Bate papo com os adolescentes da IP Xinguara, sexta, 25.04.2014
A rigor a bíblia não trata de
adolescência. Se fossemos dividir a vida em faixas à luz da bíblia teríamos
algo como o quadro que se segue:
Se a bíblia não trata da
adolescência, como vamos falar do assunto? Buscando princípios que norteiam a
vida do cristão em todas as
oportunidades de sua vida.
O QUE É A ADOLESCÊNCIA
A Organização Mundial de
Saúde analisa as fases da existência humana e propõe algumas classificações
que, de tempos em tempos, ela mesma se vê obrigada a mudar. Também leva em
consideração o que é a adolescência para o oriente e o ocidente, para o norte e
para o sul, para países ricos e com muita informação e países com menos informação
à disposição. Assim, definir a adolescência não é fácil, porque definir é
limitar e pode deixar de fora aspectos importantes da personalidade e da vida de alguém presente, mas em linhas
gerais, podemos dizer que a adolescência é:
· CRONOLOGICAMENTE a adolescência é subdividida em três fases:
o
PRÉ-ADOLESCENCIA – 10 a 12 anos, com experiências entre 9 e 13;
o
ADOLESCENCIA
– 13 a 16 anos, com experiências entre 11 e 18;
o
JUVENTUDE ADOLESCENTE – 17 a 21 anos, com experiências entre 14 e 23.
· FISICAMENTE a adolescência está baseada em evidências típicas
devido às mudanças hormonais normais, como modificação da estrutura óssea
(ombros mais largos nos homens, quadris para as mulheres), aparecimento de
pelos, mudanças na voz, alterações nos órgãos genitais.
· SOCIALMENTE cada comunidade determina quando um indivíduo deixa
de ser criança e passa a fase pré-adulta através de instrumentos sociais como
trabalho, festas demarcativas ou rituais de
passagem (bar mitzvah, 15 anos),
escolaridade.
· PSICOLOGICAMENTE a própria criança começa a definir a sua
personalidade adulta, com crises "de identidade" por não ser mais
criança nem ser adulta ainda. Desejo de ser independente e incapacidade de
arcar com as consequências.
COMO ENCARAR A ADOLESCÊNCIA
Todas as fases da nossa vida são temporárias, e, ao mesmo tempo,
precisam ser vivenciadas do ponto de vista da eternidade. Passamos a nossa vida
inteira tentando nos adaptar a nós mesmos e ao mundo que nos cerca – quando
estamos começando a entender o que somos nos vemos obrigados a mudar e entrar
numa nova fase. Isto é normal, só vamos parar este processo adaptativo (não evolutivo) quando formos
glorificados, chegarmos a ser o que devemos ser.
O grande diferencial da
adolescência é que as adaptações a que as crianças pré-adultas são submetidas
são bruscas, rápidas, variadas, múltiplas e muitas vezes desassistidas.
Não temos muitos modelos de
adolescentes nas Escrituras (Samuel? José? A menina escrava?), mas temos o
modelo por excelência, Jesus, do qual temos apenas um relato, com explícitos 12 anos. A idade da crise. Ainda não era
adulto, mas em breve seria inserido no mundo religioso adulto hebreu.
Lc 2.42-52
Quais eram as características
deste Jesus pré-adolescente?
JESUS, UM ADOLESCENTE QUE FREQUENTAVA OS
CULTOS
As crianças judias eram
alfabetizadas com a bíblia, e eram conduzidas às reuniões religiosas nas
sinagogas em suas comunidades – mas somente após completar 13 anos ela tinha
acesso aos sacrifícios no templo. A Escritura afirma que Jesus crescia debaixo
da graça de Deus (Lc 2.40: Crescia o
menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava
sobre ele). Também afirma que ele e sua família iam a Jerusalém todos os
anos para a festa da páscoa (Lc 2.41:
Ora, anualmente iam seus pais a Jerusalém, para a Festa da Páscoa).
Aos 12 anos e 1 dia a menina
era considerada bat mitzvah, filha
do mandamento, e o menino somente aos 13 anos e 1 dia, ao passar por uma
cerimônia chamada mazal tov (boa sorte). Esta viagem de Jesus ao
templo é a sua despedida da vida de criança, pois durante o ano ele seria
preparado para tornar-se oficialmente um bar
mitzvah (filho do mandamento, isto é, responsável por guardar, ele mesmo, a
lei). Antes desta idade, são os pais os responsáveis pelos atos dos filhos.
Depois desta idade, os rapazes e moças podem finalmente participar em todas as
áreas da vida da comunidade e assumir a sua responsabilidade na lei ritual judaica, tradição e ética.
Somente com o hábito de
cultuar a Deus Jesus poderia crescer em sabedoria e graça diante do Senhor.
Adolescentes só poderão amadurecer espiritualmente se estiverem constantemente submetidos ao ensino da Palavra de
Deus. Isto não quer dizer que sejam proibidos de ter atividades comuns aos
demais colegas, como estudos, esportes, passeios – sempre tendo como norte a
orientação bíblica de tudo fazer como para o Senhor (Cl 3.23: Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o
Senhor e não para homens – inclusive ele próprio).
JESUS, UM ADOLESCENTE CURIOSO E COMUNICATIVO
O que é um adolescente
típico? O que fala demais? O que se tranca em silêncio, emudecido? Sabe-se que nenhum adolescente é mudo quanto tem assunto. Jesus tinha assunto para
tratar com seus pais (Lc 2.49: Ele lhes
respondeu: Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de
meu Pai?) e até mesmo com os doutores da lei (Lc 2.46-47: Três dias depois, o acharam no templo, assentado no meio
dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. E todos os que o ouviam muito se
admiravam da sua inteligência e das suas respostas).
Mesmo o mais calado dos
adolescentes tem assunto para tratar
com alguém em quem confie e que tenha algo em comum. E talvez isto explique, em
parte, o mutismo de alguns adolescentes quanto aparecem na Igreja – não tem
vivência contínua na Igreja e acabam deslocados nas conversas, aparentando
serem arredios e afastando-se (e sendo isolados) cada vez mais. Como corrigir
isso?
i.
Ouvindo: Muitos
adolescentes não sabem ouvir os mais velhos, desprezam a sabedoria vivida por
esses homens. O adolescente não pode esquecer que eles já passaram por esta
idade, e alguns deles, por sua vez, já tiveram filhos adolescentes, vivenciaram
duas vezes a realidade que o adolescente, está vivendo.
ii.
Perguntando: Dizem,
deturpando o ditado, que "quem tem boca vai a Roma" (na verdade é
"vaia"), mas a ideia, também verdadeira, é que quem sabe perguntar
consegue respostas às suas dúvidas. E não há ninguém que tenha mais dúvidas
sobre as clássicas perguntas (quem sou, de onde vim, para onde vou, qual o meu
propósito) do que os adolescentes, especialmente se submetidos a uma infinidade
de influências conflitantes (mídia). Tem muita gente que já se fez as mesmas
perguntas, e já vivenciou muitas experiências que podem ajudar na busca
individual de respostas (pais, tios, avós, aos presbíteros, pastores). Mas
pergunte à pessoa certa – porque perguntar a um colega da mesma idade, com as
mesmas dúvidas, e submetido a influências diferentes das suas pode não dar em
boa coisa.
Jesus tinha o que falar na
sua Igreja porque tinha conhecimento das coisas de Deus.
JESUS, UM ADOLESCENTE ENVOLVIDO COM AS
COISAS DE DEUS
Quando é encontrado por seus
pais Jesus estava no templo, conversando despreocupadamente com os doutores
sobre as coisas de Deus. Certamente havia mais a fazer em Jerusalém naqueles
dias. A cidade vivia uma grande festa mas Jesus estava profundamente envolvido
com as coisas de Deus. Inquirido sobre o que havia feito, Jesus responde de uma
maneira profunda e inesperada de se ouvir da boca de um adolescente: "Por que me procuráveis? Não sabíeis que me
cumpria estar na casa de meu Pai?" (Lc 2.49).
Certamente para Jesus, assim
como para Davi, as coisas de Deus eram mais prazerosas do que as demais coisas
(Sl 84.10: Pois um dia nos teus átrios
vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas
tendas da perversidade). Davi pensava assim por que as coisas de Deus são
estáveis, dão referência para toda a vida (Pv
22.6: Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho,
não se desviará dele) enquanto as coisas do mundo são passageiras,
mutáveis, e, em nossos dias, muito mais rápidas e cada dia para pior. Você,
adolescente, precisa de um referencial, e o apóstolo Paulo apresenta uma proposta
valiosa: ter como referencial as coisas do alto, eternas (Cl 3.2-3: Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra;
porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus).
Algumas dicas de coisas do
alto, preciosas, que você pode usufruir já, aqui e agora: escola bíblica; evangelização
e testemunho; frequência aos cultos (chame seus pais, mesmo se eles forem crentes); evite coisas que prejudiquem seu
crescimento em santidade (Hb 12.14:
Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor).
JESUS, UM ADOLESCENTE SUBMISSO AOS SEUS PAIS
Talvez tenha parecido que o
tema proposto para este encontro de adolescentes não seria abordado – adolescentes fora de moda na família.
Observe que Jesus era um
adolescente frequente aos cultos, curioso e comunicativo sobre as coisas de
Deus e envolvido com a sua Igreja. Um adolescente assim fatalmente será
considerado fora de moda pelos seus
colegas de escola, pelos companheiros do futebol, pelas amigas do papo no cantinho
durante o intervalo.
Mas como será que são estes adolescentes populares em suas casas?
Se o padrão é o que vemos em séries de TV como "Malhação" e programas
como os da Disney Channel, o quadro é mais ou menos o que se segue:
i.
Os pais são
retratados de três maneiras: insensíveis, bobocas ou ausentes permissíveis;
ii. Os adolescentes e jovens são estereotipados como se tivessem uma placa na testa: bons ou maus. Geralmente um adolescente que consideraríamos equilibrado usa roupas xadrez, óculos de fundo de garrafa e tem dificuldade em ser popular.
iii. Os relacionamentos de crianças e adolescentes (Carrossel, Chiquititas) são semelhantes aos dos adultos, com paixões e contendas.
iv. Os relacionamentos entre pais e filhos são marcados por discussões (amistosas ou não) de igual para igual, e geralmente os pais perdem.
ii. Os adolescentes e jovens são estereotipados como se tivessem uma placa na testa: bons ou maus. Geralmente um adolescente que consideraríamos equilibrado usa roupas xadrez, óculos de fundo de garrafa e tem dificuldade em ser popular.
iii. Os relacionamentos de crianças e adolescentes (Carrossel, Chiquititas) são semelhantes aos dos adultos, com paixões e contendas.
iv. Os relacionamentos entre pais e filhos são marcados por discussões (amistosas ou não) de igual para igual, e geralmente os pais perdem.
Não tenho dúvida que esta modalidade de relacionamento familiar não se adequaria à família de Jesus.
Não podemos imaginar José e Maria, ou os familiares próximos, considerando
Jesus um aborrecente mesmo no período da puberdade. A característica de Jesus
que o texto destaca é que ele honrava seus pais, sendo-lhes submisso. Jesus (e
nós) sabemos que a rebeldia é um pecado terrível (I Sm 15.23a: Porque a rebelião é como o pecado de
feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar.), comparado
à feitiçaria e à idolatria.
Vejamos as atitudes mais
comuns na moda familiar atual:
a.
Respondões:
adolescentes que não atendem às determinações paternas, muitas vezes discutindo
publicamente de maneira áspera e desonrosa;
b.
Agressivos:
adolescentes que usam de palavras duras e ofensivas contra seus pais, sendo que
alguns chegam a agredi-los não apenas verbal e emocionalmente, mas até
fisicamente;
c. Desobedientes: adolescentes que não fazem o que os pais mandam em relação a tarefas escolares, domésticas, roupas, filmes, companhias;
c. Desobedientes: adolescentes que não fazem o que os pais mandam em relação a tarefas escolares, domésticas, roupas, filmes, companhias;
d.
Murmuradores:
adolescentes que reclamam de tudo o que os pais são e fazem, guardando mágoas
em seu coração e prejudicando sua vida espiritual
e.
Cobiçosos:
adolescentes que cobram dos seus pais que lhes deem mais do que efetivamente
precisam – muitas vezes apenas para não ficarem desatualizados em relação a
colegas igualmente mimados.
Esta é a moda, mas a Escritura nos diz
para sermos diferentes, para não imitarmos o que é mau (III Jo 11: Amado, não imites
o que é mau, senão o que é bom. Aquele que pratica o bem procede de Deus;
aquele que pratica o mal jamais viu a Deus) e não disputarmos com os maus
em suas maldades – porque certamente perderemos, é a especialidade deles (I Pe 4.1-5: Ora, tendo Cristo sofrido na
carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento; pois aquele que sofreu na
carne deixou o pecado, para que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais
de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus. Porque
basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo
andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em
detestáveis idolatrias. Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais
com eles ao mesmo excesso de devassidão, os quais hão de prestar contas àquele
que é competente para julgar vivos e mortos).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Deus escolheu você querido
adolescente, não tenha dúvida disso. Deus deu Jesus para tirar você do império
das trevas (Cl 1.13: Ele nos libertou do
império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor) e
fazer de você nova criatura (II Co 5.17:
E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já
passaram; eis que se fizeram novas), parte de um povo especial (Tt 2.14: …o qual a si mesmo se deu por nós,
a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo
exclusivamente seu, zeloso de boas obras).
O preço que ele pagou por
isso foi altíssimo (I Co 6.20: Porque
fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo)
– e cabe a você dar a resposta, mesmo que essa resposta dependa da atuação dele
em seu coração (Fp 2.13: …porque Deus é
quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade).
A questão é se você está
disposto a pagar o preço. O maior preço sempre será o amor.
Talvez você esperasse que eu
falasse primeiro de um adolescente ajustado na família para, depois, falar do
que ele seria na Igreja. Mas acho que você, agora entendeu – somente sendo
parte do corpo de Cristo, somente obedecendo a Deus e buscando sua glória você
será um adolescente que anda fora da moda do mundo (Ef 2.1: Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e
pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o
príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da
desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as
inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e
éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais) no contexto do
seu lar.
Somente
honrando a Deus você será capaz de honrar aos seus pais. E se eles (ou um
deles) não são cristãos, então, mais ainda você terá que honrá-los, porque só
mostrando o que Deus faz em sua vida eles acreditarão que Deus também pode
fazer o que você diz que ele pode fazer na vida deles.
2 comentários:
Muito bom! O senhor consegui de fato contextualizar a mensagem sem negociar a Verdade. Que o Senhor Deus continue a abençoá-lo, e usá-lo...
Parabéns pastor! O senhor destacou muito bem as características de Jesus, aplicando-as aos problemas vivenciados hoje. Falo como pai de um pré-adolescente e concelheiro da UPA por 3 anos consecutivos. O senho contextualizou muito bem. Parabéns...
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