terça-feira, 28 de outubro de 2014

PERGUNTA 100: ORAÇÃO NO BREVE CATECISMO

P. 100. QUE NOS ENSINA O PREFÁCIO DA ORAÇÃO DOMINICAL?

R. O prefácio da Oração Dominical, que é: "Pai nosso que estás no Céu", ensina-nos que devemos nos aproximar de Deus com toda a santa reverência e confiança, como filhos a um pai poderoso e pronto para nos ajudar, e também nos ensina a orar com os outros e por eles.
Lc 11.13; Rm 8.15; I Tm 2.1-2
A oração dominical foi ensinada para os discípulos, a pedido deles. Jesus os trata como filhos de Deus (Rm 8.15), pela fé (Gl 3.7), e não segundo genealogias, como se gloriavam os religiosos judeus daqueles dias (Lc 3.8) e talvez ainda se gloriem alguns religiosos que nasceram na Igreja mas não nasceram espiritualmente, como Nicodemus (Jo 3.3).

O SIGNIFICADO DA PATERNIDADE

Lamentavelmente nossa geração perdeu de vista o valor da paternidade. Leis cada vez mais permissivas, por um lado, e costumes cada vez mais desestruturadores, como pais demasiado fracos ou ausentes, por outro, fizeram com que o conceito de paternidade se tornasse cada vez mais irrelevante – e isto não demorou a refletir-se na relação com o pai celeste. Ao invés de olhar para Deus como o pai que está nos céus a figura mais comum hoje é de alguém que está sempre disponível a dar algo – desde que seja um (pretenso) direito do pedinte. Como meninos birrentos e mimados vemos exigências de atenção e dádivas que Deus não tem a menor obrigação de atender (Tg 4.3).

DEUS É PAI

A oração inicia com o reconhecimento daquilo que Deus sempre se propôs a ser: Pai (Mt 5.48) e, por causa do seu pecado, o homem prefere recusar e continuar em sua orfandade.

DEUS É PAI DE MUITOS

Entretanto, Deus não é pai de um, embora ele tenha um filho unigênito (I Jo 4.9), possui, também, muitos outros filhos (Rm 8.16). Chamar Deus de nosso pai significa reconhecer a que somos tornados irmãos, membros uns dos outros (Rm 12.5) por causa do chamado de Deus em Cristo Jesus – não pelo nascimento (II Pe 1.10).
Somente pelo fato de termos nascido do Espírito é que podemos chamar a Deus de pai, e, ao chamarmos Deus de pai, temos de chama-lo de nosso pai porque somos chamados a uma comunhão com muitos outros (Ef 4.6). A introdução diz: "vós orareis assim", uma determinação solidária, compartilhada entre todos os crentes de todas as épocas que aprendem a orar uns com os outros e uns pelos outros (I Tm 2.1-2).

DEUS É PAI CELESTE

Para enfatizar que esta filiação não é terrena o Senhor nos diz para lembrarmos onde está o nosso pai: nos céus. Ele está acima de nós, seus caminhos e pensamentos são mais elevados que os nossos (Is 55.8-9), e, embora muitas vezes não saibamos por onde seremos conduzidos, sabemos, com certeza, por quem (Mt 23.10) e para onde e por isso podemos segui-lo sem temor (Hb 12.2).
Não podemos esquecer que Deus é nosso Pai que está nos céus, isto é, muito mais elevado do que nós (Is 6.1) e que, ao mesmo tempo, se importa com o abatido e contrito de espírito (Is 57.15), resistindo com todo o seu poder aos de coração soberbo enquanto abençoa os humildes (Tg 4.6) e, como pai perfeito que é, tem sempre boas dádivas para dar aos seus filhos (Lc 11.13).

O que, então, devemos, como Igreja, perseverando em oração, pedir a este nosso pai celeste?

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

SEUS ALVOS, SEU DESTINO


ONDE VOCÊ MANTÉM OS SEUS OLHOS DETERMINA ONDE VOCÊ CHEGARÁ

É bem conhecida a frase que diz que quem não sabe onde quer chegar jamais saberá se chegou – mesmo que chegue a algum lugar. Muitos estão entrando e saindo das Igrejas sem saber exatamente o que estão procurando – e inevitavelmente jamais permanecerão porque não saberão o que precisam, mesmo se for colocado bem à sua frente. É como um daltônico procurando por uma bolinha vermelha numa piscina de bolinhas multicoloridas.
A maioria das pessoas tem alvos na vida. Alvos pessoais, familiares, profissionais. Muitos estabelecem metas e lutam por cumpri-las, e há também os que, mesmo tendo alvos, se limitam a lamentar não tê-los alcançado porque, na maioria das vezes, não buscou alcançá-los.
Se de repente alguém lhe pedisse para elaborar uma lista de seus alvos em sua vida cristã, quais seriam os seus alvos espirituais? Seria uma lista genérica como "adorar mais a Deus", "servir mais na Igreja" ou tem algo específico, palpável? Você poderia até usar o "adorar mais a Deus" como um título, mas a pergunta é: como você faria isso? Quais os seus alvos? Onde você quer chegar mesmo?
Paulo sabia exatamente onde queria chegar – e testemunha isto em sua carta aos Filipenses – talvez a sua última carta escrita para uma igreja, e justamente para a primeira igreja que nascera de seu ministério em solo europeu.
3.12 Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus.
13 Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, 14 prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.
15 Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá. 16 Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos.
17 Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós. 18 Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. 19 O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas. 20 Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, 21 o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas.
4.1 Portanto, meus irmãos, amados e mui saudosos, minha alegria e coroa, sim, amados, permanecei, deste modo, firmes no Senhor.
Fp 3.12-21; 4.1

O ALVO DO CRISTÃO DEVE SER ALCANÇAR A QUALQUER CUSTO A SANTIFICAÇÃO

3.12 Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus.
3.13 Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão,
3.14 prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.
É óbvio que não somos cristãos apenas para esta vida. Nossa esperança vai muito além do que podemos ver e perceber – do contrário, seriamos os mais infelizes dentre os homens (I Co 15:19) porque deixaríamos de usufruir os prazeres transitórios do pecado (Hb 11:25) sem, no entanto, ter a recompensa eterna (Mt 25:21).
Paulo afirma aos filipenses que ele sabia de maneira absolutamente clara que ele, até aquele momento, até aquele dia, ainda não havia ousado julgar-se a si mesmo como portador do direito de se chamar perfeito. Lembremos que Paulo estava na prisão e condenado à morte – ao escrever este texto ele não sabia se tinha horas, dias, semanas ou meses de vida, provavelmente sua expectativa se limitasse a dias ou, no máximo, semanas (Fp 2:17). Nesta mesma época ele escreveu outra carta, a Timóteo, seu filho na fé, um jovem pastor que deveria continuar seu ministério sem as orientações de seu mentor (II Tm 4:6).
Este Paulo, o maior missionário que a Igreja viu, o homem que, sem os recursos modernos que temos à nossa disposição, evangelizou toda a Ásia Menor (Rm 15:19) e alcançou, inclusive, a Europa, desejando evangelizar também a península ibérica; esse Paulo não ousa tomar para si o direito [lambanw] de chamar-se perfeito, completo [teleiow]. Ele não fora tornado perfeito, ele não se tornara perfeito. Pelo contrário, mesmo em seus últimos dias Paulo continua a perseguir de maneira insistente e ansiosa [diwkw] para alcançar as metas de Deus, para ser o que Deus queria que ele fosse, e alcançar o padrão [katalambanw] que agradaria aquele que o comprou: Jesus Cristo.
Paulo não acredita ser maior ou melhor que os demais cristãos – e nem precisa disso, embora soubesse que havia feito um trabalho notável pela graça de Deus (I Co 15:10), e por isso irmana-se a eles chamando-os de irmãos [adelfoj] que estão na mesma situação espiritual e lhes diz: eu mesmo não tenho em conta a mim mesmo como já tendo alcançado [logizomai] o propósito de Deus [katalambanw]. O que fazer, então? Paulo tinha a resposta em sua própria experiência de vida com Deus. Ele olhou para seu passado e libertou-se dele:
I.                   Ele tinha muitos motivos para considerar-se mais justo que os homens, e por isso, acreditar que não necessitava da graça de Deus, mas, ao conhecer Jesus, ele diz que considerou tudo isto como esterco por causa da sublimidade de ser encontrado em Cristo (Fp 3:8);
II.                Por outro lado, Paulo tinha motivos para desesperar-se e acreditar-se indigno do perdão por que fora capaz de cometer crimes hediondos, como blasfêmia, perseguidor da Igreja, insolente – mas ele não se desespera, pois conheceu a Cristo e recebeu dele o perdão (I Tm 1:16).
Paulo diz que, por causa de Cristo, ele cometia uma santa e desejável negligência [epilanqanomai]: ele descuida completamente das coisas que devem ser deixadas para trás [opisw] e, ao mesmo tempo, impulsiona-se para a frente, para as coisas eternas, que estão adiante dele. Paulo usa uma expressão dos jogos greco-romanos: ele diz que se estica, se impulsiona como uma flecha num arco [epekteinomai] para ir o mais rapidamente para a frente, para as coisas que Deus colocou diante dele [emprosqen]. E o faz como sua grande prioridade, perseguindo, prosseguindo insistentemente [dowkw] para a marca que estava distante, diante de seus olhos, na qual havia um observador para ver se o corredor realmente cruzara a linha de chegada [skopoj] e o fazia para obter a recompensa [brabeion] superior, a recompensa de quem cumpre um chamado, um mandato superior, uma convocação de [klhsij] de quem está acima de tudo e de todos: o chamado [klhsij] é do próprio Deus, através de Cristo Jesus.

O ALVO DO CRISTÃO DEVE SER PROSSEGUIR EM SANTIFICAÇÃO

3.15 Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá.
3.16 Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos.
A conhecida orientação apostólica para os crentes no sentido de seguirem a paz e a santificação como requisitos fundamentais para se ver ao Senhor (Hb 12:14) deve ser colocada como divisa para cada cristão que deseja, de fato, ver a Deus.
Alguns comentaristas veem Paulo usando de ironia neste verso, entretanto, Paulo está asseverando que o conhecimento [fronew] perfeito [teleioj] da verdade de Deus leva o cristão a entender, a estar convicto [fronew] de que não é perfeito. É como ele estivesse fazendo um jogo de palavras – quando o crente compreende que não é perfeito, ele está começando a compreender. Quando necessário Paulo usava palavras duras, mas não era o caso com os filipenses. Ainda que houvesse necessidade de instrução, esta não requeria um tratamento como receberam as Igrejas de Corinto e da Galácia.
Não há necessidade de debates teológicos (I Co 11:16) – e se houvesse algum cristão em Filipos que pensasse diferente [eteroj] de Paulo que acreditasse ser desnecessário prosseguir em santificação, que achasse já ter atingido o ponto máximo em sua espiritualidade Paulo esperava que aquele que conduz a toda a verdade (Jo 16:13) esclarecesse uma eventual divergência.
Paulo em momento algum admite que ele precise de instrução ou de uma mudança de pensamento. Paulo falava com autoridade apostólica, e aguardava que o Senhor lhes manifestasse a verdade, literalmente, tirasse o véu que porventura lhes estivesse colocado ou sobre os olhos, ou sobre o assunto [apokaluptw].
Discussões à parte, o fato é que a Igreja não pode parar, não pode estacionar enquanto o mundo segue sua jornada. Concordando ou discordando com Paulo os filipenses deveriam, sem perder tempo [plhn], continuar andando [stoixew] como soldados que avançam em linha reta, para o que os precede, distante, mas ao menos ao alcance da vista [fqanw].
Avancemos, convoca-os Paulo, de acordo com o conhecimento obtido, isto é, perfeitamente cientes de que ainda não alcançaram a perfeição. Todos conhecem o alvo, todos conhecem a necessidade de lá chegar, por isso não podem parar sob hipótese alguma.

O ALVO DO CRISTÃO DEVE SER SERVIR COMO BOM DISCÍPULO

3.17 Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós.
3.18 Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz, são hostis [exqroj] a Cristo.
3.19 O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas.
Da mesma maneira que Paulo havia dito aos Coríntios que eles só podiam ter um pai em Cristo (I Co 4:15) se quisesse ele poderia ter dito o mesmo aos filipenses – mas, mais uma vez, não era necessário. Em Corinto havia disputas tolas sobre quem seria autoridade sobre aquela Igreja (I Co 1:12). Como pai, apóstolo, Paulo se oferece aos filipenses como o modelo a ser seguido naquilo que ele havia conseguido seguir a Cristo.
Os filipenses, a quem Paulo chama de irmãos, de companheiros de afetos e de fé [adelfoj] deviam ser tal como ele era [ginomai], deveriam se tornar imitadores [summimhthj mou] de Paulo no andar, isto é, no que ele fizera entre eles, deveriam ser cuidadosos observando atentamente [skopew] para agirem da mesma forma, na mesma medida que observaram em Paulo.
Se Paulo convocava os filipenses a andarem como soldados, em linha reta, para a frente, e insistia que eles deveriam andar como ele, Paulo, lhes mostrara, por outro lado, havia muitos que andavam no meio da Igreja, vagarosamente e sem rumo definido, aproveitando as oportunidades [peripatew] para criar dificuldades ou obterem vantagens sobre a Igreja.
Sobre estes Paulo já lhes havia advertido repetidas [pollakij] vezes – se eles se deixassem enganar não seria por falta de instrução, aliás, este não parecia ser o problema dos perfeitos. Eles foram advertidos, foram ensinados, aconselhados, exortados com grande ênfase e sentimento. Por causa destes Paulo chegava a lamentar, a chorar como quem chora por mortos [klaiw]porque eles eram inimigos e hostis ao Senhor Jesus Cristo.
Mas mesmo quem anda sem rumo acaba chegando a algum destino [teloj], e o destino dos inimigos da cruz de Cristo é a perdição, a destruição e a miséria eternas [apoleia] no inferno. Eles não têm o salvador (Ef 2:12), escolheram servir a si mesmos, aos seus próprios desejos. Seu Deus é o seu próprio ventre [koilia], literalmente a parte inferior da barriga onde fica o excremento.
Aquilo que consideram sua glória [doca] na verdade é desonra [aisxunh], é infâmia e não obterão a gloria eterna porque direcionam sua mente [fronew] somente para coisas terrenas [epigeioj], ao contrário da sabedoria divina (Tg 3:15).


O ALVO DO CRISTÃO DEVE SER A PÁTRIA CELESTE

3.20 Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo,
3.21 o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas.
Cristãos não devem almejar a glória terrena porque a sua verdadeira pátria não é terrena, como Abraão aguardamos a cidade eterna (Hb 11:10), da qual os cristãos são cidadãos, isto é, são livres e podem usufruir de tudo o que nela há, diferente do que acontecia com os escravos que havia em Filipos. Paulo era cidadão romano, sabia o valor da cidadania, e muitos dos membros da Igreja em Filipos almejavam esta importante condição civil. Mas, mais do que almejar esta cidadania [politeuma] terrena, a cidadania que realmente importa é a celeste, a que está nos céus [ouranoj] e é mais elevada, mais elevada em natureza do que o espaço sideral, é de ordem e origem divina, onde a ordem divina não é quebrada pelos pecados. É de lá que os cristãos aguardam o seu salvador, o condutor para esta nova cidadania [soter] Jesus Cristo, o Senhor.
Como a cidade é de natureza celestial, também o cristão deverá ter seu corpo [swma] transformado [metasxematizw] quando chegar o momento (I Co 15:52).
Paulo não usa a palavra grega para natureza carnal [sarx] que envolve pecado, mas prefere usar a que se refere ao corpo físico que será transformado pelo poder de Deus e, só então, alcançar a verdadeira e plena perfeição: o corpo de humilhação [tapeinwsij] será tornado [ginomai] da mesma natureza [summrphoj] que o corpo da sua glória, não a glória do mundo, passageira, mas a gloria eterna (II Co 3:18). Esta perfeição não se alcança pelo esforço próprio, por vangloria humana, mas é uma dádiva do poder de Deus em conceder a Cristo toda a autoridade (Ef 1:22) e todo o poder.

CONCLUSÃO

4.1 Portanto, meus irmãos, amados e mui saudosos, minha alegria e coroa (a glória de Paulo), sim, amados, permanecei, deste modo, firmes no Senhor.
Por causa de tudo isto [wste], do fato de que os cristãos precisam aprender que não podem parar, mas, enquanto caminham, precisam cuidar do seu coração para não serem enganados por alguns aproveitadores e aguardarem a verdadeira cidadania celestial Paulo abre o seu coração, mostra seu amor, fala de sua saudade por aqueles irmãos [adelfoj] que ele considerava dignos de serem amados [agaphtoj] e cuja companhia ele almejava [epipoqhtoj] e eram a fonte de sua alegria [xara] e sua coroa [stefanoj], isto é, o sinal de que ele alcançara o alvo que lhe fora proposto em seu ministério. Se alguém o indagasse do seu sucesso Paulo respondia apenas com o seu trabalho em Cristo e para Cristo, visível na Igreja (II Co 3:2).
Por causa desta viva esperança (I Pe 1:3) que não se limita a esta vida (I Co 15:19) os cristãos não devem desanimar jamais, por mais difícil que seja sua peregrinação nesta vida (II Co 4.8-9). Ainda que tudo aqui dê errado, temos a esperança e a certeza dos céus (II Co 5:1).
Cabe aos cristãos manterem-se firmes porque, mesmo que passando pela morte, passarão para a verdadeira vida (II Co 4.10-11). Não é o que no mundo vamos deixar que deve nos preocupar – mas que mensagem vamos deixar para aqueles que estão à procura de uma pátria melhor.

APLICAÇÃO

Podemos afirmar que este texto estabelece duas cosmovisões diferentes, com resultados absolutamente diferentes. Ele antepõe os santos aos ímpios. Os crentes aos incrédulos. Os fiéis aos infiéis. Os que confiam em si mesmos e os que creem em Cristo como seu Salvador. Os amados por Cristo aos inimigos da cruz de Cristo. Resumindo, de um lado ficam os que andam para herdarem a coroa de glória, outro, os que caminham desordenadamente para a perdição.

UMA RADIOGRAFIA DO HOMEM NATURAL

Vamos analisar primeiro o que Paulo diz do homem natural:
·        Andam (peripatew) como se não soubessem para onde vão: mesmo sendo cheios de ciência e sabedoria, vivendo ao sabor das circunstâncias, sendo arrastados por ventos de doutrina, pelas filosofias prevalecentes em seu tempo (II Co 4:3);

·        São inimigos (exqroj) da cruz: aceitam quaisquer outras doutrinas, aceitam exigências absurdas e costumes de homens, mas não se submetem à cruz, que veem como escândalo e loucura. Aceitam qualquer liderança, mas não se submetem à soberania de Cristo (Na 1:2);

·        Seu destino é a perdição (apoleia): andar à toa não quer dizer que não vai chegar a lugar nenhum – o destino dos inimigos da cruz de Cristo é a perdição e morte eternas (Jo 3:36);

·        Seu Deus é o seu próprio ventre (koilia): seus desejos governam sua vida, seu único alvo é satisfazer suas próprias vontades, mantem-se senhores de suas vidas, entretanto, perdendo-a eternamente (Mt 10:39);

·        Sua recompensa é a vergonha (aisxunh) eterna: a rejeição do caminho que leva ao pai, escolhendo caminhos que lhe parecem direitos só podem resultar em morte (Pv 14:12) e de nada adiantará tentar o favor de Deus na última hora;

·        Suas aspirações são carnais, terrenas (epigeioj): o fato de serem inimigos da cruz de Cristo decorre de que amam ao mundo, seu oferecimento de prazeres fugazes e glória passageira (I Jo 2:17).
É um triste quadro – um quadro que reflete exatamente o que é e qual o destino de quem não tem Cristo como Senhor de sua vida. Lembremos das palavras do próprio Cristo: quem não é por ele, é contra ele (Lc 11:23).

A OBRA DE ARTE FEITA POR DEUS: O HOMEM ESPIRITUAL

Quais são as características do homem espiritual, nascido de novo pela vontade de Deus, contrapostas às já conhecidas do homem natural?
·        Tem conhecimento de suas limitações (teleiow): qualquer cristão razoavelmente instruído nas Escrituras e honesto sabe que ainda não venceu a luta contra o pecado nem contra sua própria natureza carnal. A vitória sobre o mundo não é uma vitória pessoal, mas uma dádiva de Cristo, que a conquistou e dela nos apropriamos pela fé (I Jo 5:4);

·        Não desiste de prosseguir (diwkw): embora mais que vencedores sabemos que a luta ainda não terminou. A vitória é certa, garantida pelo próprio Senhor (Rm 8:37), mas ainda somos como soldados em marcha – parar significa não entrar na cidade a ser conquistada, significa ficar para trás, fracassar;

·        Tem um alvo superior (anw klhsij): a aspiração do cristão, o seu tesouro não é terreno – seu coração não está nas coisas do mundo (Lc 12:33). Seu coração está nas coisas celestes, para a qual foi convocado pelo soberano Senhor (I Co 15:47).

·        Tem um modelo de perfeição (summimhthj mou): nos dias de Paulo os modelos a serem seguidos variavam de acordo com quem pagasse mais, ou fizesse o melhor discurso. Havia estóicos, epicureus, legalistas, platônicos, aristotélicos, cínicos e todo tipo de filósofo. Nosso modelo é melhor – e não é Paulo, mas Jesus Cristo (I Co 11:1).

·        Tem um destino elevado (politeuma ouranoj): a verdadeira cidadania do cristão não é deste mundo, como deste mundo não é o seu rei e seu reino (Jo 8:23). Aguardamos a cidade onde habita a justiça de Deus (Gl 5:5) e nada temos deste mundo (I Tm 6:7).

·        Tem um Deus gracioso (soter): em contraste com o Deus dos inimigos da cruz o Deus dos cristãos é um Deus gracioso, que trabalha por eles (Is 64:4) e que morreu para ser seu salvador (Mt 20:28).

·        Tem uma recompensa gloriosa e eterna (ginomai summrphoj doca): a glória dos cristãos é serem aperfeiçoados pela graça de Deus em contraste com a eterna destruição dos ímpios. Os crentes serão transformados, serão abençoados pela graça de Cristo segundo o seu poder (I Pe 1:23).
É uma escolha difícil, não é? Todos os prazeres transitórios deste mundo, durante 70, 80 anos, diante do gozo eterno na glória com o Senhor.

sábado, 25 de outubro de 2014

CRISTIANISMO DE FIM DE SEMANA II: APENAS NA IGREJA

Nossa primeira (e triste constatação) é a existência do cristianismo que se manifesta nos fins de semana. Lamentavelmente esta chaga é mais comum do que gostaríamos, fruto de uma visão antiga que foi preservada dentro de um cristianismo não tão bíblico assim que advoga a existência de dois tipos de vida: a natural e a espiritual, a sagrada e a profana.
Outra chaga é o cristianismo que se manifesta apenas dentro dos muros santos da Igreja, na segurança de um ambiente conhecido e controlado, na presença de outras pessoas que também professam a mesma fé. Muitos sabem tudo de teologia, opinam sobre liturgia e até mesmo sugerem alterações na prédica, na oratória, na mensagem.
Fora da Igreja são verdadeiros agentes secretos - ninguém sabe que são crentes, não falam como crentes, não se vestem como crentes, não compartilham da sua fé. São eloquentes para muitos assuntos, de política a futebol, são capazes de descrever emocionadamente a chegada de uma corrida de caramujos - mas não consideram ser possível apresentar quatro frases sequenciais descrevendo a obra redentora de Cristo.
Na Igreja canta-se que é “uma família, vivendo a verdade, sem qualquer falsidade” mas durante a semana não há contato, e, pior, sequer sabe das lutas e necessidades dos irmãos. Ao saber de um problema promete efusivamente que vai “interceder junto ao trono de  graça” e, se tem oportunidade, faz uma oração que quase impressiona o Espírito Santo - mas nem mais uma palavra durante toda a semana.
Na Igreja temos muitos apelos emocionados em prol da obra missionária, descrevendo com detalhes as lutas dos vários obreiros espalhados pelo mundo, mas não há a menor disposição, fora da Igreja, para anunciar a mensagem de salvação em Jesus Cristo nem mesmo para o vizinho de cadeira na hora do almoço ou durante 30h em uma viagem de ônibus.
Não é bom que seja assim. A Igreja precisa entender que o Senhor não chamou ninguém para ser cristão apenas durante os fins de semana, ou apenas nos cultos. A comunhão dos santos é para ser vivida todos os dias, o testemunho é para ser eloquente em todos os lugares, tanto nos muito conhecidos, como a Igreja, como nos mais inóspitos, como o local de trabalho. Não esconda sua bíblia - uma hora alguém vai lhe dar a oportunidade de testemunhar de Jesus, nem que seja por causa de uma atitude inoportuna de algum adversário.
Sei que nada disso é novidade - a Igreja sabe o que deve fazer. Não fazer é pecado. Ser cristão apenas de fim de semana é um pecado que deve ser evitado. Ser cristão apenas na Igreja é, também, um pecado porque deixa de atingir a Judéia, a Samaria e até mesmo o Marajoara, os confins da terra.
Como mudar isso? Por mais difícil que isto possa parecer, é possível, para você, mudar um mundo inteiro: o mundo que está mais próximo de você - você mesmo. Se você mudar o seu proceder, terá mudado, de imediato, o mundo que mais lhe importa: o seu. E então estará apto a influenciar, ou ao menos a testemunhar o poder do Espírito para influenciar a vida das pessoas. Está pronto?

Está disposto a mudar a sua história e a da sua Igreja?

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

PERSONAGENS: ROBOÃO E O PREÇO DA INSENSATEZ QUE PASSA DE PAI PARA FILHO


O EXEMPLO PERFEITO DO RESULTADO DE UMA EDUCAÇÃO NADA EXEMPLAR
I Rs 12; 14.21-31; II Cr 9.31 – 12.16

REOBOÃO, UM LEGÍTIMO HERDEIRO DE SEU PAI

Seu nome hebraico é Rehabh'am (que o povo se expanda). Reoboão (também conhecido como Roboão) era filho de Salomão com Naamá, uma princesa amonita. Naamá era uma das "mulheres" de Salomão que lhe perverteram o coração (I Rs 11.4). Apesar de sábio, Salomão se casara com uma filha dos amonitas – descendente do relacionamento incestuoso provocado pelas filhas de Ló (Gn 19:38). Os amonitas, historicamente, eram inimigos de Israel e foram usados, algumas vezes, como chicote de Deus para disciplinar seu povo quando este se rebelava (Jz 10:7).
Reoboão é o exemplo mais perfeito de um filho que não teve orientação em seu lar. De uma princesa amonita, adoradora de Baal só poderíamos esperar que conduzisse seu filho na adoração a estes falsos deuses (Jz 10:6). Mas, de Salomão, homem muito sábio, extremamente rico, construtor do templo, deveríamos esperar que prezasse pelo cumprimento da vontade de Deus. Mas ele foi uma grande decepção: errou em contrair matrimonio com amonita (I Rs 11:1) desobedeceu instruções claras dadas pelo Senhor em sua Palavra (Dt 7.1-4) e viu seus filhos e descendentes se transformarem adoradores de falsos deuses, lamentavelmente, seguindo o seu exemplo e o de suas esposas idólatras (I Rs 11:5).
Reoboão precisava de um pai fiel, - e não teve. É óbvio que a responsabilidade pelos pecados de Reoboão, pela divisão do reino e por todos os demais males que vieram durante o seu governo é absolutamente sua (I Rs 11:9-13). Entretanto, as sementes foram plantadas pelas falhas espirituais e familiares do seu pai. Isso não fez Roboão não ser responsável pelas suas próprias decisões, pois ele era. Mas as ações e atitudes do seu pai prejudicaram Roboão. Salomão não falhou como governador – sob seu governo a nação prosperou – mas a manutenção de sua prosperidade comprometeu sua fé e convicções. Ele realizou muitos casamentos políticos para firmar alianças com outras nações e suas esposas pagãs o influenciaram e ele caiu em idolatria. Não sabemos quantos filhos ele teve, mas, com 1000 mulheres, ele certamente não dispôs de tempo para ser um bom marido e um bom pai. Resumindo, Reoboão não teve em quem se espelhar – e, talvez, mesmo a opulência de seu pai não lhe tenha despertado a mesma admiração que despertou na rainha de Sabá (II Cr 9.3-6).

DEUS DIRIGE SEU REINO SOBERANAMENTE

Reoboão tinha 41 anos quando começou a reinar – e reinou por 17 anos. Estimativas apontam que ele começou a reinar em 997 a.C., ocupando o trono até 980 a.C. (II Cr 12:13).

I. COLHE-SE O QUE SE PLANTA

Como dito anteriormente, as sementes de sua desgraça foram plantadas ainda nos dias de Salomão, quando este tomou a Jeroboão, descendente de Efraim, e o constituiu como administrador sobre o trabalho forçado da casa de seu pai, José (I Rs 11.28). Inesperadamente, por causa da infidelidade de Salomão, o profeta Aías se aproxima dele e rasga sua túnica nova em doze partes, entregando dez delas a Jeroboão (I Rs 11.31). Deus, entretanto, não faz passar o reino de Davi e de sua casa, reservando parte dele e o trono em Jerusalém para os descendentes do homem cujo coração ele moldara e que era modelo para todos os demais reis.

II. DEUS NÃO MUDA

Embora Salomão não merecesse (I Rs 11.33), Deus reservou parte do reino para Reoboão por amor a Davi (I Rs 11.34-36).

III. UM ATO INSENSATO DE UM REI SÁBIO

No único ato de hostilidade registrado a respeito de Salomão, ilustrando bem a frase que diz que "se queres conhecer um homem dê-lhe poder, se queres conhecer o lado negro de um homem, ameace tirar-lhe o poder" ele se levantou contra Jeroboão (I Rs 11.40). Este ato certamente se deu já após suas mulheres lhe terem pervertido o coração. Conforme Deus prometeu, Salomão manteve o reino unido até a sua morte

A INSENSATEZ COMO INSTRUMENTO PARA CUMPRIMENTO DA PROMESSA DE DEUS

Após a morte de Salomão o povo se reuniu em Siquém para coroar Reoboão como seu rei (I Rs 12.1) com um convidado indesejado (I Rs 12.2-3) com um pedido inesperado (I Rs 12.4).
O governo de Salomão, apesar de próspero, esgotou a capacidade produtiva do povo, que pagava impostos considerados altos (aos quais chamavam de "mordida"). Compreensivelmente queriam que o novo rei, num ato de boa vontade e benevolência, lhes diminuísse a carga. Lembremos que Davi deixou tudo o que era necessário para a construção do templo, e isto nada custou a Salomão. Entretanto, edificar palácios, vinhas, manter a corte, construir cidades e palácios para 1000 mulheres tinham um custo – e o povo era quem o pagava. Era, sem dúvida, um pedido justo.

I. FESTA ADIADA, FESTA FRUSTRADA

Reoboão poderia ter resolvido a questão naquele momento, mas preferiu gerar um suspense sobre o povo (I Rs 12.5). Reoboão não era sábio como seu pai – mas havia aprendido a conviver na corte, e, primeiro, procura conselho com aqueles que conviveram com seu pai, e que, talvez, tivessem aprendido alguma coisa com eles (I Rs 12.6-7).

II. UM BOM CONSELHO PARA UM REI TOLO

Para um homem de 41 anos de idade, rico, impetuoso, que passara a vida inteira sendo servido, a simples expressão "se, hoje, te tornares servos deste povo" era uma afronta, e, então, ele dá nenhum valor ao conselho recebido (I Rs 12.8). Era um bom conselho, e se Reoboão o atendesse o povo o serviria, mas ele, em sua impetuosidade e arrogância, não aceitou o conselho.

III. UM MAU CONSELHO PARA UM REI ARROGANTE

Para um homem de 41 anos de idade, rico, impetuoso, que passara a vida inteira sendo bajulado, o conselho que recebeu dos jovens lhe pareceu música aos ouvidos: mostre-se forte, mostre-se poderoso e eles temerão você. Reoboão antecipa em dois milênios o conselho de Maquiavel: o príncipe deve ser temido e amado, se não der para ser os dois, que seja pelo menos temido[1] (I Rs 12.8-11). Estes conselheiros, relativamente jovens, não sabiam o que era lutar para manter um reino, nasceram e cresceram durante o reinado de Salomão e deram um péssimo conselho, acatado por Reoboão com trágicas consequências.

IV. REI TOLO, REINO DIVIDIDO

Ele repetiu cada palavra de seus amigos – e com isso perdeu o coração do povo para sempre. Reoboão poderia ter aprendido com outro jovem, como ele, de coração maldoso, mas, ao menos, politicamente mais sábio (II Rs 15.4-6). Com a resposta do rei o povo se rebelou contra Reoboão, rejeitando, então, a casa de Davi para reinar sobre eles e abandonaram o tolo rei Reoboão.
A maior parte resolveu declarar Jeroboão seu rei (I Rs 12.20), e apenas Judá, Benjamim, os sacerdotes e os levitas e algumas famílias de outras tribos ficaram com ele (I Rs 12.21).

V. CONSOLIDAÇÃO DA DIVISÃO

Reoboão realmente tentou colocar em prática o conselho e mandou Adorão cobrar impostos nas tribos separatistas e este acabou morrendo apedrejado (I Rs 12.18). Foi necessária a intervenção de Deus para que não houvesse guerra entre as tribos (I Rs 12.22-24). Apesar disso, os dois grupos permaneceram hostis entre si (I Rs 15.6).

BOA VONTADE MENOR QUE A INFLUÊNCIA FAMILIAR

Apesar de sua estultícia inicial, Reoboão e suas tribos seguiram ao Senhor, e foram prósperos – embora não tão prósperos quanto Salomão. Ele teve menos mulheres (18 esposas e 60 concubinas) e filhos (28 filhos e 60 filhas), dentre estas esposas algumas primas (II Cr 11.21). Foi mais sábio que seu avô, Davi, e treinou os filhos para dirigirem parte do país, escolhendo um para ser seu sucessor (II Cr 11.22-23). Certamente os presentes dados aos filhos serviu para evitar que houvesse insurreições contra Abias, seu escolhido.

I. GOVERNO CIVIL

Reoboão também edificou cidades, fortificando-as e preparando suas defesas (II Cr 11.5-12).

II. GOVERNO RELIGIOSO

Reoboão também cuidou da religião (II Cr 11.13-14) e dos refugiados expulsos por Jeroboão (II Cr 11.16-17).

III. O FRUTO NÃO CAI MUITO LONGE DA ÁRVORE

Mas se Reoboão não tivera a mesma sabedoria política de Salomão no seu DNA, tinha a mesma estultícia. Três anos depois de seu reinado, quando estava tudo estabelecido, Reoboão abandonou a adoração ao Deus de Israel e liderou Judá segundo havia aprendido da religião de sua mãe, a amonita Naamá (I Rs 14.21-24).

IV. O JULGAMENTO DE DEUS

As atitudes de Reoboão trouxeram-lhe a ira de Deus, que enviou Sisaque, rei do Egito, que invadiu Jerusalém (cidade desacostumada a guerras havia pelo menos 40 anos) e saqueou o templo (I Rs 14.25-26). Deus resume a maneira como Reoboão deve ser visto em uma frase curta, mas contundente: ele fez o que era mal pois não dispôs seu coração para buscar ao Senhor (II Cr 12.14).

LIÇÕES PRECIOSAS NA VIDA DE REOBOÃO

OS FILHOS HERDARÃO O QUE DEIXARMOS PARA ELES

Davi deixou para Salomão um reino e uma cultura familiar: total descuido com seus filhos. Salomão recebeu um reino estável, livre da idolatria e pronto para ser uma nação de sacerdotes do Deus altíssimo (Êx 19:6).
Salomão não foi diferente – embora tenha sido melhor administrador, mantendo seu país longe das guerras foi pior para a religião, fazendo-o afundar na idolatria e entregou um reino rico mas morto espiritualmente (Ap 3:1).
Que herança nossos filhos receberão? Qual será a sua grande fortuna? Aquilo que a traça corrói e o ladrão escavam (Mt 6:19-20) ou os tesouros celestes (Mt 6.20)?

PRIMEIRO AVISO: Cuidado com o que deixa para seus filhos.

BONS EXEMPLOS PODEM SER ESQUECIDOS, MAS MAUS EXEMPLOS SÃO SEGUIDOS

Davi certamente deixou bons exemplos para Salomão – pelo menos no que se refere ao culto (I Rs 3:3). Mas ele os abandonou por amor de suas muitas mulheres (I Rs 11.33). Salomão deixou bons exemplos para Reoboão – pelo menos em relação à administração e ao trato com as pessoas, como quando julgou a disputa duas prostitutas por uma criança, filho de uma delas (I Rs 3.27).

SEGUNDO AVISO: Intensifique os bons exemplos, evite os maus exemplos.

SOMENTE OUVIDOS TOLOS ATENDEM CONSELHOS DE BAJULADORES

Reoboão tinha tudo para ter um início de governo tranquilo. Certamente sabia da profecia a respeito de divisão do reino. Teve a oportunidade de "fazer algo para evitar" quando o povo lhe pediu benevolência. Teve o exemplo do reino dividido com seu avô, Davi. Viu o reino unificado durante 40 anos por seu pai. Teve bons conselhos de pessoas que, embora não sendo tão sábias quanto Salomão, conviveram e aprenderam com ele. Mas preferiu o conselho de bajuladores (Sl 12:2), falsos amigos que lhe induziram ao erro ao invés de corrigi-lo e abençoa-lo (Pv 27:17).

TERCEIRO AVISO: Cuidado com os falsos amigos e suas palavras doces.

COMEÇAR BEM NÃO É SINAL DE QUE TERMINARÁ BEM

Há numerosos exemplos na bíblia de pessoas que começaram bem e terminaram tragicamente. Saul, o primeiro rei de Israel é um exemplo. Salomão é outro exemplo de rei que começou temente a Deus e terminou adorando a falsos deuses. Muitos entram e saem das Igrejas (I Jo 2:19), alguns demonstrando um fervor inicial que logo se apaga (Hb 6:4-6). Assim, urge a necessidade de vigilância pessoal (II Pe 3:17).

QUARTO AVISO: Vigiais para que não venham a cair em tentação.




[1] O ideal é ser as duas coisas, mas como é difícil reunir as duas coisas, é muito mais seguro - quando uma delas tiver que faltar - ser temido do que amado. Porque, dos homens em geral, se pode dizer o seguinte: que são ingratos, volúveis, fingidos e dissimulados, fugidios ao perigo, ávidos do ganho. E enquanto lhes fazeis bem, são todos vossos e oferecem-vos a família, os bens pessoais, a vida, os descendentes, desde que a necessidade esteja bem longe. Mas quando ela se avizinha, contra vós se revoltam. E aquele príncipe que tiver confiado naquelas promessas, como fundamento do ser poder, encontrando-se desprovido de outras precauções, está perdido. É que as amizades que se adquirem através das riquezas, e não com grandeza e nobreza de carácter, compram-se, mas não se pode contar com elas nos momentos de adversidade. Os homens sentem menos inibição em ofender alguém que se faça amar do que outro que se faça temer, porque a amizade implica um vínculo de obrigações, o qual, devido à maldade dos homens, em qualquer altura se rompe, conforme as conveniências. O temor, por seu turno, implica o medo de uma punição, que nunca mais se extingue. No entanto, o príncipe deve fazer-se temer, de modo que, senão conseguir obter a estima, também não concite o ódio. Nicolo MAQUIAVEL, in 'O Príncipe', cap. 17.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

O QUE PODEMOS APRENDER COM A AUTO-REVELAÇÃO DE DEUS A JÓ

1 Então, respondeu Jó ao SENHOR:
2 Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. 3 Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia. 4 Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. 5 Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. 6 Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza.
Jó 42.1-6


A Escritura afirma que tudo quanto foi escrito foi registrado para nossa instrução e consolação (Rm 15:4). Isto quer dizer que a história de servos de Deus como Adão, Abraão, José, Moisés e, especialmente nesta noite, Jó, devem nos servir de fonte de instruções preciosas. A história de Jó começa com a descrição de um homem temente a Deus – e de um astuto, oculto e poderoso acusador. Como juiz nesta disputa temos o Senhor de todas as coisas que permite que o acusador prove a Jó em sua fé, colocando-o em situações em que muitos vacilariam, mas ao final o inimigo tem que se dar quase que por vencido ao ouvir de Jó que tudo provém de Deus (Jó 2:10). Mas Satanás nem sempre está sozinho – e às vezes até mesmo as pessoas mais próximas de nós, que querem o nosso bem, podem ser usadas por ele, como foi a sua mulher (Jó 2:9) ou seus amigos que tiraram da possível culpa dos filhos (que morreram), com as quais Jó se preocupava, uma ligação com, também, culpa em Jó (Jó 8.4-6). Em sua dor Jó diz muitas coisas duras, como amaldiçoar o dia do seu nascimento (Jó 3.3-5), deseja a morte (sem, entretanto, tentar o suicídio) e questiona ao próprio Deus em sua justiça (Jó 34:6). E é por causa deste questionamento que Deus se revela mais intimamente ao seu servo. Jó o temia, Jó o amava – e o Senhor se lhe dá a conhecer mais intimamente (Sl 25:14). No verso 5 Jó resume o resultado desta impactante e profunda experiência que ele teve com Deus (Jó 42.5), provando que, de fato, o sofrimento de Jó não era por causa de pecado (Mt 5:8), mas para conduzi-lo a uma vitória irrefutável sobre satanás.
O que podemos aprender com a história de Jó, talvez o mais antigo dos livros da bíblia a ser escrito e anterior mesmo à saída de Abrão de Ur? Podemos aprender com Jó e sua experiência que

DEUS É SOBERANAMENTE ONIPOTENTE

2 Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado.
Acusado por Satanás, repudiado pelos cidadãos (Jó 27.19-23), sem o apoio dos amigos, ainda assim Jó estava nas mãos de um Deus soberano. O fato de Deus ser soberano pode ser bom ou ruim para o homem. Ou temos o Deus soberano como nosso Deus, ou o consideramos nosso adversário (Rm 5:10). O conhecimento que Jó adquiriu de Deus não foi fruto de suas experiências, mas de sua experiência com Deus – não se trata de meros eventos, mas do resultado da revelação que Deus faz de si mesmo. Ninguém pode conhecer a Deus se Deus não o revelar (Lc 10:22). Jó admite que Deus tudo pode, e isto pode significar duas coisas:
i.                   Que Deus tem poder para fazer tudo quanto desejar fazer, como o próprio Jó afirma (Jó 11:10). É no exercício desta soberania que Deus permite o sofrimento de Jó mas ao mesmo tempo impede satanás de tocar-lhe a vida (Jó 2:6).
ii.                Que ele tem o direito de fazer o que desejar (Ef 1:11), inclusive na história de qualquer um, de homens ou reinos (Is 45:9).
Em ambos os casos trata-se do exercício de sua onipotente soberania no governo de sua criação, o que inclui a nossa vida e nosso destino eternos, logo, é melhor tê-lo como amigo do que como inimigo.
Além de aprendermos que o nosso Deus é onipotente e soberano, também podemos aprender que

DEUS É MARAVILHOSAMENTE SÁBIO

3 Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia.
A percepção de Jó, após a revelação de Deus, é que Deus está acima da capacidade humana de compreensão, mas, ao mesmo tempo, nada foge ao seu conhecimento. Jó percebe que sem o verdadeiro conhecimento não há bom conselho – e quem é que pode dar conselhos a Deus (Is 40.13-14). Sem o verdadeiro conhecimento não há sabedoria – e se alguém quer sabedoria deve pedi-la a Deus (Tg 1:5). Sem conhecimento o melhor que o homem é capaz de produzir é estultícia e impiedade, tornando-se, assim, repreensível em suas descobertas. O questionamento existencial de Jó era: "qual pecado eu cometi para perecer sofrer"? A verdadeira sabedoria percebe que não sofrer é que é uma maravilhosa dádiva de Deus – e até mesmo o sofrer pode ser uma benção (At 4:21) bem como se tornar uma benção (I Co 4.11-13). E esta sabedoria só vem pela revelação de Deus (I Pe 4:14), que se mostra soberanamente sábio. Nada foge ao conhecimento de Deus, nem ações nem pensamentos (Jr 20:12), nada feito de dia ou de noite (Sl 139:12). O presente, passado ou futuro estão todos diante de Deus e fazem parte do seu propósito, seu único e eterno propósito (Ef 3:11).
Assim, com a experiência de Jo aprendemos que temos um Deus soberanamente onipotente, que é, também, maravilhosamente sábio. Mas, além disso, podemos aprender ainda que

DEUS É CONSTANTEMENTE PRESENTE

4 Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. 5 Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem.
É profundamente reconfortante para o crente saber que tem um Deus sempre presente, a ponto de fazer-se um conosco tanto na encarnação de Cristo (Is 7:14) quanto na doação do seu Espírito Santo (Mt 28:20). Nosso Deus é o Deus que escuta (Is 49:8) diferente dos que tem ouvidos e nada ouvem (Sl 115.3-7). O pedido de Jó é por ensino, por instrução. Jó não entendia, a princípio, o porquê do seu sofrimento, mas somente depois de perceber que Deus é soberano, sábio é que ele vai perceber que o Deus que ele adorava era um Deus presente. Era o Deus supremo, mas também o Deus presente (Is 57:15).  Ele não foi bem sucedido enquanto pretendeu possuir entendimento, não sabendo que os caminhos de Deus são mais elevados do que os que podemos perceber ou imaginar (I Co 2:9). Quando o Senhor se revela sabemos que ele é o Deus presente (Sl 145:18), diferente dos falsos deuses dos povos. Nosso Deus é o Deus que ensina, que se revela, que se dá a conhecer e que nos fala ao coração. Quando os adversários perguntam onde está o nosso Deus (Sl 42:3) e angustiados clamamos pelo Senhor ele fala conosco (Sl 27.7-8). Temos um Deus presente, que nos chama a si (Mt 11:28) e, quando atendemos, não nos rejeita (Jo 6:37).
Não devemos nos esquecer de quem é o nosso Deus, de quem é o Deus que se revela a Jó: ele é soberanamente onipotente, maravilhosamente sábio e está sempre pessoalmente presente. Todavia não podemos nos esquecer da quarta e última lição que Jó aprendeu, uma lição prática. Ele aprendeu que

DEUS É GRACIOSAMENTE BENEVOLENTE

6 Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza.
Ninguém pode confiar em sua própria justiça diante da santidade de Deus. Homens como Daniel, por exemplo, oravam ao Senhor confiados na graça de Deus (Dn 9:18). Jó, o homem que o próprio Deus considerava íntegro e reto (Jó 1:1) era, porém, apenas um homem. Era um homem de elevada integridade, mas era apenas um homem e, como tal, também era apenas um pecador (Ec 7:20). Acusado pelo diabo de ser apenas um interesseiro (Jó 1.9-10); acusado pelos amigos de ser um hipócrita e estar escondendo algum pecado que Deus resolveu punir publicamente (Jó 8.20), Jó, que sabia não ser nada disso (Jó 34:6) era, entretanto, um pecador, e acaba cometendo o erro de se ensoberbecer na sua própria integridade – e por isso precisa arrepender-se. Jó cometeu o pecado de confiar na sua própria justiça. Mesmo tendo a aprovação de Deus, como Jó tinha, ainda estamos sujeitos a cair neste pecado. Somente Cristo pode desafiar o príncipe deste mundo (Jo 14:30). Mesmo o justo Jó teve que se arrepender do pecado de, no mínimo, se achar tão justo quanto Deus (Is 64:6), embora, na verdade ele achava que estava sofrendo injustamente. Como qualquer outro homem Jó também precisou arrepender-se para ter seus pecados cancelados (At 3:19).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Depois de termos aprendido com o melhor de todos os professores, aquele conhece tudo, que é a fonte e a sustentação de tudo, devemos nos perguntar? Qual é o Deus que nós, que nos chamamos cristãos, temos conhecido?
O que há de errado com o nosso cristianismo?

DÚVIDAS A RESPEITO DA SOBERANIA ONIPOTENTE DE DEUS?

O que há de errado com a nossa fé, que fraqueja tão facilmente como se duvidasse da onipotência de Deus? O que há de errado com uma fé que, na primeira prova, teme mais o homem do que a Deus (Mt 10:28), como se Deus não fosse soberano (At 4:24) e não fosse capaz de julgar até mesmo as nações (Is 40.15).

DÚVIDAS A RESPEITO DA MARAVILHOSA SABEDORIA DE DEUS?

O que há de errado com uma fé que questiona os caminhos que Deus escolheu para nós e quer ditar novos caminhos? O que há de errado com uma fé que rejeita o sofrimento, a perseguição (II Tm 3:12) e, por outro lado, anseia pelas coisas que há no mundo (I Jo 2:15)? O que há de errado com esta fé que acha que crer em Cristo é sinônimo de vitória no mundo e não sobre o mundo (Jo 16:33).

DÚVIDAS A RESPEITO DA CONSTANTE PRESENÇA DE DEUS?

O que há de errado com uma fé que intenta andar sozinha, sem levar em consideração a presença daquele que prometeu que não nos deixaria órfãos (Jo 14:18) e que estaria conosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt 28:20)? Porque inventar substitutos inúteis e sem vida para o Deus presente, como se ele estivesse longe e incapaz (Sl 94.7-9).

DÚVIDAS A RESPEITO DA GRACIOSA BENEVOLÊNCIA DE DEUS?

O que há de errado com uma fé que pretende comprar o favor de Deus com sacrifícios (Is 1:11) mas que rejeita o método de Deus para se aproximar dele (I Jo 1:9). O que há de errado com uma fé que se acha possuidora de justiça e se afasta cada vez mais de Deus (Lc 18.14).

O QUE FAZER COM O ENSINO DO SENHOR

A Palavra de Deus nos ensina que aquele que sabe o que deve fazer, e deve fazer o bem, e não o faz, nisto peca (Tg 4:17).
Você já sabe que Deus é soberano e tudo faz como lhe apraz. Vai continuar lutando contra ele (Mt 12:30).
Você já sabe que Deus é maravilhosamente sábio – ainda acha que pode esconder algo daquele que conhece todos os seus caminhos (Sl 139:3).
Você já sabe que Deus está constantemente presente – ainda acha que vai conseguir ausentar-se de seu Espírito (Sl 139.7-8)?
Você já sabe que Deus é graciosamente benevolente e te oferece o perdão de seus pecados tão logo eles sejam confessados. Vai continuar rejeitando a graça de Deus (Hb 12:25).

CONCLUSÃO


Nem eu nem você sabemos absolutamente nada quanto ao dia de amanhã. O tempo que temos é hoje. Não há mais o tempo que passou – e talvez não tenhamos o porvir. Só temos o hoje. Só temos o agora. Exorto você a entregar a sua vida ao Senhor neste momento (Sl 37:5), a busca-lo enquanto há tempo para acha-lo (Is 55:6). Busque de todo o seu coração e ele se deixará achar por você (Jr 29:13) antes que chegue o tempo em que ele te buscará, não mais com graça (Lc 19:10) mas com julgamento (Pv 1. 24-30).

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