…Ou: Feliz Natal, a quem crê na encarnação do unigênito de Deus!
Erasmo de Roterdam, em sua obra “Elogio da Loucura”, menciona algo que é, não apenas verdadeiro, mas também absolutamente comum. Diz ele [palavras que coloca na boca da “Loucura”:
O espírito do homem é feito de maneira que lhe agrada muito mais a mentira do que a verdade. Fazei a experiência: ide à igreja, quando aí estão a pregar. Se o pregador trata de assuntos sérios, o auditório dormita, boceja e enfada-se, mas se, de repente, o zurrador (perdão, o pregador), como aliás é frequente, começa a contar uma história de comadres, toda a gente desperta e presta a maior das atenções.
Como é fácil essa felicidade! Os conhecimentos mais fúteis, como a gramática por exemplo, adquirem-se à custa de grande esforço, enquanto a opinião se forma com grande facilidade, contribuindo tanto ou talvez mais para a felicidade. Se um homem come toucinho rançoso, de que outro nem o cheiro pode suportar, com o mesmo prazer com que comeria ambrósia, que tem isso a ver com a felicidade? Se, pelo contrário, o esturjão causa náuseas a outro, que temos nós com isso? Se uma mulher, horrivelmente feia, parece aos olhos do marido semelhante a Vénus, para o marido é o mesmo do que se ela fosse bela. Se o dono de um mau quadro, besuntado de cinábrio e açafrão, o contempla e admira, convencido de que está a ver uma obra de Apeles ou de Zêuxis, não será mais feliz do que aquele que comprou por elevado preço uma obra destes pintores e que olhará para ela talvez com menos prazer?
Quando observamos as preferências explicitadas pelas pessoas e pelas comunidades logo observamos quão verdadeiras são estas palavras da "Loucura". É claro que Erasmo não era louco. Somente por causa desta propensão à mentira que os populistas conseguem enganar as multidões… somente por causa disto que os enganadores conseguem passar adiante seus “contos do vigário”. Como é comum as pessoas acreditarem que ganharam um carro ou uma casa após receberem uma mensagem no celular e correrem a efetuar depósitos… ou até mesmo comprarem “títulos de propriedade de lotes no céu” em cartórios espirituais… Como podem achar que são mais afortunados do que os santos do passado que nada conheceram destas coisas? O que antes era por graça, mediante o arrependimento e a fé, agora tem sido oferecido sem arrependimento e sem fé, mas mediante quantias absurdas. É interessante que tais lotes podem ser, no “céu”, mais baratos que na terra.
Outros enveredam pelo caminho da imitação seletiva, achando que, se assumirem atitudes estudadas semelhantes às dos heróis da fé do passado, sem a mesma piedade e espiritualidade, serão, também, considerados iguais aos tais. Isso pode enganar a alguns, ou pode enganar até mesmo ao espírito daquele que se pretende piedoso – mas a aparência de piedade de nada aproveita. Mas engana a muitos. Pode enganar ao próprio. Mas não engana a Deus. De nada adianta a imitação e a forma – é necessário a essência. E isso não se consegue mediante a mera imitação, a assunção de formas vazias.
De nenhuma valia é a aparência sem a essência. De nada vale parecer sem ser. É inútil a forma sem a piedade verdadeira. Mas, como diz o célebre Erasmo de Roterdam: “Se um homem come toucinho rançoso, de que outro nem o cheiro pode suportar, com o mesmo prazer com que comeria ambrósia, que tem isso a ver com a felicidade?”. Que o tolo fique com seu toucinho velho e rançoso.
Quanto a ti, exercita-se na piedade, no amor, na misericórdia. Que o Senhor que um dia se fez carne [em data desconhecida, mas comemorada, apesar da oposição de presuçosos, pela maioria da cristandade neste 25 de dezembro] reine de maneira absoluta em nossos corações. Feliz Natal, boas festas e um 2011 mais próspero que 2010.
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