O VERDADEIRO REI É JULGADO PELO USURPADOR
Na
época de Jesus Roma dominava a maior parte dos reinos do mundo, semelhante ao
império persa no período de Daniel. Assim como Dario respeitava cada povo e
permitia o culto aos seus deuses, César permitia que as províncias tivessem a
sua religião e organização social.
Havia
várias regiões em Israel que eram comandadas por governadores designados por Roma. Além disso,
havia representantes locais do império que tinham função de liderança
sobre os judeus. Herodes, o Grande, e seus sucessores fizeram
essa função. Herodes não era um nome propriamente dito, mas um título,
assim como César, imperador romano.
Houve
pelo menos quatro “Herodes” no Novo Testamento. Alguns deles governaram em
períodos diferentes. O Herodes que mandou matar as crianças de Belém não foi o
mesmo Herodes do tempo de João Batista.
Herodes,
o Grande, avô de Antipas (Herodes mandou matar o próprio filho, Aristóbulo, pai
de Antipas, por temer que este lhe tomasse o trono), era idumeu, nascido na
região da Iduméia. Sua mãe era nabatéia. Não tendo sangue real judeu correndo
em suas veias fez aliança com o império romano para manter-se no poder quando
os partos tomaram Jerusalém e prenderam João Hircano II.
Herodes
era o conselheiro chefe e fugiu para Roma
ficando sob proteção de Marco Antônio e este pediu ao césar Otaviano que estabelecesse
o “confiável Herodes” como rei dos judeus, de modo que um descendente de Esaú assumisse
o trono em 40 a.C. Não possuía descendência israelita e o remoto laço de parentesco
se dava mediante uma tribo distante de Esaú (Edom) e seus descendentes tiveram laços
consanguíneos com os macabeus ao casar-se com Mariane, neta de Aristóbulo II e
de Hircano II em 37 a.C.
Conquistou
a confiança dos judeus quando construiu o templo em Jerusalém, anteriormente
destruído no período macabeu. Essa iniciativa fez dele um defensor da religião
aos olhos do povo, embora, evidentemente, trabalhava para Roma obedecendo
criteriosamente à palavra de César.
Herodes
deixou descendentes que seguiram o mesmo estilo cruel e criminoso de governar:
Arquelau, etnarca da Judéia, Felipe, tetrarca dos territórios do norte e da
Transjordânia, e seu neto Antipas (filho de Aristóbulo), tetrarca da galiléia e
Peréia.
Herodes
Antipas, dominava parte da Judéia e localidades próximas ao rio Jordão. Daí o
conflito com João, o Batista, que vivia naquela região. Antipas resolvia os
problemas de ordem religiosa e de organização social. Somente as questões que
afrontavam o governo romano como sonegação de impostos e insurreições eram
encaminhadas ao procurador romano, naquela época representado por Pôncio
Pilatos. Este sim representava a autoridade direta romana – inclusive sobre o
próprio rei Herodes.
Problemas
que envolvessem a religião e a lei dos judeus eram julgados por Herodes. Isso
explica o porquê de Pilatos enviar Jesus à jurisdição de Herodes, uma vez que
Jesus era galileu e a galiléia fazia parte do governo religioso de Herodes,
pois a problemática era no âmbito da religião. Mesmo assim, e mesmo não vendo
em Jesus nada de que o considerasse digno de morte Pilatos resolve usar Jesus
politicamente enviando-o a Herodes apesar da acusação que os judeus faziam de
um crime político (Lc 23:5).
Como
vimos, apesar de cuidar de assuntos relacionados à cultura e religião dos
judeus Herodes tinha tênues laços com os judeus, e seu interesse na religião
era apenas para tê-la como instrumento de controle do povo de modo que nem ele
nem os líderes religiosos tivessem problemas (Jo 11.48-50).
Vejamos
o que a Palavra de Deus nos diz em Lc 23.6-11:
6
Tendo Pilatos ouvido isto, perguntou se aquele homem era galileu. 7 Ao saber
que era da jurisdição de Herodes, estando este, naqueles dias, em Jerusalém,
lho remeteu. 8 Herodes, vendo a Jesus, sobremaneira se alegrou, pois havia
muito queria vê-lo, por ter ouvido falar a seu respeito; esperava também vê-lo
fazer algum sinal. 9 E de muitos modos o interrogava; Jesus, porém, nada lhe
respondia. 10 Os principais sacerdotes e os escribas ali presentes o acusavam
com grande veemência. 11 Mas Herodes, juntamente com os da sua guarda, tratou-o
com desprezo, e, escarnecendo dele, fê-lo vestir-se de um manto aparatoso, e o
devolveu a Pilatos.
A
Bíblia diz Herodes Antipas ouviu a fama de Jesus Cristo. Temeroso e
supersticioso, ele até começou a sugerir que Jesus fosse João Batista redivivo
(Mc
6:14-16).
Depois ele procurou matar Jesus, e alguns fariseus aconselharam o Senhor a
fugir (Lc
13:31). Mas
Jesus não se intimidou diante das ameaças de Herodes Antipas considerando-o
desprezível e malicioso como uma raposa (Lc 13:32) porque era rei maior até
mesmo do que a daquele que tinha maior autoridade em Israel naquele momento (Jo 19:10-11).
O INTERESSE DE
HERODES EM JESUS
Herodes
Antipas havia herdado o caráter de seu avô. Em Roma havia agido sempre de
maneira sorrateira, a ponto de ter que sair da cidade para não ser morto por
causa de dívidas. Analisando suas ações em relação a Jesus podemos afirmar que
Herodes tinha três interesses em Jesus:
USO POLÍTICO
Jesus
precisava ser conhecido e controlado, porque representava um risco ao seu
controle sobre os judeus. Seu avô já tentara matá-lo para não perder o trono (Mt 2:13) por causa das perguntas
dos viajantes do oriente (Mt 2:2). Para ele Jesus não era nada mais do que um
instrumento de controle religioso – inicialmente ele tinha medo que Jesus fosse
o próprio João Batista que lhe ameaçava a popularidade denunciando publicamente
as suas impiedades (Mc 6:18) e por isso foi morto por incitação da filha da
mulher que possuía indignamente (Mc 6:19-24). Mais tarde decidiu matar a Jesus por questões políticas
– para ele a religião era um mero instrumento de poder. E Pilatos também sabia
disso (Lc
23:12) e
aproveitou Jesus como moeda de troca para apaziguar o rancoroso e ladino rei
depois de ter mandado matar alguns galileus (Lc 13:1).
SATISFAÇÃO DE
CURIOSIDADE RELIGIOSA
Herodes já havia ouvido muitas
coisas sobre Jesus – a sua fama corria por todo lugar. Certamente sabia que
Jesus havia entrado em Jerusalém sob a aclamação das multidões (Mt 21:9). E não devemos duvidar de que isto o incomodava.
erodes não é em nada diferente das multidões que enchem as igrejas procurando
satisfazer sua curiosidade. Ele não queria a presença de Jesus como Nicodemos,
como Zaqueu, como Jairo, a mulher hemorrágica ou o centurião de Cafarnaum. Ele
só queria matar sua curiosidade. Queria saber se Jesus era mesmo capaz de fazer
o que as pessoas diziam o tempo todo. Quem sabe Jesus fizesse um sinal
miraculoso que o agradasse e que agradasse à plateia em seu palácio. Quem sabe
Jesus o agradasse para não ser morto como João Batista foi. Mas, assim como com
os religiosos que pediam sinais, aquele era só mais um incrédulo que não teria
um show da fé particular (Lc 11:29).
SATISFAÇÃO DE CURIOSIDADE INTELECTUAL
Herodes também tinha
curiosidade intelectual, interrogava Jesus porque sabia que Jesus ensinava de
uma maneira diferenciada e isto todos reconheciam (Mc 1:22) e os escribas, com todas as suas artimanhas
intelectuais, atitudes imorais e subterfúgios religiosos nunca haviam
conseguido apanhá-lo (Lc 20:19-26). Em outra ocasião Jesus utiliza-se da mesma maneira de argumentar, e os
escribas mesmo tendo sido desafiados a provar que havia algum erro no que ele
fazia ou ensinava, são envergonhados mais de uma vez, e por isso ele os
reprovava publicamente (Jo 8:46) e eles eram obrigados a calarem-se por temerem a opinião pública (Mat 21:23-24).
COMO JESUS LIDA
COM ESTAS COISAS
Herodes Antipas foi a única
pessoa em toda a Escritura com quem Jesus se recusou a falar. Ele não era digno
de estar ali, ele não era o legítimo rei dos judeus. Ele estava num lugar que não
era seu, era um usurpador (do latim usurpare,
agarrar para uso próprio, apossar-se. Usurpar é a ação intrusiva, invasiva e criminosa
individual de apossar-se mediante força, trapaça ou ato indigno coisas, bens,
propriedades, títulos, cargos, função ou atribuição que não lhe é próprio, para
o qual não tem nem pode obter dignidade de função, ofício, prerrogativa ou
direito. Se exercido por mais de uma pessoa torna-se em associação para o crime).
Jesus
falou com publicanos. Jesus falou com pecadores. Jesus falou com meretrizes.
Jesus falou com leprosos, com samaritanos e com gentios. Jesus falou até com o
diabo e seus demônios. Jesus falou até com os religiosos que
tramaram e executaram seu julgamento indigno e também falou com o governador
romano, Pilatos, porque eles estavam no lugar que tinham direito de estar.
Herodes provavelmente desse pouca importância
aos brados e acusações dos religiosos contra Jesus. Ele só queria ter sua
curiosidade satisfeita – e viu-se frustrado nisso.
Herodes,
não tendo satisfeitos os seus interesses, irado, trata Jesus com desprezo, escarnece
dele e o devolve a Pilatos (Lc 23.10).
O
destino de Herodes Antipas, um homem que teve a oportunidade de aprender com o
Senhor e desprezou porque os Herodes tradicionalmente não aceitavam a idéia de
nenhuma autoridade sobre eles (Mt 11:28).
Herodes
preferiu ficar bem com o governante do mundo (César) e rejeitou se submeter ao
Senhor dos senhores, e o fim de sua vida não é nada honroso. Foi derrotado por
forças árabes sob o comando de seu e sogro Aretas IV e seus súditos
consideravam sua derrota como retribuição divina por seus pecados cometidos
(seu casamento irregular com Herodias, o assassinato de João Batista e a
rejeição de Jesus).
Em
39 d.C. Herodes Antipas se envolveu em intrigas com seu sobrinho Herodes Agripa
I e foi denunciado como conspirador e banido de sua tetrarquia pelo imperador
Calígula, sendo exilado na Gália (França) onde morreu algum tempo depois.
Que
lições podemos aprender com os erros de Herodes?
Jesus
jamais se prestará a joguetes políticos e interesses mesquinhos.
Jesus
jamais se prestará a ser animador de auditório satisfazendo curiosidade
religiosa ou intelectual.
Jesus
jamais satisfará os arrogantes anseios de satisfação do coração e da mente do
homem.