segunda-feira, 23 de maio de 2016

PRINCÍPIOS PARA SE FAZER A OBRA DO SENHOR: NÃO FAÇA COMPROMISSO COM OS QUE NÃO TEM COMPROMISSO COM DEUS

É muito comum encontrar nas Igrejas pessoas com diferentes níveis de envolvimento no seu dia-a-dia. Não precisamos apelar para o uso de termos jocosos e depreciativos, crente disto, crente daquilo, mas o fato é que há membros compromissados e membros descompromissados com o trabalho.
Sem qualquer esforço logo identificamos aqueles que estão presentes e ativos em todos os trabalhos dos quais conseguem participar – são aqueles que, quando se ausentam, a Igreja logo pergunta se está viajando, trabalhando ou doente. São os que mais trabalham, que ocupam os cargos e que, com isso, acabam sendo os agentes das decisões que definem os rumos da Igreja, evidentemente que, acima deles, está o Senhor e espera-se que sempre possa ser dito que a decisão tem origem primeiro em Deus (At 15:28).
Com um pouquinho de cuidado também encontramos aqueles que eventualmente se fazem presentes, especialmente como frequentadores de dois dos principais encontros da Igreja – a Escola Bíblica e os cultos dominicais. São menos envolvidos, se ausentam com frequência e sua ausência só é sentida após algum tempo. Precisam entender melhor o que significa ser parte do corpo de Cristo (Hb 10:25).
Somente quem está na Igreja percebe aqueles que, embora membros da Igreja, embora tendo sido batizados e feito a pública profissão de fé são pouco mais que visitantes esporádicos. Fazendo um paralelo com um termo que os protestantes usam frequentemente com os romanistas, são os evangélicos não praticantes. Participam muito pouco, mas se identificam com a Igreja e usam o nome da Igreja para se identificarem socialmente. Mas contribuem muito pouco com sua presença, seus dons e talentos.
Esperamos que os primeiros estejam sempre a postos – quase sempre temos que convocar e pedir ajuda aos intermediários e, quase sempre, quando por algum motivo confiamos esperamos que os terceiros façam alguma coisa nos decepcionamos, eles tem que ser substituídos às pressas e a tarefa é feita de improviso.
Como conduzir o povo de Deus com estas características? Precisamos olhar para as Escrituras, e Neemias nos oferece um princípio que certamente é muito útil. Ele não esperava que os descompromissados participassem da obra.
7 E ainda disse ao rei: Se ao rei parece bem, dêem-se-me cartas para os governadores dalém do Eufrates, para que me permitam passar e entrar em Judá, 8 como também carta para Asafe, guarda das matas do rei, para que me dê madeira para as vigas das portas da cidadela do templo, para os muros da cidade e para a casa em que deverei alojar-me. E o rei mas deu, porque a boa mão do meu Deus era comigo.
9 Então, fui aos governadores dalém do Eufrates e lhes entreguei as cartas do rei; ora, o rei tinha enviado comigo oficiais do exército e cavaleiros. 10 Disto ficaram sabendo Sambalate, o horonita, e Tobias, o servo amonita; e muito lhes desagradou que alguém viesse a procurar o bem dos filhos de Israel.
11 Cheguei a Jerusalém, onde estive três dias. 12 Então, à noite me levantei, e uns poucos homens, comigo; não declarei a ninguém o que o meu Deus me pusera no coração para eu fazer em Jerusalém. Não havia comigo animal algum, senão o que eu montava. 13 De noite, saí pela Porta do Vale, para o lado da Fonte do Dragão e para a Porta do Monturo e contemplei os muros de Jerusalém, que estavam assolados, cujas portas tinham sido consumidas pelo fogo. 14 Passei à Porta da Fonte e ao açude do rei; mas não havia lugar por onde passasse o animal que eu montava. 15 Subi à noite pelo ribeiro e contemplei ainda os muros; voltei, entrei pela Porta do Vale e tornei para casa.
16 Não sabiam os magistrados aonde eu fora nem o que fazia, pois até aqui não havia eu declarado coisa alguma, nem aos judeus, nem aos sacerdotes, nem aos nobres, nem aos magistrados, nem aos mais que faziam a obra. 17 Então, lhes disse: Estais vendo a miséria em que estamos, Jerusalém assolada, e as suas portas, queimadas; vinde, pois, reedifiquemos os muros de Jerusalém e deixemos de ser opróbrio.
18 E lhes declarei como a boa mão do meu Deus estivera comigo e também as palavras que o rei me falara. Então, disseram: Disponhamo-nos e edifiquemos. E fortaleceram as mãos para a boa obra. 19 Porém Sambalate, o horonita, e Tobias, o servo amonita, e Gesém, o arábio, quando o souberam, zombaram de nós, e nos desprezaram, e disseram: Que é isso que fazeis? Quereis rebelar-vos contra o rei? 20 Então, lhes respondi: o Deus dos céus é quem nos dará bom êxito; nós, seus servos, nos disporemos e reedificaremos; vós, todavia, não tendes parte, nem direito, nem memorial em Jerusalém.
Ne 2.7-20

A primeira atitude de Neemias é convocar todos aqueles que faziam parte da liderança constituída em Jerusalém. Ele precisava saber com quem poderia contar, quem tinha compromisso com o Senhor e sua obra e quem não tinha. Muitos ocupavam posições de liderança já há algum tempo dando continuidade ao trabalho iniciado desde os dias de Esdras que iniciara o trabalho de reestruturar o culto, reconstruir o templo (tarefa que durou 20 anos) e as casas mas pouco mais além disso havia sido feito. Os muros, evidentemente, estavam caídos e as casas desprotegidas em caso de algum ataque. Com um projeto pronto, Neemias desafia o povo para que eles também se envolvam na obra (Ne 2.17-18).
O ponto é: quem estaria disposto a participar e quem não queria o bem de Jerusalém (Ne 2.10). Logo os adversários aparecem – Sambalate, natural de Bete-Horon, Tobias, um servo do rei, descendente do filho de Ló com sua filha mais nova, e mais tarde Gesém, um descendente de Ismael. É salutar lembrar que, na obra do Senhor, quem não ajuda é empecilho, quem não é pelo Senhor é contra (Lc 11:23).
É uma decisão sempre difícil de ser tomada, e às vezes um líder precisa tomar: definir a equipe de trabalho, escolhendo entre aqueles que estão realmente dispostos a fazer a obra e os que estão interessados apenas em "tomar parte" ou, pior ainda, aqueles que estarão torcendo contra e podem tomar atitudes e decisões que só venham a atrapalhar o andamento dos projetos. É sempre muito difícil analisar uma equipe e decidir afastar alguém. Mas Neemias não tinha escolha. Ele não podia correr o risco de fracassar. Seu tempo era escasso, o rei tinha lhe dado apenas um tempo definido (que não sabemos exatamente quais, embora os estudiosos do Antigo Testamento afirmem que foi, no máximo, um período de 3 anos.
Fracassar significava deixar os judeus em opróbrio ainda maior do que o que ele encontrava, pois, além de destruídos cultural e politicamente também seriam zombados por todos como um bando de fracassados pretensiosos (Lc 14.28-30).
Sambalate é identificado como um dos governadores provinciais, e Tobias e Gesém provavelmente tinham alguma influência na região como membros de povos que os babilônicos tinham transplantado para a região e que fariam parte do amálgama de povos que ficou conhecida como samaritanos que, um século depois, edificariam seu próprio templo no monte Gerizim, perto de Siquém, oficializando definitivamente a ruptura e institucionalizando o ódio entre estes dois povos (Jo 4:20). Certamente não foi fácil para Neemias, recém-chegado, dirigir-lhes as palavras de rejeição que permaneceram ecoando por quatro séculos (Ne 2.20).
Quantas pessoas são necessárias para reedificar uma cidade? Quantas pessoas são necessárias para construir um muro com uma dezena de metros de altura e centenas de metros de extensão? A melhor resposta é: todas. Todas as disponíveis. O máximo de pessoas possível. E o caso de Neemias é ainda mais difícil porque ele estava pronto a reedificar a cidade à partir de um "resto de povo" deixando de lado pessoas que tinham recursos, influência e auxiliares.
Documentos antigos conhecidos como Papiros de Elefantina mostram que Neemias precisava montar a sua equipe de trabalho rejeitando três pessoas que possuíam grande influência: Sambalate, por um tempo foi governador da Samaria (e talvez quisesse governar a província transeufratiana inteira), Gesém liderava um grupo de comunidades árabes e Tobias que liderava as comunidades amonitas (talvez como um regente títere, por isso é chamado de servo “do rei”) e parece ter se tornado membro de uma família judaica, o que dificultaria ainda mais afastá-lo de sua equipe – mas era necessário, e, se eles tivessem algum interesse nisso já teriam feito alguma coisa pois já estavam ali há muito mais tempo que Neemias. Em muitas situações é excelente ter muita gente. A bíblia diz, por exemplo, que na multidão de conselheiros está a segurança (Pv 11:14) e a vitória (Pv 24:6), duas coisas que eles certamente não podiam desprezar.
Mas Deus também já tinha mostrado que com 300 podia fazer mais do que milhares sem Deus. Deus rejeitou 22.000 tímidos e medrosos que atenderam ao chamado de Gideão (Jz 7.3). Deus também rejeitou 9.700 desatentos (Jz 7:7).
Para que a obra andasse era necessário que apenas os que estivessem dispostos para a obra fossem engajados nela. Não podia haver brechas. Não podia haver gente sem compromisso com Deus no meio do povo  porque havia grande perigo na empreitada. O importante não era o número, era a qualidade, a prontidão, a confiabilidade.
A obra do Senhor não é para tímidos, para covardes, para os que retrocedem (Hb 10:39) mas dos que olham para a frente, que não tiram os olhos do Senhor e prosseguem para o alvo da soberana vocação (Fp 3.12-14).
Com poucos compromissados você tem mais trabalho, mas certamente menos decepções, menos falhas de execução, por isso Jesus, nos momentos cruciais de seu ministério, investiu nos doze apóstolos que ele mesmo escolheu e enviou (Jo 20:21) e não lidar com uma multidão de 5000 pessoas que queriam apenas pão (Jo 6:26), aos quais ele não se confiava (Jo 2:24) e que sabia que logo o abandonariam (Jo 6:66).
Não faça alianças para o reino com quem o rei não fez aliança alguma. Pensemos na situação de Neemias: se você fosse reestruturar uma comunidade, você abriria mão de líderes de grupos inteiros nesta comunidade (Sambalate era líder dos horonitas (Bete Horon), Tobias, dos amonitas, Gesém, dos arábios – Ne 2.19). Eles contavam com a colaboração dos asdoditas (Ne 4.7), também eles antigos inimigos de Israel (Js 11:22) de onde saiu, por exemplo, Golias, o gigante filisteu de Gate (I Sm 17:4) – todos estes povos inimigos históricos dos judeus.
Talvez muitos estrategistas entendessem que era a hora de uma aliança estratégica, ainda mais que eles tinham dinheiro para comprar apoios (Ne 6.12) e tinham influentes conexões religiosas com os profetas (Ne 6.14) e até mesmo familiares com o sumo sacerdote (Ne 13.28)  embora, aparentemente, este não estivesse envolvido com os inimigos de Neemias mas foi prudentemente afastado (Ne 13:28).
Neemias faz exatamente o contrário do que os judeus vinham fazendo desde o tempo de Esdras – ele prefere um grupo pequeno e coeso, com os mesmos princípios e propósitos, do que fazer alianças que poderiam trazer benefícios no curto prazo mas que, no fim, acabariam lhe trazendo dissabores (II Rs 18:21). Neemias compreendia perfeitamente que não deveria se associar com os ímpios para não colher o fruto de sua impiedade, como aconteceu com o rei Ezequias (Is 39.1-8).
Lembremos que a obra não é nossa, é do Senhor – e ele é quem disporá de todos os recursos para que nossa tarefa seja executada. A Igreja não precisa aliar-se à impureza em nome de um benefício imediato (II Co 6:14). O Deus que Paulo diz ser capaz de iniciar e completar a boa obra não mudou (Fp 1:6).
A obra do Senhor é para ser executada por suas testemunhas (Is 44:8) às quais ele libertou do império das trevas, chamou para sua maravilhosa luz e deu-lhes a missão de proclamar suas virtudes (I Pe 2:9).
Concluindo com a história de Gideão – o Senhor dispensou 31.700 homens para usar apenas 300 – menos que a centésima parte – para mostrar que ele é quem liberta (Jz 7:2), ele é quem abençoa, é ele quem faz com que a obra seja concluída (Jo 15:5) – mas ele vai usar aqueles que estiverem realmente compromissados com a sua obra.
O que há de semelhante entre os nossos dias e os dias de Neemias? Não quero fazer um paralelo com Igrejas que se encontram moribundas, arrasadas (elas existem, infelizmente), mas creio que o chamado de Jesus aos seus discípulos é perfeitamente aplicável: ainda há vagas para trabalhadores em sua seara (Lc 10:2).
Em primeiro lugar, precisamos compreender que, tanto na obra de Neemias como hoje só existem dois caminhos – e uma decisão tem que ser tomada: ou estamos dispostos, e atendemos ao chamado do Senhor, ou não estamos dispostos, e então, não estamos aptos para a obra – e, portanto, para o reino de Deus (Lc 9:62). O arado está posto bem à sua frente. Pronto para ser tomado. A obra está diante de ti e você tem que se posicionar – fará ou não? Você pode até pensar que é possível ser discípulo de Jesus e não tomar uma atitude posicionando-se na obra – mas deixe eu lhe lembrar as palavras de Jesus: se você não tomar a cruz e segui-lo, nada feito (Lc 9.23-24).
Em segundo lugar, precisamos compreender que esta decisão tem consequências duradouras – não pode ser uma atitude que você toma hoje mas amanhã já mudou de ideia. Você não pode retroceder, porque retroceder é perdição (Hb 10:39), retroceder é atitude daqueles que nunca foram, de fato, parte da comunidade dos salvos (I Jo 2:19) porque aqueles que o Senhor chama ele próprio confirma (Rm 8:30) completando a obra iniciada quando a alma é vivificada e ouve a voz do evangelho (Fp 1:6).
Em terceiro lugar, a atitude que você tomar agora tem consequências eternas. Os rejeitados por Neemias formaram um povo à parte, os samaritanos. Sambalate, Tobias e Gesém estavam em Jerusalém. Tinham acesso à cidade, a Neemias, aos profetas e sacerdotes mas não tomaram parte na obra. Você pode ter acesso à Igreja, aos pastores, aos presbíteros, aos cultos e, ainda assim, não ter parte na obra e sofrer terrível decepção quando o Senhor lhe disser: nunca vos conheci, vocês não tem direito a entrar no reino dos céus (Mt 7:22 e 24). Se ele prometeu dizer isso para quem parecia ser crente, quanto mais para aqueles que nem crentes parecem ser.
Deixe-me concluir – se você entende que esta mensagem é um chamado de Deus para que você responda positivamente ao chamado para servi-lo; se pelo Espírito de Deus o seu coração foi tocado, sua mente foi iluminada e sua vontade foi inclinada para dizer ao Senhor que quer servi-lo, seja bem vindo. Quero poder chamar-te de irmão. Quero dar-te a mão e andar junto com você numa caminhada de alegrias e lutas, mas com certeza uma caminhada que nos levará, em Jesus Cristo, à morada celestial, à nova Jerusalém.

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