NINRODE
A Palavra de Deus afirma que o Senhor é Deus misericordioso, mas que, também, mantém a sua Palavra de julgamento sobre os filhos da desobediência (Nm 14.18: O SENHOR é longânimo e grande em misericórdia, que perdoa a iniqüidade e a transgressão, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta gerações).
Após a inadvertida ação de Cam e a consequente maldição sobre ele e sua descendência (Gn 9.24-27: Despertando Noé do seu vinho, soube o que lhe fizera o filho mais moço e disse: Maldito seja Canaã; seja servo dos servos a seus irmãos. E ajuntou: Bendito seja o SENHOR, Deus de Sem; e Canaã lhe seja servo. Engrandeça Deus a Jafé, e habite ele nas tendas de Sem; e Canaã lhe seja servo), Cam gerou quatro filhos, sendo que seu primogênito, Cuxe, gerou a Ninrode (seu nome significa rebelde). E é sobre os atos e fatos a respeito deste homem que conseguiu seu intento de tornar-se inesquecível que nos deteremos um pouco mais.
Os descendentes de Noé ainda tinham a obrigação de povoar a terra (Gn 9.1: Abençoou Deus a Noé e a seus filhos e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra) e o fizeram, dividindo entre si as terras, dando origem a nações que, ainda, tinham em comum a mesma língua.
Os homens se multiplicaram rapidamente - não nos esqueçamos que eles viviam várias centenas de anos, gerando filhos e filhas e estes dando origem a novas famílias. E eis que, entre estes bisnetos de Noé, surge Ninrode. A descrição que dele é feita sugere uma pessoa impetuosa, de personalidade forte e impactante, que atrai admiração. Em outras palavras, uma pessoa popular, ou populista (Gn 10.8-9: Cuxe gerou a Ninrode, o qual começou a ser poderoso na terra. Foi valente caçador diante do SENHOR; daí dizer-se: Como Ninrode, poderoso caçador diante do SENHOR). Com suas habilidades tornou-se alguém poderoso (roBig = guerreiro, homem de agressão - o que está de acordo com a histórica ferocidade assíria) e alcançou seguidores. E aqui começam os problemas. Os canaanitas deveriam submeter-se aos seus irmãos, e não liderarem-nos. Ninrode deveria servir, e não ser servido.
Dele diz Flávio Josefo, obviamente citando a tradição rabínica judaica:
“Pouco a pouco, transformou o estado de coisas numa tirania, sustentando que a única maneira de afastar os homens do temor a Deus era fazê-los continuamente dependentes do seu próprio poder. Ele ameaçou vingar-se de Deus, se Este quisesse novamente inundar a terra; porque construiria uma torre mais alta do que poderia ser atingida pela água e vingaria a destruição dos seus antepassados. O povo estava ansioso de seguir este conselho, achando ser escravidão submeter-se a Deus; de modo que empreenderam construir a torre [...] e ela subiu com rapidez além de todas as expectativas." Antiguidades Judaicas, I, 114, 115 (iv, 2, 3)
A tendência natural de pessoas como Ninrode é se apegarem ao poder, e desejarem cada vez mais poder. E, no desejo de livrar-se de Deus, os homens escravizam-se mutuamente.
A história está cheia de homens assim, como Alexandre, o grande, Gêngis Khan, Adolf Hitler - e podemos observar exemplos menores em nosso tempo. Ninrode percebeu que as distancias entre as pessoas estavam ficando maiores, e ele precisava de algo que centralizasse as pessoas em torno de algo comum, como, mais tarde, também perceberiam Jeroboão (I Rs 12.27: Se este povo subir para fazer sacrifícios na Casa do SENHOR, em Jerusalém, o coração dele se tornará a seu senhor, a Roboão, rei de Judá; e me matarão e tornarão a ele, ao rei de Judá) e Constantino, ao usar o cristianismo como “o cimento o império”.
A atitude de Jeroboão foi classificada por Deus como pecado (I Rs 12.30: E isso se tornou em pecado, pois que o povo ia até Dã, cada um para adorar o bezerro) e maldição sobre sua casa (I Rs 13.34: Isso se tornou em pecado à casa de Jeroboão, para destruí-la e extingui-la da terra).
O mesmo se deu sobre o ímpio Ninrode. A torre que ele intentou construir chamava-se zigurate, sendo, na verdade, um templo. Seu objetivo era instituir um lugar de culto para todos os descendentes de Noé, obviamente sob seu controle. A religião de Ninrode era utilitarista e mundana - não levava em consideração a vontade de Deus em sua vida nem tampouco tinha por objetivo glorificar a Deus (Gn 11:4 Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra).
Objetivos mundanos, religião mundana. O que resultaria da edificação desta torre seria uma religião de interesses políticos facilitada pelo fato de todos falarem uma mesma língua - algo parecido (sem o aspecto) com o pan-americanismo, o bolivarianismo sul-americano, o pan-islamismo árabe, etc...
É impossível saber o tamanho da torre proposta, mas deveria ser algo que impactasse a vista dos seus frequentadores (alguma diferença no propósito com o “templo do Salomão” sem sabedoria proposto pela IURD?) e eles sentisse, observando de baixo, que seus sacrifícios tocassem o céu. Como o coração de Ninrode era rebelde, como fora o de Caim e dos seus antepassados, ele não obteve a aprovação de Deus para seu intento. Seu objetivo não era glorificar a Deus, seu propósito era a sua própria gloria e isto Deus não admite (Is 42.8: Eu sou o SENHOR, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura).
O sinal mais evidente da desaprovação de Deus sobre este intento foi que Deus lançou confusão sobre os edificadores (Gn 11.5-7: Então, desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre, que os filhos dos homens edificavam; e o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer. Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem de outro) e fez ruir seu propósito de uma religião universal. Ninrode queria edificar uma religião através da qual o homem alcançasse o céu. Suas ideias se espalharam junto com aquelas pessoas confusas, mas permanecem presentes em toda e qualquer religião que não se atenha à obediência à Palavra de Deus. Esta cidade, embora sem a relevância pretendida por Ninrode, se tornaria Babilônia, sempre identificada com idolatria, com rebelião contra Deus e símbolo de religião desprezível.
A proposta de Ninrode era um mundo onde:
i. Um homem (ele) fosse o centro. Se Deus disse para enchermos a terra, nós nos tornaremos poderosos permanecendo juntos;
ii. Um lugar (a torre) fosse o centro da comunhão do povo. Babel era mais que um prédio, era uma filosofia de vida: vivamos por nós mesmos, não precisamos de Deus;
iii. Uma instituição (a cidade de Babel) fornecesse a identidade para o povo. Não precisamos do céu, ou do paraíso. Queremos a felicidade aqui, na terra.
A tentativa de reedificar Babel, religiosa e ideologicamente, continua. Blocos econômicos, culturais, religiosos - tudo isto sob a um guarda-chuva pretensamente piedoso de uma filosofia chamada ecumenismo. Não devemos nos deixar enganar - nem todos os caminhos levam a Deus, aliás, só Jesus leva a Deus (Jo 14.6: Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim). Os demais são caminhos de morte (Pv 14.12: Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte).
É facilmente perceptível a confusão que reina no mundo, em todas as áreas, e no contexto religioso, por causa da multidão de vozes cada vez mais confusas de edificadores de torres. Cabe-nos encerrar com uma palavra, a do Senhor Deus a respeito do único que tem o direito de chamar-nos a si: Jesus (Mc 9.7: A seguir, veio uma nuvem que os envolveu; e dela uma voz dizia: Este é o meu Filho amado; a ele ouvi). Não é uma torre a ser levantada, nem um templo, mas o Filho do homem (Jo 12.32: E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo) que já foi levantado e deve ser seguido.
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