Nem tanto…
Há coisas que são, simplesmente, inexplicáveis, ao menos aos mais desavisados. Um exemplo é a simples observação da prosperidade dos ímpios, especialmente a prosperidade daqueles que mercadejam a palavra de Deus. À pergunta: "Por que prosperam os ímpios?" tem-se oferecido muitas respostas, algumas até plausíveis, mas não é esta a pergunta que os santos devem fazer.
Os ímpios prosperam por causa de trabalho sério, prosperam por causa de oportunidades familiares e educacionais, prosperam por falta de ética e de escrúpulos - nem todos prosperam da mesma maneira, nem todos são desonestos, mas todos, usando o que Deus distribui igualmente a justos e ímpios [que os teólogos chamam de graça comum - Mt 6.45] muitas vezes prosperam mais do que os justos.
É verdade também que há ímpios que prosperam com dolo, com maldade, com malícia, com a mais absoluta desonestidade e falta de escrúpulos. E, destes, os piores, sem sombra de dúvida, são aqueles que, abusando da boa fé dos incautos, usando o nome de Deus, enganam, roubam e conduzem ao precipício.
O noticiário televisivo tem-nos trazido informações cada vez mais assustadoras sobre estes mercadejadores da fé. Sei que não compete a nenhum de nós julgá-los quanto à fé [se é que possuem, este é um julgamento que só a Deus cabe, tentar fazê-lo é uma usurpação da prerrogativa divina - Rm 14.4], mas sem dúvida temos o direito de observar as suas práticas e rejeitá-las porque são pecaminosas.
A lista de crimes atribuídas aos líderes da Igreja Universal do Reino de Deus, uma denominação bastante conhecida, não só por seus métodos aéticos, mas especialmente por possuir uma grande rede de televisão e templos suntuosos vai desde sonegação fiscal, passando por formação de quadrilha e falsidade ideológica. Enquanto os doadores ficam cada dia mais pobres, com problemas que se avolumam, a cúpula desta organização [chamada pelo ministério público de Minas Gerais de "a maior organização criminosa em atuação no Brasil"] vê seu patrimônio multiplicar-se. Um exemplo é um ex-funcionário público [lotérica carioca], tido como medíocre, tornar-se dono de uma fortuna pessoal de R$ 8.000.000.000,00 [oito bilhões de reais] apenas ensinando aos seus seguidores como tirar dinheiro do povo, fazendo promessas mas ao mesmo tempo sem garantir o cumprimento de nenhuma delas.
A denominação que pratica um cristianismo sem Cristo, pois o centro de quase todos os eventos é, ou as aparições demoníacas, ou as provas de fé, mediante ofertas - não se fala em pecado, ou, quando se fala, ele se refere ao pecado da incredulidade daqueles que não metem a mão nos bolsos para esvaziá-los e encher os dos nababescos líderes da organização criminosa/religiosa que ser diz ser do reino de Deus - certamente não o daquele humilde filho do carpinteiro, que não tinha onde reclinar a cabeça.
Por mais boa vontade que tenhamos, será possível admitir que o reino de Deus - que o mestre disse não ser deste mundo, não ser nem comida nem bebida, realmente tem como uma de suas partes uma organização tão podre e criminosa como esta?
A Reforma Protestante surgiu num momento em que se acreditava ser natural o estado corrompido a que a Igreja havia chegado. Houve quem se levantasse e dissesse: isto não deve ser assim. A Igreja do Senhor precisa ser pura, e os membros desta Igreja precisam ter uma vida pura. A fé, a graça, a bíblia, Cristo e a glória de Deus moveram os reformadores, dos quais somos herdeiros.
O marketing, o dinheiro, o engodo, a glória entre os homens tem movido os neo-bispos e neo-apóstolos. Deus precisa de vasos tão impuros, tão podres, para fazer a sua obra? Quero te oferecer uma pergunta para reflexão: Deus mudou? O Deus que, antes de usar, purificou Isaías, usaria esta podridão que estamos vendo como canal de sua graça? Creio que não. E você?
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