sexta-feira, 27 de novembro de 2015

UM POUCO MAIS DA CARTA DE PAULO A FILEMOM

Esta epístola é dirigida a um convertido e amigo pessoal do apóstolo – e aparentemente homem de recursos, do qual um escravo, Onésimo, fugiu e chegou até o apóstolo Paulo durante sua prisão em Roma. Convertido passa a servir a Paulo que decide reenviá-lo ao seu legítimo senhor.
Paulo se coloca como um intercessor[1] entre o escravo fugido e convertido e o convertido servo do mesmo Senhor. Escrita ao mesmo tempo que a epístola aos Colossenses e Efésios, provavelmente de Roma, por volta de 61 dC.
A mensagem principal é que senhores e escravos podem, em Cristo, ser efetivamente irmãos – Filemom nao perderia autoridade sobre Onésimo como seu escravo que era, todavia isto não o impediria de amá-lo e de ser amado por ele como irmão. E é isso o que Paulo diz a Filemom a respeito de Onésimo: saiu escravo, voltou irmão. Saiu prejudicial, inútil, voltou amado, irmão, útil.
Evidente que Paulo não estava tratando da questão da escravidão – ele não menciona ser um abolicionista nem tampouco um escravocrata. O ponto é: por causa de Cristo é possível a reconciliação entre dois homens que tinham tudo para serem inimigos, um por ser escravo e privado de sua liberdade, o outro por ser senhor e ter sido privado de algo que lhe pertencia e ter direito de puni-lo, mas não o faz porque ambos tiveram o amor de Deus derramado em seus corações.


[1] O conflito existente só poderia ser resolvido mediante uma intervenção, uma norma externa aos conflitantes. O problema é de sangue [nordestino, judeu, italiano, árabe, turco, espanhol] – é o que a carne é. O problema só pode ser resolvido pelo sangue – o de Cristo. Filemom tornar-se crente, ir à igreja, ler a bíblia, cantar cânticos tem que impactar a sua vida. Como é possível alguém ser bastante religioso e, ao mesmo tempo, não produzir os frutos da verdadeira religião.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

VOCÊ SABE PARA ONDE ESTÁ INDO?

Vivemos tempos de incertezas e creio que uma pergunta como esta é fundamental: você sabe mesmo para onde está indo? A cada dia fica mais difícil perceber com clareza quais as perspectivas que são postas diante de nós - e quanto menos clareza tivermos, talvez, mais dificuldade teremos para fazer as opções corretas.
O que se espera de um pai, em nossos dias? É o mesmo que se esperava há 30 anos atrás quando a maioria de nós era apenas um garoto ou jovem aos pés de seus pais? Que tipo de pais estamos sendo e que tipo de pais nossos filhos serão daqui a 20, 30 anos? Para ilustrar isto, vejamos uma das questões estúpidas propostas no ENEM-2015, na qual há uma afirmação (e no exame não é possível contestar tal afirmação, simplesmente não há a opção discordante) de que ninguém nasce homem ou mulher, que isto é uma construção sociocultural.
Problemático? Confuso? Perdido? Talvez o problema não seja tanto o que está ao nosso redor, mas as escolhas que nós fazemos. O que é fato é que a bíblia nos diz que não temos como escapar às inquietações da vida (Jó 14.1), mas isto não quer dizer que não temos opção além de nos deixar levar pela corrente que tenta nos arrastar.
Sim, parece mesmo muito complicado. O mundo realmente está absurdamente licencioso, complicado, pais não se preocupam em deixar filhos melhores para o mundo (embora se esforcem por dar-lhes mais conhecimentos e até mais mimos) corrigindo-os quando necessário (Pv 23:13) para que não sejam envergonhados por eles (Pv 28:7) e filhos, cada vez mais irritadiços, estão se tornando cada vez mais desafeiçoados aos seus pais (Rm 1.30-31).
Já houve tempos semelhantes - um rápido estudo histórico mostrará que a Grécia, Roma, na antiguidade, Inglaterra e França, por exemplo, também estiveram à beira do abismo institucional. A Grécia sucumbiu apesar de todas as formas de filosofia que tenham produzido (estoicismo, ceticismo, epicurismo).
O império romano entrou em simbiose com o cristianismo, produziu uma forma de cristianismo paganizada e mais tarde ruiu. A França rejeitou o cristianismo e se secularizou - mas a Inglaterra e outros países europeus procuraram outra solução: Deus.
CRISE SEM SOLUÇÃO
Qual a solução para nós? A mesma recebida na Alemanha, Suíça, Inglaterra nos Sécs. XVI e XVII: eles procuraram ajuda onde havia possibilidade de encontrar ajuda (Sl 32:6).
O que fazer se todo mundo faz? O que eu posso fazer se todo mundo diz que não tem nada a ver? A resposta é uma só em toda e qualquer situação: a bíblia diz. E o que a bíblia diz sobre que escolhas devemos fazer quando todo mundo está fazendo a mesma coisa? Ela nos diz para rejeitarmos o pensamento mundano e procurarmos pensar nas coisas do alto, nas coisas de Deus (Cl 3:2). E como fazer isso? Não deixando nosso pensamento e conduta tomarem a forma do mundo que nos cerca mas renovando a nossa mente pela Palavra de Deus (Rm 12:2).
Antes que sejamos largados a uma sensação de certa resignação desesperada, isto é, antes que digamos que este mundo está mesmo perdido e que nada mais resta a fazer precisamos entender que há algo que possamos fazer sim, talvez não consigamos mudar todo o mundo - não foi isso o que os avivamentos do passado fizeram: eles mudaram o mundo que os cercava, eles mudaram o seu mundo, e impactaram muitos outros.
Não precisamos entrar em desespero, precisamos de esperança - e curiosamente o livro que leva o nome que poderia induzir à desesperança é o que nos traz uma belíssima palavra de incentivo: lamentações, do profeta Jeremias. Ele nos diz para nos lembrarmos daquilo que pode nos dar esperança, a misericórdia de Deus (Lm 3:21).
Somente Jesus pode nos dar esperança - ele é mais que isso, crer nele é ter certeza de vitória sobre o mundo circundante (I Jo 5:4). É este Jesus que nos convida para depormos os nossos fardos de ansiedade, medo, desânimo, desorientação diante dele (Mt 11:28) e tomarmos a sua porção, que é leve e suave (Mt 11:30).
Lembra do livro das Lamentações - nele encontramos o profeta Jeremias dizendo que tinha esperança, e não o contrário (Lm 3:24). A terra estava assolada, o quadro era desolador, mas ainda assim ele esperava no Senhor.
Há, ainda, um caminho que um homem pode caminhar com segurança - este caminho é Jesus (Jo 14:6). Não há outro caminho seguro, embora existam muitos outros caminhos que podem ser escolhidos, como a filosofia, a ciência e até mesmo a religião - mas eu insisto em lhe dizer que eles não são bons o bastante e relembrar o que Jesus disse: só ele é o caminho, embora outros possam parecer desejáveis e confortáveis (Pv 14:12).
E o que Jesus espera de você? Que você conheça e guarde os seus mandamentos. Que você seja um bom pai, um bom cidadão, um bom profissional - e, acima de tudo, que você faça tudo em nome dele, para glória de Deus (Cl 3:17) não se desviando nem para a direita nem para a esquerda (Dt 5:32) permanecendo em sua bendita palavra como prova de que se tornou verdadeiramente discípulo do Senhor Jesus Cristo (Jo 8.31).


QUEM É JESUS - SEGUI-ME

SEGUI-ME...
Há algum tempo eu li uma frase no para-choques de um caminhão que dizia, mais ou menos, o seguinte: “Não me siga! Também estou perdido”. E lembrando-me disso, comecei a fazer algumas perguntas, que gostaria de  compartilhar com vocês:
i. A quem você seguiria com absoluta confiança? Você conhece alguém a quem você confiaria decisões importantes de sua vida?
ii. Quem seguiria você com absoluta confiança? Você conhece alguém que confiaria decisões importantes de sua vida em suas mãos?
Não é nada difícil encontrar pessoas que desejam colocar-se como guias de outras - é assim nas famílias, onde às vezes encontramos cônjuges e pais que querem determinar cada detalhe da vida dos demais membros, desde escolhas mais simples como a cor de uma roupa até coisas mais sérias, como escolha de uma profissão.
A frase do caminhoneiro revela uma verdade: muitos não sabem para onde estão indo. A Escritura afirma que há caminhos que parecem direitos ao homem, mas, ao cabo, dão em caminhos de morte (Pv 14:12).
Lamentavelmente a frase revela uma segunda verdade - que há muitos que querem ser guias mas não passam de cegos que não sabem para onde estão indo (Mt 23:16) e estão não apenas indo para o abismo mas levando muitos outros consigo, mas quem segue cego, não é digno de lamentações, pois é mais cego ainda, como quem segue a um ídolo mudo que precisa ser carregado (Sl 115:8).
Pra complicar ainda há muitos que dizem que há muitos caminhos possíveis, usando uma frase de efeito que diz que todos os caminhos levam a Roma. Mas será mesmo que todos os caminhos levam a Deus?
Não podemos esperar encontrar direção em outro lugar a não ser nas palavras daquele que não apenas sabe o caminho mas é o próprio caminho. Quando Tomé pergunta a Jesus para onde ele vai, ou melhor, quando ele admite sua ignorância (Jo 14:5), a resposta que recebe do Senhor Jesus é enfática: Jesus não é apenas alguém que ensina o caminho, ele é o próprio caminho.
Seguir a homens significa colocar-se a si mesmo em sério risco pois significa afastar-se do Senhor Deus (Jr 17:5). Podemos, sem dúvida, aprender coisas importantes com pessoas, podemos até mesmo aprender que devemos seguir ao Senhor Jesus, mas só devemos seguir a Jesus pois só ele é capaz de afirmar que quem o segue não anda em trevas e terá a luz da vida (Jo 8:12).
Seguir a Jesus não significa apenas ter para onde ir ou saber para onde ir, mas estar com quem se deve estar (Jo 6:68) porque estar em Jesus é estar com o próprio pai (Jo 10:30).
É importante que saibamos que o Senhor tem nos dado informações preciosas sobre como servi-lo. E estas informações nos chegam através do que ele ensinou através de  homens que ele mesmo escolheu, os apóstolos e profetas (II Pe 1:21) para que nós não ficássemos sem testemunho sobre si mesmo (At 14:17) e, por isso, não podemos correr o risco de, tendo todas as informações, rejeitarmos suas instruções (Hb 2.1-3).
Isto quer dizer que, embora ninguém tenha o direito de fazer o que Jesus fez como quando chamou Mateus para segui-lo (Mt 9:9) você ainda deve, como Natanael, dar ouvidos a quem lhe chama para seguir ao Senhor (Jo 1:46) porque não segui-lo significa estar à margem do caminho, sem direção e em caminhos de morte.
O problema não é não saber para onde ir - o problema maior é receber a informação sobre para onde ir, receber o mapa do caminho, receber uma bússola e ainda assim continuar errando o caminho.
Não faça isso, porque não estamos falando de uma simples viagem de dezenas ou centenas de quilômetros, mas da viagem que lhe conduz à eternidade. Todos os caminhos conduzem à eternidade, mas só um caminho é a eternidade com Deus. Os demais caminhos conduzem à eternidade da condenação. O caminho dos prazeres, dos luxos, da incredulidade, da cegueira - todos eles conduzem ao mesmo lugar, e não é a Roma, e muito menos ao céu. Qual é mesmo o caminho que você vai seguir?



É HORA DE REVITALIZAR

Neste fim de semana o sínodo Carajás, em parceria com o Plano Missionário Cooperativo da Igreja Presbiteriana do Brasil, promoveu o Fórum de Plantação e Revitalização de Igrejas. Tendo feito o curso de Revitalização, Multiplicação e Implantação de Igrejas, e participado deste fórum, algumas conclusões são inevitáveis quando se pergunta o que falta para a Igreja Presbiteriana assumir um papel mais relevante no evangelismo nacional, sair do gueto em que se entrincheirou nos anos 60, solidificou nos anos 80 e tem se mostrado, com algumas exceções, incapaz de colocar a cabeça para fora da trincheira nos últimos 30 anos, acuada pelo movimento pseudopentecostal por um lado, ou pela paixão por pseudoteologias como a da libertação, quando não se deixa encalacrar num saudosismo absurdo e seus ismos, especialmente, no momento o pseudopuritanismo.
O que nos falta? O que falta à Igreja Presbiteriana do Brasil para dar um salto - embora a Igreja, aparente e muito lentamente, esteja crescendo (um crescimento com boa parte de adesismo de pseudopentecostais frustrados com as promessas vazias que só trazem prosperidade aos seus líderes gananciosos)?
A primeira conclusão é que a liderança da Igreja não está atenta para o fato de que ela precisa de vitalidade. O primeiro passo para que a Igreja responda com eficácia aos desafios propostos, em primeiro lugar, ao chamado do evangelho, e, em seguida, às demandas do mundo que a cerca é ter uma liderança vitalmente envolvida com a tarefa de fazer o nome de Cristo conhecido e temido, e, desta maneira, desejosa de que seu reino seja instaurado [porque inaugurado já está] em toda a terra. Enquanto a liderança, composta por pastores, presbíteros, diáconos e outros não compreenderem que, se não forem vivificados pelo Espírito do Senhor, se não tiverem genuíno interesse pelo conhecimento e prática das Escrituras, se não amarem a Deus mais do que todas as demais coisas, se não se sentirem impelidos para a proclamação do reino a Igreja apenas andará em círculos, em torno de si mesma e de seus eventos internos.
A segunda constatação é que, em muitos aspectos, a Igreja não está interessada em ser revitalizada, em experimentar uma nova vitalidade e assim sair do seu lugar comum, da sua zona de conforto. Mais gente significa mais problemas a serem tratados, significa mais opções na hora de preencher posições, comissões e sempre há quem muito se apegue a este tipo de coisa. Porque trazer problemas novos se os velhos já incomodam bastante? Enquanto a Igreja não entender que maior qualidade pode, sim, ser extraída de maior quantidade ela se fechará em seus muros santos - que não tem servido de proteção para o que vem de fora mas que são muito eficientes para dificultar a entrada de novos crentes.
A terceira constatação é que o problema da Igreja Presbiteriana não é falta de dinheiro, nem de conhecimento, nem de métodos para se expandir - e nem mesmo a clareza da mensagem apresentada. O grande fator tem sido o marasmo espiritual, a estagnação, a falta de interesse nas coisas de Deus, o descomprometimento cada vez mais crônico que assola a Igreja.
Apesar de a cada dia surgirem muitos tipos de Igrejas, é fácil constatar que a rotatividade de membros é muito grande, é, na verdade, uma moda - e muitos logo se cansam de navegar em mares incertos e partem à procura de um bom porto. O problema é que, ao mesmo tempo que querem um porto seguro, querem, também, um porto que tenha vida. Não faz sentido sair do mar, que, de uma forma ou de outra, tem movimento, para aportar numa ilha deserta e sem vida. Sim, a Igreja presbiteriana, como um todo, líderes e liderados, precisa de vitalidade, vitalidade que vem do Espírito Santo e que impacta vidas.
Rev. Marthon Mendes

O QUE LEMBRAR QUANDO PARECER QUE VOCÊ ESTÁ SOZINHO - Cl 4.10 18

10 Saúda-vos Aristarco, prisioneiro comigo, e Marcos, primo de Barnabé (sobre quem recebestes instruções; se ele for ter convosco, acolhei-o), 11 e Jesus, conhecido por Justo, os quais são os únicos da circuncisão que cooperam pessoalmente comigo pelo reino de Deus. Eles têm sido o meu lenitivo.
12 Saúda-vos Epafras, que é dentre vós, servo de Cristo Jesus, o qual se esforça sobremaneira, continuamente, por vós nas orações, para que vos conserveis perfeitos e plenamente convictos em toda a vontade de Deus. 13 E dele dou testemunho de que muito se preocupa por vós, pelos de Laodicéia e pelos de Hierápolis.
14 Saúda-vos Lucas, o médico amado, e também Demas.
15 Saudai os irmãos de Laodicéia, e Ninfa, e à igreja que ela hospeda em sua casa. 16 E, uma vez lida esta epístola perante vós, providenciai por que seja também lida na igreja dos laodicenses; e a dos de Laodicéia, lede-a igualmente perante vós.
17 Também dizei a Arquipo: atenta para o ministério que recebeste no Senhor, para o cumprires.
18 A saudação é de próprio punho: Paulo. Lembrai-vos das minhas algemas. A graça seja convosco.
Cl 4.10-18

Sabemos que Paulo estava preso, e com boa margem de acerto podemos afirmar que em Roma, em prisão domiciliar, privilégio concedido a cidadãos romanos e que lhe dava uma certa liberdade para ter outras pessoas convivendo com ele – o que não é, convenhamos, a situação dos sonhos de ninguém. Em sua companhia encontrava-se, também preso, Epafras, o pastor de Colossos e Aristarco. Como companheiros de prisão em Cristo, isto é, servindo-lhe como colaboradores, havia outros irmãos, como Lucas, Timóteo, Marcos e Tíquico, além de outros.
Muitos de nós olham para a prisão como uma grande desgraça – e, se ela for por causa de um crime, é mesmo uma grande desgraça (I Pe 4.15-16). A prisão parece ser um lugar de abandono e de solidão. Me permitam utilizar a experiência de Paulo, real, física, para uma outra que é, também, física, verdadeira, mas, ao mesmo tempo, metafórica: muitos de nós podem se sentir abandonados e solitários, vagando de um lado para outro e, mesmo em meio à multidão, se sentirem sozinhos.
Mas será que estamos mesmo sozinhos? Cristo não deu-se a si mesmo para criar um povo (Tt 2:14)? Cristo, além disto, também não prometeu esta conosco todos os dias até a consumação do século (Mt 28:20)?

VOCÊ PODE JÁ TER SIDO ABANDONADO

10 Saúda-vos Aristarco, prisioneiro comigo, e Marcos, primo de Barnabé (sobre quem recebestes instruções; se ele for ter convosco, acolhei-o), 11 e Jesus, conhecido por Justo, os quais são os únicos da circuncisão que cooperam pessoalmente comigo pelo reino de Deus. Eles têm sido o meu lenitivo.
Logo no início do seu ministério Paulo teve várias experiências desagradáveis, como, por exemplo, ser perseguido por aqueles a quem desejava salvar por intermédio da pregação do evangelho e, também, por seus próprios compatriotas (II Co 11:26) pelos quais, se possível, ele estaria disposto a fazer o maior sacrifício (Rm 9:3).
Agora, mais perto do fim do ministério, Paulo lembra que praticamente todos os judeus se afastaram dele na medida em que ele teve seu apostolado dirigido para os não judeus (At 18:6). Poucos continuaram com ele, e ele cita, expressamente, três deles. Aristarco, Jesus Justo e Marcos. E é justamente este Marcos, sobrinho de Barnabé e de Pedro, que chama a atenção. Presente no momento da prisão de Jesus, fugiu desnudo deixando para trás um lençol com o qual se cobria (Mc 14.51-52).
Ele vai reaparecer quando, anos mais tarde, seu tio, Barnabé, parte naquela que ficou conhecida como a primeira viagem missionária de Paulo (At 12:25), abandonando-os durante a viagem quando passaram pela Panfília (At 15:38).
Paulo, efetivamente, tinha sido abandonado por Marcos quando o trabalho evangelístico sequer contava com bases de apoio na Ásia Menor e na Europa. Paulo também havia sido abandonado por outros cristãos judeus cujos nomes não são do nosso conhecimento. Ter sido abandonado era uma experiência real. Mas ele tinha certeza de uma coisa – seu Senhor era com ele, sempre (Mt 28:20) e o consolava com a presença de outros irmãos amados, que, mesmo não sendo judeus, foram sendo colocados ao lado de Paulo como seus amigos, irmãos amados, servos fiéis e abençoadores.
Paulo não permitiu que uma fraqueza de um jovem fosse empecilho para a comunhão cristã e voltam a andar juntos para glória de Cristo. Marcos foi recuperado e treinado por Barnabé, e, mais tarde, Paulo solicita que ele venha à sua presença considerando-o como alguém que lhe é útil, tanto como Timóteo (II Tm 4:11).

VOCÊ PODE NÃO TER A MELHOR COMPANHIA

12 Saúda-vos Epafras, que é dentre vós, servo de Cristo Jesus, o qual se esforça sobremaneira, continuamente, por vós nas orações, para que vos conserveis perfeitos e plenamente convictos em toda a vontade de Deus. 13 E dele dou testemunho de que muito se preocupa por vós, pelos de Laodicéia e pelos de Hierápolis. 14 Saúda-vos Lucas, o médico amado, e também Demas.
Já falamos sobre alguns dos companheiros de Paulo, como Tíquico, Epafras, o pastor de Colossos, e, também, Lucas. Destes Paulo faz descrições acompanhadas com elogios ou adjetivos. Tíquico (Cl 4:7), Epafras e até mesmo o escravo fujão Onésimo (Cl 4:9). De todos, porém, o único que não recebe nenhum adjetivo é Demas, simplesmente um cooperador (Fm 1:24). Nunca é chamado de irmão, fiel ou amado. Algumas vezes Demas é usado como exemplo de alguém que deixou de ser crente e, em dissonância do ensino geral das Escrituras, caiu da graça ou perdeu a salvação. Correto é afirmar que Demas é alguém que esteve na Igreja, que até colaborou no trabalho da Igreja e pode até mesmo ter ocupado algum cargo na Igreja visível, em uma ou outra denominação, mas que jamais fez parte da verdadeira Igreja de Cristo, da assembleia universal dos santos (Hb 12:22).
Entre os amigos de Paulo havia um que não era cristão, que não partilhava da mesma fé mas que estava com Paulo e certamente cooperou de alguma forma com o ministério de Paulo. Isto não é novidade, porque Jesus também teve um grupo de discípulos dos quais um era diabo, isto é, adversário (Jo 6:70) mas mesmo assim tinha funções entre os discípulos. Ele havia se tornado o tesoureiro (embora fosse ladrão e, obviamente, com o conhecimento de Cristo - Jo 12:6) e, aparentemente, desempenhava bem a sua função, ao menos aos olhos dos colegas apóstolos (Jo 13:29).
Assim como Judas nunca foi regenerado, sendo, como se sabe, o filho da perdição (Jo 17:12) Demas também esteve presente na Igreja mas ele próprio nunca foi um pistos, um crente. É provável que você também tenha que conviver com companhias que não são as melhores, o problema é quando você opta por companhias que sabe não serem as melhores – e resultado pode ser sua infelicidade (Sl 1:1). Você pode até ter a companhia dos perdidos, mas não pode optar pela companhia dos que se perdem em detrimento da alegria de estar com os santos do Senhor (Sl 16:3).

VOCÊ SEMPRE TERÁ O CONSOLO DO CORPO DE CRISTO

15 Saudai os irmãos de Laodicéia, e Ninfa, e à igreja que ela hospeda em sua casa. 16 E, uma vez lida esta epístola perante vós, providenciai por que seja também lida na igreja dos laodicenses; e a dos de Laodicéia, lede-a igualmente perante vós.
Apesar de tudo, de estar preso e de não poder continuar o seu ministério de evangelização itinerante e de confirmação das Igrejas, nem mesmo de continuar em direção à Espanha, como pretendia, Paulo não se sentia sozinho. Suas muitas cartas atestam que ele amava e era amado pelas Igrejas – e mesmo quando tinha oposição, como em Corinto, ainda assim ele continuava amando a Igreja. Suas cartas também mostram que ele tinha uma forte interação com estas Igrejas, recebendo numerosas visitas, como ele próprio menciona em relação à Igreja de Corinto (I Co 1:11).
Pulo tinha conhecimento de onde a Igreja se reunia, quem frequentava tais reuniões, quais os problemas morais, éticos, comportamentais, doutrinários e espirituais que as ameaçava por causa desta interação. Apesar de preso, e além dos irmãos que estavam com ele, Paulo estava de tal modo ligado a Cristo que sentia a sua dor, a sua angústia, mas que, também, se alegrava com suas alegrias, se rejubilava com suas vitórias, bem como buscava lhes oferecer motivos para se alegrarem (Fp 3:1) e desejava alegrar-se com a alegria da Igreja (Fp 2:2). Paulo sentia-se feliz com as vitórias alcançadas pela Igreja e confortava as Igrejas com o conforto, com o consolo que ele mesmo recebia do Senhor (II Co 1:6) porque ele via a Igreja como um corpo, como, embora diferentes e em lugares diferentes, todos membros uns dos outros (Rm 12:5).
Se você se sente sozinho – e talvez você esteja sozinho por fechar-se em sua solidão – lembre-se que você sempre tem o corpo de Cristo, sempre tem a Igreja de Cristo, sempre tem a manifestação da presença de Cristo e da ação do Espírito de Cristo para falar ao seu coração e dizer: eis que eu estou contigo. É por isso que Cristo morreu não para criar indivíduos crentes, mas um povo crente, uma comunidade que o adorasse e, enquanto o adorasse caminhasse juntos, levando uns a cargas dos outros (Gl 6:2).
Se você está sozinho, se você realmente está sozinho, talvez seja porque você tem se fechado e isto tem impedido a comunhão dos santos, porque não há verdadeira Igreja de Cristo onde não haja comunhão. O que tem impedido você de experimentar a alegria de estar com os irmãos, que são filhos do mesmo Deus, servos do mesmo Cristo e membros do mesmo corpo? O que há em seu coração, que mágoa, barreira ou amargura que precisa ser quebrada neste momento? Em nome de Cristo, que nos faz um, não saia daqui com o coração fechado para a comunhão dos santos.

VOCÊ SEMPRE PODE CONTAR COM A BÊNÇÃO DO SENHOR

17 Também dizei a Arquipo: atenta para o ministério que recebeste no Senhor, para o cumprires. 18 A saudação é de próprio punho: Paulo. Lembrai-vos das minhas algemas. A graça seja convosco.
O apóstolo menciona, na conclusão, um companheiro de ministério, provavelmente alguém treinado como Epafras, chamado de companheiro de armas que fizera de sua casa a “sede” de uma Igreja (Fm 1:2), lembrando-lhe do dever de continuar firme no ministério que recebeu. Ele tinha o privilegio de ser Igreja e ser parte da Igreja em sua casa – algo que a grande maioria dos cristãos do sec. XXI não desejam por preço algum no mundo, desejando que a Igreja seja um lugar onde possam ir gastar algum tempo, e se sociabilizar, mas jamais fazer de sua casa (e alguns de sua vida) a Igreja do Senhor.
Por fim Paulo inclui uma inesperada nota pessoal ao afirmar que, embora usasse o costume de ter um amanuense (um escriba que tanto podia registrar palavra por palavra como receber um roteiro e complementar o texto que depois era supervisionado pelo mentor do texto) fez questão de concluir a carta fazendo a saudação de próprio punho, o que só acontece uma outra vez (e justamente na carta onde se mostra mais indignado com a caminhada claudicante dos crentes da Galácia: Gl 6:11). E é justamente de próprio punho que Paulo menciona o desejo que a graça de Deus seja sobre a Igreja colossense. É possível que você já tenha sido abandonado, como Paulo foi pelos judeus e até por companheiros, como Marcos. É possível que você tenha que conviver até mesmo com incrédulos, como Jesus suportou Judas e Paulo conviveu com Demas. Mas você pode ter certeza que a Igreja do Senhor será sempre um porto seguro para encontrar companheiros de caminhada e adoração, partes do mesmo corpo, o corpo de Cristo. Mas tudo isto faz parte de algo ainda maior – a experiência da graça de Cristo.
Quase sempre vejo a menção da graça de Deus referindo-se à salvação – e é verdade, a salvação é pela graça de Deus mediante a fé (Ef 2:8), que também vem por meio de Cristo (At 3:16). Outras vezes vejo o uso da graça como se fosse uma mera promessa de bênçãos materiais. Para Paulo a graça era mais do que isso. A graça era a presença abençoadora do próprio Cristo (I Co 15:10). A graça era a razão da sua própria vida – ele não podia chamar para si mesmo qualquer mérito, sob qualquer circunstância por coisa alguma porque tudo o que ele veio a ser foi apenas o resultado da graça de Deus em sua vida, que o transportou, e aos colossenses, do império das trevas para o reino de Cristo, o Filho do seu amor. E era nada menos do que a graça de Deus que Paulo queria ver os colossenses experimentando – graça que os fortaleceria para serem mais do que vencedores por causa da graça daquele que os amou (Rm 8:37).

LEMBRE-SE: ALGUÉM ABENÇOADO POR DEUS NUNCA ESTÁ SOZINHO

Louvo a Deus por ter a sua atenção neste momento. Louvo a Deus por poder te dizer que você não está sozinho, nunca. A promessa do Senhor Jesus foi que ele estaria com você todos os dias – todos os dias mesmo – até a consumação do século. E o tempo ainda está sendo contado, os séculos ainda não se consumaram, de modo que Cristo ainda se faz presente no meio do seu povo, ainda se faz presente com aquele que nele crê, que vai a ele e lhe entrega sua vida em confiança (Jo 6:37) é tomado em suas bondosas mãos, das quais ninguém pode tomar os que lhe pertencem, os que lhe foram dados pelo Pai (Jo 10:29).

A SOLIDÃO ETERNA NÃO É UM ANSEIO DO SEU CORAÇÃO

Se você chegou até aqui é porque você não deseja estar sozinho – a solidão, seja física ou emocional, não é agradável. A solidão espiritual é a mais terrível de todas as solidões porque faz com que a pessoa se sinta como uma ovelha numa noite sem lua ouvindo uivos de lobos de todos os cantos – sem saber para onde ir, sem ter para onde ir, a menos que seja resgatada pelo bom pastor (Mt 18:12) ouvindo a sua voz e indo a ele (Jo 10:27).

UMA BOA NOTÍCIA PARA QUEM JÁ SE SENTIU SOLITÁRIO

Me permita lhe dizer: você pode ter sido abandonado em algum momento da sua vida por alguém em quem você confiou, mas nunca por Jesus. Você pode até ter sido abandonado por alguém dentro da Igreja, de quem você esperava companheirismo e atenção – mas nunca foi abandonado por Jesus. Você pode até, em situações extremas, ter sido ou se sentido abandonado pela Igreja, até porque não existe Igreja perfeita e ela às vezes falha em amar os seus (família da fé) – mas nunca foi abandonado pelo Senhor Jesus. Ele nunca deixou de cuidar de ti, nunca deixou de te acompanhar, seu amor por você nunca sofreu solução de continuidade, nunca foi menor ou maior porque o Senhor nosso Deus é o mesmo ontem, hoje e sempre (Hb 13:8).

A PERENIDADE DO AMOR DE DEUS

O amor de Deus é o mesmo sempre (Tg 1:17), é o mesmo amor que o levou a te escolher desde antes da fundação do mundo (Rm 8:29) antes mesmo que você pudesse fazer alguma coisa para atrair a atenção amorosa do Senhor (Rm 9:11) e também independe do que você venha a fazer para que o amor de Deus continue sendo derramado sobre você (Rm 9:16).

A GRANDE NOTÍCIA – DEUS CONTINUA SENDO O DEUS GRACIOSO

O mesmo Deus que provou seu imenso amor por você (Rm 5:8) enviando seu filho para morrer em lugar de pecadores que não mereciam e que, não apenas não se interessavam por nenhuma forma de relacionamento com Deus a não ser de afronta e inimizade (Ef 2:14) continua, ainda hoje, a ser o mesmo Deus gracioso. O mesmo Deus que lhe oferece salvação, lhe oferece a companhia da família da fé e, acima de tudo, promete nunca te abandonar (Hb 13:5).
Você pode até ter sido como Marcos – mas nada impede que, pela graça de Deus, você retorne e seja uma bênção e um abençoador. Você pode até ter sido como Onésimo, um fujão que, em busca de liberdade, foi parar na prisão, onde encontrou finalmente a liberdade que vem de Deus (Gl 5:1). Você só não pode ser como Demas – não pode amar o presente século e abandonar a fé. Que tipo de crente você é, afinal? Se você foi liberto do império das trevas, então, foi tornado um filho do amor de Deus – e a graça de Deus tem sido abundante sobre sua vida. Viva pela graça, não abandone a Igreja, seja muito cuidadoso com as suas companhias e console e seja instrumento de consolo para seus irmãos – contando sempre com a bênção do Senhor nosso Deus.
Isso tudo é muito bom. É bom saber que temos a Igreja e que temos o Senhor conosco a nos abençoar. É maravilhoso saber que o Senhor está conosco em cada passo que damos, em cada escolha que fazemos, em cada gesto que praticamos. É bom saber que ele não se afasta em cada gesto de desobediência, nem vira o rosto para cada atitude de omissão. Ele não vai embora quando o descompromisso e a preguiça tomam conta da vida de um crente. E isto é bênção, porque sua mão estará estendida quando o crente relaxado cair em si, perceber que tem pecado contra Deus e desejar, então, arrependido, voltar correndo para a casa do pai (Lc 15.17-21).
É bom saber que, apesar de nossa impertinência e dureza de coração ele não deixou de ser pai – ele não deixa de reconhecer o seu filho e, mais que tudo, ele não deixou de ter um lugar para nós em sua casa, e isto com grande alegria (Lc 15.22-24).
Quero concluir com as palavras do Senhor à Igreja de Éfeso: faze como João Marcos, arrepende-te, veja onde caíste e volta a fazer aquilo que seu coração mandava você fazer quando ainda amava ao Senhor (Ap 2:5) – se é que o amaste e não fostes como Demas e todos os demais que amam o mundo porque nunca experimentaram o amor do pai (I Jo 2:15) e acabam saindo da comunidade chamada Igreja, mas jamais saem da verdadeira Igreja de Cristo porque, na verdade, nunca estiveram nela (I Jo 2:19).

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Cl 4 7 9 QUE TIPO DE MEMBRO NA IGREJA DE CRISTO VOCÊ DEVE SER

7 Quanto à minha situação, Tíquico, irmão amado, e fiel ministro, e conservo no Senhor, de tudo vos informará.
8 Eu vo-lo envio com o expresso propósito de vos dar conhecimento da nossa situação e de alentar o vosso coração.
9 Em sua companhia, vos envio Onésimo, o fiel e amado irmão, que é do vosso meio. Eles vos farão saber tudo o que por aqui ocorre.
Cl 4.7-9
Preso, provavelmente em Roma, como a maioria dos estudiosos defende, Paulo encontrava-se impossibilitado de continuar seu trabalho de pregação e confirmação das Igrejas. Já havia muitas Igrejas que ele havia estabelecido, e outras surgiam como fruto do trabalho de discípulos seus, como Epafras, de Colossos, que, por algum motivo, estava na prisão com ele e não podia retornar para sua cidade. Junto com ele também estava Timóteo, o qual não é mencionado estar preso. Outros companheiros estão presentes, mas dois se tornam especialmente importantes neste contexto – Tíquico, conhecedor de boa parte das Igrejas e conhecido por elas, sendo, portanto, um excelente emissário para as Igrejas em nome de Paulo, e Onésimo, um desconhecido de todos, menos de uma família colossense – uma família que tinha razões para não gostar nem um pouco dele.
Tíquico recebe três missões nestes breves versos, e as cumpre. Paulo lhe dá três funções que, creio, deveriam ser desempenhadas por todos os cristãos, e, se fosse, teríamos Igrejas mais sadias, abençoadas e abençoadoras.

INTRODUÇÃO

A carta de Paulo aos colossenses é uma resposta a uma visita de Epafras, enquanto este estava preso. Epafras era um nativo de Colossos, provavelmente comissionado por Paulo para evangelizar aquela cidade no vale do rio Lico quando da sua passagem por Éfeso (cerca de 10 anos antes – At 19.10). É possível que tenha passado por aquele antigo centro comercial, agora decadente, mas não conhecia pessoalmente os cristãos locais (Cl 2.1). A visita de Epafras lhe traz informações sobre o progresso dos crentes e os perigos doutrinários que ameaçavam a Igreja, especialmente na forma de um sincretismo judaico-helenístico e seus cultos de mistério. Acredita-se que a Igreja era uma comunidade jovem composta de imigrantes de várias regiões, frígios, gregos e judeus, gerando este sincretismo com diversos cultos de “mistério”, palavra que Paulo usa para falar da revelação de Deus através de Cristo Jesus em contraposição aos cultos místicos e muitas vezes ininteligíveis do paganismo. Paulo faz mais de uma dezena de alusões à conversão dos colossenses, indicando que era algo que ainda estava muito nítido para aqueles cristãos.

EPAFRAS, UM MINISTRO FIEL

A Epafras Paulo chama de fiel ministro de Cristo (Cl 1.7). Provavelmente ele compartilhava de sua prisão (Fm 1.23) não podendo voltar a Colossos quando a carta ficou pronta, por isso ela foi levada por Tíquico, em companhia de Onésimo, que também era de Colossos, embora um escravo fugido que pertencia a Filemom, mas, agora, um irmão em Cristo. A Igreja, que podia estar preocupada pelo fato de seu pastor não retornar, agora era convidada a ouvir e entender a graça de Deus – mesmo no fato de Epafras ter sido aprisionado.

TÍQUICO, UM OBREIRO CONFIÁVEL

É sabido que Paulo estava na prisão e que Tíquico, um dos representantes das Igrejas da Ásia na visita a Jerusalém (At 20:4) também estava em Roma, embora não estivesse preso. Aparece novamente sendo enviado para Éfeso (II Tm 4.12) e é mencionado outra vez numa missão que não sabemos se foi concretizada em direção a Creta (Tt 3.12). Era homem de confiança de Paulo, como vemos em sua visita à Igreja colossenses (Ef 6:21). Os irmãos colossenses desejavam saber como estava o apóstolo – e, também, seu evangelista ou pastor, Epafras. Mas o que tem de mal ou extraordinário nisso? Não há nada de anormal, e, pelo contrário, é absolutamente desejável que irmãos tenham interesse em saber como estão, cuidando uns dos outros porque é isso que os irmãos devem fazer (Gl 6:2).
É absolutamente estranho que, numa Igreja, composta por irmãos que se amam, não haja interesse em estabelecer laços de comunhão. Aliás, mais do que interesse, o que deve haver entre cristãos é amor, genuíno, de coração, ardente (I Pe 1:22), o genuíno amor de irmãos que considera o seu próximo como digno de honra e cuidados (Rm 12:10) como Paulo lembra haver por parte dos gálatas para com ele, uma lembrança que ele guarda com carinho mesmo após os desvios adotados naquela região (Gl 4:15).

FIDELIDADE NO SERVIÇO DO SENHOR

7 Quanto à minha situação, Tíquico, irmão amado, e fiel ministro, e conservo no Senhor, de tudo vos informará.
A Igreja não é um organismo unicelular – ela é composta por muitos membros mas ela é, ao mesmo tempo, um só corpo, o corpo de Cristo (Rm 12:5) e, como corpo, cada um tem sua função para que todo o corpo seja edificado (Ef 4:16). E este companheiro de Paulo, Tíquico, é um exemplo de companheiro de caminhada cristã – não o companheiro que deveríamos desejar ter, mas o companheiro e irmão que deveríamos ser. Tíquico é recomendado como sendo um irmão amado – o que não poderia ser diferente, sendo Paulo quem é, e conhecendo a vontade do Senhor Jesus como ele conhecia, desejoso de coloca-la em prática porque desejava ser irrepreensível, como exorta a Timóteo a respeito tanto do ministro (I Tm 6.13-14) quanto dos presbíteros (Tt 1:7), como ele próprio se esforçava por ser (Fp 3:6). Não há como ser irrepreensível se, sendo cristão, não amar ao próximo e, especialmente, ao seu irmão (Rm 12:5).
Tíquico é, também, um servo fiel (e é exatamente isto o que se espera de um servo, que seja fiel - I Co 4:2) – o que não quer dizer que ele fosse um pastor ou um evangelista, mas que era um associado a Paulo em seu ministério, e o termo usado, diácono indica um serviço pessoal, representando Paulo onde este não podia ir, servindo-lhe como olhos, ouvidos no cuidado pastoral das Igrejas às quais ele não podia atender pessoalmente, especialmente por causa da sua prisão. É provável que algumas das cartas de Paulo tivessem a mão de Tíquico como amanuense. Tantas vezes Tíquico aparece indo de um lado para outro que Paulo não poderia se referir a ele de outra maneira que não “servo fiel”, mas não seu servo pessoal – mesmo atendo às necessidades de Paulo era, em primeiro lugar, às necessidades da Igreja que Tíquico atendia. E é com isto em mente que Paulo o chama de conservo no Senhor - apesar de servir com dedicação a Paulo e, desta maneira, atender aos interesses das Igrejas, na verdade, era ao Senhor que eles estavam servindo. É bastante significativo que Paulo diga isto na mesma carta em que exorta os crentes em Colossos a fazerem tudo em nome de Jesus Cristo para glória de Deus Pai (Cl 3:23). Tíquico é colocado na posição não de um serviçal de Paulo, mas como um companheiro, um igual digno de ser honrado pelo serviço que prestava (Rm 12:10) com a humildade que se esperava de um servo do Senhor (Lc 22:26).

INSTRUMENTO DE CONSOLO DA PARTE DE DEUS

8 Eu vo-lo envio com o expresso propósito de vos dar conhecimento da nossa situação e de alentar o vosso coração.
Não deve ter sido fácil para Paulo abrir mão da companhia de Tíquico, bem como da de Onésimo, justamente quando ele mais precisava do conforto da companhia destes servos do Senhor. Mas, mais uma vez Paulo mostra que o bem que ele mais desejava era o bem da Igreja, não o bem pessoal (Fp 1.23-24) – e ele sabia que a Igreja de Colossos precisava ser confortada, tanto a seu respeito quanto a respeito de Epafras, seu pastor, ausente e que não lhes podida ser restituído naquele momento.
Paulo sabia o que era ser confortado em meio ao sofrimento – e ele sabia que não deixaria de ser confortado pelo Espírito do Senhor (II Co 1.3-4) porque ele estava sofrendo por causa de Cristo (II Co 1:5 - Porque, assim como os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande medida a nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio de Cristo) e não como um criminoso ou malfeitor (I Pe 4:15).
Paulo sabia o que era ser consolado com a chegada de alguém amado com notícias de outros a quem ele também amava e que o amava (II Co 7:6) e sabia que efeito a chegada de Tíquico faria entre os colossenses. Eles não apenas teriam notícias mas também poderiam contar com o cuidado pastoral deste importante colaborador de Paulo no evangelho, especialmente num momento em que a Igreja enfrentava algumas dificuldades doutrinárias e, assim, poderia ter a voz de alguém que conhecia muito bem ao apóstolo e poderia dizer com autoridade o que ele tem ensinado.
Tíquico poderia dar pleno conhecimento de tudo quanto interessava à Igreja colossenses – atender às suas necessidades até que seu pastor retornasse. Tíquico é o que toda Igreja precisa, e que cada membro da Igreja precisa – uma pessoa que, com suas ações, faça o papel de paráclito, de instrumento de Deus para consolação dos irmãos. Todavia, nenhum de nós tem licença para ficar procurando Tíquico no meio da Igreja – pelo contrário, devemos nos sentir exortados a procurarmos ser como Tíquico, tanto para os que precisam de conforto na Igreja como para os que, fora da Igreja, precisam de uma palavra amorosa e ao mesmo tempo verdadeira que os conduza a Cristo (Sl 119:50).

INTERMEDIÁRIO DE RECONCILIAÇÃO ENTRE IRMÃOS

9 Em sua companhia, vos envio Onésimo, o fiel e amado irmão, que é do vosso meio. Eles vos farão saber tudo o que por aqui ocorre.
A missão de Tíquico não estaria completa se ele não desempenhasse um terceiro papel. No cárcere Paulo havia travado conhecimento com um homem de Colossos chamado Onésimo. E por estas circunstâncias que só a providência de Deus explica (não sabemos se Paulo o reconheceu ou se, através de conversas) Paulo fica sabendo que aquele Onésimo, escravo fugitivo, na verdade pertencia a um amigo chamado Filemom. Aparentemente Onésimo havia dado dois tipos de prejuízo a Filemom – sua fuga (e os escravos eram tidos como um bem, algo de valor monetário) levando algum pertence de seu Senhor.
No lugar onde os homens perdem a liberdade encontramos um escravo (alguém sem liberdade) fugitivo (sem destino certo) preso (e, nas circunstâncias isso podia significar a morte numa arena ou nas galés, como remadores em barcos de guerra) Filemom encontra Paulo, o prisioneiro de Cristo (Fm 1:1) – e de escravo fugitivo, digno de morte, este homem é transformado em fiel e amado irmão, colocado no mesmo patamar que Tíquico e até mesmo Filemom.
Não sabemos por que meios Paulo consegue a liberdade de Onésimo, mas resolve enviá-lo para Filemom junto com Tíquico, portador de uma carta onde a transformação ocorrida em Onésimo é relatada, de maneira que este passa a fazer jus ao seu nome (Onésimo significa útil).
Tíquico é considerado fiel para transmitir as notícias a respeito de Paulo e Epafras; é também instrumento de Deus para consolar os corações dos colossenses a respeito de seu pastor e do apóstolo em cadeias. Estas ações são importantes, mas nada pode ser mais importante do que a reconciliação entre irmãos. Caso Onésimo, da prisão, fosse encaminhado a Colossos pelas autoridades estaria debaixo de sentença de morte para servir de exemplo aos demais escravos do império romano. Mas, por intermédio de Cristo e do apóstolo Paulo ele foi direcionado diretamente para seu Senhor – agora seu irmão, e, como tal, deveria ser tratado.
Paulo pede, em sua carta, que Filemom o trate como se fosse ao próprio Paulo, lembrando-lhe que ele lhe devia a sua própria vida por ter sido evangelizado pelo apóstolo. Podendo exigir, Paulo prefere interceder em nome de Cristo para que a recepção de Onésimo não fosse um fardo de uma obrigação, mas a alegria de um irmão que recebe um dom de Deus.
Filemom havia perdido Onésimo (e algum bem). Filemom havia perdido um escravo fujão e problemático. E agora ganhava um servo fiel, alguém a quem estava ligado pelo sangue de Cristo e em quem podia confiar – o que não é pouco porque não era incomum que escravos denunciassem seus senhores cristãos às autoridades romanas. O que antes fora motivo de tristeza era, agora, motivo de alegria e segurança. E Tíquico é o intermediário desta maravilhosa transação. A Igreja precisa de pessoas assim, que intercedam para que haja paz, harmonia e alegria entre irmãos. Você precisa de alguém que seja promotor da paz, e a Igreja precisa que você seja assim, para bênção de todos (Mt 5:9).

QUE DISPOSIÇÕES DEVE HAVER NO SEU CORAÇÃO

Não é incomum haver na Igreja motivos de tristeza ou desentendimentos entre irmãos. Às vezes irmãos pequenos precisam compartilhar a cama, ou pais precisam acomodar seus filhos consigo na cama e quase sempre isto significa incômodo, pés nas costas, no rosto e outros pequenos acidentes noturnos. Quanto mais próximos estiverem os irmãos, mais contato haverá entre eles e nem sempre estes contatos serão agradáveis a todos. E não é incomum que estes pequenos contatos se transformem em amargura que, começando em um, acabam atingindo toda a Igreja (Hb 12:15).
Embora isto não seja incomum, não é o ideal porque o que deve haver no coração dos cristãos não é a amargura, mas a paz de Cristo que faz de cada membro da Igreja um só corpo (Cl 3:15).
Gente ferida é gente insensata. Gente ansiosa é gente insensata. Gente crente, cujo coração está nas mãos do Senhor é gente ponderada e confiante em todas as circunstâncias da vida (Lc 12:22) porque sabe que tem alguém a quem recorrer, tem ao Senhor de tudo e de todos como seu pai e provedor (Lc 12:22).
Para ajudar a Igreja a caminhar Deus coloca em seu meio os pacificadores, que andam como filhos de Deus (Mt 5:9) promovendo a paz e consolando o povo de Deus (Is 40:1) como instrumentos do Senhor. Rogamos ao Senhor para que haja mais pessoas como Tíquico, portadores fiéis da palavra de Deus, instrumentos do Senhor para consolo do seu povo e intermediários da reconciliação entre irmãos que, por algum motivo, tenham se magoado.
Não fique olhando para o lado e pensando: “quem é o Tíquico da minha Igreja?”. Você tem que olhar para si mesmo e indagar-se “como eu posso ser como Tíquico na minha Igreja”? Como, ao invés de reclamar ou maldizer meu irmão pelos corredores e cantos da Igreja posso andar com ele no caminho da vida? Como eu posso ser conhecido como filho de Deus e não incorrer em um dos pecados que o Senhor abomina (Pv 6.16-19 - Seis coisas o SENHOR aborrece, e a sétima a sua alma abomina: (1) olhos altivos, (2) língua mentirosa, (3) mãos que derramam sangue inocente, (4) coração que trama projetos iníquos, (5) pés que se apressam a correr para o mal, (6) testemunha falsa que profere mentiras e (7) o que semeia contendas entre irmãos.
Lembrem-se: bem aventurados são os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Bem aventurados os que, como Tíquico, ficam conhecidos como filhos de Deus, porque promovem a paz entre os irmãos. Bem aventurado ou abominável – o que você quer ser?

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