Até que ponto uma escola é responsável pelo que seus alunos fazem "depois" que conseguem seus diplomas? E até que ponto estes alunos são responsáveis pela reputação que sua escola possui? Creio que há uma interação entre estas duas perguntas, porque as escolas dão ferramentas e orientação para que os alunos sejam o que são – e, por sua vez, serão eles que farão a "fama" de suas escolas, e, certamente, pelo número de alunos que lhe serão confiados.
Este post foi escrito com o propósito de refletir sobre escolas que, formando teólogos para servirem como pastores, venham a tornar-se conhecidas como redutos de movimentos contrários aos caminhos desejados pela Igreja a que pertence, rejeitando solertemente as decisões solenes tomadas pela mesma. Antes de continuar, esclareço que não tenho a pretensão de escrever contra nenhuma instituição, aliás, meu propósito é radicalmente contrário, isto é, estabelecer um alerta para que as mesmas não sofram por causa de professores que abraçaram uma causa particular em detrimento da causa da instituição que os abrigavam, e de alunos que adotaram um radicalismo que apenas depõe contra as instituições formativas, ao mesmo tempo lançar um alerta contra influências alienígenas à mesma e à causa a que se propõem propagar.
Um exemplo na Igreja Presbiteriana é o fato de que, ao longo dos anos, seus seminários têm sido rotulados de maneira pejorativa por seus desnecessários adversários e, quase sempre, por causa de fatores que menciono mais abaixo. Assim, o seminário JMC, em São Paulo, foi taxado de ortodoxo mas sem vida espiritual; Campinas e Rio de Janeiro receberam a alcunha de liberais, Belo Horizonte de pentecostal e assim por diante. Repito, esta rotulação é desnecessária e absurda, ainda mais quando reflete apenas lutas bairristas, chegando até mesmo a serem acusadas de inidôneas por seus detratores. Tenho aprendido que ao longo destes anos que fama, seja ela boa ou má, não se constrói da noite para o dia. Especialmente a boa fama – ela precisa de anos para se edificada e deve ser cuidadosamente conservada, pois um erro pode colocá-la por terra. Mas a má fama é construída por ações concretas e rápidas – isto é assim para pessoas e para instituições, e a má fama de uma instituição pode ser construída por umas poucas ações concretas à partir de uns poucos inconsequentes. A indagação que fazemos é: ações de quem? No caso em tela, esta construção de uma fama indesejada se dá por três fatores que merecem uma abordagem mais detalhada.
O primeiro fato é que maus alunos são, em muitos casos, a pior propaganda a respeito de uma instituição. Por exemplo, qual pai confiaria a preparação de seus filhos a uma escola que não consegue fornecer nenhum aluno capacitado para um vestibular ou para o mercado de trabalho? Que dizer do nome de uma escola onde os ex-alunos sejam absolutamente incapazes de desempenhar bem o seu trabalho e, ainda, se empenhem conscientemente em desconstruir um trabalho eficiente que outros tenham feito? O problema apenas cresce quando egressos propõem-se a espalhar suas ideias criando guetos particulares onde logo percebe-se que, em sua maioria, não podem ser chamados de fundadores de cousa alguma, mas de afundadores. Parafraseando um amigo, enquanto um bom jogador merece a bola de ouro, tais afundadores deveriam receber como prêmio uma pá, mas não são dignos de que a mesma seja de ouro.
Um segundo fator que corrobora o primeiro é a existência de maus professores – não me refiro à incapacidade de ensinar, mas, justamente, à capacidade de ensinar, com enorme eficiência e sob a aparência de originalidade ou profundidade, algo que não deveria ser ensinado. Apesar da negativa de muitos professores em assumir-se responsáveis pelo que seus alunos aprendem, eles, de fato, são mentores, orientadores e, principalmente, se bons professores, fornecedores de informações e instruções quanto às linhas de pesquisa que serão seguidas por seus alunos. E, além disso, tem a obrigação de buscar corrigir seus alunos quando eles enveredam por caminhos sombrios e tortuosos. Se acontece de um educando se desviar das linhas traçadas, é um acidente. Se mais de um o faz, é uma coincidência. Mas se vários o fazem, e por um tempo considerável, então é um método, uma meta que está sendo perseguida. E é sobre casos assim que nos debruçamos com o propósito de dar-lhes combate. Não pode uma escola que se propõe a formar pastores aceitar como seus "apóstolos" aqueles que se dizem sem misericórdia, sem amor pastoral por almas e destituídos de piedade pessoal como compaixão, embora tentem demonstrar, com afetação, uma piedade formal.
O terceiro fator é o que chamo de influência satélite, isto é, a influência exercida por um currículo não oficial, através de professores não oficiais, localizados no entorno da escola mas com ascendência espiritual, social ou financeira sobre um ou mais educandos. Se obtém [e quase sempre obtém] acesso aos alunos através de professores associados tornam-se ainda mais danosos. Fama, poder ou simplesmente carisma são ferramentas usadas por estes "alienígenas" para alcançar seus objetivos. Diferente de alunos e professores, censurá-los é mais difícil porque não pertencem à instituição – estão colocados em palanques de onde podem lançar, bem protegidos, seus dardos destrutivos – embora queiram dela fazer um madraçal com viés fundamentalista, na verdade e mais precisamente, o que tenho classificado de um mero neofundamentalismo pessoal e seletivo, onde cada um decide o que é certo e errado para si e tenta impô-lo a outros, enquanto acusam aqueles discordam de heréticos ou coisas semelhantes.
Diante do que foi acima exposto, resta a difícil tarefa de reconstruir. Em todas as áreas que tenho observado posso afirmar que o trabalho de destruir pode ser feito por qualquer incompetente, por qualquer obtuso ou ignorante, ou ainda por um grupo deles, orquestrado ou multiplamente dividido. Mas construir é mais difícil, requer trabalho árduo, dedicação, conhecimento, método, amor ao que se está fazendo. Cabe aqui um alerta: preconceitos são fáceis de serem estabelecidos, e incrivelmente difíceis de serem destruídos. E este é o desafio dos que já deixaram a instituição mas realmente a amam – e também dos que ficam. Dos alunos. Dos professores. Daqueles que estão dentro, dos que próximos e, ainda, dos que estão longe. Desconstruir uma fama negativa obstinadamente construída por seus pares igualmente obstinados. Não basta apenas dizer que ama – muitos que matam dizem fazê-lo por amor. Amar uma instituição é honrar-lhe o nome. É levar adiante uma bandeira – e a Igreja Presbiteriana não assumiu, ainda [e creio que não o fará] a bandeira do radicalismo, do neofundamentalismo, do pseudopuritanismo. E nenhuma de suas instituições pode abrigar em seu seio tal mácula.
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