NOÉ, E DEUS SE DEU DESCANSO
Gn 5.28 - 8.22
Os descendentes de Adão e Eva estavam se saindo muito bem
no cumprimento de, ao menos, uma das ordens de Deus: eram fecundos e estavam
enchendo a terra. Viviam muitos anos, e tinham muitos filhos e filhas - dos
quais a bíblia relata apenas uma pequena parte por causa do interesse de
registrar as linhas genealógicas e a linhagem dos filhos de Deus, herdeiros da
promessa.
Mas, mesmo os herdeiros da promessa também herdaram
uma outra coisa: o pecado de Adão (Rm 3.10). E o longo tempo de vida só os fez aumentarem a prática
de pecados, tornando-se mais e mais corruptos (Gn 6.3).
Não é de estranhar que tenham entrado em aliança com os
filhos dos homens (denominação dada aos filhos de Caim). Entraram em uma
espécie de competição perversa, tornando-se cada vez mais pecadores, enchendo a
terra de corrupção e violência (Gn 6.11), provavelmente estranhando que homens como Enoque,
Metusalém e, finalmente, Noé, não se tornassem como eles (I Pe 4.4).
Sabemos que cumprir apenas “parte da lei” é o mesmo que
desobedecer toda a lei (Tg 2.10). E era exatamente isto o que estava acontecendo com
aquele povo. Obedeciam ao mandato da multiplicação da espécie mas não viviam em
harmonia entre si nem com Deus - ao ponto de o Senhor aplicar um duro castigo
àquela humanidade corrompida, em nada diferente da nossa (Gn 6.5).
É necessário esclarecer duas coisas:
1. Deus não foi pego de
surpresa pela maldade do coração do homem. Deus é onisciente,
nada pode ser oculto ao seu conhecimento (Sl 139.12).
2. O verdadeiro significado
da palavra arrependimento pode ser colocado na expressão “tristeza
inexprimível” porque “arrependimento” (metanoia, mudança de mente), como nós entendemos, é
uma disposição de coração e mente para mudar uma conduta que se percebeu
pecaminosa, inadequada e ofensiva a Deus e ao próximo (Sl 51.4). Mas a
Escritura ensina que em Deus não há treva alguma (I Jo 1.5).
A Escritura também nos ensina
que Deus tem um propósito eterno e imutável (Ef 3.11) e que suas
promessas sempre são cumpridas (Lc 1.37), de modo que ele não deixaria de fazer o que anunciou a
Adão e Eva ainda no Éden.
A profecia a respeito de Noé mostra que Deus já havia
decidido o que fazer e que, em cada geração, ele mantinha uma “semente santa” e
demonstrou a sua graça preservando a humanidade caída - mas nem por isso deixou
de exercer o seu juízo (Nm 1.3).
Apesar de justo (Gn 6.9) a Escritura afirma que Noé “achou graça” (Gn 6.8),
rejeitando a ideia de que ele houvesse merecido o beneplácito de Deus.
Foi por causa da graça de Deus que Noé, aos 480 anos,
construiu a arca - e não o contrário. As obras de um justo são fruto da ação de
Deus e não a causa da ação divina (Ef 2.10).
O justo obedece ao Senhor porque anda por fé (II Co 5.7) e o ímpio
não obedece a Deus nem mesmo diante de muitas evidências (Lc 11.29).
Mesmo depois do anúncio do dilúvio e da disposição de Noé
em construir uma arca (Hb 11.7) as pessoas continuavam incrédulas.
Sua incredulidade não cedeu nem diante do desfile de
animais de todas as espécies ao encontro de Noé dentro da arca (Gn 7.1) durante
sete dias (Gn 7.9) sete pares de animais que poderiam ser usados no culto
como sacrifício e um casal das demais espécies.
A única evidência que convence o ímpio do juízo de Deus é o
próprio momento do julgamento - entretanto, aí já não há mais tempo para
arrependimento (Pv 1.28). Após 40 dias de chuvas e mais 150 de enchente o Senhor
pôs fim à destruição.
184 dias depois Noé põe novamente os pés em terra e
imediatamente constrói um altar e ali adora ao Senhor - que renova a sua
aliança com a linhagem santa e promete não mais destruir a terra (Gn 8.20) até o
momento do verdadeiro descanso (Rm 8.20-22).
Noé é um tipo de Cristo, evidenciando o julgamento de Deus
sobre o pecado (Hb 11.7) e a salvação como obra exclusiva do Senhor (Jn 2.9).
Aliás, num mundo onde abundava o pecado o Senhor fez maior
ainda a sua graça (Rm 5.20) salvando Noé e mais 7 pessoas, todos aqueles a quem ele
escolheu soberanamente salvar (Rm 9.15).
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