Em toda obra há dificuldades
– a tarefa a que Neemias se propôs atendendo a uma inclinação do seu coração,
certamente uma inclinação vinda do próprio Senhor que também dirigiu o coração
do rei (Pv 21:1) era uma tarefa grandiosa, com enormes, porém não
insuperáveis dificuldades.
Como homem capaz que era
Neemias, já estando informado do tamanho do desafio, certamente foi preparado
para as dificuldades que enfrentaria, embora não soubesse quais eram. É
possível que, em alguma situação, você já tenha se atemorizado diante da
complexidade e da magnitude dos desafios que teve que enfrentar. Como o jovem
arquiteto que recebe a encomenda de uma construção importante. Ou como o jovem
advogado que tem diante de si uma causa de grande repercussão. Ou como o
funcionário em seu primeiro dia de trabalho, especialmente se for seu primeiro
emprego. Ou como o seminarista que vai assumir sua primeira Igreja, presidir
seu primeiro conselho… isto não é anormal.
É possível também que, depois
de assumir o compromisso, você tenha percebido que aquilo com o que se
comprometeu é muito grande, é algo que talvez você não consiga fazer. É como o
jovem que durante algum tempo recusava-se a assumir um compromisso de fé com
Cristo tornando-se membro de uma Igreja. Indagado sobre o que lhe faltava, ele
disse: “Certeza de que não serei uma vergonha pra mim e pra igreja ficando pelo
meio do caminho, desistindo como muitos desistem e sendo só mais um ex-pseudocrente.
Falta-me a certeza de que não serei uma vergonha para a igreja sendo um crente
relaxado e descompromissado. Só me falta isso: a certeza de que vou conseguir”.
Obviamente ele estava certo –
faltava-lhe uma certeza, certeza que lhe veio ao coração quando ouviu as doces
palavras do Senhor (Is 41:13). Ele ouviu que certamente suas forças faltariam,
suas certezas virariam dúvidas, sua força se tornaria desalento – mas que o
Senhor restauraria suas forças de uma maneira inimaginável (Is 40:29) e o faria andar de maneira firme porque confiou no Senhor (Sl 22:8) e o Senhor o livrou de seus próprios temores (Sl 34:4). Vejamos o que nos diz a Palavra de Deus:
11 Cheguei a Jerusalém, onde
estive três dias. 12 Então, à noite me levantei, e uns poucos
homens, comigo; não declarei a ninguém o que o meu Deus me pusera no coração
para eu fazer em Jerusalém. Não havia comigo animal algum, senão o que eu
montava.
13 De noite, saí pela Porta do
Vale, para o lado da Fonte do Dragão e para a Porta do Monturo e contemplei os
muros de Jerusalém, que estavam assolados, cujas portas tinham sido consumidas
pelo fogo. 14 Passei à Porta da Fonte e ao açude do rei; mas não
havia lugar por onde passasse o animal que eu montava. 15 Subi à
noite pelo ribeiro e contemplei ainda os muros; voltei, entrei pela Porta do
Vale e tornei para casa.
16 Não sabiam os magistrados
aonde eu fora nem o que fazia, pois até aqui não havia eu declarado coisa
alguma, nem aos judeus, nem aos sacerdotes, nem aos nobres, nem aos
magistrados, nem aos mais que faziam a obra. 17 Então, lhes disse:
Estais vendo a miséria em que estamos, Jerusalém assolada, e as suas portas,
queimadas; vinde, pois, reedifiquemos os muros de Jerusalém e deixemos de ser
opróbrio. 18 E lhes declarei como a boa mão do meu Deus estivera
comigo e também as palavras que o rei me falara. Então, disseram:
Disponhamo-nos e edifiquemos. E fortaleceram as mãos para a boa obra.
Ne 2.11-18
11 Cheguei a Jerusalém, onde
estive três dias. 12 Então, à noite me levantei, e uns poucos
homens, comigo; não declarei a ninguém o que o meu Deus me pusera no coração
para eu fazer em Jerusalém. Não havia comigo animal algum, senão o que eu
montava.
A primeira atitude de Neemias
ao chegar a Jerusalém após um descanso certamente merecido, tomando pé da
situação e identificando-se como representante do rei – o primeiro judeu a
exercer alguma forma de autoridade naquela região em quase um século foi sair
para conhecer a região.
Ele nos informa que resolveu
dar uma volta pelos arredores da cidade. Andou por ruas das quais certamente
tinha ouvido falar, comparou o que via com o que havia ouvido de seus pais ou
avós. Andou por lugares onde nem mesmo uma mula conseguia andar. Eis o momento
em que muitos valentes desistem. Em que muitos voluntários olham para os
escombros, não enxergam nada à frente e resolvem voltar. Muitos desistem antes
mesmo de começar – são a maioria, são e serão sempre os derrotados.
Mas Neemias era diferente –
era um homem de fé, e o que via (ou talvez não visse por causa da escuridão)
não o demoveria de seu propósito (II Co 5:7), um homem que
tomou o arado em suas mãos e não olharia para trás (Lc 9:62). Este homem fazia parte dos homens de Deus, não dos que retrocedem
para a própria perdição (Hb 10:39) como foi o caso de Demas e de muitos outros ao longo
da história, que, na primeira dificuldade, abandonam o caminho da fé (Mt 13:22).
Permita-me voltar para o
exemplo daquele jovem indeciso. Ele tinha consciência das dificuldades.
Conhecia muitos membros e ex-membros de Igrejas evangélicas e sabia que muitos
eram uma vergonha. Não vem ao caso citar a que atos vergonhosos ele se referia,
mas o fato é que seus olhos estavam fitos nos escombros. De um lado e de outro
muros derribados, casas queimadas, portais e portões destruídos. Onde deveria
ver firmeza via destroços. A vida cristã não era um território desconhecido
para ele – mas era um território que ele só conhecia de olhar, não de caminhar.
Talvez você também já tenha pensado em tomar uma decisão em sua vida – talvez
você já tenha pensado em tornar-se cristão mas logo deu uma olhada para as
dificuldades resultantes desta decisão. Você imaginou que teria que abrir mão
das festinhas e festonas; abrir mão dos amores fugazes, paixões de fim de
semana. Você logo pensou que teria que deixar seus prazeres mais secretos, um
cigarro, um baseado ou algo parecido. Provavelmente não seria nada fácil parar
de colar na escola, ou falar mal do próximo. Talvez ser mais honesto em seu
trabalho, não pagar nem receber propina, não sonegar impostos… realmente não é
um caminho muito fácil, não é? Talvez tão difícil quanto o de Neemias
circundando Jerusalém.
É, realmente são decisões
difíceis. Abrir mão de tudo isto, de um mundo inteiro para que? O que você
teria a ganhar com isso? A resposta é: sua alma. Preservar sua alma (Mt 16:26). Continuemos juntos… você talvez ainda não tenha
percebido o que quero lhe propor, mas não vou fazer suspense: quero que você
tome a decisão certa, pelos motivos corretos. Esqueça o medo de não conseguir e
tire os olhos do que você terá que deixar para trás – a mulher de Ló queria
salvar-se sem perder Sodoma – perdeu os dois (Gn 19:26). É sempre
assim, perde-se os dois (Lc 17:32): não preserva a alma nem ganha Sodoma.
SAIBA COMO AS COISAS DEVEM SER
13 De noite, saí pela Porta do
Vale, para o lado da Fonte do Dragão e para a Porta do Monturo e contemplei os
muros de Jerusalém, que estavam assolados, cujas portas tinham sido consumidas
pelo fogo. 14 Passei à Porta da Fonte e ao açude do rei; mas não
havia lugar por onde passasse o animal que eu montava. 15 Subi à
noite pelo ribeiro e contemplei ainda os muros; voltei, entrei pela Porta do
Vale e tornei para casa.
Onde a maioria desistiria
Neemias prosseguiu. Ele conheceu os escombros de Jerusalém, a outrora imponente
e orgulhosa cidade compacta (Sl 122.3-5). Não havia mais muros, nem portais, nem trono. Só
escombros – nada além de problemas que precisavam de atenção e solução.
Neemias sabia como Jerusalém
tinha sido, certamente deve ter ouvido descrições abundantes através dos velhos
– mas seus olhos estão voltados para o que Jerusalém deveria ser. Neemias
identifica cada lugar, cada porta, cada torre pelo seu nome antigo, nomes que
não eram usados há quase um século. Ele faz isso porque não queria que a
história se perdesse, mas também não estava disposto a deixar que Jerusalém
virasse apenas história.
O que temos aqui é: Neemias
tinha um referencial. Não há ninguém que não possua alguma forma de referencial
em sua vida. E geralmente dispomos de mais de uma proposta de referencial. A questão
é: qual referencial vai influenciar as escolhas, as decisões e as ações? Aos
olhos de Neemias se apresentavam os escombros –o referencial dos judeus durante
70 anos e por isso Jerusalém continuava um montão de escombros. Mas o
referencial de Neemias era o correto – o que Jerusalém fora no passado, a
cidade do grande rei (Sl 48:2). O referencial não era o pior, mas o melhor. O
modelo a ser adotado e perseguido não era o do fracasso, da rebeldia, da
destruição e desolação, mas o da glória outrora perdida, de dias como o de grandes
reis como Davi e Salomão.
Voltemos para nosso jovem
indeciso – e indeciso com boas razões. Ele conhecia o referencial errado. E na
verdade uma pequena sujeira em um grande pano branco chama mais a atenção do
que todo o pano (Ec 10:1). Muitos dos ‘cristãos’ que ele conhecia eram ou
fracassados ou descompromissados. Mas ele também conhecia cristãos sérios e
consagrados – que lhe chamavam pouco a atenção, e é por isso que os cristãos
são advertidos quando a uma grande quantidade de testemunhas (Hb 12:1).
Alguns entendem que estas
testemunhas são os heróis da fé – o que é bom como modelo. Outros entendem que são
os não crentes que observam os cristãos – o que também é bom para incentivá-los
a serem exemplares (I Pe 3:16).
O que você precisa é do
referencial correto – e as Escrituras nos fornecem dezenas de exemplos de
referencial correto, mas nos dão o melhor de todos os referenciais, aquele para
quem devemos olhar: Jesus (Hb 12:2).
Você talvez tenha boas razões
para titubear – mas tem melhores razões ainda para crer, confiar e tomar a
resolução de colocar toda a sua confiança em Jesus. Você, sozinho, não
conseguirá ser um bom cristão, no máximo será um bom membro da Igreja. Sozinho
você estará condenado a fracassar… mas continue comigo mais um pouco, peço-te
que, por um pouco mais, não desanime nem desista ainda (Rm 7:24).
FAÇA O QUE
DEVE SER FEITO
16 Não sabiam os magistrados
aonde eu fora nem o que fazia, pois até aqui não havia eu declarado coisa
alguma, nem aos judeus, nem aos sacerdotes, nem aos nobres, nem aos
magistrados, nem aos mais que faziam a obra. 17 Então, lhes disse:
Estais vendo a miséria em que estamos, Jerusalém assolada, e as suas portas,
queimadas; vinde, pois, reedifiquemos os muros de Jerusalém e deixemos de ser
opróbrio. 18 E lhes declarei como a boa mão do meu Deus estivera
comigo e também as palavras que o rei me falara. Então, disseram:
Disponhamo-nos e edifiquemos. E fortaleceram as mãos para a boa obra.
Conhecimento sem ação é
omissão. E Neemias não era nem foi omisso em momento algum. Ter uma meta é não
agir para alcançá-la é apenas o sonhar de um tolo – perde-se tempo e não se
produz nada. Depois de tanta preparação Neemias não se limitaria a isso. Ele
pretendia conjugar conhecimento, planejamento e ação. Ele conhecia os desafios
sabia onde queria chegar e começa a colocar em prática o que desejava fazer. Havia
trabalho a ser feito, e ele estava ali para fazer o trabalho. Ele sabia o que
havia acontecido, estava disposto a fazer e sabia o que precisava ser feito.
Não poderia desanimar. Conhecimento sem ação não resolve problema nenhum. Ação
sem conhecimento pode gerar novos problemas e vergonha (Lc 14:28).
De imediato Neemias chama os
magistrados, os nobres, os sacerdotes e todos os demais que tinham alguma
função administrativa em Jerusalém, nomeados anteriormente por Esdras e
finalmente lhes expõe o que está no coração: ele via o estado de miséria de
Jerusalém, ele estava profundamente incomodado com estas coisas e então lhes apresenta
o seu plano absolutamente simples: reconstruir os muros ao redor da cidade,
reorganizando a administração e a defesa, e assim deixar de ser motivo de
escárnio dos povos ao redor. Não era possível que a cidade do grande rei, do
rei que reina sobre as nações fosse apenas um vergonhoso montão de ruínas (Sl 47:8).
Depois de ouvir falar, orar,
entregar o projeto confiantemente nas mãos do Senhor e chegar em Jerusalém, ele
já sabia o que precisava ser feito. E não deveria deixar para depois. Teve três
dias para descansar, analisar, conhecer as pessoas e o ambiente – já tinha
todas as informações, era hora de trabalhar.
Já que chegamos aqui com
aquele amigo, vamos prosseguir com ele. Ele conhecia os problemas existentes
nas Igrejas, conhecia pessoas que eram membros vergonhosos das Igrejas,
conhecia outros que saíram da Igreja para voltar às suas velhas práticas
pecaminosas, alguns cometendo pecados ainda maiores (II Pe 2:22). Ele tinha todas as razões para não incorrer no mesmo erro – seu
referencial de cristianismo era o pior possível. Mas o seu problema era
justamente que ele escolhera como referencial o modelo deturpado, ruim,
estragado.
Mas, conhecendo o melhor
modelo, Cristo e conhecendo o poder de Cristo para mantê-lo firme e fazê-lo
perseverar no caminho desde que confiasse plenamente nele (Fp 1:6) ele passou a ter diante de si duas opções: ou continuava arredio ao
evangelho, a Cristo e à Igreja, seguindo o exemplo daqueles que foram da Igreja
sem nunca terem feito parte da Igreja, ou, confiadamente, admitir sua
necessidade de Cristo em sua vida e entrar em comunhão com a Igreja do Senhor
Jesus Cristo. Lembre-se: só há estas duas possibilidades (Pv 21:8).
Não há outra alternativa, não
há uma terceira via, pois o próprio Cristo diz que é impossível ficar no meio
do caminho (Mt 7:13). A Igreja é um corpo em marcha – e quem não marcha
junto com ela não chegará ao mesmo lugar ao qual ela chegará. Talvez você se
pergunte: que devo fazer? Deixe-me ajudar você – e talvez ajudar muitos
cristãos que podem estar com problemas ou causando problemas para outros que
tem as mesmas ansiedades.
Quero dirigir-me àqueles
irmãos que buscam ser fiéis, se esforçam por dar um bom testemunho, por serem,
nas palavras do apóstolo Paulo, serem o padrão dos fiéis (I Tm 4:12) devendo, por isso, serem imitados. Eis uma palavra de ânimo para que
não se desviem, para que continuem andando no caminho dos justos até que seja
dia perfeito (Pv 4:18) ao mesmo tempo que ofereço uma palavra de admoestação,
de alerta, para que não se ensoberbeça (I Co 10:12) porque, no
final, tudo em nós é a justiça de Cristo e não há justiça alguma nossa (I Co 12:6). O melhor incentivo é sempre a Palavra do Senhor Jesus Cristo: sê
fiel até a morte (Ap 2:10).
Quero dirigir-me aos cristãos
problemáticos que talvez ainda não tenham refletido sobre isso, que podem estar
sendo o referencial que muitas pessoas tem de cristianismo. É possível que haja
alguém que se aflija só de ouvir falar em Igreja porque a Igreja que conhecem é
você, que cola na escola. Que conta piadas imundas. Que não respeita autoridade
alguma. Que sonega impostos. Que é relaxado no trabalho. Que é mal humorado e
fofoqueiro. Filho desobediente ou pai violento. Deixe-me exortá-lo com as
Escrituras – se o mal que pode estar causando ao próximo não te sensibiliza,
talvez a Palavra de Deus o faça, e ela te diz para não ser causa de tropeço (I Co 10:). Lembre-se que você foi chamado para ser cooperador de Deus,
instrumento de Deus para bênção (I Co 3:) e não pedra de
tropeço (Mc 9:42).
Por fim, mas não menos
importante, quero dirigir-me aos amigos do evangelho, que gostam da Igreja, da
mensagem, do ambiente mas ainda estão como aquele jovem: indecisos e receosos
de tomar uma decisão que implique em um compromisso de vida. Concordo com você
em relação ao atual estado da Igreja – ela não é perfeita porque é composta por
homens e mulheres com uma doença terrível chamada pecado. Mas muitos dos que
estão dentro dela estão lutando com todas as forças (e com a força que vem de
Deus - Ef 6:10) para vencerem esta enfermidade e para que seus
efeitos sejam cada vez menores em suas vidas. Concordo que tem alguns que estão
nela e que parecem não estar nesta luta, e isto é realmente lamentável.
Mas também já sabemos como
ela deve ser – é uma tarefa que exige cada gota de sangue, cada gota de suor,
cada respiração de cada um de nós. Mas lutamos com a certeza de que não lutamos
em vão (I Co 15:58). Por fim, sabemos que há algo por fazer – e não
permita que o receio de não conseguir, a timidez (Mc 4:40), seja um
empecilho grande demais que lhe impeça de receber a maravilhosa promessa de
Deus (I Pe 5:4).
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