Gn 25.19-34
Rebeca [a noiva confiante] e Isaque [o filho da promessa] demoraram quase 20 anos para terem filhos [Isaque já tinha em torno de 60 anos]. Rebeca era estéril, e somente após Deus atender uma oração de Isaque [Gn 25.21]. Deste pedido resultaram dois filhos: Esaú [que significa peludo, também conhecido como Edom, vermelho], e Jacó [suplantador, mais tarde conhecido como Israel, o homem que lutou com Deus]. Na cultura semítica o filho mais velho tinha alguns direitos especiais: herdava uma porção a mais que os demais irmãos e herdava principalmente o nome da família, visto que aquela era uma sociedade tribal e patriarcal. Esses direitos cabiam a Esaú. Todavia a descrição que a bíblia traz de Esaú é a de um homem impulsivo, pródigo, profano, sem preocupações além das do momento [Hb 12.16]. Esaú é chamado de um homem comum, não santificado, incrédulo, sem religião. Alguém assim não era digno de ser herdeiro da promessa.
Esaú nos apresenta algumas características dignas de nota:
i. ERA IMEDIATISTA: demonstra esta característica quando troca o seu direito à primogenitura [porção maior na herança e o nome da família], por um mero repasto de pão lentilhas de cor avermelhada [uma semente aparentada com o feijão e a soja]. Sua fala é emblemática quando Jacó lhe faz a proposta indecorosa [Gn 25.31-32].
ii. ERA COMUM: Esaú não parece ser um homem pervertido. Apesar de irar-se contra seu irmão por ter sofrido uma injustiça [ameaçando-o de morte – Gn 27.41] age diferente quando tem a oportunidade [Gn 33.4]. Esaú e Caim são exemplos de homens naturais, mas, enquanto um dá vazão às suas inclinações malignas matando o irmão sem ser ofendido o outro releva a injustiça sofrida. O problema de Esaú não era moral.
iii. ERA TRABALHADOR: Esaú aparentemente satisfazia as necessidades de sua família [Gn 33.1], e talvez por isso gozasse de uma certa preferência do seu pai [natural, visto que ele deveria ser o continuador da santa semente]. Do episódio da venda da primogenitura podemos inferir que era perseverante no seu propósito, e somente desistiu naquela ocasião após muito esforço, pois afirma estar a ponto de desfalecer.
iv. ERA MUNDANO: As preocupações de Esaú eram relacionadas às coisas materiais, e demonstra não ter nenhuma inclinação para as coisas espirituais, já que: a] vende o direito da herança da primogenitura por um preço irrisório; b] vende o direito de ser o continuador da linhagem da aliança; c] irrita-se quando é "abençoado" e percebe que teria que lutar para ser um homem livre.
O problema de Esaú era a falta de perspectivas espirituais. Apesar de ser um homem comum, poderíamos ate afirmar que socialmente bom, ele não tinha como alvo ser o canal de bênção de Deus para todas as famílias da terra [Gn 12.3]. Ele jamais se arrependeu de ter desprezado o direito de primogenitura. E por isso não foi abençoado, porque faltou-lhe tal sentimento [Hb 12.17] e por sua própria atitude apartou-se da graça de Deus [Hb 12.15] tornando-se um homem de coração amargo.
ESAÚ, SEMELHANTE A TODOS OS HOMENS
Podemos facilmente olhar para Esaú com olhar de reprovação, mas ele nada é além de um retrato fiel do homem natural. Despreza a atitude de buscar a Deus e suas bênçãos tentando resolver as coisas do seu modo sem levar em conta a direção de Deus. É justamente por isso que o homem natural não consegue entrar no reino de Deus: ele não o percebe [I Co 2.14], não o deseja nem o busca, a menos que seja despertado pelo Espírito de Deus [Mt 16.17]. Jesus rejeitou como seguidores pessoas que eram tidas como boas, e aparentemente eram, segundo a natureza, bons [Mc 1.17-23; Jo 3.7]. A afirmação de Jesus é clara: é necessário ter uma percepção espiritual para poder entrar no reino de Deus [Jo 3.3]. E isto faltava a Esaú.
Nenhum comentário:
Postar um comentário