OS
12 FILHOS DE JACÓ
No
intervalo entre a sua fuga de Canaã com medo de Esaú e o retorno, décadas
depois, Jacó casou-se com Lia e Raquel, e cada uma dessas lhe deu por concubina
uma de suas escravas. A serva de Lia chamava-se Zilpa, e a de Raquel era Bila.
Em
nenhum momento a poligamia é defendida nas Escrituras, aliás, o primeiro
polígamo foi Lameque, filho de Metusael, filho de Meujael, filho de Irade,
filho de Enoque, filho de Caim. Lameque casou-se com Ada e Zilá (Gn 4.19). Todas as famílias polígamas encontradas nas Escrituras apresentam
algum padrão de problemas (Abraão - Gn 21.8-10; Elcana).
Mas
a prática estava enraizada na cultura oriental - os filhos dos homens (Caim) já
haviam se misturado com os filhos de Deus (Sete) antes do dilúvio, e ninguém via como problema quebrar o
mandamento monogâmico (Gn 2.23-24).
Isto
nos leva a concluir que uma prática socialmente aceita pode não refletir de
maneira alguma a vontade de Deus, pois ele nunca pretendeu que os homens
tivessem concubinas ou mais de uma esposa (Mt 19:4-5), bem como também nunca pretendeu que os
casamentos se dissolvessem (Mt 19.6) e permitiu
certas práticas porque estava educando o homem (Mt 19.7-8).
Podemos
agradecer a Deus por, pelos séculos, usar homens para fazer sua obra apesar da
natureza e práticas pecaminosas deles.
As
leis previam que filhos extramaritais não seriam legitimados, mas o concubinato
(que não dava direitos de esposa às servas) era tido como um meio legítimo de
perpetuar o nome da família, que era transmitido patriarcalmente (os casamentos
eram muito próximos consanguineamente - o que talvez explique o alto índice de
infertilidade que encontramos nos primeiros textos bíblicos).
Jacó
teve, então, doze filhos. Vejamos o gráfico comparativo de acordo com a ordem
de nascimento e as suas respectivas mães:
Desta
maneira, Rubem, Simeão, Levi, Judá, Dã, Naftali Issacar, Zebulom (além da
filha, Diná) eram todos filhos legítimos (de acordo com a lei) de Lia. Já Gade,
Aser, José e Benjamin eram filhos de Raquel. Estes darão origem e nome às doze
tribos de Israel, com uma importante mudança pois a tribo de Levi foi separada
para o sacerdócio e os filhos de José (Efraim e Manassés) darão nome às
respectivas tribos, ficando assim: Ruben, Simeão, Levi (Manassés), Judá, Dã,
Naftali, Gade, Aser, Issacar, Zebulom, José (Efraim) e Benjamim.
Parece
que era uma característica dos patriarcas não aprenderem com os erros
cometidos por seus pais. Isaque cometeu o mesmo erro (Gn 26.7) que seu pai (Gn 12.13) a
respeito do parentesco com suas respectivas esposas. Isaque cometeu o erro de
favorecer um de seus filhos, gerando animosidade em seu lar, pois o
desfavorecido contava com o favor da sua mãe (Gn 25.28).
Assim,
Jacó, que era o preterido por seu pai, agora cometia o erro de ser parcial com
José, que já contava com o favor de Deus, recebendo visões e revelações. Alguns
episódios vão acirrar os ânimos entre os irmãos:
1. Quando
Jacó busca o favor de Esaú o último dos filhos a ser enviado com a mãe foi
Raquel (Gn 33.2);
2. José
contava ao seu pai o que os seus irmãos faziam, com destaque para os filhos de
Zilpa e Bila (Gn 37:2);
3. Jacó
demonstra sua preferencia por Jacó fazendo-lhe uma roupa especial (Gn 37.3);
4. José
teve um sonho em que os feixes colhidos por seus irmãos se inclinavam para o
seu, um sinal de suserania - lembremos que José era o 11 no direito de
primogenitura (Gn 37.8);
5. O
segundo sonho de José, em que o sol, a lua e as estrelas se inclinavam perante
ele (Gn 37.9-11).
Em
uma de suas inspeções dedo-duro José saiu para ver o que seus
irmãos mais velhos estavam fazendo com os rebanhos no campo, e estes, vendo ali
uma oportunidade, conspiraram matá-lo (Gn 37.18-20). Rúben, o primogênito, num senso de responsabilidade, resolve
intervir para que ele não seja morto (Gn 37.21-22)
Tomando-lhe
a roupa com o intento de usá-la para justificar seu desaparecimento perante o
pai, lançam-no numa cisterna vazia, e se assentam, despreocupadamente, para
comer pão (Gn 37.25 - cp. com a figura do Salmo 1).
Lembremos que os mercadores eram filhos do filho rejeitado de Abraão, por isso
chamados de ismaelitas, e moravam na terra de Midiã, por isso eram chamados de
midianitas.
Os
mercadores levavam todo tipo de mercadoria, inclusive escravos, para o Egito -
Judá, também filho da rejeitada Lia, propõe que vendam o irmão pois assim não
precisariam mata-lo e ao mesmo tempo se livrariam dele (Gn 37.26-28).
Por
motivo não revelado Ruben não estava presente nesta negociação, ao chegar,
imagina que os irmãos o tivesse matado (Gn 37.29),
mas logo é informado do grande negócio e se acabam imaginando um
estratagema para enganar o pai, que passa, de filho rejeitado e enganador do
pai a enganado pelos filhos a quem rejeitara (Gn 37.31-32 - observe a ênfase em “teu
filho” e não “nosso irmão”.)
Depois,
midianitas venderam-no como escravo a Potifar (o capitão da guarda do faraó
egípcio). Que crime terrível! Pense em como aqueles homens eram sem coração e
impiedosos o suficiente para vender seu próprio irmão.
Eles
já haviam demonstrado sua dureza de coração quando Siquém, habitante de Canaã (Gn 33.18), se enamorou e acabou abusando
de Diná (Gn 33.2).
Siquém
era descendente de Cam (Gn 10.15-18), portanto, de uma linhagem que não deveria se
misturar com a família de Jacó. O problema que detectamos, aqui, mais uma vez,
é o perigo de se misturar com aqueles que não são parte do povo de Deus. A
proximidade é um grande perigo.
Quando
os filhos de Jacó tomam conhecimento do fato ficam irados (Gn 34.7) e quando Hamor, pai de Siquém, propõe
casamento eles aproveitam a oportunidade para, dolosamente, se vingarem (Gn
34.13-14) e, depois de circuncidá-los, aproveitam-se do período de
convalescença para mata-los (Gn 34.25).
Apesar
da indignidade destes homens, Deus não estava dormindo e, por sua graça, usa
até mesmo os atos maus dos homens que ele escolheu para glorificar o seu nome.
A maldade de seu coração foi u meio escolhido por Deus para, usando as
circunstancias (Rm 8.28),
executar seu plano de salvar o seu povo de uma grande fome que ele enviaria
sobre a terra (Gn 45.4-8) e usar o Egito como símbolo de libertação
e das provas da messianidade de Jesus (Mt 2.15).
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