Quando um justo "faz o que todo mundo faz" as consequências podem ser trágicas.
A arca era um ambiente seguro - mas cumpria apenas um propósito. E, depois de cumprido, era necessário que fosse abandonada.
Noé não tinha coração idólatra, não tinha interesse em guardar relíquias - e logo que saiu da arca usou parte dela para fazer um sacrifício ao Senhor.
O patriarca tomou alguns cuidados: construiu um altar, ofereceu animais “limpos” a Deus. Antes mesmo da lei ele já sabia o que seria aceitável ou não como sacrifício ao Senhor. Que tipo de sacrifício foi este?
Embora alguns queiram entender o sacrifício de Noé como uma confissão que era pecador e não merecia ter sobrevivido isto não se adequa ao contexto, que indica muito mais uma oferta pacífica, um culto de gratidão ao Senhor pelos benefícios feitos (Ex 20.24). Isto não significa, entretanto, que Noé não tivesse consciência de quem ele era - um pecador.
UM PROPÓSITO IMUTÁVEL
Mesmo depois do dilúvio o eterno propósito de Deus permaneceu inalterável. Os filhos de Adão ainda tinham incumbências a cumprir, e Noé os abençoa e eles são instruídos acerca da obrigação de encher a terra (Gn 9.1).
Como no Éden, foi-lhes dado domínio sobre a criação, com duas alterações fundamentais: a criação, embora sujeita, teria o homem como motivo de pavor e medo (v. 2) porque passaria a ser não apenas governada mas explorada (v. 3) como fonte de alimento, com a restrição referente ao sangue.
Deus mostra a necessidade de respeitar a “imago Dei” ainda presente no homem: decaída, deformada, em alguns quase imperceptível, mas, mesmo o pior dos seres humanos ainda guarda algo da imagem de Deus, cuja vida deve ser valorizada - a ponto de a punição para uma afronta à mesma ser a pena máxima, a pena de morte, instituída pelo próprio Deus (v. 6).
UM DESCUIDO IRREPARÁVEL
Alguns anos depois [houve tempo para Noé plantar uma vinha, colher uvas, fazer vinho) Noé comete um erro que resultou em danos para sua família: entregou-se ao vinho. Não há reprovação ao plantio da vinha ou fabricação de vinho, entretanto, nem tudo que é lícito é conveniente, e temos uma clara demonstração de que a embriaguez pode causar danos irreparáveis a uma família. Certamente Noé não foi o primeiro a embriagar-se (Lc 17.27), o que nos alerta para o enorme perigo espiritual de “fazer o que todo mundo faz” que pode trazer consequências sobre nós e sobre aqueles que estiverem próximo de nós. A bebedice do patriarca trouxe grande tristeza sobre sua descendência por causa da irreverência de seu filho, Cam, que acabou amaldiçoado, junto com seus descendentes.
CONSEQUÊNCIAS TERRÍVEIS
Ébrio, Noé deixou-se cair bêbado em sua tenda, e seu filho, Cam, não apenas viu a sua nudez de seu pai como não teve o cuidado que deveria ter tido (v. 22), deixando de dar-lhe a honra devida (Ex 20.12). Por causa de sua irreverência, contratada com o respeito demonstrado por seus irmãos (v. 23), Cam foi amaldiçoado pelo próprio pai - era seu dever, como sacerdote da família. Cam e seus descendentes se tornariam servos de seus próprios irmãos por seu patriarca não ter dominado sua vontade eles teriam sua vontade sujeita aos demais.
Não é correto, mais do que isso, é uma tolice afirmar que o sofrimento dos palestinos seja fruto da maldição sobre Cam, uma vez que eles são descendentes de Sem (são filhos de Ismael, filhos de Abraão, portanto). De Cam saíram nações etíopes, egípcias, persas e canaanitas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Algumas breves considerações sobre esta triste passagem a respeito do patriarca Noé.
Deus não desistiu de contar-nos a história de Noé apenas porque ele cometeu um erro - ela nos foi contada apesar do erro que ele cometeu, o que nos serve de instrução (Rm 15.4) e corrobora a verdade bíblica que não há quem não peque (Ec 7.20), mesmo um homem que o próprio Deus considerou justo e íntegro (Gn 6.9). Lembre-se: acertos passados não equilibram erros presentes (Tg 2.10).
Deus não desistiu de seu propósito por causa da infidelidade dos homens, nem mesmo de seus mais dedicados servos (II Tm 2.13). Todas as exigências feitas a Adão, todas as determinações originais permaneciam sobre os homens, mesmo depois da queda, por isso o alto valor que Deus dá aos seres humanos (Gn 9.6).
Ser como todo mundo, como Noé foi, ainda que por pouco tempo, pode trazer consequências irreparáveis, danosas para si mesmo e para o próximo (Rm 2.24). Nem sempre é suficiente não fazer o que Deus proíbe, mas o ideal é só fazer o que Deus manda (Sl 119.4). Fazer a vontade de Deus já ocupa tempo suficiente, e, na dúvida, o ideal é fazer como no trânsito, não ultrapassar nem pegar desvios (Dt 5.32).
Geralmente, além de nós mesmos (Pv 8.36) quem mais sofre com nossos erros são aqueles a quem amamos - ou aqueles que nos amam.
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