quinta-feira, 9 de abril de 2009

ELE NÃO É DE DEUS PORQUE NÃO GUARDA O SÁBADO

Esta frase se encontra nas Escrituras, mais precisamente no capítulo 9, verso 16, do evangelho de João. E esta não é uma afirmação feita por qualquer um – é feita por uma liderança religiosa. E, mais sério ainda, pela liderança religiosa que tinha sob seu cuidado o culto ao Deus de Israel. Há algum problema nesta afirmação?
Sim, muitos. É mais que sabido que a guarda do sábado [não confundir com o shabat, descanso semanal] é tido pelos adventistas como uma prova de fidelidade a Deus, de inclusão no verdadeiro povo de Deus. Não nos esquivamos a lembrar que no antigo Israel, no Israel segundo a carne, esta exigência tinha todo o fundamento, pois não apenas dava ao homem [e ao animal] o descanso necessário para a reposição das energias gastas durante seis dias de trabalho como prefigurava o descanso eterno prometido pelo Senhor aos seus.
Vejamos, agora, alguns detalhes sobre esta afirmação.
O primeiro que merece ser analisado é quem a faz. Os fariseus eram conhecidos como um grupo religioso profundamente zeloso pelo cumprimento da lei, em todos os seus preceitos. Não abriam mão dos menores pontos, embora fossem extremamente hábeis em burlar o espírito da lei quando isto lhes era conveniente. Um exemplo que pode ser mencionado é sobre a necessidade de andar uma determinada distância maior do que a jornada de um sábado [pouco mais de meio km]. Eles interpretavam que não podiam andar de uma só vez, ou numa só direção, consequentemente, se houvesse uma leve mudança de rota, poderiam ir onde desejassem. Outro exemplo é denunciado pelo próprio Jesus: para resguardarem o patrimônio e fugirem à obrigação do cuidado os progenitores transformavam suas posses em corbã, uma espécie de "oferta a Deus", mas que era administrada pelo doador – que não poderia ser dada a terceiros, nem mesmo aos genitores. O apóstolo Paulo diz que eles, os fariseus [e Paulo foi um fariseu], possuíam muito zelo, mas sem o devido entendimento [Rm 10.2].
A segunda observação é o que é afirmado. Os fariseus, religiosos, líderes de Israel, estudiosos das Escrituras, em seu zelo sem entendimento, afirmam que Jesus não é de Deus. Nem mesmo o mais tresloucado sabatista ousaria afirmar tal coisa em nossos dias. Mas esta é a conclusão lógica a que chegaram os fariseus. Alguém como Jesus, na visão farisaica, não poderia ser de Deus, pois era diferente deles. Entendia a lei de forma diferente. Jesus não estava disposto a escravizar-se a mandamentos – ele veio para cumpri-los, mas da forma que eles eram apresentados eles apenas escravizavam, apontavam para a condenação. Afirmar que Jesus não veio de Deus é terrível blasfêmia. Muitos hoje afirmam tal coisa, e afirmar que quem não se escraviza à guarda de um dia não é de Deus – e consequentemente é do diabo [e do diabo os fariseus entendiam muito bem, pois eram seus filhos – Jo 8.44]. Só que afirmar que Jesus não é de Deus é uma prática dos filhos do diabo, mentirosos, inimigos da verdade, como seu pai.
A terceira observação é sobre a razão para tal afirmação. Se, como afirmavam, o homem foi criado para o sábado [e não o contrário, como Deus afirma em Ex 16.29 e este ensino é corroborado pelo Senhor Jesus em Mc 2.27] então deveria servi-lo. A interpretação farisaica e sabatista era: o homem deve escravizar-se ao cumprimento da guarda desde dia. Mas Jesus afirma o contrário: o shabat foi dado para o homem descansar de seus afazeres e, nele, servir ao seu Deus com liberdade, mesmo que fosse um escravo. Se os fariseus – e os modernos sabatistas – estão certos em afirmar que a guarda do sábado é condição sine qua non para a salvação, isto é, é o diferencial entre os salvos e os perdidos, então, os judaizantes estavam certos: Jesus não é de Deus. Algum sabatista ousa chegar à conclusão lógica de sua doutrina? Obviamente que não.
A quarta observação é a respeito da conclusão a que chegam. Se os sabatistas estiverem certos em seu raciocínio, isto é, quem não guarda o sábado não é de Deus, então Jesus verdadeiramente não é de Deus, logo, quando Jesus afirmava ser o filho de Deus, um com Deus, o enviado de Deus, estaria mentindo, isto é, cometendo um pecado. Como não tinham explicação para as obras de Jesus [Mt 12.24] chegam mesmo a afirmar que Jesus operava tais sinais pelo poder do próprio diabo. Esta era uma acusação feita pelos religiosos, fariseus, sabatistas, judaizantes que conheciam Jesus bem de perto – mas que não eram das suas ovelhas. Quero ressaltar que a conclusão dos fariseus é correta à partir das suas premissas. Seu raciocínio é lógico. O problema está na sua premissa: colocam a guarda do sábado como condição essencial para a salvação, como diferencial para se pertencer ao povo de Deus.
Se os modernos judaizantes ousarem pensar logicamente, serão obrigados a chegar à mesma conclusão, e aí se encontrarão em uma encruzilhada: ou deixam o sábado, ou deixam a Jesus que, no seu ponto de vista, por não guardar o sábado seria um pecador [Lc 6.1-5]. Porque, ou Jesus é pecador [e ele não é] ou a guarda do sábado como meio de provar que se pertence ao povo de Deus é uma exigência legalista desnecessária [uma obra anula a graça – Gl 2.21]. Ou Jesus, ou a lei. Paulo afirma que aqueles que querem fazer com que os homens esqueçam-se do Cristo das escrituras são falsos irmãos dissimulados no meio do rebanho para reduzi-los à escravidão [Gl 2.4]. Estes não devem ser aceitos nem mesmo por uma hora sequer. Como os fariseus, os sabatistas oferecerão sofismas para não chegarem à conclusão lógica de seus raciocínios legalistas. Preferem seus profetas e profetizas – como os fariseus preferiam suas interpretações. Mas Paulo afirma que se mesmo ele ou um anjo do céu pregasse algo diferente do ensino bíblico, apostólico, fosse considerado anátema [Gl 1.8].

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