11 Em dia
subsequente, dirigia-se Jesus a uma cidade chamada Naim, e iam com ele os seus
discípulos e numerosa multidão.
12 Como
se aproximasse da porta da cidade, eis que saía o enterro do filho único de uma
viúva; e grande multidão da cidade ia com ela.
13
Vendo-a, o Senhor se compadeceu dela e lhe disse: Não chores!
14
Chegando-se, tocou o esquife e, parando os que o conduziam, disse: Jovem, eu te
mando: levanta-te!
15
Sentou-se o que estivera morto e passou a falar; e Jesus o restituiu a sua mãe.
16 Todos
ficaram possuídos de temor e glorificavam a Deus, dizendo: Grande profeta se
levantou entre nós; e: Deus visitou o seu povo.
17 Esta
notícia a respeito dele divulgou-se por toda a Judéia e por toda a
circunvizinhança.
Lc 7.11-16
Nas suas
pesquisas a respeito do ministério de Jesus Lucas ouviu os relatos de dois
milagres extraordinários de Jesus. A primeira foi uma 'quase ressurreição', no
caso, do servo do centurião quando vemos uma impressionante demonstração de fé
do centurião e seu respeito pelos costumes hebraicos.
Ele não
pede que Jesus entre em sua casa – porque um judeu não se relacionava com
gentios, não entrava na casa de gentios… mas, mesmo sendo um gentio, não deixa
de confiar na autoridade do Senhor.
Enquanto
os líderes judeus rejeitavam ostensivamente ao Senhor Jesus (Jo 1.11) e, não apenas não o
receberam como desejavam matá-lo (Jo 8.40).
Saindo
de Cafarnaum, Jesus dirige-se para Naim, uma cidade que ficava a cerca de 40km
de distância e era perto, também, de Nazaré, região que Jesus conhecia muito
bem. A cidade fora construída em um oásis, e seu nome significa
"agradável", "graciosa", e era ainda mais privilegiada por
estar nas proximidades do famoso monte Hermom, de onde descia uma neblina todas
as manhãs, formando um orvalho que regava as plantações da região.
Uma
caminhada de 40km pode ser feita em um dia por pessoas acostumadas, e isto
efetivamente era comum aos homens daqueles dias, habituados a percorrerem
grandes distâncias a pé. Se Jesus saiu de Cafarnaum pela manhã não seria de
estranhar que, apesar de acompanhados por mais pessoas (o que diminuiria o
ritmo da caminhada) chegassem a Naim por volta do entardecer – horário em que,
tradicionalmente, eram feitos os enterros, evitando, assim, o calor do inclemente
sol palestino.
Provavelmente
iniciando a caminhada de subida para Naim dá-se o encontro de Jesus com o
cortejo fúnebre. Jesus estava acompanhado de pessoas maravilhadas pelos seus
feitos, alegres por verem a glória de Deus sendo manifesta em seu meio, e
encontra outro grupo, em direção contrária, dirigindo-se para o cemitério.
Tristes, lamentavam a dor de uma viúva. O cemitério ficava fora da cidade, mas
relativamente próximo, encravados nas rochas a cerca de 10 minutos de
distância.
Neste
contraste vivo de sentimentos, entro os que se alegravam e os que choravam,
podemos perceber a compaixão de Jesus diante dos que sofrem.
A dor
daquela mulher não era uma dor comum. Era a dor de uma mãe que perdera seu
filho. Era a dor de uma mulher que perdera a esperança de amparo, pois aquele
era seu único filho. Era a dor de alguém que sabia que deveria contar com a
ajuda de parentes, pois ela mesma não poderia ter qualquer propriedade devido à
organização patriarcal judaica. Ela era, nas palavras de Paulo, verdadeiramente
viúva (I Tm 5.5).
Lucas
relata que Jesus se compadeceu daquela mulher, e resolveu intervir, ainda que
de uma maneira que possamos considerar estranha.
NÃO
CHORES
A
primeira fala de Jesus naquele momento de dor é: "não chores".
Ao manifestar sua compaixão de uma maneira diferente não quer dizer que Jesus
foi insensível à dor daquela mulher. Podemos afirmar, então, que não há
insensibilidade no Senhor Jesus.
Como
não?! Pode perguntar alguém mais apressadamente. Como não há insensibilidade ao
dizer para uma viúva, que já havia chorado a morte de seu marido, e agora
chorava a morte do único filho, para não chorar? Não era o último direito que
lhe pertencia? Chorar! Ela não podia mais nada. Os médicos não puderam fazer
nada. Como não chorar?
Ao dizer
para aquela mulher não chorar Jesus se apresentava como o consolo que ela
precisava. Com Jesus ao lado não havia necessidade de choro. Com o bom pastor
que ele era Jesus conhecia a dor daquela ovelha da casa de Israel (Jo 10.14).
Jesus lhe conhecia o coração. Ele conhece o coração dos homens, tanto para o
bem como para o mal (I Cr 28.9) e
certamente conhecia o coração daquela mulher. Como bom pastor ele sabia a sua
necessidade e, tendo-o como pastor, ela poderia ter a certeza de não ter mais
nenhuma necessidade (Sl 23.1).
Jesus
não é insensível porque oferece consolo àquele coração machucado. Jesus não é insensível
porque oferece consolo àquele coração amargurado. Jesus não é insensível porque
chama a atenção daquela mulher da sua dor para o consolo que ele tem
para lhe dar.
Jesus
demonstra a sua compaixão fazendo algo que um judeu não faria – algo que um mestre
religioso não faria. Ele faz algo que um sacerdote não faria, que um profeta
não faria, que um levita não faria – ele mostra a sua compaixão tocando no
esquife (Lv 21.11).
Isto
quer dizer que Jesus mostra a sua compaixão envolvendo-se ativamente com a dor
daquela mulher.
O amor
de Jesus não era de palavras, mas de fato e de verdade (I Jo 3.18).
Certamente
o rabino da cidade de Naim não havia tocado naquele esquife. Provavelmente
muitos dos parentes daquela mulher também não tocaram no esquife para não serem
considerados cerimonialmente impuros (Nm 9.6-7).
Mas o
santo não poderia ser considerado impuro sob qualquer hipótese. Mas, segundo a
lei, ele havia tocado em algo onde jazia um morto. E aqui temos a segunda fala
de Jesus, aparentemente desconexa com a realidade. Jesus fala para um morto
levantar.
LEVANTA-TE
É
provável que seus discípulos tenham achado aquilo o cúmulo. Ainda que eles
fossem testemunhas de que Jesus falara aos elementos e eles se aquietaram (Mt
8.26-27) pode ter lhes parecido demais ele, agora, falar com um morto.
Como
poderia um morto ouvir? Como poderia um morto atender? Como poderia um morto,
certamente desde várias horas, levantar-se? Imaginemos por um instante o olhar
estupefato daquelas pessoas. Como olharia para Jesus aquela mãe chorosa? Como
olhariam para Jesus os parentes e conhecidos do menino morto? Como olhariam
para Jesus os seus amigos e discípulos – ainda mais sabendo que havia muitos
que queriam apanhá-lo em alguma falha para condená-lo à morte? Como olhariam
para Jesus os seus inimigos, talvez pensando entre si: "chegou a hora,
pegamos ele"!
Acontece
que diante dele não estava um homem qualquer. Era um homem, sim, um homem e
verdade, semelhante a nós em quase tudo, exceto pelo fato de ser sem pecado (Hb
4.15) mas era também o Filho do homem, com poder para fazer aquilo
que só Deus pode fazer (Mt 9.6) e o único que
tem vida em si mesmo (Jo 5.26) dando-a a quem bem entender.
Jesus
fala com a autoridade de quem sabe ter o poder para ver sua ordem ser
obedecida. Não se trata ade uma oração – é uma ordem dada a um morto para que
ele recobre vida e ande, independente de quanto tempo a morte tenha chegado,
não há obstáculos para o poder vivificador de Deus (Ez 37.5-6).
Da mesma
maneira que Jesus determinou àquele morto que revivesse – e ele reviveu, ele
também tem poder, ainda hoje, para vivificar todo tipo de mortos – mortos
espirituais, mortos que andam em delitos e pecados, mortos como nós éramos,
mortos como muitos dos que andam conosco são.
Ninguém
esperava que aquele jovem se levantasse. Talvez ninguém espere que sua vida
seja mudada, que seu coração seja restaurado, que sua família seja reedificada.
Talvez
nem você espere mais qualquer coisa, como aquele jovem morto também não
esperava mais. Mas nem mesmo assim nem isso era impedimento para seu poder.
RESULTADOS
DOS ATOS DE JESUS
A ação
de Jesus, naquele lugar, produz alguns resultados que merecem ser anotados por
nós nesta ocasião:
Glorificação
ao Senhor Deus.
Todos –
discípulos, curiosos, seguidores, familiares, religiosos ficaram possuídos de
grande temor. Por causa do milagre feito por Jesus o nome do Senhor foi
glorificado, o povo temeu ao Senhor. Em Naim, lugar agradável, onde a tristeza
havia penetrado sem Jesus, volta a reinar a alegria desde o momento em que o
Senhor se faz presente.
Reconhecimento
de Jesus como profeta.
De
tempos em tempos alguém aparecia na Palestina proclamando-se profeta, mas,
desde Malaquias, Deus não enviava nenhum. Os que se levantavam eram enviados de
si mesmos, falavam daquilo que produziam em seu próprio ventre (interior) eram
falsos – mas não aquele, nenhum havia feito o que ele fazia. E o povo
reconheceu a visitação de Deus.
Divulgação
da chegada do reino de Deus.
Mateus
registra que o Senhor Jesus disse aos seus ouvintes que o reino de Deus havia
chegado (Mt 12.28). Não poderia haver mais
dúvidas: cegos enxergando, surdos ouvindo, paralíticos andando e mortos
ressuscitando. Sim, não havia dúvidas, o reino era chegado (Lc 7.22).
CONSIDERAÇÕES
PESSOAIS
Aprendemos
com o relato de Lucas que, apesar das palavras e atos do Senhor Jesus
aparentemente não fazerem sentido, precisamos entender que Jesus sabe o que
está fazendo, e que nada foge ao seu domínio sobre os elementos e sobre a vida.
Uma vez que temos um Deus assim, que se compadece das nossas fraquezas, podemos
confiar-lhe absolutamente todos os momentos de nossa vida. Tanto no barco
quanto no deserto, na festa ou no túmulo, na família ou no trabalho.
Se você
tem alguma área na sua vida que você ache que não precisa de Jesus, ou que ele
não pode fazer nada para te ajudar, o problema não está no tamanho do problema,
nem mesmo em Jesus – o problema está no entendimento que você tem de Jesus.
As
pessoas entendiam que Jesus não podia ter dito "Não chores"…
mas ele consolou àquela mulher de uma maneira demasiada simples, mas objetiva.
A
tradição mandava que nenhum religioso deveria tocar no esquife – mas ele tocou
porque se importava com o motivo da dor daquela mulher – ali estava o seu
tesouro.
Ninguém
considerava normal falar com um morto, mas ele não apenas falou como
ordenou-lhe que se levantasse – e foi atendido porque ele é o Senhor da morte e
da vida.
Não há
nada que esteja além do poder do Senhor Jesus. Mesmo a angústia mais íntima, a
dor mais lancinante, o desespero mais absoluto, o desamparo mais insuportável
está aquém do poder de Jesus em solucioná-lo com sua presença e sua palavra.
Ele não pede nada em troca. Ele não obriga ninguém a fazer nada. Apenas diz:
"se creres, verás a glória de Deus" (Jo 11.40).
Aquelas
pessoas, em Naim, viram, e no lugar agradável onde sofriam tudo voltou a ser
alegria e prazer – graças a Deus!
Não
estou chamando você para trazer sua angústia – estou chamando você para confiar
em Jesus de maneira absoluta, para confiar a ele toda a sua vida, todas as suas
aspirações, todas as suas motivações – e, faça o que fizer, ande onde tiver que
andar, ande como se ele estivesse do seu lado (e efetivamente está) dizendo:
“não temas, não chores, não desista. Eu estou aqui“ (Mt 28.20).
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