I Rs 12;
14.21-31; II Cr 9.31 – 12.16
REOBOÃO, UM LEGÍTIMO HERDEIRO DE SEU PAI
Seu
nome hebraico é Rehabh'am (que o povo se expanda). Reoboão (também conhecido
como Roboão) era filho de Salomão com Naamá, uma princesa amonita. Naamá era
uma das "mulheres" de Salomão que lhe perverteram o coração (I Rs 11.4). Apesar de sábio, Salomão se casara com uma filha dos amonitas –
descendente do relacionamento incestuoso provocado pelas filhas de Ló (Gn 19:38). Os amonitas, historicamente, eram inimigos de Israel e foram usados,
algumas vezes, como chicote de Deus para disciplinar seu povo quando este se
rebelava (Jz 10:7).
Reoboão
é o exemplo mais perfeito de um filho que não teve orientação em seu lar. De
uma princesa amonita, adoradora de Baal só poderíamos esperar que conduzisse
seu filho na adoração a estes falsos deuses (Jz 10:6). Mas, de Salomão, homem
muito sábio, extremamente rico, construtor do templo, deveríamos esperar que
prezasse pelo cumprimento da vontade de Deus. Mas ele foi uma grande decepção:
errou em contrair matrimonio com amonita (I Rs 11:1) desobedeceu instruções
claras dadas pelo Senhor em sua Palavra (Dt 7.1-4) e viu seus filhos e
descendentes se transformarem adoradores de falsos deuses, lamentavelmente,
seguindo o seu exemplo e o de suas esposas idólatras (I Rs 11:5).
Reoboão
precisava de um pai fiel, - e não teve. É óbvio que a responsabilidade pelos
pecados de Reoboão, pela divisão do reino e por todos os demais males que vieram
durante o seu governo é absolutamente sua (I Rs 11:9-13). Entretanto, as sementes
foram plantadas pelas falhas espirituais e familiares do seu pai. Isso não fez
Roboão não ser responsável pelas suas próprias decisões, pois ele era. Mas as
ações e atitudes do seu pai prejudicaram Roboão. Salomão não falhou como
governador – sob seu governo a nação prosperou – mas a manutenção de sua
prosperidade comprometeu sua fé e convicções. Ele realizou muitos casamentos
políticos para firmar alianças com outras nações e suas esposas pagãs o
influenciaram e ele caiu em idolatria. Não sabemos quantos filhos ele teve,
mas, com 1000 mulheres, ele certamente não dispôs de tempo para ser um bom
marido e um bom pai. Resumindo, Reoboão não teve em quem se espelhar – e,
talvez, mesmo a opulência de seu pai não lhe tenha despertado a mesma admiração
que despertou na rainha de Sabá (II Cr 9.3-6).
DEUS DIRIGE SEU REINO SOBERANAMENTE
Reoboão
tinha 41 anos quando começou a reinar – e reinou por 17 anos. Estimativas
apontam que ele começou a reinar em 997 a.C., ocupando o trono até 980 a.C. (II Cr 12:13).
I. COLHE-SE O QUE
SE PLANTA
Como
dito anteriormente, as sementes de sua desgraça foram plantadas ainda nos dias
de Salomão, quando este tomou a Jeroboão, descendente de Efraim, e o constituiu
como administrador sobre o trabalho forçado da casa de seu pai, José (I Rs 11.28). Inesperadamente, por causa da infidelidade de Salomão, o profeta
Aías se aproxima dele e rasga sua túnica nova em doze partes, entregando dez
delas a Jeroboão (I Rs 11.31). Deus, entretanto, não faz
passar o reino de Davi e de sua casa, reservando parte dele e o trono em
Jerusalém para os descendentes do homem cujo coração ele moldara e que era
modelo para todos os demais reis.
II. DEUS NÃO MUDA
Embora
Salomão não merecesse (I Rs 11.33), Deus reservou parte do
reino para Reoboão por amor a Davi (I Rs 11.34-36).
III. UM ATO
INSENSATO DE UM REI SÁBIO
No
único ato de hostilidade registrado a respeito de Salomão, ilustrando bem a
frase que diz que "se queres conhecer um homem dê-lhe poder, se queres
conhecer o lado negro de um homem, ameace tirar-lhe o poder" ele se
levantou contra Jeroboão (I Rs 11.40). Este ato certamente se
deu já após suas mulheres lhe terem pervertido o coração. Conforme Deus
prometeu, Salomão manteve o reino unido até a sua morte
A INSENSATEZ COMO INSTRUMENTO PARA
CUMPRIMENTO DA PROMESSA DE DEUS
Após
a morte de Salomão o povo se reuniu em Siquém para coroar Reoboão como seu rei
(I Rs 12.1) com um convidado indesejado (I Rs 12.2-3) com um pedido inesperado (I Rs 12.4).
O
governo de Salomão, apesar de próspero, esgotou a capacidade produtiva do povo,
que pagava impostos considerados altos (aos quais chamavam de
"mordida"). Compreensivelmente queriam que o novo rei, num ato de boa
vontade e benevolência, lhes diminuísse a carga. Lembremos que Davi deixou tudo
o que era necessário para a construção do templo, e isto nada custou a Salomão.
Entretanto, edificar palácios, vinhas, manter a corte, construir cidades e
palácios para 1000 mulheres tinham um custo – e o povo era quem o pagava. Era,
sem dúvida, um pedido justo.
I. FESTA ADIADA,
FESTA FRUSTRADA
Reoboão
poderia ter resolvido a questão naquele momento, mas preferiu gerar um suspense
sobre o povo (I Rs 12.5). Reoboão não era sábio
como seu pai – mas havia aprendido a conviver na corte, e, primeiro, procura
conselho com aqueles que conviveram com seu pai, e que, talvez, tivessem
aprendido alguma coisa com eles (I Rs 12.6-7).
II. UM BOM
CONSELHO PARA UM REI TOLO
Para
um homem de 41 anos de idade, rico, impetuoso, que passara a vida inteira sendo
servido, a simples expressão "se, hoje, te tornares servos deste
povo" era uma afronta, e, então, ele dá nenhum valor ao conselho recebido
(I Rs 12.8). Era um bom conselho, e se Reoboão o atendesse o
povo o serviria, mas ele, em sua impetuosidade e arrogância, não aceitou o
conselho.
III. UM MAU
CONSELHO PARA UM REI ARROGANTE
Para
um homem de 41 anos de idade, rico, impetuoso, que passara a vida inteira sendo
bajulado, o conselho que recebeu dos jovens lhe pareceu música aos ouvidos:
mostre-se forte, mostre-se poderoso e eles temerão você. Reoboão antecipa em
dois milênios o conselho de Maquiavel: o príncipe deve ser temido e amado, se
não der para ser os dois, que seja pelo menos temido[1]
(I Rs 12.8-11). Estes conselheiros, relativamente jovens, não
sabiam o que era lutar para manter um reino, nasceram e cresceram durante o
reinado de Salomão e deram um péssimo conselho, acatado por Reoboão com
trágicas consequências.
IV. REI TOLO,
REINO DIVIDIDO
Ele
repetiu cada palavra de seus amigos – e com isso perdeu o coração do povo para
sempre. Reoboão poderia ter aprendido com outro jovem, como ele, de coração
maldoso, mas, ao menos, politicamente mais sábio (II Rs 15.4-6). Com a resposta do rei o
povo se rebelou contra Reoboão, rejeitando, então, a casa de Davi para reinar
sobre eles e abandonaram o tolo rei Reoboão.
A
maior parte resolveu declarar Jeroboão seu rei (I Rs 12.20), e apenas Judá, Benjamim,
os sacerdotes e os levitas e algumas famílias de outras tribos ficaram com ele
(I Rs 12.21).
V. CONSOLIDAÇÃO DA
DIVISÃO
Reoboão
realmente tentou colocar em prática o conselho e mandou Adorão cobrar impostos
nas tribos separatistas e este acabou morrendo apedrejado (I Rs 12.18). Foi necessária a intervenção de Deus para que não houvesse guerra
entre as tribos (I Rs 12.22-24). Apesar disso, os dois
grupos permaneceram hostis entre si (I Rs 15.6).
BOA
VONTADE MENOR QUE A INFLUÊNCIA FAMILIAR
Apesar
de sua estultícia inicial, Reoboão e suas tribos seguiram ao Senhor, e foram
prósperos – embora não tão prósperos quanto Salomão. Ele teve menos mulheres (18
esposas e 60 concubinas) e filhos (28 filhos e 60 filhas), dentre estas esposas
algumas primas (II Cr 11.21). Foi mais sábio que seu
avô, Davi, e treinou os filhos para dirigirem parte do país, escolhendo um para
ser seu sucessor (II Cr 11.22-23). Certamente os presentes
dados aos filhos serviu para evitar que houvesse insurreições contra Abias, seu
escolhido.
I. GOVERNO CIVIL
Reoboão
também edificou cidades, fortificando-as e preparando suas defesas (II Cr 11.5-12).
II. GOVERNO
RELIGIOSO
Reoboão
também cuidou da religião (II Cr 11.13-14) e dos refugiados expulsos
por Jeroboão (II Cr 11.16-17).
III. O FRUTO NÃO
CAI MUITO LONGE DA ÁRVORE
Mas
se Reoboão não tivera a mesma sabedoria política de Salomão no seu DNA, tinha a
mesma estultícia. Três anos depois de seu reinado, quando estava tudo
estabelecido, Reoboão abandonou a adoração ao Deus de Israel e liderou Judá
segundo havia aprendido da religião de sua mãe, a amonita Naamá (I Rs 14.21-24).
IV. O JULGAMENTO
DE DEUS
As
atitudes de Reoboão trouxeram-lhe a ira de Deus, que enviou Sisaque, rei do
Egito, que invadiu Jerusalém (cidade desacostumada a guerras havia pelo menos
40 anos) e saqueou o templo (I Rs 14.25-26). Deus resume a maneira
como Reoboão deve ser visto em uma frase curta, mas contundente: ele fez o que
era mal pois não dispôs seu coração para buscar ao Senhor (II Cr 12.14).
LIÇÕES
PRECIOSAS NA VIDA DE REOBOÃO
OS FILHOS HERDARÃO
O QUE DEIXARMOS PARA ELES
Davi
deixou para Salomão um reino e uma cultura familiar: total descuido com seus
filhos. Salomão recebeu um reino estável, livre da idolatria e pronto para ser
uma nação de sacerdotes do Deus altíssimo (Êx
19:6).
Salomão
não foi diferente – embora tenha sido melhor administrador, mantendo seu país
longe das guerras foi pior para a religião, fazendo-o afundar na idolatria e
entregou um reino rico mas morto espiritualmente (Ap 3:1).
Que
herança nossos filhos receberão? Qual será a sua grande fortuna? Aquilo que a
traça corrói e o ladrão escavam (Mt
6:19-20) ou os tesouros celestes (Mt
6.20)?
PRIMEIRO AVISO: Cuidado com o que deixa para seus filhos.
BONS EXEMPLOS PODEM SER ESQUECIDOS, MAS MAUS EXEMPLOS SÃO SEGUIDOS
Davi
certamente deixou bons exemplos para Salomão – pelo menos no que se refere ao
culto (I Rs 3:3). Mas ele os
abandonou por amor de suas muitas mulheres (I Rs 11.33). Salomão deixou bons
exemplos para Reoboão – pelo menos em relação à administração e ao trato com as
pessoas, como quando julgou a disputa duas prostitutas por uma criança, filho
de uma delas (I Rs 3.27).
SEGUNDO AVISO: Intensifique os bons exemplos, evite os maus exemplos.
SOMENTE OUVIDOS
TOLOS ATENDEM CONSELHOS DE BAJULADORES
Reoboão
tinha tudo para ter um início de governo tranquilo. Certamente sabia da
profecia a respeito de divisão do reino. Teve a oportunidade de "fazer
algo para evitar" quando o povo lhe pediu benevolência. Teve o exemplo do
reino dividido com seu avô, Davi. Viu o reino unificado durante 40 anos por seu
pai. Teve bons conselhos de pessoas que, embora não sendo tão sábias quanto
Salomão, conviveram e aprenderam com ele. Mas preferiu o conselho de
bajuladores (Sl 12:2), falsos amigos
que lhe induziram ao erro ao invés de corrigi-lo e abençoa-lo (Pv 27:17).
TERCEIRO AVISO: Cuidado com os falsos amigos e suas palavras doces.
COMEÇAR BEM NÃO É
SINAL DE QUE TERMINARÁ BEM
Há
numerosos exemplos na bíblia de pessoas que começaram bem e terminaram
tragicamente. Saul, o primeiro rei de Israel é um exemplo. Salomão é outro
exemplo de rei que começou temente a Deus e terminou adorando a falsos deuses.
Muitos entram e saem das Igrejas (I Jo
2:19), alguns demonstrando um fervor inicial que logo se apaga (Hb 6:4-6). Assim, urge a necessidade de
vigilância pessoal (II Pe 3:17).
QUARTO AVISO: Vigiais para que não venham a cair em tentação.
[1]
O ideal é ser as duas coisas, mas como é difícil reunir as duas coisas, é muito
mais seguro - quando uma delas tiver que faltar - ser temido do que amado.
Porque, dos homens em geral, se pode dizer o seguinte: que são ingratos,
volúveis, fingidos e dissimulados, fugidios ao perigo, ávidos do ganho. E
enquanto lhes fazeis bem, são todos vossos e oferecem-vos a família, os bens
pessoais, a vida, os descendentes, desde que a necessidade esteja bem longe.
Mas quando ela se avizinha, contra vós se revoltam. E aquele príncipe que tiver
confiado naquelas promessas, como fundamento do ser poder, encontrando-se
desprovido de outras precauções, está perdido. É que as amizades que se
adquirem através das riquezas, e não com grandeza e nobreza de carácter,
compram-se, mas não se pode contar com elas nos momentos de adversidade. Os
homens sentem menos inibição em ofender alguém que se faça amar do que outro
que se faça temer, porque a amizade implica um vínculo de obrigações, o qual,
devido à maldade dos homens, em qualquer altura se rompe, conforme as
conveniências. O temor, por seu turno, implica o medo de uma punição, que nunca
mais se extingue. No entanto, o príncipe deve fazer-se temer, de modo que,
senão conseguir obter a estima, também não concite o ódio. Nicolo MAQUIAVEL, in 'O Príncipe', cap. 17.
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