Este post é uma continuação de O crente e os deuses mundanos.
Sabemos que os crentes tem que se relacionar com o mundo. O Senhor nos disse que deveríamos continuar aqui [Jo 17.15] mas não como mundanos, e sim como sal e luz. Desde quando Jesus disse essas palavras aos nossos dias muitos anos já se passaram. Muita coisa mudou. Coisas que eram legais foram tornadas ilegais, e outras, que eram ilegais, foram legalizadas. Nos dias de Daniel também houve mudanças na corte babilônica. Nabucodonosor caiu [Dn 20-21] e Dario ascendeu ao trono [Dn 6.1]. Ao ser alçado a um cargo importante [Dn 6.3], Daniel logo atraiu a atenção de muitos que ambicionavam derrubá-lo [Dn 6.4-5]. A trama foi articulada de maneira engenhosa, sem que o nome de Daniel fosse mencionado [Dn 6.6-9]. Ele era o alvo, mas o ataque não foi direto – não poderia ser, pois nada havia na vida de Daniel que o fizesse merecedor de algum tipo de punição.
Diante de uma lei injusta, que deve fazer o cristão [Mt 22.21]? E se esta lei for não somente injusta, mas também afrontosa à vontade prescritiva de Deus [At 4.18-19]? Daniel, ao saber do decreto real, e conhecendo a legislação babilônica que prescrevia que um decreto real não pode ser ab-rogado, não se dobra diante de uma lei abusiva. Ao invés de ceder, ele tem mais um motivo para buscar a presença de Deus [Dn 6.10]. Difícil escolha a de Daniel, agora não mais um jovem. Mas ao mesmo tempo, a única escolha que poderia fazer um servo de Deus em seu lugar – embora não seja a que têm feito os servos de Deus na maioria dos lugares. É triste afirmar algo assim, mas esta é uma constatação, não uma suposição. Enquanto a maioria das pessoas não que arcar com as consequências de seus atos, Daniel é denunciado [Dn 6.11-16] e condenado a ser lançado em uma cova cheia de leões [Dn 6.17].
Como Sadraque, Mesaque e Abede-Nego diante da ameaça da fornalha, como Elias diante dos sacerdotes de Baal, Daniel sabia que o que estava em jogo naquela ocasião não era a sua vida, mas se valia a pena servir ao Senhor. É fácil encontrar multidões "entregando" sua vida ao Senhor, mas difícil encontrar quem, como Estevão, esteja pronto a encomendar sua alma. Viver com o Senhor, embora seja um caminho de lutas, é sempre mais fácil que morrer pelo Senhor. E nessa hora muitos fazem como os libelattici, sacrificatti e traditori que, diante da perseguição no século segundo se dobraram ante as exigências das autoridades romanas. Mas, naquela época, muitos agiram com firmeza, enfrentando o martírio e fazendo a Igreja crescer. Nomes como os de Blandina e Policarpo ainda hoje são modelos de comportamento diante da perseguição e de leis abusivas. Daniel agiu com firmeza – e o Senhor transformou o mal que pretendiam fazer a seu servo em bem para ele e glória para seu santo nome [Dn 6.26-28]. O Senhor enviou um anjo que fechou a boca dos leões [Dn 6.20-22] e o rei teve que admitir que Daniel servia ao Deus vivo e verdadeiro, ao Deus verdadeiramente poderoso para livrar os seus [Dn 6.23-24]. Daniel foi honrado, Deus foi glorificado, e aqueles que tentaram mata-lo foram destruídos [Dn 6.24].
Será que os cristãos atuais tem a mesma disposição de Daniel? Quantos são os joelhos que não tem se dobrado diante dos baalins modernos? Quantos tem rejeitado, com todas as consequências, as leis abusivas e anti-bíblicas? A Igreja está sendo pressionada a aceitar como normal o homossexualismo – e alguns setores dela já capitularam, inclusive ordenando pastores homossexuais. Se acontecer de a legislação tornar obrigatória a aceitação de homossexuais nas igrejas, inclusive com a realização de casamentos, o que a Igreja moderna está pronta a responder? A Igreja precisa se posicionar. Homossexualismo, divórcio, aborto, corrupção, troca de favores políticos e tantas outras práticas estão acontecendo ao nosso redor. E a igreja pouco ou nada tem dito a respeito. Tem se calado, muitos tem vendido seu silêncio a um preço caríssimo para a própria Igreja – é como se estivesse entregando os anéis, mas o monstro logo vai querer os dedos também... Acredito sinceramente que quem se dobra diante do sistema, quem se vende sempre recebe mais do que vale, mesmo que se venda por apenas R$ 1.99. É muito para pagar o salário da traição, da covardia.
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