1 Então, respondeu Jó ao SENHOR:
2 Bem sei que tudo
podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. 3 Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento
encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas
demais para mim, coisas que eu não conhecia. 4 Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei; eu te
perguntarei, e tu me ensinarás. 5
Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. 6 Por isso, me abomino e me
arrependo no pó e na cinza.
Jó 42.1-6
A
Escritura afirma que tudo quanto foi escrito foi registrado para nossa
instrução e consolação (Rm 15:4).
Isto quer dizer que a história de servos de Deus como Adão, Abraão, José,
Moisés e, especialmente nesta noite, Jó, devem nos servir de fonte de
instruções preciosas. A história de Jó começa com a descrição de um homem
temente a Deus – e de um astuto, oculto e poderoso acusador. Como juiz nesta
disputa temos o Senhor de todas as coisas que permite que o acusador prove a Jó em sua fé, colocando-o em
situações em que muitos vacilariam, mas ao final o inimigo tem que se dar quase
que por vencido ao ouvir de Jó que tudo provém de Deus (Jó 2:10). Mas Satanás nem sempre está sozinho – e às vezes até
mesmo as pessoas mais próximas de nós, que querem o nosso bem, podem ser usadas
por ele, como foi a sua mulher (Jó 2:9)
ou seus amigos que tiraram da possível culpa dos filhos (que morreram), com as
quais Jó se preocupava, uma ligação com, também, culpa em Jó (Jó 8.4-6). Em sua dor Jó diz muitas
coisas duras, como amaldiçoar o dia do seu nascimento (Jó 3.3-5), deseja a morte (sem, entretanto, tentar o suicídio) e
questiona ao próprio Deus em sua justiça (Jó
34:6). E é por causa deste questionamento que Deus se revela mais
intimamente ao seu servo. Jó o temia, Jó o amava – e o Senhor se lhe dá a
conhecer mais intimamente (Sl 25:14).
No verso 5 Jó resume o resultado desta impactante e profunda experiência que
ele teve com Deus (Jó 42.5),
provando que, de fato, o sofrimento de Jó não era por causa de pecado (Mt 5:8), mas para conduzi-lo a uma
vitória irrefutável sobre satanás.
O
que podemos aprender com a história de Jó, talvez o mais antigo dos livros da
bíblia a ser escrito e anterior mesmo à saída de Abrão de Ur? Podemos aprender
com Jó e sua experiência que
DEUS É
SOBERANAMENTE ONIPOTENTE
2
Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado.
Acusado
por Satanás, repudiado pelos cidadãos (Jó
27.19-23), sem o apoio dos amigos, ainda assim Jó estava nas mãos de um
Deus soberano. O fato de Deus ser soberano pode ser bom ou ruim para o homem.
Ou temos o Deus soberano como nosso Deus, ou o consideramos nosso adversário (Rm 5:10). O conhecimento que Jó
adquiriu de Deus não foi fruto de suas experiências, mas de sua experiência com
Deus – não se trata de meros eventos, mas do resultado da revelação que Deus
faz de si mesmo. Ninguém pode conhecer a Deus se Deus não o revelar (Lc 10:22). Jó admite que Deus tudo
pode, e isto pode significar duas coisas:
i.
Que Deus tem poder para fazer tudo quanto desejar fazer, como o próprio
Jó afirma (Jó 11:10). É no exercício
desta soberania que Deus permite o sofrimento de Jó mas ao mesmo tempo impede
satanás de tocar-lhe a vida (Jó 2:6).
ii.
Que ele tem o direito de fazer o que desejar (Ef 1:11), inclusive na história de qualquer um, de homens ou reinos
(Is 45:9).
Em
ambos os casos trata-se do exercício de sua onipotente soberania no governo de
sua criação, o que inclui a nossa vida e nosso destino eternos, logo, é melhor
tê-lo como amigo do que como inimigo.
Além
de aprendermos que o nosso Deus é onipotente e soberano, também podemos
aprender que
DEUS É MARAVILHOSAMENTE
SÁBIO
3 Quem
é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade,
falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu
não conhecia.
A
percepção de Jó, após a revelação de Deus, é que Deus está acima da capacidade
humana de compreensão, mas, ao mesmo tempo, nada foge ao seu conhecimento. Jó
percebe que sem o verdadeiro conhecimento não há bom conselho – e quem é que
pode dar conselhos a Deus (Is 40.13-14).
Sem o verdadeiro conhecimento não há sabedoria – e se alguém quer sabedoria
deve pedi-la a Deus (Tg 1:5). Sem
conhecimento o melhor que o homem é capaz de produzir é estultícia e impiedade,
tornando-se, assim, repreensível em suas descobertas. O questionamento
existencial de Jó era: "qual pecado eu cometi para perecer sofrer"? A
verdadeira sabedoria percebe que não sofrer é que é uma maravilhosa dádiva de
Deus – e até mesmo o sofrer pode ser uma benção (At 4:21) bem como se tornar uma benção (I Co 4.11-13). E esta sabedoria só vem pela revelação de Deus (I Pe 4:14), que se mostra soberanamente
sábio. Nada foge ao conhecimento de Deus, nem ações nem pensamentos (Jr 20:12), nada feito de dia ou de
noite (Sl 139:12). O presente,
passado ou futuro estão todos diante de Deus e fazem parte do seu propósito,
seu único e eterno propósito (Ef 3:11).
Assim,
com a experiência de Jo aprendemos que temos um Deus soberanamente onipotente,
que é, também, maravilhosamente sábio. Mas, além disso, podemos aprender ainda
que
DEUS É CONSTANTEMENTE
PRESENTE
4
Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me
ensinarás. 5 Eu te
conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem.
É
profundamente reconfortante para o crente saber que tem um Deus sempre
presente, a ponto de fazer-se um conosco tanto na encarnação de Cristo (Is 7:14) quanto na doação do seu
Espírito Santo (Mt 28:20). Nosso
Deus é o Deus que escuta (Is 49:8)
diferente dos que tem ouvidos e nada ouvem (Sl 115.3-7). O pedido de Jó é por ensino, por instrução. Jó não
entendia, a princípio, o porquê do seu sofrimento, mas somente depois de
perceber que Deus é soberano, sábio é que ele vai perceber que o Deus que ele
adorava era um Deus presente. Era o Deus supremo, mas também o Deus presente (Is 57:15). Ele não foi bem sucedido enquanto pretendeu
possuir entendimento, não sabendo que os caminhos de Deus são mais elevados do
que os que podemos perceber ou imaginar (I
Co 2:9). Quando o Senhor se revela sabemos que ele é o Deus presente (Sl 145:18), diferente dos falsos deuses
dos povos. Nosso Deus é o Deus que ensina, que se revela, que se dá a conhecer
e que nos fala ao coração. Quando os adversários perguntam onde está o nosso
Deus (Sl 42:3) e angustiados
clamamos pelo Senhor ele fala conosco (Sl
27.7-8). Temos um Deus presente, que nos chama a si (Mt 11:28) e, quando atendemos, não nos rejeita (Jo 6:37).
Não
devemos nos esquecer de quem é o nosso Deus, de quem é o Deus que se revela a
Jó: ele é soberanamente onipotente, maravilhosamente sábio e está sempre
pessoalmente presente. Todavia não podemos nos esquecer da quarta e última
lição que Jó aprendeu, uma lição prática. Ele aprendeu que
DEUS É
GRACIOSAMENTE BENEVOLENTE
6
Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza.
Ninguém
pode confiar em sua própria justiça diante da santidade de Deus. Homens como
Daniel, por exemplo, oravam ao Senhor confiados na graça de Deus (Dn 9:18). Jó, o homem que o próprio
Deus considerava íntegro e reto (Jó 1:1)
era, porém, apenas um homem. Era um homem de elevada integridade, mas era
apenas um homem e, como tal, também era apenas um pecador (Ec 7:20). Acusado pelo diabo de ser apenas um interesseiro (Jó 1.9-10); acusado pelos amigos de ser
um hipócrita e estar escondendo algum pecado que Deus resolveu punir
publicamente (Jó 8.20), Jó, que
sabia não ser nada disso (Jó 34:6)
era, entretanto, um pecador, e acaba cometendo o erro de se ensoberbecer na sua
própria integridade – e por isso precisa arrepender-se. Jó cometeu o pecado de
confiar na sua própria justiça. Mesmo tendo a aprovação de Deus, como Jó tinha,
ainda estamos sujeitos a cair neste pecado. Somente Cristo pode desafiar o
príncipe deste mundo (Jo 14:30). Mesmo
o justo Jó teve que se arrepender do pecado de, no mínimo, se achar tão justo
quanto Deus (Is 64:6), embora, na
verdade ele achava que estava sofrendo injustamente. Como qualquer outro homem
Jó também precisou arrepender-se para ter seus pecados cancelados (At 3:19).
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Depois
de termos aprendido com o melhor de todos os professores, aquele conhece tudo, que
é a fonte e a sustentação de tudo, devemos nos perguntar? Qual é o Deus que
nós, que nos chamamos cristãos, temos conhecido?
O
que há de errado com o nosso cristianismo?
DÚVIDAS A RESPEITO
DA SOBERANIA ONIPOTENTE DE DEUS?
O
que há de errado com a nossa fé, que fraqueja tão facilmente como se duvidasse
da onipotência de Deus? O que há de errado com uma fé que, na primeira prova,
teme mais o homem do que a Deus (Mt
10:28), como se Deus não fosse soberano (At 4:24) e não fosse capaz de julgar até mesmo as nações (Is 40.15).
DÚVIDAS A RESPEITO
DA MARAVILHOSA SABEDORIA DE DEUS?
O
que há de errado com uma fé que questiona os caminhos que Deus escolheu para
nós e quer ditar novos caminhos? O que há de errado com uma fé que rejeita o
sofrimento, a perseguição (II Tm 3:12)
e, por outro lado, anseia pelas coisas que há no mundo (I Jo 2:15)? O que há de errado com esta fé que acha que crer em Cristo
é sinônimo de vitória no mundo e não sobre o mundo (Jo 16:33).
DÚVIDAS A RESPEITO
DA CONSTANTE PRESENÇA DE DEUS?
O
que há de errado com uma fé que intenta andar sozinha, sem levar em
consideração a presença daquele que prometeu que não nos deixaria órfãos (Jo 14:18) e que estaria conosco todos
os dias até a consumação dos séculos (Mt
28:20)? Porque inventar substitutos inúteis e sem vida para o Deus
presente, como se ele estivesse longe e incapaz (Sl 94.7-9).
DÚVIDAS A RESPEITO
DA GRACIOSA BENEVOLÊNCIA DE DEUS?
O
que há de errado com uma fé que pretende comprar o favor de Deus com
sacrifícios (Is 1:11) mas que
rejeita o método de Deus para se aproximar dele (I Jo 1:9). O que há de errado com uma fé que se acha possuidora de
justiça e se afasta cada vez mais de Deus (Lc
18.14).
O QUE FAZER COM O
ENSINO DO SENHOR
A
Palavra de Deus nos ensina que aquele que sabe o que deve fazer, e deve fazer o
bem, e não o faz, nisto peca (Tg 4:17).
Você
já sabe que Deus é soberano e tudo faz como lhe apraz. Vai continuar lutando
contra ele (Mt 12:30).
Você
já sabe que Deus é maravilhosamente sábio – ainda acha que pode esconder algo
daquele que conhece todos os seus caminhos (Sl 139:3).
Você
já sabe que Deus está constantemente presente – ainda acha que vai conseguir
ausentar-se de seu Espírito (Sl 139.7-8)?
Você
já sabe que Deus é graciosamente benevolente e te oferece o perdão de seus
pecados tão logo eles sejam confessados. Vai continuar rejeitando a graça de
Deus (Hb 12:25).
CONCLUSÃO
Nem
eu nem você sabemos absolutamente nada quanto ao dia de amanhã. O tempo que
temos é hoje. Não há mais o tempo que passou – e talvez não tenhamos o porvir.
Só temos o hoje. Só temos o agora. Exorto você a entregar a sua vida ao Senhor
neste momento (Sl 37:5), a busca-lo
enquanto há tempo para acha-lo (Is 55:6).
Busque de todo o seu coração e ele se deixará achar por você (Jr 29:13) antes que chegue o tempo em
que ele te buscará, não mais com graça (Lc
19:10) mas com julgamento (Pv 1. 24-30).
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