terça-feira, 5 de maio de 2009

“Post hoc, ergo propter hoc”

Existem tolices que se perpetuam pelo simples fato de serem ditas. Um exemplo mais que demonstrado pela experiência e pela ciência: tomar leite e depois chupar manga podem causar derrame ou outras doenças. E se tomar vitamina de manga com leite, o que faz? É provável que, algum dia, alguém tenha passado mal após juntar as duas coisas, seja por fatalidade, seja pelo excesso de algum deles. E, juntando-se o momento anterior com o posterior, “post hoc, ergo propter hoc”: depois da manga com leite, o derrame. A tradução adequada da frase é: “depois disto, logo, por causa disto”. Mas não é, necessariamente assim. Vejamos mais um exemplo: Os pássaros cantam ao nascer do dia, logo, o dia só nasce porque os pássaros cantam. Vejamos, ainda, outro exemplo: alguém toma alguns goles de bebida alcóolica, sai dirigindo e bate o carro. A conclusão lógica é: o motorista tinha seus sentidos alterados pela bebida. Alguém toma um suco de laranja, sai dirigindo, e bate o carro. Logo, a conclusão lógica deveria ser: o motorista tinha seus sentidos alterados pela bebida. E às vezes nem foi a bebida alcoólica que produziu o acidente [que fique claro: afirmo que quem bebe não deve dirigir – aliás, até prefiro que não se beba, por mim fábricas de bebida e cigarro iriam todas à falência hoje mesmo]. E tal não se dá. O que pretendo afirmar é que nem sempre o fato posterior é consequência imediata do fato anterior.

E o que isto tem a ver com “o coração do pastor”? E o que isto tem a ver com a igreja do Senhor. Bem, talvez eu me dê ao luxo de deixar esta lógica silogística para muitos dos filósofos de plantão [e são muitos os que vivem num mundo de ideários, destituídos do necessário senso da realidade] e lembrar que não é a mera adoção de práticas passadas ou contemporâneas, com pesquisas de marketing ou estratégias que “deram certo” ou que “estão funcionando” que vai garantir o sucesso das nossas igrejas como agências propagadoras do evangelho do Reino do Senhor Jesus.

É óbvio que a igreja não pode se dissociar do seu passado – sua existência se deve a eventos históricos concretos relatados nas Escrituras [e poderíamos citar toda a história da redenção] e que enchem as páginas de História da humanidade [movimentos conciliares, desvios doutrinários e práticos, divisões, reformas, avanços e retrocessos na área da piedade, dos estudos bíblicos]. É mais óbvio ainda que a igreja não pode fechar os seus olhos para o que acontece ao seu redor, especialmente porque ela é [sendo uma instituição temporal] praticamente o tempo todo assediada por demandas humanas – tanto externas quanto internas, às quais considero as mais perigosas.

Muitas destas demandas são verdadeiras ameaças à existência da igreja – extremismos que perturbam o equilíbrio da mesma e dificultam a entrega da mensagem evangélica, especialmente porque o grito para se fazer ouvir enquanto ideólogo suplanta a voz tranquila do evangelho. Radicalismos sempre conduziram a igreja ao desamor, às disputas. Não precisamos ir muito longe na história da igreja, basta estudarmos a nossa própria Igreja Presbiteriana do Brasil apenas no século XX e verificaremos quantas dificuldades tivemos que enfrentar por causa de tais atitudes radicais e intempestivas. Vagas como a questão missionária/maçonica [1903], liberalismo [décadas de 70 e 80], pentecostalismo [80 e 90] vieram e passaram, mas deixaram suas marcas, uma vez que ainda há defensores de umas ou outras idéias, como esqueléticos dinossauros que insistem em mostrar a sua existência.

Em pleno século XXI uma nova vaga se levanta num esquecimento de que é dever de cada cristão manter a unidade do Espírito [ele quem a criou] no vínculo da paz. O amor deve, segundo este neo-ideário, dar lugar à ortodoxia. A nova mensagem é: faça, não sinta. Enuncie, não viva. Neste processo, este neo-ideário pretende selecionar algumas práticas medievais, justificando-as com apelo à história e à bíblia [a ordem é que, seletivamente, for a mais conveniente] e intentando a aceitação de tais medievalismos numa sociedade diferente. Cada norma é defendida segundo as conveniências não apenas pessoais como, também, momentâneas. Se é necessário rejeitar uma prática tendo como objetivo algum benefício pessoal, a rejeição é imediata mediante abundantes “agrumentos comprobatórios”. Todavia, num momento posterior os mesmos argumentos podem ser reinterpretados, refeitos ou rejeitados, para defender a mesma prática, desde que a responsabilidade seja atribuída a terceiros. E, ainda, é possível fazer como os macaquinhos: tapar olhos, ouvidos e boca. Não vi, não ouvi nem falei.

O lulo-petismo é mestre nisto. É a teoria da bravata. Inaugura-se a teologia da bravata que consiste em defender o que é conveniente para si mesmo e esquecer esta mesma defesa quando ela resulta em prejuízo [Sl 15.4]. Para o bravatismo lulista, o que antes era ético agora é denuncismo – mesmo quando se trata de denunciar as mesmas práticas. O problema é que agora as denúncias o atingem – e a seus apaniguados que são os beneficiados das práticas às quais antes se opunha – porque delas não podia usufruir. Mas Luis Inácio não é crente, e, nas palavras de um bispo da igreja a que pertence, não é católico, é caótico.

Rejeita-se o que é inconveniente e impraticável sem o amor, especialmente a piedade, impõe-se uma práxis muitas vezes inaceitável. Um dia saberemos os resultados do que intentam fazer com a noiva do Cordeiro, mas uma coisa é certa – ela permanecerá imaculada, apesar de tudo.

A igreja sempre se levanta mais forte e unida após estas vagas – mas que fique claro, sua força não vem por causa das vagas, mas apesar delas. Assim, não cabe o axioma “depois disto, logo, por causa disto”. A força da igreja não vem destas ameaças – vem do Senhor, que afirma que “as portas do inferno não prevalecerão” contra ela. Assim, não cabe à igreja buscar o problema – mas viver a verdadeira fé cristã, dentro das características sociais contemporâneas, sem perder a sua essência.

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