Jz 4.1-24
Mensagem Dominical na Igreja
Presbiteriana em Xinguara
2014, fevereiro, 09
Com esta frase inicia-se uma série de explicações para dizer
não ao chamado para o serviço ao Senhor na sua Igreja. É evidente que não
confundimos o chamado do Senhor com o chamado da Igreja. O Senhor chama para a
conversão, para a nova vida, para o serviço – a Igreja, reconhecendo os dons de
Deus e os talentos, ou ainda, devido à necessidades do momento, chama pessoas
para suprir as carências existentes.
Vejamos algumas destas razões:
1. Preciso
dedicar-me mais à minha família – como se servir ao Senhor fosse
impedimento para ensinar a família a servir
ao Senhor (Pv
22.6).
2. Preciso
dedicar-me mais aos meus estudos ou à minha carreira – como se
estas coisas não pudessem ser acrescentadas pelo Senhor aos que o buscam como
prioridade (Mt
6.33).
3. Preciso
descansar a minha mente – como se os mandamentos do Senhor fossem penosos (I Jo 5.3) e a lei
do Senhor não fosse restauradora (Sl
19.7).
Talvez estas não sejam as suas razões, é possível que você
tenha outras, justas, razoáveis, satisfatórias para você mesmo. Seus
pensamentos conseguem justificar os propósitos do seu coração (Hb 4.12).
Será, entretanto, que estas justificativas sobreviveriam ao
escrutínio do Senhor que sonda o coração do homem (Sl 139.23) e o conhece melhor do que
o próprio homem (Jr
17.9).
UMA MULHER
CHEIA DE OCUPAÇÕES PODE SERVIR AO SENHOR
O que faz de Débora uma mulher que se diferencie das demais mulheres
e também dos homens de seu tempo? A bíblia nada diz de sua classe social ou
financeira. Também não diz do grau de instrução formal que ela possuía. Não diz
quantos filhos, são poucas as informações sobre esta mulher. Mas há uma
informação preciosa. Para quem encontra em seus afazeres (muitos ou poucos)
para não se dedicar ou dedicar-se menos à obra do Senhor, a Escritura nos traz
as seguintes informações sobre esta mulher:
4 Débora, profetisa, mulher de Lapidote, julgava a Israel naquele tempo.
A primeira constatação é que Débora era mulher. Antes que pensemos que isto é óbvio, o fato é que ela se
destaca numa sociedade patriarcal, isto é, numa sociedade onde os homens
exerciam a liderança e isto era não apenas esperado quanto cobrado deles. Mas nos
dias dos juízes tal liderança era exercida sem um parâmetro, e inúmeras vezes o
escrito diz que cada um fazia o que bem entendia – deixando a si mesmos e aos
demais israelitas completamente vulneráveis.
A segunda constatação é que ela era uma mulher casada. Isto implicava em responsabilidades com o esposo,
com os filhos e com os afazeres domésticos. E, por ser uma serva fiel ao Senhor
certamente Débora não se furtava ao papel de auxiliadora em sua casa. Para isto ela precisava investir do seu tempo.
A terceira constatação, e a mais preciosa delas, é que Débora
era uma mulher casada que escutava a
Deus. O oficio profético implicava em ouvir a Deus – somente assim ela
poderia ser a boca de Deus, isto é, aquele que fala em nome de Deus. E Débora é
qualificada como tal, uma mulher que ouvia a voz de Deus.
A quarta constatação é que Débora era uma mulher casada que escutava e praticava o
que Deus lhe dizia, a ponto de ser reconhecida não somente como profetisa
mas, também, como digna de ser ouvida em questões econômicas, sociais e
religiosas.
Esta mulher encontrava tempo para muitas atividades.
Encontrava tempo para seu esposo, que certamente a qualificaria como uma mulher
virtuosa nos moldes de Pv 31.10-11. Ela também encontrava tempo para ouvir a
Deus, isto, se aplicado à nossa realidade, significa estudo da palavra e
participação nos cultos, aprendizado diário do que Deus tem a dizer aos seus
servos, ainda que não exclua o testemunho interno do Espírito Santo (Sl 27.8).
A atitude que se espera dos servos do Senhor é que, como Maria,
tenham os olhos fitos no Senhor, pois esta é a melhor parte (Sl 141.8), aliás,
parte que, independente das circunstâncias, jamais pode ser tirada.
Tudo o mais que uma pessoa pode conseguir por investir tempo
e esforços pode ser tirado, até mesmo conhecimento (por amnésia ou Alzheimer,
por exemplo). Mesmo que alguém conseguisse o impossível de conquistar o mundo
inteiro (e houve quem tenha tentado) Deus chama isto de loucura (Mt 16.26).
DEUS NÃO
EXIGE EXPERIÊNCIA PRÉVIA PARA CAPACITAR E USAR SEUS SERVOS
Há uma frase muito comum que diz que "Deus não chama os
capacitados, mas capacita os chamados". Particularmente não gosto dela
porque ela é apenas uma meia verdade. Deus chamou Moisés, a quem muitos
atribuem gagueira apesar de ser poderoso em palavras e obras (At 7.22). Penso
que não se tratava de gagueira, mas o fato de ele ser "pesado de
língua" significa que ele possuía um discurso incisivo, não político e
bajulador como é comum nas cortes. Deus chamou Isaías, membro da família real.
Chamou Paulo, educado aos pés de Gamaliel. Chamou Mateus e Lucas, homens
instruídos.
Por outro lado Deus também chamou a homens de baixa
instrução, como Amós (Am
7.14) ou simples pescadores galileus, como Pedro, Tiago e João.
A frase é uma meia verdade porque Deus também chama aqueles a
quem, antes mesmo de chamar, capacitou. Até mesmo as experiências domésticas de
Débora deram-lhe um senso de organização que, talvez, muitos generais ao longo
da história jamais tenham tido. Seu tempo, julgando a Israel sob as palmeiras,
também deu-lhe credibilidade para liderar os dispersos e atemorizados
israelitas.
6 Mandou ela chamar a Baraque, filho de Abinoão, de Quedes de Naftali, e
disse-lhe: Porventura, o SENHOR, Deus de Israel, não deu ordem, dizendo: Vai, e
leva gente ao monte Tabor, e toma contigo dez mil homens dos filhos de Naftali
e dos filhos de Zebulom? 7 E farei ir a ti para o ribeiro Quisom a
Sísera, comandante do exército de Jabim, com os seus carros e as suas tropas; e
o darei nas tuas mãos. 8 Então, lhe disse Baraque: Se fores comigo,
irei; porém, se não fores comigo, não irei. 9 Ela respondeu: Certamente,
irei contigo, porém não será tua a honra da investida que empreendes; pois às
mãos de uma mulher o SENHOR entregará a Sísera. E saiu Débora e se foi com
Baraque para Quedes.
Débora não possuía nenhuma experiência alguma como condutora
de exércitos. Nunca tinha participado de uma batalha, não sabia como usar
escudos, lanças ou flechas. Mas sabia qual era a vontade de Deus e queria que
ela fosse obedecida. E toma algumas atitudes neste sentido.
Como juíza e profetisa, com a autoridade moral e espiritual
que possuía, ela manda chamar aquele a quem Deus capacitou para conduzir Israel
em campo de batalha. Deus chama, sim, os capacitados, ainda que coloque-os sob
liderança de quem não tem experiência alguma.
Tudo o que Deus fez na vida de Débora foi para capacitá-la
para aquele momento. Você não se sente capaz? O que você sabe fazer? O que você
aprendeu até o dia de hoje não tem utilidade nenhuma no reino de Deus? E como
você interpreta a Palavra de Deus que diz que "tudo coopera" para o
seu bem? (Rm
8.28).
Este texto é usado muitas vezes para assumir uma atitude de
resignação diante das circunstancias, geralmente adversas, mas ele nos traz
ensinos preciosos:
1. Deus não
faz nada à toa – todas as nossas experiências são como tijolos e constroem
o nosso caráter, forma o homem para que esteja habilitado para fazer toda boa
obra (II
Tm 3.17);
2. Deus tem
um propósito definido – as ações de Deus em sua vida, suas experiências,
sua formação emocional, familiar, educacional e profissional fazem parte de um
projeto de Deus para usar você para glória dele;
3. Deus está
te capacitando para te chamar – o chamado de Deus não é
aleatório como uma pescaria que fazemos e descartamos os peixes que não nos
agradam. Ele só chama os que vai usar em seu reino. Não existem voluntários –
estes sempre desistem na hora da prova (Tg 1.3).
Se você acha que não tem experiência e capacitação para ser
útil no reino de Deus, então, é porque você ainda não ouviu, com clareza, o
chamado do Senhor para usar você. Não diga "não sei" – Deus sabe
exatamente o que quer fazer com você (Jr 1.6-7).
DEUS NÃO
LIMITA SEUS SERVOS A CONVENÇÕES SOCIAIS
Deixemos Débora por um tempo e vamos olhar para outra mulher,
Jael. Sabemos também muito pouco sobre ela, além do fato de ser esposa de
Heber, um queneu.
17 Porém Sísera fugiu a pé para a tenda de Jael, mulher de Héber, queneu;
porquanto havia paz entre Jabim, rei de Hazor, e a casa de Héber, queneu. 18
Saindo Jael ao encontro de Sísera, disse-lhe: Entra, senhor meu, entra na minha
tenda, não temas. Retirou-se para a sua tenda, e ela pôs sobre ele uma coberta.
19 Então, ele lhe disse: Dá-me, peço-te, de beber um pouco de água,
porque tenho sede. Ela abriu um odre de leite, e deu-lhe de beber, e o cobriu. 20
E ele lhe disse mais: Põe-te à porta da tenda; e há de ser que, se vier alguém
e te perguntar: Há aqui alguém? responde: Não. 21 Então, Jael,
mulher de Héber, tomou uma estaca da tenda, e lançou mão de um martelo, e
foi-se mansamente a ele, e lhe cravou a estaca na fonte, de sorte que penetrou
na terra, estando ele em profundo sono e mui exausto; e, assim, morreu.
Após ser derrotado por Baraque Sísera, comandante do exército
cananeu, fugiu e buscou refúgio nas tendas de Heber porque sabia que havia
algumas convenções sociais a serem respeitadas:
A paz
firmada entre os queneus e os canaanitas – era obrigação de Heber zelar
para que a paz fosse mantida;
O dever da
hospitalidade para com um estranho – num mundo onde não havia tantas
opções de hotéis, receber bem era (e até hoje é) um dos deveres mais bem
observados pelos orientais.
Acontece, porém, que os queneus sempre foram
"amigos" dos hebreus e certamente conheciam o relato das maravilhas
de Deus ao trazê-los para a terra de Canaã. Moisés era casado com uma
midianitas, outro nome pelo qual os queneus são denominados na bíblia (Nm 10.29).
Assim como Deus prometeu bênçãos a Israel, Moisés prometeu
que estas bênçãos seriam transmitidas aos seus amigos, midianitas (Nm 10. 32) e
certamente Heber e Jael sabiam destas promessas de Deus de que aquela terra
pertencia aos hebreus, e eles, midianitas, poderiam usufruir delas por causa da
amizade existente entre eles (I
Sm 15.5-6).
Entre as convenções de paz entre povos e os costumes de sua
cultura, Jael preferiu, à semelhança de Moisés, Raabe e tantos outros, o
opróbrio de ser contado entre os crentes nas promessas de Deus (Hb 11.24-26) do que
entre aqueles que amaram o mundo e suas concupiscências.
Baraque contava com um exército de 10.000 homens mas foi
Jael, uma nômade midianita, quem pôs fim à vida de Sísera. Há muitos poderosos
na terra – mas Deus chama você, em sua humildade e simplicidade, para servi-lo
(I Co 1.26-29).
TOME UMA
ATITUDE E SUPERE SEUS OBSTÁCULOS
O que mulheres como
Débora e Jael tem a nos ensinar? O que o exemplo delas pode ensinar para nós,
homens e mulheres do séc. XXI?
Podemos aprender com elas que os obstáculos que existem podem
impedir muitas coisas de acontecerem, mas jamais impedirão um servo de Deus de
fazer a vontade do seu Senhor no contexto em que está vivendo.
Débora cuidava de uma casa e de uma nação. Jael não era
guerreira e matou um general que 10000 homens não conseguiram capturar.
Certamente você não se julga inferior a qualquer uma delas.
Então, porque não servir ao Senhor com todo o seu ser? Porque
não se dispor a ser usado por Deus na certeza de que ele está te preparando
desde o ventre de sua mãe para o cumprimento de um propósito em sua vida?
Achas que ele te trouxe aqui por acaso? Achas que está aqui
hoje por algum feliz acaso do destino. Digo-te que não. Estás aqui porque esta
foi a vontade de Deus. Estás aqui porque Deus te trouxe, ele te segurou com sua
poderosa mão e te trouxe aqui para chamar você a um compromisso de vida com
ele. Ele já te deu tudo o que precisa para que você seja útil.
Ele te buscou quando você não o procurava (Is 65.1). Ele te
dá liberdade – te livra da escravidão ao pecado. Ele te dá vida, te livra da
morte eterna causada por estes pecados. Ele te livra da sepultura e te faz
assentar em lugares celestiais. E, se suas ocupações são pesadas demais para
você, ele te chama e te dá uma porção que você pode carregar e usar para ser
uma benção.
O que você precisa fazer? Simples, muito simples. Atender ao
chamado do Senhor e dizer: "estou aqui, pronto para ser enviado" (Is 6.8).
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