A instituição familiar é uma das instituições mais básicas da
natureza e da sociedade humanas. A primeira expressão de louvor que encontramos na bíblia por
algo que Deus fez se dá exatamente no momento em que Deus constitui a família,
quando Adão, ao receber sua auxiliadora, afirma extasiado: “Gn 2:23 - E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e
carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada”.
Evidente que há muitas maneiras de rejeitar a própria família
pelas mais diversas razões, sejam elas justificadas ou não, mas isso só
acontece depois de uma certa idade, quando se julga já não precisar mais da
família.
Como você gostaria que fosse a sua família? A Escritura fala
de outras famílias, famílias mais amplas. Todos fazemos parte da grande família
da humanidade… partilhamos dos mesmos anseios essenciais… partilhamos da mesma
natureza, e partilhamos da mesma desgraça, lidando com a triste realidade do
pecado. Sim, querendo ou não, todos fazemos parte da grande família humana.
Fazemos parte de uma outra família. Fazemos parte da família
brasileira. E, como brasileiros, devemos lutar por interesses comuns e não
apenas pelos nossos próprios. Lutamos para que não vivamos em luto no futuro em
uma nação destroçada por salteadores.
Mas também fazemos parte de uma família “de sangue”…
compartilhamos o mesmo nome. São os “Mendes”, os “Santos”, os “Souza”, os
“Alves”, os “Klosowsky”, e tantos
outros… Permita-me não citar o nome de sua família. Como família brigamos entre
nós, mas ai de quem quiser atingir nossos familiares… são nossos familiares, só
nós temos o direito de bater neles… ninguém se atreva. Com todos os defeitos
que ela tem, não admitimos que ninguém os aponte. Este é um privilégio nosso.
Mas nós sabemos que ela tem defeitos, e muitos. Aliás, é um dos poucos lugares
onde não conseguimos esconder os nossos defeitos. Todos sabem, todos conhecem…
E a família de Jesus não era muito diferente da minha ou da
sua família. Maria, a jovem devotada, a esposa submissa, a mãe preocupada mas
reflexiva, mesmo sabendo quem era Jesus e do que ele era capaz de fazer (Jo 2.5), se deixa conduzir pelos seus outros filhos. Eles achavam que
Jesus estava fora de si e como não conseguiram calar Jesus, foram atrás da
ajuda da mamãe, afinal, era o nome da família que estava em jogo: ninguém
queria ter um “lunático” na família.
VOCÊ PRECISA APRENDER A BUSCAR JESUS CORRETAMENTE
31 Nisto, chegaram sua mãe e
seus irmãos e, tendo ficado do lado de fora, mandaram chamá-lo. 32 Muita gente estava
assentada ao redor dele e lhe disseram: Olha, tua mãe, teus irmãos e irmãs
estão lá fora à tua procura.
Ninguém pode acusar a família de Jesus de não se importar com
ele, de não procurá-lo. O problema é que, quase sempre, o procuravam equivocadamente.
Foi assim quando o jovem Jesus foi com seus pais para Jerusalém e, quando estes
resolveram voltar para Nazaré, só descobriram que ele não estava com eles no
fim do dia (Lc 2.43-46).
Não devemos acusá-los de serem pais descuidados. Lembremos
que estas viagens, a pé ou em lombos de animais, duravam dias e eram feitas em
caravanas, geralmente caravanas familiares. José e Maria o procuram, e, não o
encontrando, voltam imediatamente a Jerusalém quando o procuram por todo um
dia, encontrando-o, afinal, no templo a discutir teologia com os doutores da
lei.
E aqui temos a primeira vez que as Escrituras mostram que
eles não sabiam ainda como nem onde procurá-lo, afirmando que seu lugar não
poderia ser outro senão a casa de seu pai (Lc 2:49).
Num segundo momento os parentes de Jesus confundem o seu
ensino, por diferente e mais incisivo do que era ministrado pelos escribas e
fariseus como se ele estivesse fora de si (Mc 3:21), ousando afirmar que seu ensino era simplesmente
superior ao que todos estavam acostumados, atraindo, sem temor, a ira religiosa
a ponto deles logo começarem a planejar a sua morte (Jo 7:1).
Mas eles não desistem. Mesmo conhecendo Jesus extremamente
bem, não desistem de mostrar a sua dificuldade em compreender Jesus – vão
buscar reforço para mostrar sua incredulidade. Enquanto Jesus atendia as
multidões – e atendia com desvelo e constância, a ponto de sequer parar para se
alimentar, os irmãos pretendem “dar uma carteirada”… usam o parentesco com
Jesus (afinal, estão ali a comissão familiar, irmãos e mãe) para demonstrar uma
autoridade que não possuíam (Jo 2:4) e
expressando um sentimento de ansiedade, de urgência por acabar logo com aquilo
tudo o mais rápido possível, permanecendo de pé do lado de fora.
Mas vão além – fazem questão de mostrar que nada tinham com o
que Jesus está fazendo, mantendo-se do lado de fora. Em suma, eles procuravam
Jesus não porque criam nele, não porque queriam tomar parte do seu ministério.
Tinham suas razões, menos a única razão válida para buscar a Jesus: fé. É
absolutamente necessário que nenhum de nós cometa o mesmo erro.
Por quais motivos estamos procurando a Jesus? Qual é a
motivação mais profunda do nosso coração? Bens materiais? Satisfação emocional
(Jo 6:27)? Medo da morte e do inferno (I Jo 4:18)? Ou simplesmente por aquilo que ele é: o Filho de Deus, o
messias, o salvador de todo aquele que nele crê? Sua motivação é o que você
deseja ou simplesmente o fato de que você ouviu a voz do bom pastor (Jo 10:27)?
VOCÊ PRECISA BUSCAR A JESUS DO JEITO DE JESUS
33 Então,
ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? 34
E, correndo o olhar pelos que estavam assentados ao redor, disse: Eis minha mãe
e meus irmãos.
É evidente que ali, do lado de
fora, estavam os familiares de Jesus. Sua mãe e seus irmãos. Jesus não os
desconsiderava como tais, entretanto, ele aponta para um tipo superior de
família – a família da fé (Gl 6:10) do
qual ele é o primogênito entre muitos irmãos (Rm 8:29).
Diante do ceticismo de seus irmãos
Jesus olha em redor e faz um verdadeiro pronunciamento judicial para aqueles
que vieram lhe intimar a respeito de seus familiares: “quem são meus irmãos?”
Não que ele não soubesse que aqueles que estavam lá fora fossem seus irmãos,
mas é uma pergunta retórica. É como se ele dissesse: “Sim, de fato, eles são
meus irmãos, eles são minha família” mas deixe-me dizer-lhes de uma família
ainda mais importante do que a família sanguínea, pois esta pode ser
dissolvida, mas a família da fé é indissolúvel (Mt 10.34-36).
Os familiares e irmãos de Jesus
buscavam-no para prenderem-no, para impedirem-no de pregar e de concluir o seu
ministério, como, mais tarde, Pedro também intentaria (Mt 16.22-23). Os familiares de Jesus, apesar de terem algum tipo de relacionamento
familiar e social com ele, não criam nele, não viam nele o messias aguardado.
Entretanto, cercando-o, havia uma
multidão que o buscava… que desejava ouvi-lo e que provavelmente haviam
enfrentado dezenas de quilômetros a pé para estarem ali por acreditarem que ele
podia fazer algo para abençoa-los. E estes, a quem em outra ocasião ele chama
de “meus pequeninos” (Mt 25:40) é que são os seus irmãos,
para os quais ele veio, para ser-lhes o primogênito e dar-lhes, também a eles,
a bênção que era reservada somente aos primogênitos (Hb 12.22-23).
A bíblia chama esta família de
família da fé porque ela é formada não pela vontade de um homem e uma mulher,
mas pela vontade de Deus (Jo 1:13) que os deu a Jesus (Jo 6:37) ao ouvirem a sua doce voz (Jo 10:27).
VOCÊ NECESSITA SER TORNADO MEMBRO DESTA FAMÍLIA
5
Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe.
Após Jesus apontar para os que ali estavam, ele conclui
dizendo como se tornar parte desta família: que cumpram o propósito de Deus.
Para ser da família de Jesus é necessário mais do que nascimento dentro da
Igreja. É possível passar toda a vida perto de Jesus e ainda permanecer
incrédulo, e seus irmãos são uma viva demonstração disso.
Quem pode fazer parte da família da fé? A resposta de Jesus
é: “aqueles que buscam cumprir o propósito de Deus”. Antes que pensemos em
regrinhas, mandamentos humanos, pode isso e não pode aquilo, precisamos
entender o que significa “cumprir o propósito ou fazer a vontade de Deus”.
Se você pensa que cumprir o propósito de Deus é ir em alguma
Igreja uma vez por semana, você está muito longe de ter entendido o que é
cumprir o propósito de Deus. Se você acha que ofertar ou dizimar para a
manutenção da casa de Deus é cumprir o propósito de Deus ainda não entendeu
direito do que Jesus está falando. Se você acha que cumprir a vontade de Deus é
participar de alguma atividade, de alguma sociedade, fazer alguma obra dentro
da Igreja você ainda precisa entender o que é fazer a vontade de Deus.
Quer saber o que é fazer a obra de Deus? Nosso exemplo é o
próprio Jesus. Se queremos ser “como nosso mestre” (Mt 10:25) então precisamos saber como nosso mestre é.
De imediato Jesus nos diz que sua vinda se deu pela vontade
do pai (Jo 8:42) e o cumprimento desta vontade
dava-lhe plena satisfação (Jo 4:34).
Fazer a vontade de Deus não é mera religiosidade – embora
fazer a vontade de Deus seja a essência da verdadeira religião. É bem possível
ser religioso, e até um religioso cristão sem ser, de fato, um cumpridor da
vontade de Deus. Quer saber como fazer a vontade Deus? Então, é preciso
conhecê-la, amá-la e praticá-la (Jo 14:21).
Fazer a vontade de Deus é amar ao próximo e a Deus (Mc 12:33) e não há amor que não se expresse
em intimidade, tanto com Deus (Sl 25:14 ) quanto com a família da fé (Hb 10:25).
Mas, no fim, o principal aspecto que caracteriza aquele que é
da família de Deus é crer em Jesus Cristo (Jo 6:29), e era justamente isto o que faltava aos parentes de Jesus.
Tudo o mais é decorrência disto. Somente crendo em Jesus é que alguém pode ser
feito filho de Deus (Jo 1.11-13).
Somente crendo em Jesus é que alguém nasce de novo – e
somente os nascidos de novo mediante o lavar regenerador do Espírito (Tt 3:5) é que alguém pode usufruir dos benefícios da obra de Cristo (Tt 2:14) não para serem tornados filhos de Deus, mas por terem sido tornados
filhos de Deus (Ef 2:10).
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