Mensagem pregada no culto dominical noturno, 26 de maio de 2012, na Igreja Presbiteriana em Gurupi, rua 13.
Quem é Apolo? E quem é Paulo? Servos por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um. Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um; e cada um receberá o seu galardão, segundo o seu próprio trabalho.
I Co 3.5-9
Diante da dificuldade dos coríntios entenderem que nem ele, Paulo, nem Apolo, nem qualquer outro pregador eram alguma coisa, por causa da infantilidade de seus corações, o apóstolo trata de abordar a questão por um outro ângulo. Não se trata mais do que os diversos pregadores que eram do conhecimento dos coríntios [talvez sequer conhecessem a Pedro pessoalmente], mas de quem eles eram, ou melhor, do que eles eram. Paulo retira a ênfase nas pessoas dos apóstolos para coloca-la na única pessoa a quem os coríntios deviam, realmente, seguir. Propositalmente Paulo pergunta: quem são Apolo e Paulo? São pessoas influentes? São pessoas poderosas? São pessoas de honra na sociedade? Que são eles, afinal? A ênfase de Paulo não está na personalidade, mas na função. Assim, poderíamos entender a pergunta da seguinte maneira: o que Paulo e Apolo são mesmo? Quem Paulo e Apolo eram os coríntios sabiam bem, tanto que disputavam pertencer-lhes como seguidores. Não entendiam que, quando Paulo conclamava: sede meus imitadores [I Co 4.16: Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores] e ainda [I Co 11.1: Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo] a ênfase era sempre no "eu sou de Cristo". Os coríntios e todos os demais deveriam imitá-lo naquilo que ele imitava a Cristo. Não era o Paulo que pecava que deveria ser imitado, mas o que lutava contra o pecado e cuja vitória sabia vir das mãos de Cristo [Rm 7.24-25: Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado]. Deixava para trás muitas coisas, e prosseguia para o alvo da soberana vocação [Fp 3.14: ...prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus]. A primeira atitude que Paulo espera dos coríntios é que sejam como ele e Apolo: servos de Jesus Cristo.
O CRISTAO É ESSENCIALMENTE UM SERVO
Enquanto os coríntios discutiam quem era maior, Paulo afirma que tanto ele [e ele em primeiro lugar] quanto Apolo eram apenas servos, escravos [Mt 20.26: Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva]. Não há grande escravo. Não há grande servo. Escravo é escravo, sem vontade, sem identidade própria, sem liberdade. Servo apenas serve. E só serve enquanto pode servir. Se Paulo pergunta quem ele é a resposta é significativa: nada. Ele não é nada. É um ninguém. É um servo. E apenas um servo inútil e, como tal, deveria se esforçar para cumprir o que o seu Senhor lhe mandou [Lc 17.10: Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer]. Se o trabalho foi feito, a honra não é dos escravos. Quem construiu as pirâmides? Será que Queóps, Quéfren e Miquerinos colocaram alguma pedra nelas? Certamente que não. Esta tarefa foi dos escravos. Mas onde estão seus nomes? Quem eram suas famílias? Onde moravam? Ninguém sabe. E os engenheiros, quem foram? Será que os faraós desenharam, calcularam e superintenderam o trabalho? Também é certo que não, engenheiros, capatazes, exatores, escravos... todos desapareceram na historia. Mas eles são os senhores, os construtores. É deles o nome, a honra de terem construído tais monumentos. Você pode dizer que isso foi há muito tempo. Tudo bem, vamos pensar mais recentemente. Quem matou milhões de judeus e levou a Europa à guerra? Você logo responde: Adolf Hitler. Mas Hitler matou mesmo milhões de pessoas ou foram seus soldados? Quem ganhou a guerra? Por acaso Churchil e Rooselvet foram para os campos de batalha? Sabemos que não. Algum deles desembarcou na Normandia? Também não. Mas são eles os heróis celebrados pela história. O grande bandido do início do séc. XXI foi Osama Bin Laden. Mas ele não derrubou avião algum. Tudo isto é para que compreendamos o principio que Paulo queria que os coríntios compreendessem: ele, Paulo, bem como Pedro e Apolo, eram apenas servos. Grande, digno de ser exaltado, seguido e adorado é o Senhor Jesus, o arquiteto, o proprietário, o dono de tudo e de todos [I Co 12.6: E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos]. É pra ele que os coríntios devem olhar. É para ele que nós devemos olhar pois é ele o autor e o consumador da fé [Hb 12.2: ...olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus]. A identidade de Paulo e Apolo dilui-se diante do que eles são. Paulo chega ao ponto de afirmar que se deixaria gastar pelos crentes [II Co 12.15: Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma. Se mais vos amo, serei menos amado?] À pergunta: "quem é Paulo"? Ele mesmo responde: apenas um servo. Não é quem, mas a quem ele serve [Gl 2.20: logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim]. Paulo e Apolo eram nada mais que instrumentos para que os coríntios conhecessem a fé cristã – e cada um dentro de uma capacitação e permissão do próprio Deus, conforme Paulo diz na frase "conforme o Senhor concedeu" individualmente a cada um, lembrando que a capacitação de Deus é segundo o seu querer, de acordo com o apostolo [Rm 12.6: tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a proporção da fé e I Co 12.4: Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo]. A chave para entendermos o pensamento de Paulo é: "conforme o Senhor concedeu a cada um" [de nós – Paulo e Apolo]. Foi o Senhor que os escolheu [Jo 15.16: Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda]. É o Senhor quem concede dons aos homens, é o Senhor quem concede obreiros para a Igreja – e isso não seria nada diferente em relação a Apolo e Paulo, que foram servos usados por Deus para que muitos coríntios cressem no Senhor – e cada coríntio que creu no Senhor, seja por intermédio de Paulo, seja de Apolo, creu porque o Senhor lhe abriu o coração para atender às verdades de Deus.
O CRISTAO É ESSENCIALMENTE UM TRABALHADOR
Parece a mesma qualificação anterior, mas sabemos que há servos que não executam os trabalhos para os quais foram designados – são inúteis e, no tempo próprio, receberão na justa medida do seu "não trabalho" [Mt 25.30: E o servo inútil, lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes]. Não é assim com Paulo e Apolo. Observemos que Paulo dá a Apolo a honra que Apolo tem. Ele não desejava aumentar o seu valor diminuindo a importância do trabalho de Apolo. Ele queria que os coríntios reconhecessem os três personagens envolvidos na existência daquela Igreja. É possível que você pergunte: três? Onde está o terceiro. Vejamos o verso 6, onde Paulo inicia uma comparação da Igreja com uma lavoura:
· Paulo: Toda lavoura, em algum momento, teve alguém que tomou a terra virgem e preparou-a e, no tempo próprio, depositou a semente no solo. Esta honra, em corinto, pertence a Paulo, o servo que planta, que tinha como propósito não edificar sobre fundamento alheio [Rm 15.20: ...esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio]. Alguns coríntios podiam não gostar de Paulo. Podiam discordar de seus métodos. Podiam achar seu ensino duro e áspero. Paulo era um empreendedor, um visionário, percebia onde deveria plantar, e o fazia. Queria ver igrejas nascendo e pagava o preço por isso. Mas os coríntios não poderiam, jamais, tirar-lhe a honra de ser o pioneiro, o fundador. Podiam ter muitos preceptores, muitos professores, mas apenas um pai [I Co 4.15: Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu, pelo evangelho, vos gerei em Cristo Jesus].
· Apolo: Apolo não poderia ser o pai da Igreja de Corinto. Ele não foi o fundador, não foi o pioneiro – como Paulo afirma neste mesmo capítulo, pai é apenas um, Apolo seria somente um dos preceptores, um servo que rega. Mas isto não diminui sua importância, pelo contrário, foi tão importante na historia daquela Igreja a ponto de muitos considerarem-no mais importante do que Paulo. Sua função foi dar continuidade ao trabalho iniciado sem cometer o erro de achar que tinha que começar tudo de novo. E não é difícil encontrar falhas – ou pessoas que apontem falhas em quem já foi. Mas a visão bíblica é que Apolo não suplantou o trabalho de Paulo. Ele o complementou – ele não era um empreendedor, sua função era dar continuidade ao processo iniciado e organizado por Paulo – o trabalho de Paulo era mais imediatista, o de Apolo demandava mais tempo. Às vezes um obreiro assume um campo desqualificando o trabalho de seu antecessor. Apolo não iniciou – encontrou uma Igreja viva e a regou, alimentou-a, cuidou dela.
· Deus: embora Paulo e Apolo sejam importantes, o mais importante personagem listado por Paulo não é quem planta ou rega, mas a fonte do crescimento da Igreja. Muitos agricultores lançam a semente na terra e nada colhem. Muitas lavouras são regadas e adubadas mas nada é produzido. O trabalho de Paulo e Apolo poderia ter sido em vão, aliás, nem haveria trabalho de Apolo se Deus não tivesse abençoado o trabalho de Paulo. Se Deus não tivesse dado crescimento ao trabalho paulino não haveria necessidade do trabalho de Apolo. Deus é o personagem principal: ele é quem dá o crescimento. A afirmativa de Paulo é que o crescimento veio de Deus, mostrando que o servo que planta não é coisa alguma, e tampouco o servo que rega o é. Embora não esteja escrito, o sentido da frase é que Deus é o único que realmente deve ser lembrado pelos coríntios como o autor da sua fé, pois é ele quem dá o crescimento.
O CRISTAO RECEBE RECOMPENSA POR SEU TRABALHO
O que planta e o que rega possuem o mesmo propósito – tem um trabalho a desempenhar para o seu Senhor. Este trabalho traz bênçãos àqueles diante dos quais são postos. Como em terra inculta, o trabalho do agricultor, ao plantar, e do preceptor, ao regar, são trabalhos que evidenciam um só propósito: alcançar o tempo da colheita. Foram escolhidos para desempenhar o seu trabalho e, desempenhando-o fielmente, receberem o galardão [Mt 25.21: Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor]. Paulo não esperava galardão de quem rega – assim como Apolo não deveria ansiar por receber o galardão do plantador. Um era preceptor, e como tal deveria ser honrado e lembrado. O outro era o pai, e isso não mudaria ainda que fosse essa a vontade dos coríntios. Eles não mudariam a natureza do que eram, não mudariam a historia, ainda que desejassem esquecê-la. Ambos receberiam de Deus o galardão de cooperadores. Embora o artigo não esteja explicito, ele está presente quando Paulo afirma que de Deus [nós] somos cooperadores. Ele está referindo-se a si mesmo e a Apolo, e a Paulo, e a todos os demais servos que se afadigavam na obra do Senhor. Foram escolhidos por Deus e colocados em funções diferentes para que, cada um a seu tempo e seu modo, executassem o serviço que, no final, se tornaria a lavoura de Deus. Como numa lavoura as atividades de plantar, manter limpa, regar e outras mais são atividades complementares, uns e outros, cooperando, levam a bom termo a obra completa [Ef 4.16: ...de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor]. Por causa deste trabalho Paulo podia olhar para a Igreja em Corinto e dizer: vocês não são um sonho, vocês são mais que um projeto, mais que uma terra a ser cultivada. Vocês são a obra acabada, a lavoura de Deus. Vocês não são terra, adubo, água, adubo e sementes. Vocês são uma lavoura, produzem frutos. Vocês não são um amontoado de material de construção. São mais que isso. São um edifício, uma obra completa na qual o Espírito Santo pode habitar e produzir frutos abundantes. Mas os coríntios só se tornaram o que eram porque o Senhor concedeu frutos ao trabalho de desbravadores que, com risco da própria vida, anunciaram o evangelho e alimentaram uma fé ainda incipiente, sem muito conhecimento, sem tradições religiosas e sem o conhecimento prévio das Escrituras. Mas cresceram, foram abençoados com dons, e se tornaram uma Igreja importante. Por duas vezes Paulo afirma que os coríntios eram a prova mais cabal da aprovação de Deus sobre o seu próprio trabalho [II Co 3.2-3: Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações]. O cristão é automotivado – ele é uma pessoa espiritual e sua motivação é interna, é essencialmente espiritual. Qualquer motivação que não seja espiritual na obra cristã será carnal. Homens carnais fazem coisas carnais, e obterão resultados carnais. Mas se a motivação for ver a gloria de Cristo, se a motivação for experimentar a bênção de Deus em todo quanto fizer [Cl 3.17: E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai].
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Amados, o que Paulo nos diz é que devemos trabalhar para o Senhor na certeza de que ele nos dará os resultados. Se formos fieis, se formos dedicados colheremos bons resultados [Sl 1126.6: Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes]. O trabalho é árduo, as dificuldades são muitas, mas devemos ser firmes, inabaláveis produzindo sempre, abundantemente não obra do Senhor, sabendo que, se fizermos realmente para glória de Deus, se trabalharmos fielmente, o nosso trabalho não será em vão [I Co 15.58: Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão]. Isto não é uma condicional. Isto é uma afirmação do apóstolo Paulo, alguém que tinha a experiência de trabalhar para o Senhor e ver os resultados do trabalho aparecerem pela graça de Deus [Ef 3.20: Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós], e não por seus próprios méritos [I Co 15.10: Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo].
segunda-feira, 28 de maio de 2012
HONRA AO CONSTRUTOR, NÃO ÀS FERRAMENTAS
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