sexta-feira, 17 de outubro de 2014

CRISTIANISMO DE FIM DE SEMANA? I

Boletim 20141019 da Igreja Presbiteriana em Xinguara

Quantos dias por semana você é cristão?
Isto parece uma pergunta absurda? Parece? É uma pergunta necessária? Também. Alguns dias atrás, fazendo uma conta, como diz um ex-professor e amigo, brincando, brincando, mas falando sério, chegamos à conclusão que ser cristão de igreja, em nossa Igreja (cultos terça, quinta e domingo, com eventuais programações aos sábados) envolve apenas 8h por semana - se houver participação integral nas atividades. Colocando um tempo de preparação estética este tempo pode variar para algo em torno de 10h até 14h, dependendo de alguns fatores que são de conhecimento público.
É suficiente? Acho que é. Investir 8 horas por semana em aprendizado bíblico, vivência comunitária, oração e louvor é um bom período, levando-se em conta que isto equivale a duração média de um curso de graduação em horas/aula. É mesmo suficiente? Na Igreja é. Mas é suficiente ser cristão 8 horas por semana? Neste caso, com a mudança de pergunta, muda também a resposta. Não, não é suficiente! Absolutamente NÃO!
Mas eu preciso levantar dois problemas, o primeiro tem como principal característica ser crente apenas no fim de semana. E o segundo tem como principal característica ser crente apenas na Igreja (e isto fica pra próxima semana).
Vamos pensar um pouco sobre a primeira característica comumente encontrada nas Igrejas: o crente de fim de semana. Em aula recente na nossa Escola da Bíblia mencionamos o fato de muitos cristãos pensarem religiosamente no fim de semana, ou mais especificamente no domingo (quando não surgem outras atividades que demandem seu tempo e atenção), enquanto nos outros dias pensam segundo o sistema de valores reinante ao seu redor. Durante a semana deixam de atender Rm 12.2 e permitem que sua mente seja formatada de acordo com o pensamento mundano, que jaz no maligno.
Isto é fruto de uma cosmovisão que separa as coisas em secular, profano, mundano, e sagrado, eclesiástico, espiritual. Mas esta separação é realmente bíblica? É possível fazer esta separação sem incorrer em desobediência a Deus e, assim, cometer pecados sobre pecados?
Vamos raciocinar juntos: é possível ser profissional na política sem, entretanto, se envolver com idolatria, superstições, carnalidade, acordos inconfessáveis, negociatas? Por exemplo, um político ou empresário cristão pode promover festas pagãs, como São João, ou carnais, como carnaval? Se me respondem que são festas culturais - digo sempre que é uma festa de apenas uma parte da população, e que, muitas vezes, estes mesmos políticos estão legalmente impedidos de patrocinarem eventos como encontros e acampamentos evangélicos porque eles não são “culturais” (e eu não acho que eles devam fazer isso, mas também não acho que devam patrocinar eventos que não sejam eminentemente cívicos, para absolutamente todos os cidadãos). O que é cultura mesmo? E não é de lamentar que “cristãos” estejam presentes na abertura e durante estes festejos, ‘abrilhantando-os’, muitas vezes deixando de estar nos cultos?
Vamos raciocinar mais um pouco: é possível ser um empregado (vou deixar os empresários de lado por um pouco) e acreditar que merece continuar no emprego e até ter um aumento quando chega em cima da hora (e ainda vai se ajeitar depois de ter assinado presença), vai “tomar água” dezenas de vezes, 15 minutos antes de fechar o expediente já está arrumando as coisas, “esquece” de deixar a caneta na gaveta, tenta ganhar o lugar do colega e reclama dos patrões - e sai direto para a igreja para dirigir o louvor ou cantar que o Senhor vê todas as coisas.
Mais um pouco? Pensemos agora num jovem ou adolescente que não quer ficar de fora da “zueira”...  Todos os colegas estão brincando, fazendo gracejos para as meninas que passam, criticam os professores, zombam de alguns e até mesmo do seu irmão em Cristo que não se enturma... Daqui a pouco na Igreja canta “somos um no amor de Jesus”...
Já é possível perceber que não dá para ser um “cristão de fim de semana”, porque cristão de fim de semana simplesmente não é cristão. Sabe porque as Escrituras dizem que somos “embaixadores”? Porque não há embaixadores em sua terra - quando um embaixador volta pra sua terra ele é apenas um diplomata. Embaixador é aquele que representa o reino a que pertence em terras estranhas, em meio a estranhos. Comunica-se com eles, mas não se torna um deles. Tem uma mensagem para eles, uma mensagem transformadora, mas não transmuta-se em um deles.
Quem pensa que é um cristão de fim de semana, ou talvez, pensa que é cristão, mas age como tal apenas nos fins de semana tem, na prática, negado ao Senhor durante todo o tempo - e faz o que lhe é próprio durante a semana até que, no fim de semana, é apenas um hipócrita. E não é isso o que você é, não é?

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