sábado, 3 de dezembro de 2011

DIVISÃO DO ESTADO E UMA REFLEXÃO PRETENSAMENTE TEOLÓGICA

Obs: o “pretensamente teológica” foi só para provocar, mas leia o artigo assim mesmo.

Tenho acompanhado os debates sobre a divisão do estado do Pará e a criação de dois novos estados. Antes de qualquer outra coisa, por princípio não sou favorável à criação de mais cargos para políticos. Meu lema é: “Faça um político trabalhar, não o eleja”. Criar dois novos estados implicará em milhares de novos cargos, e isto significa bilhões de reais para sustentá-los, e isso oficialmente, sem contar o que se perde ralos e cantos dos gabinetes e propinodutos.

Uma outra coisa, apesar de ter opinião, afinal sou cidadão e, residindo no Pará, fiz questão de fazer a transferência do meu título eleitoral para a região, não votarei no dia 11 de dezembro próximo. Estarei a serviço da JURET, em Teresina. Logo, não sou voto a ser conquistado, nem combatido. Outra coisa, não estou advogando qualquer das duas causas, mas estou emitindo minha opinião – e tenho direito a fazê-lo, mesmo que alguém logo grite; pastor não tem que se envolver em política. É verdade, no púlpito e ex catedra, isto é, não devo usar o fato de ser pastor e liderar uma comunidade espiritualmente para conduzi-la politicamente. Nunca fiz isso, e não o farei. Mas como cidadão tenho pleno direito de falar o que penso. Afinal, pago impostos que serão roubados pelos maus políticos. Pago imposto para andar de carro em estradas que parecem para jumentos [e temo pelos cascos dos mesmos]. Pago TIP para morar e trafegar em ruas escuras. Pago imposto para não ter hospital de qualidade, ou escola pública de qualidade, ou universidade pública acessível.

Sobre o debate em si, tenho visto que tem havido argumentação técnica sólida tanto dos divisionistas quanto dos conservadores do atual status. E reconheço que os argumentos de ambos são válidos, pertinentes e devem ser levados em consideração. O custo de se manter um estado é alto? Sim, é, sem dúvida. Os recursos para que eles se mantenham existem? Não, não existem, mas tenho absoluta certeza que o próprio Estado [com “E” maiúsculo] se encarregará de fazê-los aparecer. A conta de 11,6 bilhões de reais não fecha, será necessário mais que 14, mas o que é isso perto do que vai se gastar para fazer um copa que dura um mês apenas. Haverá mais hospitais, mais escolas, mais estradas? Provavelmente. Mas isto poderia ser feito sem dividir, apenas administrando melhor – e com mais fiscalização e exigência por parte da população. Mas isto não acontece porque a maioria elege os candidatos em troca de pequenos favores como remédios, tijolos ou coisas parecidas. Se o povo quisesse seu próprio bem creio que o problema se resolveria sem a divisão. Mas não vai resolver. E a divisão, vai resolver?

Por outro lado vejo argumentação frágil, emotiva, enganadora, ofensiva – e este tipo de argumentação e campanha aumentou muito depois da última pesquisa que dava que os paraenses são contra a divisão, em sua maioria, 62% contra o Carajás e 61% contra o Tapajós.

Neste ponto quero lembrar de algo que, em artigo recente neste blog, denominei de síndrome de Adão, que vem a ser a tentativa de sempre apontar para o outro, atribuindo-lhe a culpa que, invariavelmente, também, ou exclusivamente, é nossa.

O que tem a ver teologia com política? Adão com Pará? Bíblia com Tapajós, Carajás? A questão é a seguinte. Os políticos envolvidos na propaganda divisionista afirmam que, no caso da criação dos estados, teremos três estados menores, e isso implicará em maior proximidade do governo, com melhor atendimento. Então dizem que Belém é muito longe, que é inacessível, que lá em Belém ninguém se importa com o resto do Pará e coisas semelhantes. Bem, o Maranhão é menor. E está cheio de miseráveis [no sentido técnico, não teológico]. O Piauí é menor e tem IDH menor que o do Pará.

Com a criação dos estados os seus habitantes não poderão mais culpar Belém – terão que procurar novos culpados. Santarém? Carajópolis? Lulândia? O fato é que vai continuar havendo miseráveis às margens dos rios, beira das estradas e pontas de ruas, desassistidos e desamparados que não contarão com o cuidado tão prometido pelos políticos que estão gastando e ganhando milhões só com a campanha divisionista. Como disse certo vereador conhecido meu quando soube que o plebiscito havia sido aprovado: “Vamos dividir, porque aí sobra uma boquinha para mim”.

Resumindo, se a divisão vier, será bom para muitos, ótimo para alguns, e mesmice para a maioria. Mas pelo menos vão ter que parar de jogar pedras tão longe, lá em Belém [para onde mandam seus deputados a troco de pequenos presentes a cada quatro anos no mês de outubro] e atirá-las mais perto. Lembro-me da frase dita por um paraense em 2001, logo depois da renúncia do ex-senador e agora tentando ser senador novamente, Jader Barbalho. Questionado se o político era desonesto, ele respondeu, sem pestanejar: é, mas é dos nossos. Bom proveito!

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