quinta-feira, 1 de setembro de 2011

PORQUE UM PASTOR NÃO AMA A IGREJA?

0000022Cuidado, se você é um mercenário pode não gostar deste post.

Há algum tempo escrevi uma mensagem sobre qual deve ser a maior aspiração de um pastor [suprema aspiração pastoral], inclusive pregando-a por ocasião de um culto de ações de graças pelo profícuo ministério do Rev. Francisco Cristino dos Santos [mais de 45 anos de dedicação ao evangelho]. Crentes edificados, corações abençoados pela mensagem que, biblicamente, lembrava que o apóstolo Paulo tinha metas bem diferentes das que encontramos em alguns que, equivocadamente, foram ordenados ao sagrado ministério.

Paulo afirma, ao escrever aos crentes tessalonicenses que, embora pudesse solicitar dos mesmos sua manutenção, não o fazia porque sabia que este não é o aspecto principal a ocupar o coração de um pastor. Na sequencia Paulo lembra que os crentes recebessem o genuíno evangelho mesmo que isso significasse risco para sua própria vida e, embora fosse natural que as pessoas em favor das quais ele se esforçava o amassem – mas, mais do que isso, ele afirma que foram os tessalonicenses que se tornaram amados dele, isto é, ele, arriscando a sua vida, sem pedir nada em troca, amava a Igreja.

Paulo só podia ter estes elevados alvos como pastor, evangelista, apóstolo ou mestre porque era um fiel ministro de Cristo. Ele não era um mercenário. Não era um aproveitador ou um mercadejador. Não buscava vantagens pessoais. Não tinha como meta agradar pessoas. Seu alvo era agradar a Cristo – e a maneira de fazer isso era seguindo o exemplo de Cristo que amou-nos e amou-nos até o fim, sem nada exigir em troca.

No artigo anteriormente citado afirmo: Amor pelas almas – este é o alvo supremo do coração do pastor [Jo 15.13]. Foi por isso que Jesus veio [e ele é o bom pastor – Jo 10.11]. Só merece ser chamado de pastor quem ama as ovelhas – não por causa da lã, da carne ou do conforto... mas porque as ovelhas precisam de orientação, de direção, de cuidado, de tratamento [Lc 15.4-6]. O verdadeiro pastor é aquele que considera importante uma ovelha, ainda que perdida, ferida... é justamente esta que precisa de todo o esforço pastoral... é neste momento que o pastor demonstra seu amor. E é aí que a Igreja conhece a diferença entre o pastor e o mercenário [Jo 1.12-13]. O pastor se doa, o mercenário quer receber. O verdadeiro pastor é digno de viver do evangelho [I Co 9.14], mas o mercenário é apenas um mercadejador, e o seu galardão é apenas terreno [Mt 6.2].

O pastor, se em risco, enfrenta o perigo, pode até se machucar, como Davi ao enfrentar leões e ursos. O mercenário fere as ovelhas ou foge do perigo, como o escudeiro de Golias. Onde ele estava enquanto lhe cortava a cabeça? Um mercenário não aceita sofrer por ninguém. Ele é pago para fazer sofrer. E é só o que sabe fazer.

E a fidelidade? Ora, ela é requerida não apenas dos pastores, mas dos ministros do Senhor. O termo, originalmente, significava alguém que executava um serviço [ou o próprio serviço] rapidamente a mando de um senhor – daí a implicação de ter o sentido de servo. O diakonos era alguém que executava um serviço – qualquer que fosse ele. No âmbito cristão designa o servo do Senhor – em toda e qualquer função. É uma exigência para todos os que creem em Cristo, embora o apóstolo Paulo lembre que esta exigência é ainda maior [Tg 3.1] em relação aos despenseiros [apóstolos, bispos e outros mestres, supervisores do trabalho cristão]. Não se pode ser fiel ministro de Cristo e não ser um despenseiro fiel. Todos os cristãos são chamados para serem fiéis servos de Cristo. Entretanto, o apóstolo Paulo, ao escrever aos tessalonicenses, lembra que, em seu ministério, evidenciou esta fidelidade através do que é permanente: o amor.

Mas o titulo deste artigo traz uma pergunta que vamos buscar resposta à partir de agora: o que leva um pastor a não amar a Igreja, mais especificamente o rebanho que lhe foi confiado? Muitas respostas são possíveis, mas vamos nos ater a apenas algumas que podem ser depreendidas do texto paulino.

A primeira resposta possível é que, embora regularmente ordenado, embora tenha passado por todos os trâmites eclesiásticos, pode lhe faltar vocação, isto é, não ter no coração o chamado pastoral. Pode falar muito bem sobre as coisas de Deus. Pode explicar com facilidade e profundidade muitas coisas das Escrituras que são difíceis de entender à maioria dos cristãos [em muitos casos por culpa dos mesmos, relapsos no estudo das Escrituras – é claro que também há a dificuldade causada pela educação ineficiente, falta de treinamento em interpretação de texto, etc.]. Ademais, há casos em que tais ministros de si mesmos entregam não o evangelho de Jesus Cristo, mas o seu evangelho particular, uma intepretação particularizada, focando um determinado aspecto do ensino bíblico em detrimento de outros. E, quase sempre, quando se particulariza o ensino, faz-se isso de maneira intransigente e intolerante.

rainha-de-copasDesta maneira, chegamos ao segundo aspecto, uma atitude intolerante e intransigente sempre gera feridas – ao invés de cuidar das ovelhas dedica-se a reforçar seus próprios pontos de vista enquanto afasta de seu convívio quem não adira às suas ideias. Diferente do apóstolo Paulo, que estava disposto a dar a sua vida pelo seu rebanho, estes, se possível, exterminam toda a discordância – mesmo que em pontos pequenos, superficiais e não essenciais. Estão mais parecidos com a rainha de copas do conto de Lewis Carol [Alice no país das maravilhas] a gritar freneticamente e com a expressão facial franzida: "Cortem a cabeça! Cortem a cabeça"! Estes ministros de si mesmos [vou nomeá-los com o neologismo autoministros] querem apenas o seu próprio conforto. É para isso que serve a lã das ovelhas: tosam-nas mesmo no inverno, deixam-nas com frio para que eles próprios tenham conforto. A igreja é para eles não um campo em que possam perder a vida, como Paulo, mas um lugar onde ganham a vida. Sua meta: crescimento pessoal, profissional. Mais que ministros, mestres. Mais que servos, senhores.

Ora, a essência do ministério é servir. Um pastor só é pastor se ama seu rebanho e tem disposição para dar a sua vida pelas ovelhas. Do contrário, é apenas um mercenário que foge rapidamente quando as dificuldades aparecem. E foge para se preservar. Foge porque se ama mais do que ama a Igreja. É um pastor pela metade: em dias de festa, presente. Alegra-se [ao menos exteriormente] com os que se alegram, quando não está, interiormente, invejando o que alegrou ao outro. Mas, quando chega a hora de chorar com os que choram, prefere a fuga, diz-se ocupado, trancando-se em um castelo inexpugnável de ideias estéreis que satisfazem uns poucos apenas. Quando for perguntado: onde estava enquanto o rebanho sofria?, a resposta só poderá ser: "Tive medo, e me escondi". Mas certamente aparecerá no caixa para receber o valor que julga ser seu de direito. Faz da Igreja um trampolim para outras conquistas.

Ainda que a aspiração de um pastor seja amar a sua Igreja, entregando-lhe o verdadeiro evangelho ainda que com um alto custo pessoal, ele não o faz para ser amado. Ele o faz por amor a Cristo e à sua Igreja. Mas o mercenário não ama. Não ama a Igreja. Ou a Cristo. É possível que não ame nem mesmo ao evangelho. E até mesmo a si próprio. Mas ama a recompensa, ama o louvor dos homens. Quando estes lhe faltam, perde a paciência, perde o controle da situação. Agride quando pode, foge quando a situação aperta. E ainda coloca a culpa na Igreja, abandonando-a sem saber que Cristo continua a cuidar dela.

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