quinta-feira, 29 de março de 2012

ESCOLHIDOS SEM MERECER PELO DEUS GRACIOSO I

DSC_0000274_thumb[12]26 Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; 27 pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; 28 e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; 29 a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus.

I Co 1.26-29

O apostolo Paulo começa esta seção irmanando-se aos coríntios. Chama-os de irmãos. Coloca-se no mesmo patamar em que eles se encontram, como se dissesse: o que vou lhes falar a partir de agora não é um fato apenas entre vocês, nem apenas entre os gentios, mas é comum a todos os santos. Paulo está dizendo-lhes: eu também passei por esta experiência. E é justamente para a experiência de salvação dos coríntios que Paulo chama a atenção. Enquanto eles estavam enfatizando o conhecimento [gnose] que nenhum fruto produziu em Atenas, Paulo lembra-lhes do que eles viveram e como eles se converteram, por isso a expressão enfática: reparai, isto é, coloquem todos as suas capacidades intelectuais para analisar como foi que foram chamados. Mas, segundo Paulo, quem foram estes chamados de maneira tão eficaz e irresistível? Certamente não foram chamados para o que os homens do seu tempo amavam. Aliás, os homens naturais, judeus ou gregos, ou todos os homens indistintamente, rejeitavam a mensagem da cruz, aquele que é chamado, e só o que é chamado, a acolhe, seja judeu ou gentio. Paulo afirma que o que é importante não é o que eles eram, mas o fato de que foram chamados por Deus. Tudo o mais é irrelevante, sem importância. Eles sabem que na fraqueza de Cristo reside o poder para vencer o que nenhum homem jamais conseguiu: o poder para dominar e vencer o poder do pecado. Eles experimentam este poder, pois Cristo é o poder de Deus neles e para eles.

ELES NÃO ERAM CONTADOS ENTRE OS SÁBIOS

Entre os coríntios crentes certamente havia pessoas instruídas, entretanto, eles não eram considerados como os homens sábios de seu tempo. Se olhassem todo o cristianismo nascente, certamente poucos rivalizariam com o próprio Paulo em conhecimento. Entretanto, o que nós vemos é Paulo lembrar-lhes que não havia muitos filósofos entre eles. Não era nestes que o Senhor estava interessado. Não fazia parte do plano de Deus criar uma nova escola filosófica, nem homens confiantes na sua própria cultura [Rm 3.27: Onde, pois, a jactância? Foi de todo excluída. Por que lei? Das obras? Não; pelo contrário, pela lei da fé]. A percepção de Paulo era de que os homens haviam rejeitado a sabedoria de Deus, e, autodeclarando-se sábios, tornaram-se loucos. Em lugar do criador resolveram adorar a criaturas ou, ainda, a si mesmos e seus ídolos ideológicos [Rm 1.22: Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos]. Era isso o que os coríntios estavam valorizando. E o que isso havia feito por eles antes do ingresso de Paulo entre eles? A resposta é nada. Então, o conhecimento que eles estavam valorizando agora também nada poderia fazer a favor deles, e, pior, estava agindo contra eles pois os levava a contendas sem fim. O evangelho foi aceito pelos simples não porque era ineficiente com os sábios, pelo contrário, porque foi oculto aos sábios e revelado aos pequeninos [Lc 10.21: Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado]. A palavra diz que assim foi porque foi do agrado de Deus, foi assim que Deus quis fazer porque ele não necessita em nada da sabedoria humana, tola e ineficaz. Deus usou para sua glória os que não tinham nada a oferecer, o que só enfatiza ainda mais a sua graça e poder.

ELES NÃO ERAM PODEROSOS

Embora houvesse convertidos na “casa de César” é certo que não havia muitos homens cristãos ocupando altos cargos neste tempo, especialmente porque os oficiais e governantes deveriam prestar o tão combatido culto ao imperador [I Jo 4:2: Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus]. Lembremos que mesmo um governador romano era inferior à autoridade de Jesus. Comparemos a autoridade de Jesus [Mt 28.18: Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra] com a autoridade derivada que Pôncio Pilatos possuía [Jo 19.10-11: Então, Pilatos o advertiu: Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar? Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada; por isso, quem me entregou a ti maior pecado tem]. Qualquer cristão convertido deveria abandonar seus postos de poder, passando a ser considerados como se fossem a escória do mundo, peregrinos e forasteiros na terra. A valorização dos poderosos, e a divisão da Igreja em partidos, especialmente os “fortes”, pode indicar que alguns deles achavam que não haveria mal algum em curvar-se ante o culto imperial, permanecer no poder e ter condições de ajudar os cristãos - como se eles já não tivessem o auxilio necessário por intermédio do Espírito Santo. O poder que importava e que ainda importa para os cristãos é o poder que vem de Deus, o poder do Espírito. E é por isso que Paulo lembra aos coríntios que, quando entre eles [I Co 2.4-5: A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus]. Nenhum poderoso em Corinto podia chamar para si a autenticação de suas palavras e atos como possuindo autoridade vinda do próprio Deus. Paulo o fazia. E não podia ser questionado, nem por aqueles que estavam assumindo pertencerem a outros grupos.

ELES NÃO ERAM DE NOBRE NASCIMENTO

O cristianismo floresceu entre os homens comuns do séc. I. Libertos, senhores e escravos compunham um numeroso grupo social que não dispunha de privilégios - que, aliás, Paulo possuía [At 22:27-28: Quando o estavam amarrando com correias, disse Paulo ao centurião presente: Ser-vos-á, porventura, lícito açoitar um cidadão romano, sem estar condenado? Ouvindo isto, o centurião procurou o comandante e lhe disse: Que estás para fazer? Porque este homem é cidadão romano. Vindo o comandante, perguntou a Paulo: Dize-me: és tu romano? Ele disse: Sou. Respondeu-lhe o comandante: A mim me custou grande soma de dinheiro este título de cidadão. Disse Paulo: Pois eu o tenho por direito de nascimento] mas ao qual não dava qualquer valor [Fp 3.8: Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo]. Mas de que servia ter o título de cidadão romano e não ter o nome escrito no livro da vida. De que adiantava aos coríntios valorizarem os nobres romanos, que os prendiam e perseguiam, e ter a nobreza de serem declarados filhos de Deus? Na verdade a nobreza de nascimento se apresentava como um empecilho à fé, uma vez que os nobres, tanto gregos quanto romanos, se julgavam descendentes de deuses ou semideuses, ou de fundadores das cidades a quem chamavam “heróis”, e os adoravam como os modernos romanos adoram seus santos. Tinham seu próprio culto familiar, ao seu heroico antepassado. Deixar de cultuar o herói e o antepassado significa a abandonar a família, perder o direito familiar, deixar de ser cidadão e passar a ser considerado um estranho em sua própria casa. Como esperar que alguém assim abandonasse tudo por Cristo, um obscuro galileu morto na Palestina? Houve alguns, é verdade, mas foram poucos, e eram menos ainda nos dias do apóstolo Paulo.

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