1 Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, 2 completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. 3 Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. 4 Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros.
Fp 2.1-4
Esqueça por um momento tudo o que você tem aprendido ultimamente sobre o amor. Esqueça Hollywood... Esqueça a Rede Globo... Esqueça os romances... Esqueça os manuais de autoajuda e tudo o que amigos e amigas tem dito o tempo inteiro. Esqueceu? Não, claro que não? Mas imagine comigo o que sobraria se você deixasse de lado estas coisas? Como você definiria o amor? Como a Igreja pode sobreviver à dura advertência do Senhor Jesus a este respeito em Mt 24.12: “E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos”?
É provável que nunca se tenha falado tanto em amor como atualmente. O amor é a razão e a desculpa para todo tipo de atitude, algumas produzindo o bem, e outras produzindo verdadeiras tragédias. Por causa do “amor” pessoas matam, destroem, magoam. Quem ainda não conheceu um casal que se conhece e uma semana depois declaram amor eterno - e logo mais as únicas juras que se escuta são de amor próprio e de vingança?
Certamente não é deste tipo de amor que Jesus está falando. Então, que tipo de amor o Senhor Jesus espera encontrar em sua Igreja? Que tipo de amor ele espera que ela esteja exercitando? Sem dúvida o mesmo amor que ele lhe mostrou (Jo 13.34) e lhes doou (I Jo 4.19).
Em nome de um amor complacente a atitude mais comum é a que dizem ser politicamente correta, mas nada mais politicamente incorreto do que deixar o mal se alastrar sem correção. O fato é que é, momentaneamente, politicamente conveniente, mas os caminhos do homem, embora pareçam momentaneamente direitos, são caminhos amargos e que geram a morte (Pv 14.12).
Tenho afirmado que, sempre que alguém tenta ser politicamente correto, assumindo atitudes momentaneamente convenientes, está se colocando como biblicamente herético, pois o papel do crente é ser verdadeiro (Mt 5.37) mesmo quando todos preferem o engano (I Rs 22.14).
Quais são, então, as características da vitalidade espiritual da Igreja esperadas pelo Senhor em sua Palavra e mostradas pelo apóstolo Paulo neste texto? Lembremos que esta Igreja não nasceu com uma campanha evangelística de milagres e libertações com a presença de um “grande servo de Deus”... Primeiro porque Paulo estava em uma prisão, amarrado, açoitado e sujo. Segundo porque a ação de Deus para libertação de presos às amarras do pecado não exige, necessariamente, que milagres aconteçam. Terceiro, porque a palavra que Paulo usa para servo significa “escravo”, sem vontade e sem liberdade, e um escravo nunca é grande - grande é apenas o Senhor dos exércitos (Sl 145.3).
Repetimos então: quais são as características da vitalidade espiritual da Igreja esperadas pelo Senhor em sua Palavra? O primeiro bloco de características lembra-nos que a Igreja não pode criar esta comunhão, mas pode vive-la pela graça de Deus e batalhar por mantê-la (Ef 4.3).
I. Uma Igreja com vitalidade espiritual é norteada pela exortação da Palavra de Cristo.
Isto deveria ser extremamente óbvio para nós - só pode ser parte da Igreja do Senhor quem ouviu a Palavra de Cristo (Cl 3.16) porque a Igreja é composta pelos que foram comprados pelo sangue do cordeiro, remidos por seu sacrifício propiciador (I Jo 4.10) diante de quem os pecadores clamam: “Sê propício a mim, pecador” (Lc 18.13).
É pela exortação da Palavra de Cristo que nos conhecemos pecadores que precisam de arrependimento (Mc 1.14-15). Os apóstolos continuaram pregando esta mesma mensagem (At 2.38) que deve ser anunciada ainda hoje, pois este é o tempo oportuno (I Tm 2.6).
II. Uma Igreja com vitalidade espiritual é consolada pelo amor mútuo.
O verdadeiro amor não folga com a injustiça (I Co 13.6), mesmo quando ela é cometida por alguém a quem amamos. Não é falta de amor corrigir um irmão a quem amamos quando ele estiver incorrendo em erro - pelo contrário, é uma ordenança de Deus (I Jo 5.16).
Amor pode exigir confrontos para que a Igreja cresça e seja mais útil (Pv 27.17) e consiga cumprir o seu papel com maior proveito e menos dificuldades (Ec 10.10).
III. Uma Igreja com vitalidade espiritual vive a comunhão do Espírito.
O salmo 1 descreve com absoluta propriedade o que não é comunhão ao falar dos ímpios: embora juntos, eles não tem comunhão a não ser nos interesses momentâneos. Quando um ímpio resolve ir com outros para ferir a outrem seu interesse é no bem pessoal, e, mesmo que o companheiro caia ferido, ele saia com o bolso cheio do saque (Pv 1.11).
Observando literalmente o Sl 1.1 (Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores) percebemos facilmente que os ímpios se reúnem para traçar planos ímpios. Ficam à beira da estrada para ferir os incautos e depois se banqueteiam com a má sorte dos sofredores, não levando em consideração aquele que tudo vê e os julgará (Sl 113.6).
A comunhão do Espírito é fruto da obra do filho, do amor que os crentes sentem a Deus e uns aos outros. Sua busca não é pela satisfação de seus próprios interesses porque o egoísmo é um fruto da carne, uma característica de quem não ama ao próximo (Gl 5.14) quem assim age certamente não cuida das coisas de Deus (Is 58.3).
IV. Uma Igreja com vitalidade espiritual exibe relacionamentos santos.
Quem nunca foi ensinado a sorrir e ser amável mesmo com pessoas que lhe desagradam? O problema para os cristãos é que eles possuem uma ordenança divina que lhes manda amar ao próximo. E mais de uma vez eu já ouvi alguém dizendo: “Tudo bem que eu tenha que amar a fulano, mas isto não quer dizer que tenho que gostar da companhia dele”. Como é isto? Amar e não tolerar a presença? Amar e querer distância? Isto é inconcebível. Pensemos, e se Deus nos tivesse amado mas mantido Jesus à distancia (Rm 5.8)?
Isso não é amor, é hipocrisia. Dizer que ama ao Deus invisível mas não materializa este amor para o próximo, a quem pode ver é a mais absoluta hipocrisia (I Jo 4.20). Amar só de palavras é inaceitável aos olhos do Deus vivo. Seu desejo é que seus discípulos, após receberem a dádiva deste amor extraordinário (I Jo 3.1) se amem de fato, e não apenas em discursos (I Jo 3.18).
V. Uma Igreja com vitalidade espiritual experimenta verdadeira alegria.
É curioso que Paulo peça à Igreja de Filipos, uma Igreja nascida no cárcere, numa situação que muitos de nós provavelmente gostaríamos de riscar de uma possível biografia, que contribua para a sua alegria. Lamentavelmente nossa geração hedonista pensa apenas em si mesma, é auto motivada, autocentrada e só se realiza quando está auto satisfeita. É uma geração digna de participar do culto oferecido por Caim. Como ele não ficou satisfeito com o resultado do culto, matou o próprio irmão é ainda desafiou Deus dizendo-se responsável apenas pelo próprio bem estar (Gn 4.9).
O apóstolo João, ao falar da comunhão da Igreja, afirma que quando há real comunhão com o pai, mediante o Espírito pela obra do filho a alegria da Igreja é completa (I Jo 1.4). Cremos que Paulo foi inspirado pelo Senhor, e, se ele pede que a Igreja faça algo para que a sua alegria seja completa, podemos entender que estas ações da Igreja são desejáveis por aquele que o inspirou. Não há nada mais agradável aos olhos do Senhor que a união da sua Igreja (Romanos 12:5 assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros) experimentando a companhia mútua com alegria (Sl 133.1) e, por isso, o Senhor derrama sua benção sobre este povo (Sl 133.3).
CONCLUSÃO
Existem duas visões antagônicas a respeito da Igreja que carecem de equilíbrio. De um lado temos uma perspectiva altamente antropocêntrica, centrada nas necessidades e desejos dos homens. Não é a glória de Cristo o alvo a ser alcançado, mas o bem estar do homem. Tudo é feito pelo homem, para o homem e nada é tido que possa desagradar. Igrejas assim se esquecem de que o pecado do homem o afasta de Deus (Is 59.2) e mancha até mesmo suas melhores realizações e isto nada vale diante do Senhor de todas as coisas (Is 64.6).
O outro extremo é o que eu chamo de Igrejas antropofóbicas, isto é, tem medo de tudo o que possa agradar ao coração do homem. O problema com isto é que o Senhor satisfez necessidades reais de pessoas, e muitas delas voltaram para casa tomadas de grande júbilo e dando glórias a Deus, como o aleijado (Lc 5.25).
APLICAÇÃO
Como uma Igreja pode alcançar este ponto de equilíbrio e vigor espiritual? É curioso que Paulo não fala em momento algum de campanhas financeiras de oração, corrente dos 666 apóstatas, compra de patuás evangélicos e óleo Lisa do monte das prateleiras... Ele diz que uma Igreja que tem o Espírito como seu guia vai demonstrar seu vigor através de atitudes práticas:
I. Penseis a mesma coisa, isto é, ter o mesmo objetivo, a glória de Deus e ser uma benção na vida do próximo;
II. Tenham o mesmo alvo: ser uma expressão do amor de Deus em toda e qualquer circunstância;
III. Tenham uma só alma, isto é, uma mesma motivação, uma mesma força, um mesmo ânimo que vem do Espírito;
IV. Sintam o mesmo sentimento, alegrando-se com os que se alegram e chorando com os que choram, dividindo o que possuem para que ninguém tenha necessidade;
V. Ajam com altruísmo, buscando em primeiro lugar o bem do próximo porque este é o cumprimento da lei;
VI. Demonstrem humildade, segundo o exemplo do mestre que, sendo Senhor, lavou os pés aos seus discípulos;
VII. Sejam servos uns dos outros, pois quem quer ser grande no reino de Deus deve servir aos seus irmãos.
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