terça-feira, 26 de agosto de 2008

SOU CONTRA OLÍMPIADAS NO BRASIL

SOU CONTRA OLÍMPIADAS NO BRASIL
(ou COMO SER VERDADEIRAMENTE PATRIOTA)
Afirmar ser contra determinadas coisas no Brasil é a mesma coisa que dar um atestado de inimizade contra a pátria. Por exemplo, ser contra as cotas nas universidades (para pobres, para negros, para índios, para militantes do MST, etc.) ou contra o aborto, ou ainda contra a lei repressiva chamada de anti-homofobia, ou contra a demarcação da reserva Raposa-Serra-do-Sol, etc. Mas vou dizer porque penso que a olimpíada de 2016 não deve ser no Brasil.
O principal motivo é o amadorismo dos nossos dirigentes (nem vou falar dos atletas). Veja um primeiro exemplo: logo após o término das olimpíadas o ministro dos esportes foi convidado para falar de ações para melhorar o esporte nacional a longo prazo (cadê o ministro Mangabeira Unger e sua Secretaria Especial de Ações a Longo Prazo – SEALoPra?). Primeiro ele disse que iria, e no dia do programa, à tardinha, avisou que não iria mais porque tinha compromissos (às 23.00h?). Pergunto: quando tais compromissos foram marcados?
Outro motivo é de segurança nacional: será que o Brasil consegue organizar um evento de tal magnitude, por exemplo, numa cidade como o Rio de Janeiro onde não se consegue nem mesmo organizar uma eleição decente? Há bairros inteiros (com milhares de moradores) em que o tráfico não permite que candidatos entrem, nem que distribuam seu material de campanha. Só entra lá quem os traficantes permitem. Daí surgem duas perguntas para as quais não encontro respostas: onde está o Estado (que nos garfa cerca de 40% do que produzimos) para limpar estas áreas da influência dos narco-políticos? Outra pergunta: onde está a vergonha na cara dos candidatos a prefeito e vereadores (é isso mesmo, o senador-bispo-candidato-mensaleiro Marcelo Crivella e alguns acompanhantes foi a uma destas favelas com autorização dos "donos do pedaço") que, mesmo sabendo que outros candidatos não entrariam lá, se comportam como, no mínimo, favorecidos dos traficantes. Os bandidos estão investindo na campanha de muitos vereadores e, mais ainda, ameaçando a população caso não votem nos seus escolhidos. E os ministros da justiça e do supremo tribunal eleitoral ainda não acharam que era a hora de por as tropas nas ruas e nos morros (como se isto não fosse uma verdadeira afronta à nacionalidade). Nestes lugares já temos outro estado, o estado de terror.
Como querer organizar um evento para mais de 200 países se não conseguimos fazer uma eleição em pé de igualdade com meia dúzia de candidatos? Reclamar da China e da censura que houve aos meios de comunicação quando há censura prévia dos traficantes aos candidatos e coação sobre os eleitores (não que eu ache que os candidatos sejam cândidos – veja outro post sobre o assunto). É verdade que muitos dos "eleitores" se prestam ao papel de "ovelhas" do tráfico – por não terem outra opção ou por mero comodismo, mesmo.
Afirmo que não possuem outra opção porque, se ousarem se insurgir, acabarão nas valas comuns dos mortos sem nome (cada vez mais numerosos – e injustiçados, porque seus criminosos ficam impunes) em muitos lugares do nosso Brasil). Mas muitos também são coniventes, porque há instrumentos de delação de crimes, eficientes e que garantem o seu anonimato.
Mas, o maior problema que eu vejo é o cinismo das autoridades – enquanto no Rio de Janeiro está acontecendo tal absurdo os responsáveis pela segurança pública preferem gastar o (nosso) dinheiro público viajando para fazer campanha para seus apaniguados. É lamentável, e por isso, digo NÃO às olimpíadas 2016 aqui no Brasil. Sei que minha voz será de muito pouca repercussão, mas não importa. Falo o que penso, entendo que precisamos amadurecer muito mais. Falou-se nos benefícios do PAN-RIO 2002. Falou-se numa herança virtuosa. Onde? No bolso de quem? A cidade continua um lixo, um caos, uma tragédia. E tudo ficará assim, até se maquiar a cidade por ocasião da próxima visita do COI – mas eles, diferentemente da maioria do povo brasileiro (que tristeza escrever isto), não são bobos. O Brasil, anotem aí, não sediará a olimpíada de 2016. Não que o povo brasileiro não mereça – mas porque os outros não merecem tal má sorte.

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