quinta-feira, 19 de março de 2009

PORQUE CONGREGAR? Ou... Não há desculpas para ficar em casa.

PORQUE CONGREGAR?
Ou... Não há desculpas para ficar em casa.

Lutar por direitos é uma prática muito comum dos homens. Relegar direitos também, por mais esquisito que possa parecer esta afirmação. Vejamos: o escritor da carta aos Hebreus demonstra claramente a superioridade do sacerdócio de Cristo sobre o hebraico que era mera representação, mera figura ou tipo do que haveria de vir – e veio – em Cristo Jesus.
Enquanto o primeiro tinha uma série de exigências cerimoniais, de purificação e estabelecia normas separatistas [sempre no intuito de mostrar a necessidade do crente de separar-se das práticas comuns dos povos que os cercavam] o segundo retira, por obra e graça de Deus em Cristo Jesus, todas as exigências cerimoniais e coloca uma única condição: a fé. Aliás, condição já existente no pacto cerimonial, mas encoberta, velada, pelos ritos.
Após mostrar a superioridade de Cristo, o escritor mostra que temos o caminho desimpedido [Hb 10] para apresentar-mo-nos diante de Deus [Jesus é o caminho – Jo 14.6]. E isto é um privilégio que quase a totalidade dos judeus não apenas não possuíam como sequer sonhavam com ele. Era uma exclusividade da tribo de Levi, e apenas os sacerdotes podiam adentrar as câmaras internas do templo – uma das quais era vedada a todos, exceto o sumo sacerdote, e isto apenas uma vez por ano, após oferecer sacrifícios por si mesmo e pelo povo, e ainda com um forte temor ao adentrar no santo dos santos.
Em Cristo este receio se desfaz – o que era medo torna-se intrepidez, confiança, ousadia. E não usar este privilégio é pecado terrível, é desobediência ao mandato divino e sinal de descaso para com a vontade de Deus. A ordem divina é "não deixe de congregar" [Hb 10.25]. É uma necessidade da qual o cristão deve ter uma clara certeza e um firme compromisso. Negar-se a cumprir esta ordenança é pecado tão sério quanto qualquer outro. Ausentar-se do culto por motivo justo e circunstancial [todas as coisas estão debaixo do controle divino] ainda pode ser aceitável, mas adaptar-se às circunstâncias para não mais congregar é comodismo, é pecado, é buscar a maldição e não a bênção. Apresentar-se diante de Deus é um privilégio, e podemos elencar três motivações claras para nos apresentarmos diante de Deus [e nenhuma delas é pelo medo de alguma punição – que certamente vem sobre aquele que deixa de congregar].
A primeira é que nos aproximamos do Santo para sermos abençoados. Sei que esta afirmação pode parecer com a prática de muitas comunidades neo-eclesiásticas interesseiras, que vivem tentando barganhar com Deus, mas não é isto o que pretendo afirmar. Afirmo que o fato de congregar, ler a palavra coletivamente, orarmos uns com os outros e pelos outros, entoarmos cânticos de louvor ao Senhor e ouvirmos a pregação da palavra são, todos eles, bênçãos que vamos buscar na Igreja. Também não me refiro a emprego, carro, casa, saúde, etc. como bênçãos indesejáveis. Estas coisas, porém, são bênçãos secundárias na vida do cristão. Elas podem vir como resposta à necessidades expressas em oração, súplica e ações de graças. Mas não devem ser o objetivo primordial do cristão. Mas se o cristão deseja a bênção de Deus o caminho é congregar – não deveria ser necessário mandar quem tem fome, sede e sobrecargas ir aonde há alimento, bebida e descanso.
A segunda motivação é que nos aproximamos do Santo por sermos abençoados. O contrário de bênção é maldição. Deixar de congregar significa deixar de receber a bênção de Deus – e isto implica em ficar só, o que é uma terrível maldição sobre a vida das pessoas. Não estamos afirmando aqui a perda da salvação [uma heresia rejeitada por todos os reformados sérios], mas o cristão que se afasta da bênção certamente coloca-se sob a justa disciplina de Deus. Deus já nos tem dado bênçãos maravilhosas, das quais podemos lembrar a inicial como suficiente para dar-nos motivação para adorá-lo obedientemente: ele nos salvou do império das trevas e nos transportou para o reino do filho do seu amor [Cl 1.13]. Se esta não for uma razão suficiente para o crente, então algo está errado com seu coração. Estará mais interessado nas coisas da terra, do mundo. Amará mais ao mundo do que a Deus [Mt 6.24]? Ora, a Escritura afirma claramente que quem ama o mundo não ama a Deus [I Jo 2.15].
A terceira motivação é que nos aproximamos de Deus para sermos abençoadores – a Igreja primitiva vivia comunitariamente, tinham tudo em comum. Congregavam diariamente, partiam o pão de casa em casa. Uma era a alma [Fp 1.27], lutavam juntos pela fé evangélica, dando suporte mútuo [Ef 4.2], motivados pelo amor de Deus derramado em seus corações [Rm 5.5]. Os que tinham muito dividiam com os que nada tinham – e quando problemas ocorriam [e havia problemas] as soluções eram buscadas em Deus. E o resultado é que todos eram abençoados, uns abençoavam aos outros, e a Igreja contava com a simpatia do povo, recebendo novos irmãos diariamente. A palavra de Deus crescia e se multiplicava porque os cristãos desejavam não apenas ser abençoados, mas também serem abençoadores. Um exemplo maravilhoso é o dos crentes da macedônia, que rogaram insistentemente ao apóstolo Paulo que lhes permitisse participar da assistência aos crentes judeus. Eram pobres [financeiramente], mas havia uma riqueza insuspeita em seu coração: o amor de Deus superabundava em seus corações, e eles deram-se a si mesmos, primeiro a Deus, depois aos apóstolos [II Co 8.4-5], abençoando a Igreja do seu tempo e também a Igreja de hoje, porque se tornaram exemplos para nós. Será que os que querem ser abençoados correndo aos desabaladamente para a primeira promessa de bênção desejam esta bênção, a de contribuir, que, aliás, segundo o apóstolo Paulo, é um dom [Rm 12.8]? Acho que não – contribuem por interesse, na vã tentativa de fazer negociatas com Deus [como se Deus fosse como muitos Políticos Trapaceiros nacionais].
Com base nestas motivações o escritor aos hebreus lembra que os cristãos não devem vacilar na guarda do mandamento, nem mesmo permitir que haja qualquer tipo de dúvida sobre a sua fé. Confessar a fé é mais do que dizer que crer – é vivenciá-la em todos os momentos, obediente, alegre e amorosamente.
E o que acontece com os que preferem ir aos cultos de vez em quando, quando dá vontade, ou quando são insistentemente cobrados pelos demais irmãos, que apenas cumprem Hb 10.25? Ainda que queiram ser abençoados, não se lembram de que já o foram e não desejam ser bênção. Há até aqueles que afirmam poder cultuar a Deus em seu quarto, usando erradamente um texto que fala de oração para justificar seu pretenso culto [Mt 6.6]. A menos que haja razões realmente impeditivas para congregar vez ou outra – saúde, exigências profissionais, familiares – a reunião de um só é um culto hipócrita, porque desobediente. É uma tentativa de enganar a sua própria consciência [e os de consciência cauterizada até conseguem] e a Deus [o que é impossível]. Um culto motivado pela desobediência é extremamente desagradável a Deus [I Sm 15.22].
Chega de hipocrisia e mentiras. Será que seu sofá ou cadeira é mais confortável do que a mão do Senhor? Será que o que sua TV te ensina [ou deseduca] para esta vida é mais importante do que o que a edificação que vem do Senhor para a vida eterna? Não adianta buscar desculpas esfarrapadas. Deus não as aceita. O Senhor Deus não aceita seu relaxamento. É inaceitável alguém dizer que ama a Deus sem obedecê-lo [Jo 14.21], que faz parte de um corpo sem estar jungido a ele [Ef 4.16] e que ama os irmãos, mas prefere manter-se distante [At 2.44]. É muito demais, até para mim.

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