Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo.
I Co 3.1
Devemos observar que a carta foi escrita à Igreja, para crentes, justificados em Cristo e em processo de santificação até que fossem glorificados. Não é para incrédulos que Paulo está escrevendo. São crentes, homens e mulheres que foram iluminados pelo Espírito – homens e mulheres espirituais, que já deveriam agir como espirituais. E este é o ponto. Eles não estavam agindo como espirituais. Isso influenciava os relacionamentos familiares, civis, as atitudes durante o culto e até a obediência aos seus mestres e pastores. E eles não deviam mais ser assim, deveriam estar caminhando para a maturidade espiritual [Hb 5.21: Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido - e também I Pe 4.3: Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias].
De maneira alguma Paulo admite a existência de três grupos de pessoas [incrédulos, crentes carnais e crentes espirituais]. Esta é uma heresia que surgiu no séc. II com os marcionitas, foi levada adiante por montanistas, maniqueístas e volta e meia é ressuscitada por quem não consegue entender corretamente este texto. Devemos enfatizar que para Deus só existem os regenerados e os irregenerados, os crentes e os incrédulos, os santos e os ímpios. Para que não haja dúvidas quanto a isto Paulo afirma que existem dois tipos de pessoas do ponto de vista de seu relacionamento com Deus: os homens naturais e os homens espirituais [I Co 2.14-15: Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém]. Os homens naturais são aqueles que ainda não participam da graça de Deus. Os homens espirituais são aqueles que já nasceram de novo. Não há meio termo. Não pode haver homem natural espiritual ou homem espiritual carnal, porque estas coisas são contraditórias em si mesmas [Gl 5.17: Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer].
Assim, admitimos que alguém que tenha nascido de novo ainda esteja se desenvolvendo espiritualmente, como acontece com toda criança. E é esta a percepção de Paulo em relação aos coríntios. Já eram crentes, eram espirituais, mas ainda não haviam amadurecido tanto quanto deveriam, apesar de terem sido enriquecidos em tudo em Cristo, tanto na palavra quanto no conhecimento [I Co 1.5: Porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento]. A questão não é que eles eram homens naturais, homens nos quais ainda prevalecia a lei da carne, mas que davam ocasião à carne para esta se manifestar livremente [Gl 5.13: Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor]. Ainda precisavam crescer, e muito, para atingirem a estatura de varão perfeito [Ef 4.13: Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo...]. Enquanto este momento não chegava, ainda era possível encontrar neles atitudes comuns às crianças.
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