segunda-feira, 30 de abril de 2018

PRIVILÉGIOS NÃO DEVEM SER DESPERDIÇADOS


Boletim dominical da Igreja Presbiteriana em Paragominas, 29 de abril de 2018
Lembro-me destas coisas - e dentro de mim se me derrama a alma-, de como passava eu com a multidão de povo e os guiava em procissão à Casa de Deus, entre gritos de alegria e louvor, multidão em festa (Sl 42:4).
Este verso do salmo 42 traz um profundo lamento de uma alma angustiada porque não tinha uma das coisas que mais lhe dava deleite: o privilégio de ir ao templo, de reunir-se na Casa de Deus com o povo de Deus, com aqueles a quem Davi chama de os ‘notáveis que há na terra’, os santos de Deus.
Este salmo davídico foi composto quando Davi não podia cultuar a Deus como desejava, na tenda da congregação que estava com a arca da Aliança em Jerusalém, por causa da rebelião de seu próprio filho Absalão. Com saudades o agora idoso Davi se lembra dos dias em que ele conduziu festivamente o povo adiante da arca, certamente com a companhia de alguns dos que, agora, procuravam tirar-lhe a vida. Provavelmente o próprio Absalão estava com ele, e certamente Aitofel, que se tornara o conselheiro do filho revel.
Obviamente Davi não imaginava que isto iria acontecer, e nem é esta a preocupação que ele expressa neste salmo. Aqui ele não lamenta a traição do filho ou do companheiro de armas - seu lamento é por não poder cultuar a Deus onde gostaria de cultuar a Deus.
Séculos depois, outros salmistas também faziam o mesmo lamento, não mais nas proximidades de Jerusalém, mas algumas centenas de quilômetros distantes, pois foram tornados escravos na Babilônia. Às margens de seus rios se negavam a cantar os salmos, os instrumentos pendiam sem uso e um sentimento invadia o coração: a saudade de casa.
Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião (Sl 137.1).
É óbvio que eles não deixaram de adorar a Deus, especialmente porque é sabido que foi na Babilônia que desenvolveu-se o sistema de sinagogas, que serviriam de bases e formato (os missiólogos gostam de chamar de pontes) para a Igreja cristã expandir-se rapidamente como podemos encontrar no ministério do apóstolo Paulo. Todavia, mesmo com as sinagogas, os crentes ainda tinham saudades de sua casa, da sua casa de oração, da casa que o Senhor havia dito que seria casa de oração para todos os povos.
...também os levarei ao meu santo monte e os alegrarei na minha Casa de Oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar, porque a minha casa será chamada Casa de Oração para todos os povos (Is 56.7).
Prosseguindo um pouquinho mais logo descobrimos que, tendo o Senhor escolhido um lugar para fazer habitar o seu nome, esta habitação era apenas um tipo de uma outra forma de habitação, isto é, a arca da aliança, a arca da presença de Deus apenas apontava para algo muito mais extraordinário, a presença do próprio Deus no meio de seu povo, o Deus que “fez seu tabernáculo entre nós”.
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai (Jo 1.14).
Algum tempo depois de fazer-se presente entre nós o Senhor Jesus ensinou que chegaria novo tempo, e que este tempo era chegado, em que o lugar de adoração seria o menos importante, mas a forma da adoração, a essência da adoração é que seria levada em conta - pois havia muitos hipócritas no templo, mas o Senhor desejava adoradores que o adorariam em Espírito e em verdade sem dirigirem-se ao templo de Jerusalém.
Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores (Jo 4.23).
Este é o melhor tempo, este é o melhor dia, o dia em que o Senhor estabelece o seu templo não mais para seus adoradores, mas em seus adoradores, fazendo deles seu santuário, e, como um santuário, tudo deve estar disposto para a adoração ao Senhor - seu coração, seu tempo, suas mãos.
Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? (1Co 3.16).
Imerecidamente Deus ainda preservou para a sua Igreja embaixadas do reino, um lugar onde congregar, um privilégio que não deve ser desprezado. Vivemos peregrinos por uns poucos dias, andamos de casa em casa (e isto foi bom, conhecemos as casas dos nossos irmãos), habitamos em uma “tenda” (uma tenda bem confortável, é verdade, providenciada por Deus pela instrumentalidade de um servo seu) mas agora estamos de volta à nossa casa, nosso lugar de reunião. Ansiávamos pelo retorno à nossa casa, e, agora aqui, estamos, portanto, não despreze este privilégio.
Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima (Hb 10:25).

quinta-feira, 26 de abril de 2018

É UM PECADO NÃO ADVERTIR O PECADOR DO PERIGO QUE LHE AMEAÇA


A bíblia diz que, quando um pecador está em risco, deve ser advertido ou aquele que deve adverti-lo se torna responsável pelo dano que ele venha a sofrer (Ez 3.18). Imagina, então, a responsabilidade da Igreja para com aqueles que estão dentro de seus muros e não são advertidos dos riscos de uma profissão de fé inócua. Cabe à Igreja ensinar a seus membros e frequentadores a calcularem o custo que implica a profissão, sem a pressão por aceitação social, ou crescimento numérico ou financeiro apenas com a adesão de multidões, quase sempre sem a genuína conversão e sem o necessário discipulado (Mt 28:19-20).
É necessário anunciar a salvação graciosa, gratuita e completa em Jesus Cristo, chamando os pecadores à fé, sem, entretanto, deixar de advertir o ouvinte do solene compromisso de servir a Cristo, suas obrigações, especialmente abandonar o mundo e suas concupiscências (Rm 13.14). Cada ouvinte do evangelho deve ser advertido do custo de ser um verdadeiro cristão porque este era o método evangelístico do Senhor Jesus. Ele falava do reino porvir, anunciava a vida eterna como uma dádiva (Jo 5:24) mas seus ouvintes sabiam o que os esperava. Ele não tinha onde reclinar a cabeça, isto é, não oferecia glória, fama ou fortuna terrena (Mt 8:20), pelo contrário, isto podia significar perda de bens terrenos (Mc 10:21), lembrava-lhes das aflições que lhes esperavam (Jo 16:33) e da cruz que deveriam carregar (Lc 14:25-27). Quantos pregadores de nossos dias dizem aos seus ouvintes que a boa nova da salvação, que o evangelho consiste em tomar uma cruz? É isto o que temos visto nas pregações de nossos dias, com promessas vulgares e luxuriosas ao invés das solenes advertências da Palavra de Deus – e não advertir o pecador dos perigos que corre é um pecado grave.
É obrigação de cada cristão que proclama a Palavra de Deus ensinar todo o conselho de Deus, ensinar todas as coisas que o Senhor Jesus ensinou para que sejam guardadas (Mt 28:20), e isto inclui o direito divino de soberania sobre toda a sua criação (Is 43:15). Isto também inclui o direito divino de reprovação sobre os caídos, que não conseguem alcançar o padrão estabelecido por Deus (1Pe 1:16 - ...porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo) por causa do pecado que praticam constantemente (Rm 5:12). Isto também inclui o ensino da ação divina para restaurar sua criação caída (Os 14:1), fazendo isto por intermédio de seu filho Jesus (Jo 3:16) para que o pecador pudesse viver de maneira aceitável diante dele (1Jo 4:9), mas, ao mesmo tempo, sem abrir mão do seu direito de retribuir ao pecador segundo a injustiça que praticar, especialmente a rejeição do seu Filho (Jo 3:36).
É um pecado não advertir o pecador do perigo que o ameaça. O nome deste pecado é negligência. Assim como o pecador precisa aprender e guardar todas as coisas que o Senhor Jesus ensinou, cabe aos discipuladores ensinarem-no todas as coisas que aprenderam do Senhor.

domingo, 22 de abril de 2018

NÃO CALCULAR O CUSTO FAZ GENTE FRUSTRADA COM O QUE PERDERAM DO MUNDO


Tornar-se cristão e discípulo de Jesus significa, é claro, experimentar o amor do Pai (1Jo 4:19), mas, para experimentar o amor do pai, outro amor tem que se ausentar definitivamente, o amor do mundo (1Jo 2:15). Os dois não podem coexistir em um mesmo coração, pois não pode haver comunhão entre luz e trevas (2Co 6:14), e o homem tem que tomar uma atitude e uma decisão definitiva em sua vida: a quem vai servir (Js 24:15).
O apóstolo Paulo fala sobre a expectativa da ressurreição, mas o que ele diz serve de alerta para aqueles que, não tendo nascido de novo, adentram na Igreja e sentem-se frustrados, obrigados a obedecerem a “leis da Igreja” e a deixarem de fazer coisas porque a Igreja proíbe (explicita ou implicitamente): são os mais infelizes de todos os homens, porque deixam de gozar dos prazeres terrenos e não gozarão da bem aventurança celeste (1Co 15:19). Na sua infelicidade alguns se voltam para o mundo buscando um pouco de compensação, proclamando com seu modo de viver que é melhor comer, beber porque a morte é certa (Is 22:13), esquecendo-se, porém, que a morte não é o fim, e que, para os que retrocedem, o destino é a perdição (Hb 10:39). Lamentavelmente partem numa busca desenfreada e infrutífera do mundo inteiro, jamais conseguirão seu intento e, mesmo que consigam muito, no fim estão causando dando à sua própria alma (Mt 16:26).
O que começa com um lamentável engano (e os enganadores terão que responder pelo mal que praticaram) termina com vergonha e opróbrio, aqueles que não nasceram de novo, não creram para se tornarem ovelhas de Cristo (Jo 10:26) e por isso jamais conseguiram ouvir a voz do bom pastor (Jo 10:27) embora tenham seguido aos uivos ululantes dos lobos devoradores do rebanho (At 20:29), como cães voltam a comer o próprio  vômito e porcas lavadas, retornam avidamente ao lamaçal (2Pe 2:22) seu estado e miseravelmente pior que o primeiro (2Pe 2:20).
O que começa com uma noção tristemente equivocada do evangelho, passa por um arremedo de cristianismo e produz frustração profunda, escondida, muitas vezes, sob uma falsa alegria mantida por experiências passageiras e insatisfatórias, muitas delas fabricadas por técnicas de sugestão psicológica – ou o compromisso exigido por Cristo é substituído por um rodízio de instituições como usuários de drogas que passam de uma para outra em busca de um novo barato, ou frequentadores de restaurante que se cansam do cardápio e passam a frequentar outros lugares ou ainda a pura e simples busca da bênção, não importando onde ela possa ser encontrada – cada dia em uma Igreja diferente, uma mensagem diferente, mas uma mesma busca por satisfazer anseios carnais. O problema é que nesta busca por algo satisfatório acabam se tornando presa fácil de quem está disposto a oferecer qualquer coisa para conseguir seguidores. A fé cristã é mais que uma “decisão por Cristo” causada por um bom sermão ou um evento profundamente emotivo que produz, por alguns momentos, alguma forma de sentimento de alegria e paz até que o peso da cruz começa a pesar-lhes nos ombros (Lc 14:27) e percebe que seguir a Cristo não é tão fácil e como alguns pregadores ensinam na busca de seguidores para si mesmos, seguidores que estão dispostos a pagar qualquer coisa para suprirem as suas necessidades, numa espécie de barganha, ou numa tentativa de barganha com Deus com um único (e insuperável) problema – Deus não se deixa comprar.
Ninguém está livre de se equivocar, não temos todas as informações – somente Deus é onisciente e perfeitamente justo. Pessoas honestas e sinceras se equivocam. Mas pessoas honestas e sinceras voltam atrás em busca da verdade. Muitos que vivem no ambiente da Igreja, inclusive filhos de pais verdadeiramente crentes, podem dar um testemunho muito pobre do que é a fé cristã porque realmente não nasceram de novo, apesar de terem grande conhecimento de fórmulas doutrinárias e estruturas eclesiásticas, de terem assistido muitas pregações, lições e participado de muitos eventos, ocupado cargos em quase todas as instâncias da Igreja sem, entretanto, pensar seriamente no que tem aprendido (2Tm 3:5-7) até que, finalmente, sua insensatez se manifeste e escolham os caminhos que os conduzem para longe de Deus (2Tm 3:8-9).
Lamentavelmente estes são os mais difíceis de serem recuperados porque estão de tal modo acostumados com a vida da Igreja que não percebem que vida cristã é mais do que isto (Hb 6.4-6) e nunca chegaram a comprometer-se como o Senhor requer, com os sacrifícios e as consequências que uma profissão de fé séria em Cristo exige. Lamentavelmente é provável que muitos deles jamais tenham sequer ouvido falar que devem calcular o custo de seguir a Cristo e as suas implicações.
É preciso, entretanto, um último aviso: não sejamos apressados em nos julgarmos melhores do que eles, porque, afinal, somos o que somos pela graça de Deus e, estando de pé, devemos ser sempre zelosos para não tropeçar (1Co 10:12).

sábado, 14 de abril de 2018

A TRAGÉDIA EM PARAGOMINAS E OS BONS AMIGOS DE JÓ

Boletim da Igreja Presbiteriana de Paragominas, 2018, Abril, 15.
É muito natural que, em situações como esta, nós nos perguntemos: porque isto aconteceu? Já vi e ouvi muitas tolices quando acontece algum tipo de calamidade, especialmente em locais onde o cristianismo não é aceito ou, pior ainda, onde tem sido sistematicamente repudiado pela população que um dia foi cristã, como ouvimos e vimos tantas vezes nas redes sociais como facebook e grupos de WhatsApp.
Sempre tem aqueles que, afoita e irresponsavelmente, num julgamento totalmente destituído e sabedoria que dizem: foi a mão de Deus... É julgamento. É a ira de Deus se abatendo sobre fulano ou sicrana. E ainda abrem a bíblia para citar textos que se referem à torre de Babel, ou Sodoma e Gomorra, ou os galileus abrigados na torre de Siloé:
Ele, porém, lhes disse: Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas? (Lc 13.2) 
Enquanto os habitantes de Jerusalém olhavam para a tragédia ocorrida na Galiléia diziam: são todos iguais, que mal faz que uns morram e outros vivam. Porém Jesus não permite que eles prossigam em seu julgamento pretensioso.
Ou cuidais que aqueles dezoito sobre os quais desabou a torre de Siloé e os matou eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? (Lc 13.4)
O problema é que os habitantes de Jerusalém que não tinham qualquer ligação com os desprezados galileus se imaginavam, de alguma forma, melhores que os que morreram, Jesus lhes diz que eles em nada diferiam daqueles. Os vivos em nada diferiam dos mortos. Os que pereceram em Siloé eram iguais aos que viviam em Jerusalém. Quando alguém diz: a punição veio sobre eles e não sobre nós está dizendo que, de alguma maneira, os outros eram mais dignos de passar pela tragédia do que os que dela escaparam, quando, na verdade, a Palavra de Deus diz que todos são igualmente réus, todos, igualmente, mereciam exatamente a mesma morte por causa de seus pecados - e todos, galileus ou não, precisavam da mesma coisa para não morrer: arrependerem-se de seus pecados.
Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis. (Lc 13.5) 
Curiosamente, quanto tinha terminado o primeiro parágrafo deste texto, precisei sair para auxiliar um irmão justamente por causa deste desastre que acompanhamos em nossa cidade. Enquanto aguardávamos, não consegui deixar de participar de uma conversa em que uma pessoa contava a história de que a casa de uma senhora foi destruída porque ela havia mandado a filha (uma adolescente de cerca de 13 anos) embora para colocar um homem em casa. Segundo ela a enchente foi para punir aquela mulher. Tive que discordar enfaticamente - teria Deus afligido tantas famílias por causa da ação desta senhora? Sim, Deus é Deus que julga e executa seus juízos, mas é ser simplório demais jogar a culpa em Deus das mazelas que o próprio homem semeia.
Também não concordei quando foi dito que cada um colhe exatamente o que semeia - porque, se esta calamidade que enfrentamos em Paragominas foi fruto daquilo que o homem semeou, e se ela foi, de fato, causada pela construção de barragens rio acima, então é lógico concluir que alguns estão colhendo o que outros semearam.
A pessoa que falava, na verdade, julgava que ela não sofrera por não ser tão má como a mulher de quem falava - e ela fazia este julgamento enquanto se embriagava. Triste constatação: um juiz ébrio julgando implacavelmente, condenando à pena de morte outro pecador. Com uma trave nos olhos julgava-se capaz de condenar o outro por ter um argueiro. Evidente que se tratava de dois pecadores, igualmente necessitados da graça de Deus para escaparem da condenação por seus próprios pecados.
Ah! Dizem uns apressados, mas eles construíram suas casas nas margens do rio, foram imprudentes, então que arquem com as consequências - e onde mais construiriam, primeiro que o rio não chegaria onde chegou sem o excesso das barragens [obras mal feitas de homens, muitas vezes, gananciosos], depois, quantos estão disposto a colocarem um pedaço de terra à disposição dos sem moradia para eles construírem uma casa, mesmo depois da tragédia acontecida (e há muitos que tem muito mais do que necessitam, não é)? Sei que poucos, bem poucos mesmo. A situação é muito complexa e geralmente apenas os tolos tem respostas fáceis para problemas complexos.
Como Igreja, antes de mais nada precisamos fazer, nestes dias de extrema angústia para muitos conhecidos e tantos mais desconhecidos exatamente como fizeram os três amigos de Jó nos primeiros sete dias de sua visita ao patriarca, naquela que é, para mim, uma das mais belas demonstrações de compaixão que eu encontro nas Escrituras, superada apenas pelo ato de Cristo na cruz, tomando o nosso lugar.
Sentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande (Jó 2.13).
Durante 7 longos dias os amigos de Jó se colocaram ao seu lado. Se compadeceram do seu amigo e certamente tentaram diagnosticar o problema que ele passava bem como imaginar como poderiam ajudar-lhe naquela situação tão difícil. Imagino que, se o problema de Jó fosse financeiro, eles estariam prontos para ampará-lo. Se fosse emocional, ali estavam eles para fazer-lhe companhia.
Os amigos de Jó não queriam respostas. Os amigos de Jó não tinham conselhos a dar. Os amigos de Jó foram o que amigos devem ser: eles estavam ali, estavam presentes. Em sua dor Jó podia ver que não estava sozinho.
Sua esposa sofria quase tanto quanto ele, muitos a julgam apressadamente sem levar em consideração seu próprio sofrimento. Aquela esposa, aquela mãe, já não aguentava mais tamanha dor, perdera tudo, seu estilo de vida, seus filhos, via seu marido às portas da morte. Ela não conseguia ajudá-lo. Mas seus amigos estavam ali.
É consenso que o que as pessoas que sofrem mais precisam em seus momentos de dor não são palavras, mas presença. Para isto os amigos de Jó estavam ali. Provavelmente foi esta a intenção de João ao ficar até o último momento ao pé da cruz, cuidando da mãe de Jesus. É é por isso que o Senhor nos deu o Espírito Santo.
O Senhor Jesus sabia dessa necessidade e não foi sem razão que ele disse que, no mundo, seus discípulos certamente enfrentariam aflições, perseguições, opróbrio, zombaria e até mesmo a morte - mas, ao mesmo tempo, ele também prometeu que, sendo aquele que vence o mundo, também estaria com eles todos os dias até a consumação dos séculos, que não os deixaria órfãos, não os abandonaria, e que lhes enviaria o paráclito, literalmente “aquele que se coloca ao lado”, “o que ampara”. Não estamos sós:
E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós. (Jo 14.16-17)

quarta-feira, 11 de abril de 2018

NÃO CALCULAR O CUSTO DE SER DISCÍPULO DE JESUS FAZ GENTE FRUSTRADA COM O QUE PERDERAM DO MUNDO

Estudo ministrado na IP de Paragominas.

O apostolo Paulo fala sobre a expectativa da ressurreição, mas o que ele diz serve de alerta para aqueles que, não tendo nascido de novo, adentram na Igreja e sentem-se frustrados, obrigados a obedecerem a “leis da Igreja” e a deixarem de fazer coisas porque a Igreja proíbe (explicita ou implicitamente): são os mais infelizes de todos os homens, porque deixam de gozar dos prazeres terrenos e não gozarão da bem aventurança celeste (1Co 15:19). Na sua infelicidade alguns se voltam para o mundo buscando um pouco de compensação, proclamando com seu modo de viver que é melhor comer, beber porque a morte é certa (Is 22:13).
O que começa com um engano termina com vergonha e opróbrio, aqueles que não nasceram de novo, não se tornaram ovelhas de Cristo e, como cães voltam a comer o próprio  vômito e porcas lavadas, retornam avidamente ao lamaçal (2Pe 2:22) seu estado e miseravelmente pior que o primeiro (2Pe 2:20). O que começa com uma noção tristemente equivocada do evangelho, passa por um arremedo de cristianismo e produz frustração profunda, escondida, muitas vezes, sob uma falsa alegria mantida por experiencias passageiras e insatisfatórias. A fé cristã é mais que uma “decisão por Cristo” causada por um bom sermão ou um evento profundamente emotivo que produz, por alguns momentos, alguma forma de sentimento ode alegria e paz até que o peso da cruz começa a pesar-lhes nos ombros e percebe que seguir a Cristo não é tão fácil e como alguns pregadores ensinam na busca de seguidores para si mesmos.
Ninguém está livre de se equivocar. Pessoas honestas e sinceras se equivocam. Filhos de pais verdadeiramente crentes podem dar um testemunho muito pobre do que é a fé cristã porque realmente não nasceram de novo, apesar de terem grande conhecimento de fórmulas doutrinárias, de terem assistido muitas pregações, lições e participado de muitos eventos, sem, entretanto, pensar seriamente no que tem aprendido. Lamentavelmente estes são os mais difíceis de serem recuperados porque estão de tal modo acostumados com a vida da Igreja que não percebem que vida cristã é mais do que isto (Hb 6.4-6) e nunca chegaram a comprometer-se como o Senhor exige, com os sacrifícios e as consequências que uma profissão de fé séria em Cristo exige. Lamentavelmente é provável que muitos deles jamais tenham sequer ouvido falar que devem calcular o custo de seguir a Cristo e as suas implicações.

NÃO CALCULAR O CUSTO DE SEGUIR A CRISTO FAZ GENTE FRUSTRADA COM UM FALSO DEUS


Estudo ministrado na IP de Paragominas

Não calcular direito o custo de tornar-se discípulo de Jesus pode produzir gente que se diz frustrada com Deus. Mas a questão é, com que Deus elas ficam frustradas? Quando um deus falso é pregado, quando um deus que não é o Deus vivo é anunciado as expectativas certamente serão frustradas (Sl 115.4-8) porque esperam num deus que não é Deus. Seguiram a pregadores de falsos deuses esquecendo que o Senhor diz para não dar ouvidos a tais faladores (Jr 23.16) que falam em seu próprio nome e fazem promessas que não podem cumprir, gerando pessoas que se dizem decepcionadas com Deus – mas jamais esperaram, de fato, em Deus (Sl 43.5).
A verdade é que nem tudo que é dito ser “de Deus” é realmente de Deus. Qual é o Deus da teologia da prosperidade? Qual é o Deus da teologia da libertação? Qual é o Deus destas pseudoteologias que não oferecem nada mais do que a satisfação de apetites carnais? Há muitos que se decepcionam com Deus porque ouviram falar de um Deus que resolveria todos os seus problemas, que lhe traria satisfação imediata (Fp 3:19) mas não foram alertados de que, segundo a Jesus, seriam odiados pelo mundo (Jo 15:19), seriam perseguidos (Gl 6:12) e teriam tribulações (Jo 16:33).
Além disso Deus não tem obrigação alguma de atender a exigências do ventre do homem, a ordem é que o pecador entregue seu caminho ao Senhor, tenha seu coração transformado e os anseios deste coração serão saciados, porque ansiarão pelo reino de Deus (Mt 6.33) e terão fome e sede de justiça (Mt 5:6). Quando um homem promete o que Deus não prometeu, quando outro espera o que Deus não disse que daria Deus não tem qualquer compromisso em satisfazer-lhes as expectativas. Deus é fiel a si mesmo, é fiel à sua Palavra, cumpre as suas promessas, todas elas (Lc 1:37).
É possível que muitos se decepcionem com Deus quando percebem que Deus exige santificação (Hb 12:14), obediência irrestrita (Mt 6:24), compromisso total com ele e, em decorrência disto, uma rejeição das concupiscências do mundo, servindo-o com exclusividade (Tt 2:14).
O caso de Genebra é emblemático. Os genebrinos convidaram Calvino para tornar a cidade um modelo de cristianismo reformado – mas quando o reformador intentou colocar em prática a obediência bíblica na cidade, foi expulso em 1538, apenas dois anos depois de ter sido convidado para pastorear aquela comunidade. A razão não foi outra que não a determinação de que aqueles que não se declarassem cristãos reformados deveriam deixar Genebra – inclusive muitos genebrinos. Em abril deste ano Calvino deixou Genebra – para voltar ainda mais Calvino, em 13 de setembro de 1541. Os genebrinos não haviam calculado corretamente o custo de serem discípulos de Jesus - mas logo perceberam que havia um custo muito maior em não serem discípulos de Jesus, aqui e na eternidade.

O PERIGO DE NÃO CALCULAR O CUSTO DE SEGUIR A JESUS

Vários destes estudos ministrados na IP de Paragominas têm origem num artigo de J.C. Ryle.
18 Atendei vós, pois, à parábola do semeador. 19 A todos os que ouvem a palavra do reino e não a compreendem, vem o maligno e arrebata o que lhes foi semeado no coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho. 20 O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe logo, com alegria; 21 mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza. 22 O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, porém os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera. 23 Mas o que foi semeado em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende; este frutifica e produz a cem, a sessenta e a trinta por um.
Mt 13:18 -23

Qual o perigo de alguém não calcular o custo de seguir a Cristo e, após uma experiencia religiosa emocional e intelectual, vir a naufragar na fé (1Tm 1:19)? Sim, é possível naufragar na fé, isto é, perder o rumo e afundar-se no pecado e no mundo mesmo tendo aderido à doutrina, como aconteceu com Simeão, o mago (At 8:13). O resultado de um evangelismo seu conteúdo bíblico, apelativo e emocionalmente manipulador pode ser um envolvimento alegre com a fé, impactante mas que, afinal, aos primeiros sinais de contrariedade, logo abandonam a comunidade dos crentes. Uma das primeiras coisas que aprendi sobre a vida cristã foi que, sempre que alguém abandona a comunhão da Igreja, o faz por algum pecado pessoal, seu próprio, ainda que a desculpa seja a ação de terceiros à qual seu coração endurecido não perdoa.
Por causa da manipulação religiosa muitos chegam mesmo a pensar que experimentaram uma conversão genuína, chegam a manifestar ações que realmente se parecem com um novo nascimento, participam ativamente da obra e se envolvem em assuntos espirituais com um entusiasmo muito grande mas, afinal, demonstram o que são – não convertidos como Demas (Fm 1:24 - Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores) que, embora companheiro de trabalhos do apostolo Paulo em algum momento percebeu que seu coração pendia, na realidade, para o mundo (2Tm 4:10 - Porque Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica; Crescente foi para a Galácia, Tito, para a Dalmácia).
A parábola do semeador fala-nos de diversos tipos de reação ao evangelho. Alguns não compreendem, seu coração e mente estão de tal maneira comprometidos com outros valores que o rejeitam de pronto, e isto independe de nível de conhecimento intelectual. Os fariseus e mestres religiosos de Israel não compreendiam o ensino de Jesus embora entendessem o que ele estava lhes dizendo com enorme clareza, pois só isto explica o fato de planejarem matar a Jesus depois deste lhes denunciar a aridez espiritual (Mc 11.17-18). Outros recebem a palavra, percebem seus efeitos mas logo se voltam para outros interesses, logo desanimam porque percebem que o caminho é estreito, que muitas escolhas tem que ser feitas, que muitas renúncias precisam se tornar realidade e que até perseguição e perigos se tornam comuns e devem ser esperadas na vida de um discípulo de Cristo (Jo 2.23-24). Por fim existem aqueles que recebem a Palavra mas não estão dispostos a investir seu tempo, seus recursos e sua energia no reino, e, quando precisam optar por família, carreira, riquezas, não pensam duas vezes, logo abandonam o caminho (Lc 18.18-23). Para estes o céu não passou de uma miragem, que logo se desvaneceu ao primeiro sinal da realidade porque seus olhos e seu coração estavam nas coisas da terra, seu tesouro era terreno e para quem não nasceu de novo o reino de Deus é inalcançável (Jo 3:3) mesmo que haja muita boa intenção – mas o que se requer é espiritualidade.

NÃO CALCULAR O CUSTO TRAZ FRUSTRAÇÃO COM A IGREJA

Quando a novidade de fazer parte de uma Igreja dá lugar à rotina, aos trabalhos comuns de qualquer Igreja, quando o chamado para servir é mais intenso do que os privilégios de ser membro muitos percebem que “a Igreja não é bem o que esperavam”, e, então, o que é fruto do pecado na vida de homens e mulheres em processo de santificação tornam-se motivos de antipatia e inimizade (mesmo que muitas vezes não declarada) e tudo serve de desculpa para um paulatino (mas também pode ser repentino) afastamento da Igreja.
Qualquer pessoa que conheça minimamente uma Igreja vai encontrar falhas em uma comunidade de pecadores que conheceram a Jesus Cristo e ainda não estão plenamente livres do pecado. Mesmo o colégio apostólico tinha um que era o filho da perdição (Jo 17:12) que não tinha nem parte nem sorte entre os que nasceram de novo e se tornaram verdadeiros discípulos do sem Jesus (At 8:21).
Também na Igreja descrita no livro de Atos, cheia do Espírito Santo, encontramos pessoas que não calcularam o custo, e foram motivo de escândalo muito cedo, com mentirosos como Ananias e Safira (At 5:1). Para complicar mesmo entre os líderes da Igreja encontramos desentendimentos, como entre Paulo e Pedro (Gl 2:11) e irmãos que se separaram por discordarem de projetos de expansão da Igreja mesmo sendo apóstolos (At 15:39). Assim, segue o salutar conselho de Josemar Bessa: “Não espere perfeição daqueles que seguem a Jesus. Eles são os únicos que admitem que necessitam desesperadamente de um Salvador” numa aplicação bastante livre do brado de Paulo (Rm 7:24).
Mudar de denominação resolve o problema apenas temporariamente – logo a rotina se instaura novamente, e depois de muitas mudanças ou a maturidade chega ou, entre uma Igreja e outra ficar na praça ou permanecer em alguma comunidade, decepcionado e frustrado, mas por acomodação ou por vergonha de uma nova mudança. Motivos para decepção com a Igreja não faltam – desde que se olhe para a Igreja militante e deixe de olhar para aquele que é a razão da Igreja, o Senhor Jesus, autor e consumador da fé (Hb 12:2).

segunda-feira, 2 de abril de 2018

DA CRUZ ELE FEZ SEU TRONO

Mensagem dominical na Igreja Presbiteriana de Paragominas, 01 de abril de 2018

VERDADES FUNDAMENTAIS QUE NÃO PODEM SER ESQUECIDAS POR NENHUM CRISTÃO

Esta semana foi a semana da páscoa. Muita festa, muita decoração nas lojas, muito chocolate. Grande parte da sociedade ocidental cristã celebra a páscoa. Para alguns é apenas um feriadão prolongado com viagens à praia, fazenda, visitar familiares e amigos. Também é uma excelente oportunidade para se deliciar com maravilhosos doces de chocolate geralmente em forma de ovo ou coelho. Teve até decoração em parque ambiental em uma capital do país – soltaram coelhinhos para lembrar aos visitantes que era época de páscoa. Vi muitos cristãos com talentos culinários oferecendo o resultado de seus dotes – ovo disto, ovo daquilo, ovo de colher, só faltou ovo de cobra... meu filho fez uma colagem para uma tarefa da escola e, dos 7 símbolos que disseram ser relativos à pascoa somente 2 eram bíblicos.

ADVERSÁRIOS DA VERDADE NA BÍBLIA

Sabemos que satanás é o pai da mentira (Jo 8:44) e nunca se firmou na verdade. Suas primeiras ações mentem sobre o caráter de Deus e sobre o destino do ser humano (Gn 3:4), e ele continua agindo da mesma maneira, com a mesma metodologia, buscando enganar os incautos. Sua luta contra a fé cristã é ferrenha, e ele sempre usou a artimanha da mentira, da enganação, do engodo, para tentar afastar os crentes do Senhor Jesus. Ele é tão hábil que chega a usar a própria religião, o anseio próprio do ser humano de adorar ao criador (sêmen religionis) para afastar o homem de Deus (Mc 13:22).

OS JUDEUS MENTIRAM NA PÁSCOA

Desde a prisão de Jesus a páscoa é uma época em que muitas mentiras são contadas a respeito de Jesus. Sua prisão foi baseada em testemunhas que reinterpretaram as palavras de Jesus para ter do que acusá-lo (Mt 26:60-61). Sua ressurreição foi escondida do povo judeu durante séculos com mais uma mentira (Mt 28:11-15 ).

OS JUDAIZANTES MENTIRAM SOBRE A PÁSCOA

Como se não fosse suficiente as mentiras dos judeus, logo surgiram mentiras entre cristãos-judeus que não romperam com todos os laços do judaísmo e negavam a suficiência de Cristo, exigindo dos cristãos gentios que guardassem os rudimentos da lei, tais como o sábado e a circuncisão, acusando Paulo de apostasia (At 21:20-21) e por causa disso aconteceu o primeiro concílio da Igreja Cristã, em Jerusalém.

HEREGES DENTRO DA IGREJA MENTIRAM SOBRE A PÁSCOA

Ainda na segunda metade do primeiro século de sua história a Igreja teve que lidar com duas heresias perigosíssimas, ao lado da negação judaizante da divindade de Jesus Cristo logo apareceram os que negavam a sua humanidade. E ambos negavam um ponto crucial da história de Cristo: a sua ressurreição. Por um lado uns diziam que Cristo permaneceu morto, sendo apenas o mais importante dos profetas ou até um ser de outra natureza, e foram combatidos pelo apóstolo Paulo, por outro havia os que negavam a sua ressurreição corpórea, e suas aparições eram de sua natureza angélica, nada tendo mais a ver com os homens, e João foi um dos seus principais adversários – embora ambos tenham falado contra os dois tipos de erros. De qualquer forma, mais uma mentira se apresentava para fazer esquecer o valor dos fatos que ocorreram naquela páscoa: Jesus ressuscitou (1Co 15.12-17 ).
Vamos fazer um rápido passeio pela historia para conhecer diferentes formas de negação do sentido pleno da páscoa para os cristãos[1], negando ou a divindade ou a humanidade de Cristo.

ADVERSÁRIOS DA VERDADE NA HISTÓRIA ANTIGA

MUITOS MOVIMENTOS HERÉTICOS MENTIRAM SOBRE A PÁSCOA

No séc. II Cerinto afirmava que Jesus era um homem normal, filho de Jose e Maria, que diferia dos demais homens por sua sabedoria e justiça. O Cristo celestial seria identificado como o Espírito Santo que desceu sobre este Jesus no batismo na forma de uma pomba, enviado pelo Pai, e ali ele foi ungido com o oficio messiânico. Mas este Cristo abandonou o homem Jesus antes de sua crucificação de modo que foi somente Jesus, o homem, quem sofreu e ressuscitou[2].
O docetismo caminhou em direção inversa, afirmando que Jesus apenas aparentava ser humano, mas não era um verdadeiro homem. Sua influência gnóstica faz-se sentir ao afirmar que o Espírito eterno não poderia jamais tornar-se matéria, carne[3] e afirmava que o corpo de Cristo era um fantasma e seus sofrimentos e mortes foram apenas aparentes. Se ele sofria, não poderia ser Deus, se fosse verdadeiramente não poderia sofrer[4].
O gnosticismo (uma filosofia altamente especulativa e sincrética do sec. II que reuniu elementos mitológicos, helenísticos, cristãos, persas e outros[5]) representou uma séria ameaça ao cristianismo no primeiro século afirmando que a matéria é essencialmente má, que Jesus não tinha um corpo real, sendo uma espécie de fantasma, sem carne e sangue reais, uma ilusão: parecia homem mas não era. O Filho de Deus, que era real, usava o Jesus humano como meio de expressão; a encarnação era apenas uma ilusão[6]. A morte física de Jesus não teria importância alguma porque o físico não era de nenhum proveito, era apenas matéria.
O adocionismo de Hermas[7] jamais fala de Jesus Cristo, ou logos, mas unicamente do Filho de Deus, como o Espírito Santo habitou na carne humana, de modo que a natureza humana é filha adotiva de Deus, e ainda apresenta o Filho de Deus como anjo supremo, preposto a seis outros[8]. Os ebionitas, com suas raízes hebraicas, prosseguiram como continuadores dos oponentes judaizantes de Paulo com sua forte ênfase no monoteísmo e negavam a divindade de Cristo[9]. Eles consideravam Cristo como um homem simples e comum, justificado apenas por seus progressos na virtude, segundo Eusébio de Cesaréia[10]. Os ebionitas reconheciam o fato histórico da vida e do ministério de Jesus, desde o seu nascimento até a morte na cruz. Aceitavam Jesus como o messias prometido nos Escrituras do Antigo Testamento, mas negavam que Jesus era o Filho de Deus segundo a sua natureza, isto é, o Deus encarnado, fundamento essencial da cristologia bíblica[11].
Outra forma de negação da pessoa de Cristo foi o monarquianismo em duas formas distintas: o modalista e o dinâmico. O monarquianismo modalista ensinava que o Pai e o Filho eram uma só pessoa, quando um agia o outro não existia. Para o modalismo o Deus que se revelou no Antigo Testamento era o mesmo revelado em Jesus Cristo[12].
O monarquianismo dinâmico, tem origem em um comerciante de couro chamado Teódoto de Bizâncio que dizia que “...até seu batismo, Jesus viveu como um homem comum, com a diferença de ter sido extremamente virtuoso. O Espírito, ou Cristo, desceu então sobre ele, e à partir daquele momento ele passou a operar milagres, sem, contudo, tornar-se divino – outros da mesma escola admitiam sua deificação após a ressurreição”[13].
Paulo de Samosata, bispo de Antioquia da Síria por volta de 260 d.C. deu prosseguimento a este tipo de entendimento, recusando-se a crer na plena divindade de Jesus Cristo, reconhecendo-o apenas como um homem comum, nascido naturalmente de Maria e José e o poder que habitava em Jesus Cristo não era fruto de uma possível divindade, mas do Logos que residiu nele à partir do seu batismo no Jordão capacitando a atos memoráveis e vida irrepreensível[14].
O arianismo começou com Ário, presbítero de grande prestigio e popularidade no final do sec. III[15] que sofreu a influência do subordinacionismo através de Luciano de Antioquia[16]. Paul Tillich entende que, no pensamento de Ário, somente Deus Pai seria eterno e não gerado. O Logos, o Cristo preexistente, seria mera criatura. Criado à partir do nada nem sempre existira[17].
O problema não acabou com os grandes concílios (Nicéia, em 325, Constantinopla em 381, Éfeso em 431, e Calcedônia em 451). Nem mesmo as Confissões de Fé e os Catecismos que surgiram durante o periodo da reforma deram fim à negação do pleno significado daquela páscoa em Jerusalém na primeira metade do séc. I.

ADVERSÁRIOS DA VERDADE NA IDADE MÉDIA

NA REFORMA MENTIRAM SOBRE A PÁSCOA

Durante a reforma surgiram posicionamentos que negavam algum ponto cristológico importante, como os adeptos de um movimento chamado de Reforma Radical que negava a plena humanidade de Jesus afirmando que ele teria trazido consigo seu próprio corpo do céu. Menno Simons ensinava que o Cristo humano não era um homem terreno. O tristemente famoso Miguel de Serveto, morto em Genebra, era adepto de uma forma de unitarismo modalista.

ADVERSÁRIOS DA VERDADE NA IDADE MODERNA

OS ILUMINISTAS MENTIRAM SOBRE A PÁSCOA

No periodo moderno o iluminismo questiona os dogmas da fé cristã negando-lhe qualquer aspecto espiritual deixando apenas significados morais e vê Jesus apenas como um mestre cujos ensinamentos são determinantes somente quando estivesse de acordo com os valores iluministas.
Imanuel Kant ensinava que nada que é metafísico é possível de ser conhecido, de modo que Deus não se relaciona com a história humana real e Jesus não poder ser o Deus do universo que se fez carne no tempo e no espaço. Cristo é apenas um ideal abstrato, e a Igreja deve crer neste ideal e não em uma pessoa real, divina e humana[18].
Friedrich Schleiermacher nega o Cristo da mesma substancia com o Pai e apresenta um Jesus humano com consciência de Deus (e não de ser Deus), uma consciência de total dependência filial[19]. Ritschl nega a necessidade de duas naturezas do redentor. Adolf von Harnack entendia que Jesus foi apenas um homem e considerava a doutrina do Logos como uma invasão da filosofia grega no cristianismo, que deformou e desfigurou o verdadeiro homem que foi Cristo.
Rudolf Bultmann admitia o que a Igreja anunciava sobre a existência e ressurreição de Cristo como um conto ilustrativo, uma representação mítica de sua vitória sobre uma vida sem autenticidade, negando tudo o que se refere à sua preexistência, filiação eterna, encarnação, nascimento virginal e a cruz como um sacrifício vicário ou a ressurreição pessoal.

AINDA HÁ ADVERSÁRIOS DA VERDADE EM NOSSOS DIAS

Para completar o quadro, basta observamos duas coisas: a maioria das formas de negação do Cristo das Escrituras continuam presentes em nossos dias, e, também, veja como a páscoa é lembrada hoje no país que tem mais cristãos no mundo. Tem de tudo, mas cada vez menos de Cristo. E a páscoa do mundo, com muito chocolate, coelho, um pouco de peixe aqui ou ali, mas cada vez mais longe da verdade evangélica, cada vez mais a cruz vai sendo esquecida. E mesmo entre os que se lembram da cruz, e, devo admitir, são muito bons ensinando, ainda há aqueles que querem que a páscoa (junto com o natal e outras festas cristãs) sejam esquecidas para sempre.
É por isso que nós, cristãos, precisamos nos lembrar, e só assim lembrar ao mundo, três verdades fundamentais que não podem ser esquecidas por nenhum de nós, em dia nenhum, e muito mais especialmente nestes dias. Vamos ler uma pequena porção da Palavra de Deus e ver o que ela nos ensina sobre a verdadeira páscoa.
1 Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.
2 Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.
3 Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado,
4 a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.
Rm 8:1-4

CRISTO RESSUSCITOU PARA DAR VIDA AO HOMEM

2 Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.
A primeira verdade que certamente você já ouviu muitas e muitas vezes é que Cristo ressuscitou. Você só está aqui porque ele ressuscitou. Talvez você esteja questionando: porque começar a falar à partir da ressurreição? Por um motivo muito simples: sem a ressurreição nossa pregação seria vã e mentirosa. Sem a ressurreição ainda estaríamos condenados por causa dos nossos pecados. Sem a ressurreição não teríamos qualquer esperança de perdão e paz com Deus (1Co 15.12-17). É preciso anunciar que a morte não foi capaz de vencê-lo. A ressurreição pressupõe a morte de Cristo, e é por ela, por sua morte substitutiva e sua ressurreição gloriosa que podemos receber os dons que Ele veio nos dar, dons que nenhum homem poderia alcançar porque para ele a morte não era o fim, mas era o cumprimento de um propósito eterno e sua ressurreição garante a aprovação de Deus que dá, por meio dele, ao pecador a verdadeira vida.

A RESSURREIÇÃO É UMA GARANTIA DA NOSSA RESSURREIÇÃO

A ressurreição de Jesus é, antes de qualquer outra coisa, a garantia de nossa própria ressurreição (1Co 15:20) pois Cristo é o primeiro, é o primogênito entre muitos irmãos (Rm 8:29). Se Cristo não houvesse ressuscitado nenhum de nós teria qualquer razão para esperar algo além da morte – e das consequências eternas dela.

A RESSURREIÇÃO É UM ATESTADO DA VERACIDADE DE JESUS

A ressurreição de Jesus é, também, um atestado de que ele é Senhor da história e sua Palavra é verdadeira, é uma grande motivação para seus discípulos que podem confiar em sua Palavra, pois ele jamais deixou de cumpri-la, e assim como ele não apenas falou sobre sua morte como garantiu a sua própria ressurreição (Jo 2:22) também prometeu um lugar na casa do Pai para os seus, bem como voltar para buscá-los (Jo 14:2-3).

A RESSURREIÇÃO É UM FATO HISTÓRICO INCONTESTÁVEL

A ressurreição de Jesus faz parte de uma série de fatos históricos (At 2:32) que não puderam ser contestados por ninguém no séc. I (1Co 15:6) com exceção dos judeus que pagaram aos soldados para mentirem a respeito da ausência do corpo do mestre no túmulo (Mt 28:11-15). Ninguém se levantou para contestar a ressurreição de Jesus, não há documentos da época dizendo que os discípulos estavam mentindo, eles não foram perseguidos por serem mentirosos, mas porque não queriam abrir mão da verdade e, mais ainda, a própria disposição dos discípulos de morrerem por esta verdade mostra que eles tinham plena convicção daquilo que anunciavam, porque a fé que uma pessoa tem pode ser medida não pelo que ela ganha por crer, mas pelo que ela está disposta a perder para manter sua firmeza.

A RESSURREIÇÃO ANUNCIA SEU SENHORIO SOBRE A VIDA E A MORTE

Falar da ressurreição de Jesus é necessário porque nós sabemos que ele é o autor da vida (At 3:15), aquele que criou todas as coisas e por meio de quem todas as coisas vieram a existir, e, por isso, tinha autoridade para dar a sua vida (você pode dizer, isto qualquer um pode fazer) mas também para retomá-la (não te aconselho a fazer o teste deste quesito). Só ele pôde dizer e fazer isto (Jo 10:18) e disto somos comissionados como suas testemunhas (At 3:15).

A RESSURREIÇÃO É A RAZÃO DA ESPERANÇA DO CRISTÃO

Falar da ressurreição de Jesus é falar de esperança, porque somente por causa da ressurreição de Jesus Pedro pôde advertir os judeus do que eles fizeram sem, no entanto, fazer apenas uma acusação, verdadeira (At 5:30) – pelo contrário, fez um chamado ao arrependimento, ao perdão e à vida (At 2:38) por intermédio de Jesus Cristo. Não podemos nos esquecer que fomos exortados a dar a todos a razão da esperança que temos (1Pe 3:15). Agora que aprendemos que Cristo ressuscitou, precisamos lembrar que isso só foi possível porque ele se fez homem justamente para morrer. Porque?

CRISTO SE FEZ HOMEM PARA MORRER EM LUGAR DO HOMEM

3 Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado,
Eu sei que você já ouviu isto antes, e certamente muitas vezes, mas aquilo que é bom pode e deve ser revisitado muitas e muitas vezes. Você sabe que, num monte escalvado chamado gólgota (o monte da caveira, um nome bem sugestivo para designar o lugar de suplício de condenados à morte na cruz) três homens foram crucificados numa certa sexta-feira sem qualquer outro significado além de ser o dia da preparação dos judeus para o dia que realmente importava, o grande sábado pascal. Você já parou para pensar que foi a ressurreição de Cristo só foi possível porque houve este momento? Você já parou para pensar que a ressurreição de Cristo só aconteceu porque ele, muitos anos antes, nasceu numa vila da Judéia chamada Belém. Ali o Verbo Eterno de Deus, o unigênito do Pai se fez carne (Jo 1:14) com o propósito de viver uma vida semelhante às nossas, com as mesmas experiências (Fp 2:7-8).
Mas quem é este Jesus de quem tanto falamos? O que ele é? Se quisermos, de fato, ter uma correta compreensão do significado dos eventos daquela semana pascoal precisamos conhecer algumas verdades a respeito de Cristo.

ELE É A SEMENTE PROMETIDA À MULHER

Pode parecer desnecessário lembrar isto, mas Jesus é o cumprimento de todas as profecias messiânicas, desde a primeira, quando Deus prometeu que enviaria um da “semente da mulher” para esmagar a cabeça da serpente (Gl 3:16). Este descendente, diz a Escritura, é o Senhor Jesus que veio e, de uma vez por todas, derrotou o diabo e o expôs publicamente ao ridículo como um inimigo derrotado e incapaz de levantar-se (Cl 2:1).

ELE É O PRÍNCIPE DA PAZ ANUNCIADO POR ISAÍAS

Jesus se fez homem, nasceu de uma mulher (Is 7:14), veio cumprir a profecia de Isaías a respeito de um menino que era, ao mesmo tempo, pai da eternidade e príncipe da paz. Jesus é o descendente de Davi que se assenta no trono eterno de Deus, cujo reino não tem fim (2Pe 1:11) e é capaz de dar ao seu povo uma paz que não pode ser encontrada no mundo (Jo 14:27), paz que pode ser sentida e vivenciada mesmo em meio à mais terrível guerra (Sl 27:3).

ELE É O MESSIAS QUE RESTAURA SEU POVO

Israel carregava como uma de suas principais bandeiras a esperança de que o escolhido de Deus, o ungido do Senhor, viesse para inaugurar o seu reino. Esta esperança messiânica foi deturpada ao longo da história, e, quando ele veio para o que era seu, mas eles não o receberam (Jo 1:11) mas nem por isso ele deixou de redimir o seu povo, e àqueles que o receberam deu-lhes a bênção maravilhosa de serem tornados filhos de seu Pai (Jo 1:12) pelo contrário, ele criou um povo que aguarda a manifestação de sua glória e é exclusivamente e obedientemente seu (Tt 2:14), sua propriedade exclusiva (1Pe 2:9), uma nação que não podia ser limitada às fronteiras geopolíticas com o propósito de desempenhar uma missão mundial: serem suas testemunhas em todas as nações (Is 43:12) como uma grande nação de embaixadores chamando os homens a se reconciliarem com Deus.

ELE É O CORDEIRO DE DEUS QUE TIRA O PECADO DO MUNDO

Em dias de grande popularidade do Lepus cuniculus, embora eu não tenha achado nenhuma espécie que coloque ovos feitos de chocolate, é importante que lembremos de um dos símbolos mais singelos do Cristo: o cordeiro de Deus, o cordeiro sem defeito que tira os pecados do mundo (Jo 1:29). Todo o simbolismo dos sacrifícios do judaísmo apontavam para Jesus, o cordeiro de Deus, morto antes da fundação do mundo por cujo sangue cada pecador que foi salvo foi remido dos seus pecados (1Pe 1:18-21).

REI GLORIOSO E JUIZ

Não podemos nos esquecer que foi por causa do penoso trabalho de sua alma (Rm 5:6-8) que o pai lhe deu a muitos como despojo, isto é, foi na cruz que, já sendo detentor de glória desde o princípio (Jo 17:5) Cristo fez-se propiciação pelos pecados de pecadores indignos (Rm 3:25), inimigos dele próprio. Este mesmo Jesus que veio em humilhação voltará revestido de glória, para julgar vivos e mortos, e retribuir a cada um segundo as suas ações (Ap 22:12), podendo destinar a quem quiser tanto para a vida quanto para a morte eterna (Mt 25:41).

CRISTO MORREU PARA PAGAR O DÉBITO EM LUGAR DO HOMEM

3 Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado,
Você já ouviu esta noite que Jesus ressuscitou. E é claro que você também já ouviu que Jesus Cristo morreu. E também já deve ter ouvido que ele morreu em lugar de pecadores. Não é demais lembrar que Cristo morreu da maneira que era devida a cada homem em virtude do pecado – mas Ele não tinha que morrer. Thomas Watson afirmou que Jesus foi com mais boa vontade para a cruz do que o pecador vai ao trono de graça. Sua oração no monte Calvário fala do seu maior desejo: cumprir a vontade de seu Pai (Mt 26:39) e a vontade de seu Pai era que ele salvasse todos o que o Pai lhe deu (Jo 17:12) e por amor ele não voltaria atrás, ele prosseguiria dando a sua vida em favor dos seus amados (Jo 15:13) não importando o custo que isto representasse (Jo 13:1).

A MORTE DE JESUS NA ETERNIDADE

A morte de Jesus foi decretada na eternidade, anunciada no seu nascimento e não ocorreu antes do momento exato e nas circunstâncias precisas determinadas por Deus. A Palavra de Deus afirma que a morte de Jesus não foi, em momento algum, um acidente. Já mencionamos que Ele é o cordeiro de Deus morto antes da fundação do mundo.

A MORTE DE JESUS ANUNCIADA EM SEU NASCIMENTO

Assim que o menino nasceu o seu destino foi lembrado (Lc 2:34-35), para que se manifestem os pensamentos de muitos corações), e o próprio Jesus disse que veio a mundo para dar a sua vida em resgate de pecadores (Mc 10:45).

A MORTE DE JESUS CONCRETIZADA NO TEMPO DE DEUS

Mas a morte de Jesus não aconteceria no momento desejado pelos homens (Jo 7:30), mas somente quando sua hora realmente houvesse chegado (Mt 26:45). Mesmo que os povos acreditassem que poderiam fazer algo contra o ungido do Senhor (Sl 2:1-3) eles nada poderiam fazer antes daquela páscoa, e dois dias antes dela Jesus lembrou que era chegado o momento dele ser entregue (Mt 26:) por desígnio e presciência de Deus (At 2:23) – porque só naquela páscoa o Senhor entregar-se-ia à mão dos pecadores (Jo 13:1) que, à semelhança de satanás contra Jó, só poderiam fazer o que a autoridade do Senhor lhes permitisse (Jo 19:11).

A MORTE DE JESUS FOI PARA TORNAR O PECADOR ACEITÁVEL A DEUS

Depois de tudo o que já disse anteriormente vale a pena insistir em um ponto: a morte de Jesus aconteceu para que o pecador pudesse, por meio dele, apresentar-se diante de Deus, pois seu sangue foi o que proporcionou este acesso ao Deus santo (1Jo 4:10). Para entendermos o que isto significa, precisamos lembrar das ordens de Deus a Moisés, para fazer a arca e o propiciatório (Êx 25:17-21) que ficaria sobre a arca da aliança e sobre o qual o sangue de um animal deveria ser derramado como elemento que substituía o sangue devido, que era o do homem, quando este se aproximava do local onde Deus falava com seu servo Moisés (Êx 25:22), mostrando que para que o pecador tivesse acesso a Deus um sangue deveria ser interposto entre ele e o Deus santo – e o sangue dos novilhos apenas tipificava o sacrifício de Cristo, único meio pelo qual o pecador pode achegar-se a Deus (Hb 10:20).

CONCLUSÃO

Qual é o significado da páscoa então? Para os judeus ela lembrava libertação da escravidão e a saída do Egito, para os cristãos ela tipificava a libertação da escravidão do pecado e a liberdade para servir a Deus. Os hebreus celebravam a páscoa olhando para trás, os cristãos entenderam a páscoa como uma preparação didática para a vinda do Cordeiro. Jesus uniu estas duas coisas ao celebrar a última páscoa (Lc 22:15) e ser ele próprio o sacrifício que inaugurou uma nova aliança, mediante o seu sangue remidor (Lc 22:20). Quero concluir para que você saia daqui sabendo três verdades fundamentais a respeito da nova aliança instituída por meio de Jesus Cristo.

A NOVA ALIANÇA É PARA TODOS

Quando Cristo instituiu a nova aliança, através do seu sangue, ele o fez pensando em cada tribo, língua, povo e nação espalhada pelos cantos da terra. Desde Jerusalém, onde a última páscoa foi celebrada, e a Ceia com ele foi estabelecida como uma ordenança para seus discípulos (Lc 22:19) até os confins da terra o Senhor tem aqueles que o Pai lhe deu e que a Igreja deve chamar (At 2:39). Quando Cristo ceou a ceia ele estava pensando em gente como a gente, gente da nossa terra, gente que convive com a gente e que também precisa de um salvador, como a gente um dia precisou. Ele pensava no povo que, do ponto de vista de um judeu do séc. I, estava, geograficamente, muito além dos confins da terra. Mas Cristo via mais alto, via mais longe, e, do alto da cruz, via o fruto do penoso trabalho de sua alma (Is 53:11) reunido aqui, neste lugar, agora, para ouvir falar que ele morreu para salvar pecadores, entregou-se para estabelecer uma nova aliança no seu sangue, que ele derramou o seu precioso sangue (1Pe 1:19) para salvar aquele que, por ser pecador, carregava em suas mãos a sua própria condenação (Os 14:).

A NOVA ALIANÇA NÃO É PARA QUALQUER UM

Do mesmo modo que a nova aliança deve ser proclamada para todos, para que todos se posicionem em relação a ela, se recebem o Messias e com ele a salvação, ou se o rejeitam, não recebendo nada além do que já possuem, isto é, permanecendo sob a ira de Deus, temos que afirmar que a aliança não é para qualquer um. Não há, é verdade, distinção de classe social, ou econômica, ou cultural, ou etnológica. Ricos, pobres, homens, mulheres, com a pele mais clara ou mais escura, na verdade não há distinção de espécie alguma (Cl 3:11) e todos podem entrar no reino dos céus – mas a nova aliança é somente para os discípulos de Jesus, somente para aqueles que o confessam como o Filho de Deus, privilégio que é dado somente àqueles que o recebem como seu Senhor e Salvador. A nova aliança não é para aqueles que rejeitam Cristo. Não é para quem o consideram um salvador ineficiente, um mestre de justiça, um teólogo da igualdade e da fraternidade, um homem muito elevado ou um anjo glorificado. A nova aliança é somente para aqueles que confessam a Jesus como seu salvador pessoal, seu mestre, seu Senhor, seu Deus. A nova aliança é para aqueles que entendem que, por seus pecados, toda a humanidade estava condenada e era necessário que Jesus morresse naquela cruz horrenda – para tirar os pecados do mundo.

A NOVA ALIANÇA É PARA VOCÊ?


Por fim, quero concluir com um oferecimento na forma de perguntas. Se você já compreendeu que a antiga páscoa deu lugar à nova aliança por intermédio de Jesus, eu preciso lhe perguntar: você já o recebeu? Você já foi feito filho de Deus? Você já passou da morte para a vida? Você já confessou Jesus como seu Senhor e salvador? Já o adorou como o seu Deus? Estes são fatos que ocorrem na vida daqueles que são o alvo da missão de Jesus, que veio para buscar e salvar o perdido. Estes fatos já são uma realidade em sua vida? Como você pode provar que Jesus é o seu Senhor, e que o ama? Como você pode provar que é um discípulo de Jesus? Segundo o Senhor Jesus você é amado de Deus e prova isto se o ama, e se obedece os seus mandamentos, se ama e caminha junto com seus irmãos, se transformações radicais ocorreram em sua vida a ponto de o pecado que lhe era fonte de prazer e alvo diário se torna repulsivo e você não deseja nem mencionar mais (2Co 4:2), se o velho homem foi destronado e você foi revestido do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento de Deus (Cl 3:9-10). Você sabe que naquela cruz tudo foi consumado, seu pecado foi pago, nada mais precisa ser feito para que você possa ser salvo, e ainda assim você sabe você precisa entregar tudo porque foi salvo, que precisa fazer tudo mesmo sabendo que seu tudo não pode te manter salvo, que sua salvação, sua perseverança e seu destino final foram selados naquela páscoa que deu lugar a uma nova aliança mediante a morte do testador (Hb 9:16). Como participar dela? Basta crer na obra perfeita e vicária do Senhor Jesus, o justo que morreu pelos injustos. Basta se lembrar e confessar que o que precisa ser lembrado não é a páscoa dos judeus (Jo 11:55), nem o coelho e o chocolate, mas o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, o seu pecado, para você ter vida, eterna e abundante.





[1] BERKOUWER, G.C. A pessoa de Cristo, São Paulo, JUERP/ASTE, 1983, p. 3.
[2] CAMPOS, Heber Carlos de, A Pessoa de Cristo: as Duas Naturezas do Redentor, São Paulo, Cultura Cristã, 2004, p. 140-141.
[3] GEISLER, Norman, Enciclopédia de Apologética, p. 286. Vide também CAMPOS, Heber Carlos de, A Pessoa de Cristo: as Duas Naturezas do Redentor, São Paulo, Cultura Cristã, 2004, p. 348.
[4] BETTENSON, Henry, Documentos da Igreja Cristã, p. 67.
[5] MATOS, Alderi de Souza, Fundamentos da Teologia Histórica, p. 38.
[6] COSTA, Hermisten Maia Pereira da, Introdução ao Estudo dos Credos e Confissões, p. 77.
[7] HOORNAERT, Eduard, Hermas no topo do mundo, São Paulo, Paulus, 202, p. 5.
[8] ALTANER, Berthold e STUIBER, Alfred, Patrologia, São Paulo, Paulinas, 1988, p. 67.
[9] BERKHOF, Louis, A História das Doutrinas Cristãs, p. 281.
[10] EUSÉBIO de Cesaréia, História Eclesiástica – Os Primeiros Quatro Séculos da Igreja Cristã. São Paulo, CPAD, 1ª ed. 1999, p. 105-106.
[11] BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática. Campinas: Luz Para o Caminho, 1990, p. 43. “Negavam a divindade de Cristo como o seu nascimento virginal. Na opinião deles, Jesus se distinguia de outros somente por uma estrita observância da lei, tendo sido escolhido como messias por causa de sua piedade legal. Ter-se-ia tornado cônscio de tal coisa por ocasião do seu batismo, quando recebeu o batismo, o que o capacitou a realizar sua tarefa, isto é, a obra de um profeta e mestre. Relutavam em pensar nele como alguém sujeito ao sofrimento e à morte”.
[12] FRANGIOTTI, Roque, História das Heresias (Séculos I-VIII). São Paulo, Paulus,1995. ““Para eles, distinguir, em Deus, pessoas diferentes na unidade da divindade, parecia-lhes admitir mais um Deus. Desse modo, Jesus Cristo seria um “segundo deus” (deutero theos). Não lhes era possível esta afirmação. Portanto, se só há um Deus, e se Jesus Cristo é Deus, então, só pode ser aceito se este Jesus-filho for o Pai, numa forma ou modalidade especial. Jesus, o Filho, segundo eles, não é pessoa distinta do Pai, mas a própria divindade, que, numa forma ou modalidade, é o próprio pai e numa outra forma ou modo é o Filho. Assim, foi o próprio Deus-Pai que, numa forma/modo desceu dos céus ao próprio seio de Maria; viveu neste mundo, sofreu, morreu e ressuscitou. Por esta razão os defensores desta doutrina receberam o nome de modalistas e patripassianos (pater = pai, passio = paixão, sofrimento, indicando que o Deus Pai sofreu na cruz) e ainda de hyopáteres (uioj = filho e pater = pai: o filho é o Pai).”
[13] KELLY, J.N.D. Doutrinas Centrais da Fé Cristã, São Paulo, Vida Nova, 1994, p. 86
[14] COSTA, Hermisten Maia Pereira da, EU CREIO no Pai, e no Filho e no Espírito Santo. São Paulo, Parakletos, 2002, p. 232. Cairns também trata do assunto dizendo que “Hábil e inescrupuloso ensinava que Cristo não era divino, mas apenas um homem que, pela justiça e pela penetração de seu ser pelo Logos divino, alcançou a divindade e o caráter de salvador. Esta tentativa de Paulo de Samosata e de outros, de sustentar um monoteísmo, tirou do cristão um salvador divino e equivaleu na Igreja antiga ao moderno unitarismo”.
[15] GONZALEZ, Justo L. Uma História Ilustrada do Cristianismo, A era dos Gigantes, São Paulo, Vida Nova, 1980, p. 90.
[16] ALTANER e STUIBER, Op.Cit. p. 220. FRANGIOTTI, Op Cit., p.86. “Se Deus Pai gerou o Filho, dizia, o que foi gerado teve um começo de existência, pois é evidente que houve (um tempo) quando o Filho não era. Daí conclui-se, necessariamente, que teve a existência à partir do não existente”
[17] TILLICH, Paul, A História do Pensamento Cristão, São Paulo, ASTE, 2000, p.86.
[18] Vide COSTA, Hermisten Maia Pereira da, Raízes da Teologia Contemporânea, São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 288 e BERKHOF, Louis, A História das Doutrinas Cristãs, p. 108.
[19] ELWELL, Walter, Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Ed. Vida Nova, São Paulo, p. 387.

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