10 Saúda-vos Aristarco,
prisioneiro comigo, e Marcos, primo de Barnabé (sobre quem recebestes
instruções; se ele for ter convosco, acolhei-o), 11 e Jesus, conhecido por Justo, os quais são os
únicos da circuncisão que cooperam pessoalmente comigo pelo reino de Deus. Eles
têm sido o meu lenitivo.
12 Saúda-vos Epafras, que é
dentre vós, servo de Cristo Jesus, o qual se esforça sobremaneira,
continuamente, por vós nas orações, para que vos conserveis perfeitos e
plenamente convictos em toda a vontade de Deus. 13 E dele dou testemunho de que muito se preocupa por vós, pelos de
Laodicéia e pelos de Hierápolis.
14 Saúda-vos Lucas, o médico
amado, e também Demas.
15 Saudai os irmãos de
Laodicéia, e Ninfa, e à igreja que ela hospeda em sua casa. 16 E, uma vez lida esta epístola perante vós,
providenciai por que seja também lida na igreja dos laodicenses; e a dos de
Laodicéia, lede-a igualmente perante vós.
17 Também dizei a Arquipo:
atenta para o ministério que recebeste no Senhor, para o cumprires.
18 A saudação é de próprio
punho: Paulo. Lembrai-vos das minhas algemas. A graça seja convosco.
Cl 4.10-18
Sabemos que Paulo estava preso, e com boa margem de acerto
podemos afirmar que em Roma, em prisão domiciliar, privilégio concedido a
cidadãos romanos e que lhe dava uma certa liberdade para ter outras pessoas
convivendo com ele – o que não é, convenhamos, a situação dos sonhos de
ninguém. Em sua companhia encontrava-se, também preso, Epafras, o pastor de
Colossos e Aristarco. Como companheiros de prisão em Cristo, isto é,
servindo-lhe como colaboradores, havia outros irmãos, como Lucas, Timóteo, Marcos
e Tíquico, além de outros.
Muitos de nós olham para a prisão como uma grande desgraça –
e, se ela for por causa de um crime, é mesmo uma grande desgraça (I Pe 4.15-16). A prisão parece ser um
lugar de abandono e de solidão. Me permitam utilizar a experiência de Paulo,
real, física, para uma outra que é, também, física, verdadeira, mas, ao mesmo
tempo, metafórica: muitos de nós podem se sentir abandonados e solitários,
vagando de um lado para outro e, mesmo em meio à multidão, se sentirem
sozinhos.
Mas será que estamos mesmo sozinhos? Cristo não deu-se a si
mesmo para criar um povo (Tt 2:14)?
Cristo, além disto, também não prometeu esta conosco todos os dias até a
consumação do século (Mt 28:20)?
10 Saúda-vos Aristarco, prisioneiro comigo, e Marcos, primo de Barnabé
(sobre quem recebestes instruções; se ele for ter convosco, acolhei-o), 11 e Jesus, conhecido por Justo, os quais são os únicos da circuncisão que
cooperam pessoalmente comigo pelo reino de Deus. Eles têm sido o meu lenitivo.
Logo no início do seu ministério
Paulo teve várias experiências desagradáveis, como, por exemplo, ser perseguido
por aqueles a quem desejava salvar por intermédio da pregação do evangelho e,
também, por seus próprios compatriotas (II
Co 11:26) pelos quais, se possível, ele estaria disposto a fazer o maior
sacrifício (Rm 9:3).
Agora, mais perto do fim do
ministério, Paulo lembra que praticamente todos os judeus se afastaram dele na
medida em que ele teve seu apostolado dirigido para os não judeus (At 18:6). Poucos continuaram com ele, e
ele cita, expressamente, três deles. Aristarco, Jesus Justo e Marcos. E é
justamente este Marcos, sobrinho de Barnabé e de Pedro, que chama a atenção.
Presente no momento da prisão de Jesus, fugiu desnudo deixando para trás um
lençol com o qual se cobria (Mc 14.51-52).
Ele vai reaparecer quando, anos
mais tarde, seu tio, Barnabé, parte naquela que ficou conhecida como a primeira
viagem missionária de Paulo (At 12:25),
abandonando-os durante a viagem quando passaram pela Panfília (At 15:38).
Paulo, efetivamente, tinha sido
abandonado por Marcos quando o trabalho evangelístico sequer contava com bases
de apoio na Ásia Menor e na Europa. Paulo também havia sido abandonado por
outros cristãos judeus cujos nomes não são do nosso conhecimento. Ter sido
abandonado era uma experiência real. Mas ele tinha certeza de uma coisa – seu
Senhor era com ele, sempre (Mt 28:20)
e o consolava com a presença de outros irmãos amados, que, mesmo não sendo
judeus, foram sendo colocados ao lado de Paulo como seus amigos, irmãos amados,
servos fiéis e abençoadores.
Paulo não permitiu que uma
fraqueza de um jovem fosse empecilho para a comunhão cristã e voltam a andar
juntos para glória de Cristo. Marcos foi recuperado e treinado por Barnabé, e,
mais tarde, Paulo solicita que ele venha à sua presença considerando-o como
alguém que lhe é útil, tanto como Timóteo (II
Tm 4:11).
12 Saúda-vos Epafras, que é dentre vós, servo de
Cristo Jesus, o qual se esforça sobremaneira, continuamente, por vós nas
orações, para que vos conserveis perfeitos e plenamente convictos em toda a
vontade de Deus. 13 E dele dou testemunho de que muito se preocupa por vós,
pelos de Laodicéia e pelos de Hierápolis. 14 Saúda-vos Lucas,
o médico amado, e também Demas.
Já falamos sobre alguns dos companheiros de Paulo, como
Tíquico, Epafras, o pastor de Colossos, e, também, Lucas. Destes Paulo faz
descrições acompanhadas com elogios ou adjetivos. Tíquico (Cl 4:7), Epafras e até mesmo o escravo fujão Onésimo (Cl 4:9). De todos, porém, o único que
não recebe nenhum adjetivo é Demas, simplesmente um cooperador (Fm 1:24). Nunca é chamado de irmão,
fiel ou amado. Algumas vezes Demas é usado como exemplo de alguém que deixou de
ser crente e, em dissonância do ensino geral das Escrituras, caiu da graça ou
perdeu a salvação. Correto é afirmar que Demas é alguém que esteve na Igreja,
que até colaborou no trabalho da Igreja e pode até mesmo ter ocupado algum
cargo na Igreja visível, em uma ou outra denominação, mas que jamais fez parte
da verdadeira Igreja de Cristo, da assembleia universal dos santos (Hb 12:22).
Entre os amigos de Paulo havia um que não era cristão, que
não partilhava da mesma fé mas que estava com Paulo e certamente cooperou de
alguma forma com o ministério de Paulo. Isto não é novidade, porque Jesus
também teve um grupo de discípulos dos quais um era diabo, isto é, adversário (Jo
6:70) mas mesmo assim tinha funções entre os discípulos. Ele havia se
tornado o tesoureiro (embora fosse ladrão e, obviamente, com o conhecimento de
Cristo - Jo 12:6) e, aparentemente,
desempenhava bem a sua função, ao menos aos olhos dos colegas apóstolos (Jo 13:29).
Assim como Judas nunca foi regenerado, sendo, como se sabe, o
filho da perdição (Jo 17:12) Demas
também esteve presente na Igreja mas ele próprio nunca foi um pistos, um crente. É provável que você
também tenha que conviver com companhias que não são as melhores, o problema é
quando você opta por companhias que sabe não serem as melhores – e resultado
pode ser sua infelicidade (Sl 1:1).
Você pode até ter a companhia dos perdidos, mas não pode optar pela companhia
dos que se perdem em detrimento da alegria de estar com os santos do Senhor (Sl 16:3).
15 Saudai os irmãos de Laodicéia, e Ninfa, e à igreja
que ela hospeda em sua casa. 16 E, uma vez lida esta epístola perante vós,
providenciai por que seja também lida na igreja dos laodicenses; e a dos de
Laodicéia, lede-a igualmente perante vós.
Apesar de tudo, de estar preso e
de não poder continuar o seu ministério de evangelização itinerante e de
confirmação das Igrejas, nem mesmo de continuar em direção à Espanha, como
pretendia, Paulo não se sentia sozinho. Suas muitas cartas atestam que ele
amava e era amado pelas Igrejas – e mesmo quando tinha oposição, como em
Corinto, ainda assim ele continuava amando a Igreja. Suas cartas também mostram
que ele tinha uma forte interação com estas Igrejas, recebendo numerosas
visitas, como ele próprio menciona em relação à Igreja de Corinto (I Co 1:11).
Pulo tinha conhecimento de onde a
Igreja se reunia, quem frequentava tais reuniões, quais os problemas morais, éticos,
comportamentais, doutrinários e espirituais que as ameaçava por causa desta
interação. Apesar de preso, e além dos irmãos que estavam com ele, Paulo estava
de tal modo ligado a Cristo que sentia a sua dor, a sua angústia, mas que,
também, se alegrava com suas alegrias, se rejubilava com suas vitórias, bem
como buscava lhes oferecer motivos para se alegrarem (Fp 3:1) e desejava alegrar-se com a alegria da Igreja (Fp 2:2). Paulo sentia-se feliz com as
vitórias alcançadas pela Igreja e confortava as Igrejas com o conforto, com o
consolo que ele mesmo recebia do Senhor (II
Co 1:6) porque ele via a Igreja como um corpo, como, embora diferentes e em
lugares diferentes, todos membros uns dos outros (Rm 12:5).
Se você se sente sozinho – e
talvez você esteja sozinho por fechar-se em sua solidão – lembre-se que você
sempre tem o corpo de Cristo, sempre tem a Igreja de Cristo, sempre tem a
manifestação da presença de Cristo e da ação do Espírito de Cristo para falar
ao seu coração e dizer: eis que eu estou contigo. É por isso que Cristo morreu
não para criar indivíduos crentes, mas um povo crente, uma comunidade que o
adorasse e, enquanto o adorasse caminhasse juntos, levando uns a cargas dos
outros (Gl 6:2).
Se você está sozinho, se você
realmente está sozinho, talvez seja porque você tem se fechado e isto tem
impedido a comunhão dos santos, porque não há verdadeira Igreja de Cristo onde
não haja comunhão. O que tem impedido você de experimentar a alegria de estar
com os irmãos, que são filhos do mesmo Deus, servos do mesmo Cristo e membros
do mesmo corpo? O que há em seu coração, que mágoa, barreira ou amargura que
precisa ser quebrada neste momento? Em nome de Cristo, que nos faz um, não saia
daqui com o coração fechado para a comunhão dos santos.
17 Também dizei a Arquipo: atenta para o ministério
que recebeste no Senhor, para o cumprires. 18 A saudação é de
próprio punho: Paulo. Lembrai-vos das minhas algemas. A graça seja convosco.
O apóstolo menciona, na conclusão,
um companheiro de ministério, provavelmente alguém treinado como Epafras,
chamado de companheiro de armas que fizera de sua casa a “sede” de uma Igreja (Fm 1:2), lembrando-lhe do dever de
continuar firme no ministério que recebeu. Ele tinha o privilegio de ser Igreja
e ser parte da Igreja em sua casa – algo que a grande maioria dos cristãos do
sec. XXI não desejam por preço algum no mundo, desejando que a Igreja seja um
lugar onde possam ir gastar algum tempo, e se sociabilizar, mas jamais fazer de
sua casa (e alguns de sua vida) a Igreja do Senhor.
Por fim Paulo inclui uma
inesperada nota pessoal ao afirmar que, embora usasse o costume de ter um
amanuense (um escriba que tanto podia registrar palavra por palavra como
receber um roteiro e complementar o texto que depois era supervisionado pelo
mentor do texto) fez questão de concluir a carta fazendo a saudação de próprio
punho, o que só acontece uma outra vez (e justamente na carta onde se mostra
mais indignado com a caminhada claudicante dos crentes da Galácia: Gl 6:11). E é justamente de próprio
punho que Paulo menciona o desejo que a graça de Deus seja sobre a Igreja
colossense. É possível que você já tenha sido abandonado, como Paulo foi pelos
judeus e até por companheiros, como Marcos. É possível que você tenha que
conviver até mesmo com incrédulos, como Jesus suportou Judas e Paulo conviveu
com Demas. Mas você pode ter certeza que a Igreja do Senhor será sempre um
porto seguro para encontrar companheiros de caminhada e adoração, partes do
mesmo corpo, o corpo de Cristo. Mas tudo isto faz parte de algo ainda maior – a
experiência da graça de Cristo.
Quase sempre vejo a menção da
graça de Deus referindo-se à salvação – e é verdade, a salvação é pela graça de
Deus mediante a fé (Ef 2:8), que
também vem por meio de Cristo (At 3:16).
Outras vezes vejo o uso da graça como se fosse uma mera promessa de bênçãos
materiais. Para Paulo a graça era mais do que isso. A graça era a presença
abençoadora do próprio Cristo (I Co
15:10). A graça era a razão da sua própria vida – ele não podia chamar para
si mesmo qualquer mérito, sob qualquer circunstância por coisa alguma porque
tudo o que ele veio a ser foi apenas o resultado da graça de Deus em sua vida,
que o transportou, e aos colossenses, do império das trevas para o reino de
Cristo, o Filho do seu amor. E era nada menos do que a graça de Deus que Paulo
queria ver os colossenses experimentando – graça que os fortaleceria para serem
mais do que vencedores por causa da graça daquele que os amou (Rm 8:37).
Louvo a Deus por ter a sua atenção
neste momento. Louvo a Deus por poder te dizer que você não está sozinho,
nunca. A promessa do Senhor Jesus foi que ele estaria com você todos os dias –
todos os dias mesmo – até a consumação do século. E o tempo ainda está sendo
contado, os séculos ainda não se consumaram, de modo que Cristo ainda se faz
presente no meio do seu povo, ainda se faz presente com aquele que nele crê,
que vai a ele e lhe entrega sua vida em confiança (Jo 6:37) é tomado em suas bondosas mãos, das quais ninguém pode
tomar os que lhe pertencem, os que lhe foram dados pelo Pai (Jo 10:29).
Se você chegou até aqui é porque
você não deseja estar sozinho – a solidão, seja física ou emocional, não é
agradável. A solidão espiritual é a mais terrível de todas as solidões porque
faz com que a pessoa se sinta como uma ovelha numa noite sem lua ouvindo uivos
de lobos de todos os cantos – sem saber para onde ir, sem ter para onde ir, a menos
que seja resgatada pelo bom pastor (Mt
18:12) ouvindo a sua voz e indo a ele (Jo
10:27).
Me permita lhe dizer: você pode
ter sido abandonado em algum momento da sua vida por alguém em quem você
confiou, mas nunca por Jesus. Você pode até ter sido abandonado por alguém
dentro da Igreja, de quem você esperava companheirismo e atenção – mas nunca
foi abandonado por Jesus. Você pode até, em situações extremas, ter sido ou se
sentido abandonado pela Igreja, até porque não existe Igreja perfeita e ela às
vezes falha em amar os seus (família da fé) – mas nunca foi abandonado pelo
Senhor Jesus. Ele nunca deixou de cuidar de ti, nunca deixou de te acompanhar,
seu amor por você nunca sofreu solução de continuidade, nunca foi menor ou
maior porque o Senhor nosso Deus é o mesmo ontem, hoje e sempre (Hb 13:8).
O amor de Deus é o mesmo sempre (Tg 1:17), é o mesmo amor que o levou a
te escolher desde antes da fundação do mundo (Rm 8:29) antes mesmo que você pudesse fazer alguma coisa para
atrair a atenção amorosa do Senhor (Rm
9:11) e também independe do que você venha a fazer para que o amor de Deus
continue sendo derramado sobre você (Rm
9:16).
O mesmo Deus que provou seu imenso
amor por você (Rm 5:8) enviando seu
filho para morrer em lugar de pecadores que não mereciam e que, não apenas não
se interessavam por nenhuma forma de relacionamento com Deus a não ser de
afronta e inimizade (Ef 2:14)
continua, ainda hoje, a ser o mesmo Deus gracioso. O mesmo Deus que lhe oferece
salvação, lhe oferece a companhia da família da fé e, acima de tudo, promete
nunca te abandonar (Hb 13:5).
Você pode até ter sido como Marcos
– mas nada impede que, pela graça de Deus, você retorne e seja uma bênção e um
abençoador. Você pode até ter sido como Onésimo, um fujão que, em busca de
liberdade, foi parar na prisão, onde encontrou finalmente a liberdade que vem
de Deus (Gl 5:1). Você só não pode
ser como Demas – não pode amar o presente século e abandonar a fé. Que tipo de
crente você é, afinal? Se você foi liberto do império das trevas, então, foi
tornado um filho do amor de Deus – e a graça de Deus tem sido abundante sobre
sua vida. Viva pela graça, não abandone a Igreja, seja muito cuidadoso com as
suas companhias e console e seja instrumento de consolo para seus irmãos –
contando sempre com a bênção do Senhor nosso Deus.
Isso tudo é muito bom. É bom saber
que temos a Igreja e que temos o Senhor conosco a nos abençoar. É maravilhoso
saber que o Senhor está conosco em cada passo que damos, em cada escolha que
fazemos, em cada gesto que praticamos. É bom saber que ele não se afasta em
cada gesto de desobediência, nem vira o rosto para cada atitude de omissão. Ele
não vai embora quando o descompromisso e a preguiça tomam conta da vida de um
crente. E isto é bênção, porque sua mão estará estendida quando o crente
relaxado cair em si, perceber que tem pecado contra Deus e desejar, então,
arrependido, voltar correndo para a casa do pai (Lc 15.17-21).
É bom saber que, apesar de nossa
impertinência e dureza de coração ele não deixou de ser pai – ele não deixa de
reconhecer o seu filho e, mais que tudo, ele não deixou de ter um lugar para
nós em sua casa, e isto com grande alegria (Lc 15.22-24).
Quero concluir com as palavras do Senhor à
Igreja de Éfeso: faze como João Marcos, arrepende-te, veja onde caíste e volta
a fazer aquilo que seu coração mandava você fazer quando ainda amava ao Senhor
(Ap 2:5) – se é que o amaste e não
fostes como Demas e todos os demais que amam o mundo porque nunca
experimentaram o amor do pai (I Jo 2:15)
e acabam saindo da comunidade chamada Igreja, mas jamais saem da verdadeira
Igreja de Cristo porque, na verdade, nunca estiveram nela (I Jo 2:19).