sexta-feira, 17 de outubro de 2014

SÉRIE PERSONAGENS: SALOMÃO, O SÁBIO QUE SE DEIXOU CORROMPER

7 Agora, pois, ó SENHOR, meu Deus, tu fizeste reinar teu servo em lugar de Davi, meu pai; não passo de uma criança, não sei como conduzir-me. 8 Teu servo está no meio do teu povo que elegeste, povo grande, tão numeroso, que se não pode contar. 9 Dá, pois, ao teu servo coração compreensivo para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; pois quem poderia julgar a este grande povo?
10 Estas palavras agradaram ao Senhor, por haver Salomão pedido tal coisa.
11 Disse-lhe Deus: Já que pediste esta coisa e não pediste longevidade, nem riquezas, nem a morte de teus inimigos; mas pediste entendimento, para discernires o que é justo; 12 eis que faço segundo as tuas palavras: dou-te coração sábio e inteligente, de maneira que antes de ti não houve teu igual, nem depois de ti o haverá. 13 Também até o que me não pediste eu te dou, tanto riquezas como glória; que não haja teu igual entre os reis, por todos os teus dias. 14 Se andares nos meus caminhos e guardares os meus estatutos e os meus mandamentos, como andou Davi, teu pai, prolongarei os teus dias.
I Rs 3:7-14

DEUS CONTINUA CUMPRINDO SUAS PROMESSAS

Salomão foi o segundo filho de Davi com Bate-Seba (II Sm 12.13-14).
Depois disso Davi consolou a Bate-Seba e, então, conceberam a Salomão (II Sm 12.24). Mas Natã preferiu chamar-lhe Jedidias (II Sm 12.25).
Após duas tentativas frustradas de filhos de Davi de ficarem com o trono (Absalão e Adonias) Salomão viria a reinar. Entretanto, antes que Salomão fosse declarado rei Adonias tentou declarar-se rei com, mais uma vez, a omissão de Davi e a ajuda de alguns homens de confiança de Davi (I Rs 1.5-7).
Joabe era homem de atitudes agressivas e contestáveis, como quando matou a Abner (II Sm 3:27), foi cúmplice na morte de Urias (II Sm 11:16-17), trabalhou pela volta de Absalão (II Sm 14:1) a quem mais tarde assassinaria contra as ordens de Davi (II Sm 18:14).

OS INSTRUMENTOS DE DEUS

Natã, o profeta, percebe os movimentos de Adonias, o risco de mais um assassinato na família real (I Rs 1:12) e a passividade de Davi, já homem mui velho, e resolve agir como instrumento do cumprimento da vontade do Senhor. A já idosa Bate-Seba, instruída por Natã (I Rs 1:13) vai até Davi e obtém dele a promessa de que o reino seria de Salomão, e não de Adonias (I Rs 1.29-30). Após a decisão de Davi ainda houve alguns percalços até que Salomão tivesse condições de reinar em paz – o que só aconteceu após a morte de Adonias, Joabe, Simei (descendente de Saul que amaldiçoara Davi e fora colocado em prisão domiciliar – II Sm 16:13) e a expulsão do sacerdócio de Abiatar (I Rs 2.27).
Salomão viria a se tornar um dos mais poderosos e brilhantes reis que o mundo já conheceu. Não construiu nenhum império, o que é especialmente digno de nota que tenha se destacado reinando em uma faixa de terra diminuta espremida entre impérios. Assumiu o trono por volta de 1015 a.C. e sua fama é inexcedível – até os dias atuais ainda são feitas descobertas a respeito do resplendor do seu reinado.

O QUE BUSCAR EM PRIMEIRO LUGAR

Salomão teve um início extremamente promissor. Recebeu de Deus tudo o que um rei poderia desejar (riqueza, paz, longevidade) e uma sabedoria extremada (I Rs 3.11-13).
Salomão recebeu de Deus duas coisas: uma grande sabedoria e uma riqueza incalculável – a ponto de prata ser desprezível em seu reinado (I Rs 10:21). Salomão pediu a Deus somente uma delas – mas não foi o que todos os reis costumam pedir. Ele pediu sabedoria para governar o povo que Deus lhe confiava – e recebeu. Deus se agradou da disposição de seu coração e lhe deu não só a maior sabedoria que um homem mortal pode ter, como também a maior riqueza.

UM REI SÁBIO

Embora só tenhamos a descrição de dois atos de sabedoria salomônica, o mais conhecido é quando duas prostitutas disputavam a maternidade de uma criança (I Rs 3.16-20) e ele, com uma sentença inesperada (I Rs 3.25) identifica a mãe verdadeira sem precisar fazer teste de DNA (I Rs 3.27) a Escritura afirma que ele escreveu provérbios, livros, pesquisou sobre todos os assuntos possíveis em seus dias (I Rs 4.32-33).

UMA RIQUEZA INEXCEDÍVEL

Também proverbial é a extensão da riqueza de Salomão, que possuía minas de ouro, prata e cobre – bem como a construção do grandioso templo em Jerusalém com as paredes todas recobertas de ouro (I Rs 6:22), bem como os utensílios (I Rs 7:48-50) e adornos (I Rs 6.32).
Sua fama de tal sorte correu que uma rainha quis conhece-lo e fez uma grande viagem para observar esse homem rico e verificar se as coisas inacreditáveis que havia ouvido eram verdadeiras. Quando viu tudo, seu comentário dela era de que nem a metade foi lhe contada. Reza uma tradição confirmada pela existência de um grupo de "judeus africanos" e pesquisas genéticas que uma parte da antiga nobreza etíope pode ter sido gerada nesta visita[1].

A TOLICE DE UM SÁBIO MUNDANO

Salomão, entretanto, era um homem mundano. Chegou a ter setecentas mulheres, muitas das quais princesas de reinos vizinhos com os quais fazia alianças comerciais e ainda trezentas concubinas, provavelmente hebreias ou escravas (I Rs 11:3). Este, entretanto, não foi o seu maior problema, mas o fato de que, sendo sábio, resolveu experimentar também os prazeres e a sabedoria do mundo (Ec 2.10) e, para agradar suas mulheres, cedeu ao seus desejos fazendo algo que era odioso ao Senhor (Ex 20:4), não apenas uma vez, mas em relação a todas as suas mulheres estrangeiras (I Rs 11:8).
Salomão não apenas edificou altares e permitiu o culto aos deuses dos povos como, também, deixou de ser fiel e seguiu a tais falsos deuses (I Rs 11.4).

LIÇOES PRECIOSAS

Mas, mesmo com sua loucura e idolatria, Salomão ainda foi usado por Deus para escrever os livros de provérbios, cantares e Eclesiastes, este último, provavelmente, já nos seus dias finais quando percebeu sua loucura e lembrou-se que teria que prestar contas de seus atos a Deus. A Escritura nada fala de arrependimento de Salomão, sendo que Eclesiastes mostra muito mais um homem profundamente resignado com o fato de que não conseguiu a felicidade nas concupiscências mundanas (I Jo 2.15-16) e sabe que:
i.                   As riquezas do mundo são apenas vaidade (Ec 1:2);
ii.                Terá que prestar contas a Deus (Ec 11:9);
iii.             Ninguém escapa ao julgamento de Deus (Ec 12.14);
iv.              Ser sábio não é ter conhecimento, mas temer a Deus (Ec 12.13) por que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Sl 111:10) e, por isso, podemos chamar Salomão de um sábio imprudente.
Fica, então, a exortação: cuidemos para que não sejamos meros conhecedores não praticantes (Tg 1:22).


[1] OS FRUTOS DA VISITA DA RAINHA DE SABÁ: É evidente que a rainha etíope fez-se acompanhar por um séquito que incluía cortesãos e cortesãs, além  da sua guarda. Isto explicaria uma lenda e uma descoberta recente. A LENDA: Existem judeus negros, também chamados “beith Israel” na África, e a explicação para isto seria o fato de a família real etíope (deposta em 1974) sempre ter afirmado ser descendente da rainha de Sabá, a quem chamavam Makeda, e do rei Salomão. A CIÊNCIA: Se a origem de algumas tribos e da descendência da família real não pode ser comprovada, outras tribos africanas podem afirmar (como os lembas), sem sombra de dúvidas, serem de origem semítica comprovada por DNA numa pesquisa feita por Tudor Parfitt, pesquisador inglês, que atesta que há laços genéticos comuns com os cohanins, ou filhos de Coré, levitas que ministravam no templo nos dias de Davi e Salomão. Pela descoberta genética um ancestral comum viveu por volta do século X a.C.

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