ou os galileus abrigados na torre de Siloé:
Ele, porém, lhes disse: Pensais que esses galileus eram mais
pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas? (Lc
13.2)
Enquanto os habitantes de Jerusalém
olhavam para a tragédia ocorrida na Galiléia diziam: são todos iguais, que mal
faz que uns morram e outros vivam. Porém Jesus não permite que eles prossigam
em seu julgamento pretensioso.
Ou
cuidais que aqueles dezoito sobre os quais desabou a torre de Siloé e os
matou eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? (Lc 13.4)
O problema é que os habitantes de
Jerusalém que não tinham qualquer ligação com os desprezados galileus se
imaginavam, de alguma forma, melhores que os que morreram, Jesus lhes diz que
eles em nada diferiam daqueles. Os vivos em nada diferiam dos mortos. Os que
pereceram em Siloé eram iguais aos que viviam em Jerusalém. Quando alguém diz:
a punição veio sobre eles e não sobre nós está dizendo que, de alguma maneira,
os outros eram mais dignos de passar pela tragédia do que os que dela
escaparam, quando, na verdade, a Palavra de Deus diz que todos são igualmente
réus, todos, igualmente, mereciam exatamente a mesma morte por causa de seus
pecados - e todos, galileus ou não, precisavam da mesma coisa para não morrer:
arrependerem-se de seus pecados.
Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes,
todos igualmente perecereis. (Lc 13.5)
Curiosamente, quanto tinha
terminado o primeiro parágrafo deste texto, precisei sair para auxiliar um
irmão justamente por causa deste desastre que acompanhamos em nossa cidade.
Enquanto aguardávamos, não consegui deixar de participar de uma conversa em que
uma pessoa contava a história de que a casa de uma senhora foi destruída porque
ela havia mandado a filha (uma adolescente de cerca de 13 anos) embora para
colocar um homem em casa. Segundo ela a enchente foi para punir aquela mulher.
Tive que discordar enfaticamente - teria Deus afligido tantas famílias por
causa da ação desta senhora? Sim, Deus é Deus que julga e executa seus juízos,
mas é ser simplório demais jogar a culpa em Deus das mazelas que o próprio
homem semeia.
Também não concordei quando foi
dito que cada um colhe exatamente o que semeia - porque, se esta calamidade que
enfrentamos em Paragominas foi fruto daquilo que o homem semeou, e se ela foi,
de fato, causada pela construção de barragens rio acima, então é lógico
concluir que alguns estão colhendo o que outros semearam.
A pessoa que falava, na verdade,
julgava que ela não sofrera por não ser tão má como a mulher de quem falava - e
ela fazia este julgamento enquanto se embriagava. Triste constatação: um juiz
ébrio julgando implacavelmente, condenando à pena de morte outro pecador. Com
uma trave nos olhos julgava-se capaz de condenar o outro por ter um argueiro.
Evidente que se tratava de dois pecadores, igualmente necessitados da graça de
Deus para escaparem da condenação por seus próprios pecados.
Ah! Dizem uns apressados, mas eles
construíram suas casas nas margens do rio, foram imprudentes, então que arquem
com as consequências - e onde mais construiriam, primeiro que o rio não
chegaria onde chegou sem o excesso das barragens [obras mal feitas de homens,
muitas vezes, gananciosos], depois, quantos estão disposto a colocarem um
pedaço de terra à disposição dos sem moradia para eles construírem uma casa, mesmo
depois da tragédia acontecida (e há muitos que tem muito mais do que
necessitam, não é)? Sei que poucos, bem poucos mesmo. A situação é muito
complexa e geralmente apenas os tolos tem respostas fáceis para problemas
complexos.
Como Igreja, antes de mais nada
precisamos fazer, nestes dias de extrema angústia para muitos conhecidos e tantos
mais desconhecidos exatamente como fizeram os três amigos de Jó nos primeiros
sete dias de sua visita ao patriarca, naquela que é, para mim, uma das mais
belas demonstrações de compaixão que eu encontro nas Escrituras, superada
apenas pelo ato de Cristo na cruz, tomando o nosso lugar.
Sentaram-se
com ele na terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma,
pois viam que a dor era muito grande (Jó 2.13).
Durante 7 longos dias os amigos de
Jó se colocaram ao seu lado. Se compadeceram do seu amigo e certamente tentaram
diagnosticar o problema que ele passava bem como imaginar como poderiam
ajudar-lhe naquela situação tão difícil. Imagino que, se o problema de Jó fosse
financeiro, eles estariam prontos para ampará-lo. Se fosse emocional, ali
estavam eles para fazer-lhe companhia.
Os amigos de Jó não queriam
respostas. Os amigos de Jó não tinham conselhos a dar. Os amigos de Jó foram o
que amigos devem ser: eles estavam ali, estavam presentes. Em sua dor Jó podia
ver que não estava sozinho.
Sua esposa sofria quase tanto
quanto ele, muitos a julgam apressadamente sem levar em consideração seu
próprio sofrimento. Aquela esposa, aquela mãe, já não aguentava mais tamanha
dor, perdera tudo, seu estilo de vida, seus filhos, via seu marido às portas da
morte. Ela não conseguia ajudá-lo. Mas seus amigos estavam ali.
É consenso que o que as pessoas que
sofrem mais precisam em seus momentos de dor não são palavras, mas presença.
Para isto os amigos de Jó estavam ali. Provavelmente foi esta a intenção de João
ao ficar até o último momento ao pé da cruz, cuidando da mãe de Jesus. É é por
isso que o Senhor nos deu o Espírito Santo.
O Senhor Jesus sabia dessa
necessidade e não foi sem razão que ele disse que, no mundo, seus discípulos
certamente enfrentariam aflições, perseguições, opróbrio, zombaria e até mesmo
a morte - mas, ao mesmo tempo, ele também prometeu que, sendo aquele que vence
o mundo, também estaria com eles todos os dias até a consumação dos séculos,
que não os deixaria órfãos, não os abandonaria, e que lhes enviaria o paráclito,
literalmente “aquele que se coloca ao lado”, “o que ampara”. Não estamos sós:
E eu rogarei ao
Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de
que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber,
porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e
estará em vós. (Jo 14.16-17)
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