Já vimos que a manifestação da graça de Deus naquele momento, por muitos das pessoas presentes, era absolutamente indesejada. Nem mesmo a maior interessada na graça de Deus a desejava. Isto não quer dizer que ela quisesse ser apedrejada. É que ela não ousava querer algo que era praticamente impossível de alcançar. A única coisa que ela esperava era uma morte rápida – embora a morte por apedrejamento não fosse, necessariamente, uma eutanásia. Diante da morte iminente ela não ousa esperar o perdão. Provavelmente tinha os olhos no chão, envergonhada. Se não ousava olhar para as pessoas, quanto mais esperar a sua compaixão. E, ainda mais difícil era, sendo tão pecadora, reconhecidamente adúltera, sabia-se absolutamente indigna de ter a atenção do rabi Jesus de Nazaré, que muitos já começavam a reconhecer como profeta após 400 anos sem que nenhum se levantasse em Israel.
E é justamente isto que é peculiar na manifestação soberana da graça de Deus – ela se manifesta onde não é esperada, como, por exemplo, no fato de Deus enviar Jesus para os seus e eles não o receberem [Jo 1.11 - Veio para o que era seu, e os seus não o receberam], provando o seu amor quando nada mais éramos do que seus inimigos [Rm 5.8 – Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores]. Enquanto os homens comem e bebem, Deus age em seu favor [Is 65.24 - E será que, antes que clamem, eu responderei; estando eles ainda falando, eu os ouvirei.] mesmo quando eles sequer esperam.
Quando evangelizava um povoado chamado Coragina, no município de Correntina, interior da Bahia, ao bater na porta de uma casa fomos gentilmente recebidos por um senhor que nos convidou a entrar para falarmos sobre Jesus. E logo ele afirmou conhecer muita coisa sobre Jesus, que lhe fora contada por um "compadre". Dentre as historias que ele contou uma ficou gravada na minha memoria. Afirmava ele que Jesus e os discípulos chegaram a um lugar em que uma "rainha estava sendo carregada diante do povo e os soldados a cercavam, apontando-lhe baionetas, porque ela havia dançado no meio da rua e o rei ficara aborrecido". Creio que a fantasia e o desconhecimento, misturados à cultura portuguesa popular, resultou nesta corrupção do episódio da mulher adúltera. Após vários minutos de conversa, saímos dali e eu apenas repetia para mim, silenciosamente: "Senhor, eles não sabem nada sobre o Senhor Jesus"... e ao meu coração Deus falava [Sl 27-8]: "Você já veio aqui falar de mim para eles"? envergonhado, só me restava dizer: "Não, Senhor". Eu não esperava, mas, ali, a graça de Deus foi me alcançar e, embora eu não estivesse escalado para ser o pregador naquela noite, procurei o pregador e lhe pedi para deixar-me pregar. De representante comercial a graça de Deus me transformou em pregador do evangelho, e, enquanto morei na região ia todas as semanas pregar naquele lugar.
Do mesmo modo que eu não esperava o chamado, aquela mulher surpreendida em adultério também não esperava a manifestação da soberana graça de Deus, mas ela veio, e não temos qualquer indício de que haja algum tempo ou lugar onde haja empecilhos para a sua manifestação. Creio que esta experiência é comum a muitos pecadores que se reúnem nas nossas igrejas semanalmente, porque a Escritura afirma que em Deus não há variação ou sombra de mudança [Tg 1.17].
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