Há pouco tempo sonhei com uma igreja. Ao entrar na Igreja, me deparei com uma estrutura simplesmente inacreditável. No hall uma secretária multilíngue encaminhou-me para uma escadaria marmorizada, orientando-me para tomar a direção correta pois havia varias opções, para vários lugares diferentes naquela Igreja: tesouraria, banheiros, arquivos, escritório pastoral. Logo depois cheguei a uma galeria onde caberiam, confortavelmente, segundo instruções, 192 pessoas em poltronas acolchoadas. A igreja era umas 12 vezes maior que a galeria. Ambiente totalmente climatizado, pessoas muito bem vestidas.
Logo o número de pessoas começou a aumentar, e numa fila de poltronas onde cabiam 8 pessoas 11 estavam assentadas. Até que as luzes se apagam e o som, cristalino e de inacreditável qualidade, começa a tocar. O sistema de áudio e projeção ilumina uma parte do "palco" para a entrada apoteótica do pastor diante dos olhos embevecidos dos presentes. Os efeitos visuais faziam parecer que o mesmo andava sobre o éter... em seguida, é a hora da apresentação da maestrina que entra com seus dois filhos, também sob grandes efeitos audiovisuais.
Logo depois é a vez dos presbíteros. Uma mesa, redonda, de excelente qualidade, é iluminada e nela estão assentados 5 dos muitos presbíteros daquela igreja. Cada reunião tem uma escala de presbíteros. A plateia, extasiada, completamente silenciosa observa o show. E o culto ainda nem começou. O louvor é dirigido por um grupo em uma sala acústica, completamente isolado do restante da igreja. Cada vez mais gente entra na igreja.
Depois de muito louvor, algumas orações emocionantes e emotivas, chega a hora da pregação.
E, para minha grande surpresa, é a minha voz que começa a ser espraiada pelo sistema de som. Leitura da palavra, pela primeira vez naquela reunião, e, à medida em que a mesma começa a ser exposta inexplicavelmente o sistema de climatização começa a falhar – o calor começa a tomar conta do ambiente, as pessoas, vestidas para um clima meridional, começam a se sentir incomodadas. Após 15 minutos de pregação nota-se um movimento em direção às portas. Deixo o meu lugar, e dirijo-me ao centro da Igreja, e peço aos 'crentes' que permaneçam ainda mais alguns minutos, até que a palavra seja exposta...
Não sei o resultado do meu apelo... meu despertadorzinho tocou. São 4.30h da manhã. O Hezrom está acordando, pedindo a atenção da mamãedeira... acordei e fui cuidar do pequeno, levando-o até a mamãe. Mas o sonho havia me impressionado profundamente. Por horas lembrei-me de cada detalhe, de cada gesto das pessoas. Decidi contá-lo aqui, e, ao mesmo tempo, refletir sobre a Igreja moderna.
O que me incomodou foi a seguinte pergunta: será que a busca pela excelência pastoral, som, iluminação, conforto, etc... realmente tem conduzido a Igreja a ser excelente aos olhos de Deus? Aquela Igreja era igreja de lugar nenhum. Ela não existe, não conheço nenhuma que possua tanto luxo e tanta tecnologia. Não sei quem era o pastor daquela Igreja – se novo ou velho, se experiente ou imaturo. Não conheço os músicos nem os presbíteros que apareceram – tornados, em algum momento, o centro das atenções. Eram apenas "instituições", isto é, tudo isto existe nas igrejas, mas, naquele ambiente, foram levados a um ponto extremo. Não sei o nome da Igreja, nem a cidade onde ela está localizada. Não sei se é perto ou longe, se a cidade é grande ou pequena. Mas isto não é, em nada, importante.
Outra coisa que me chamou a atenção é que, no exato momento em que a Palavra começou a ser proclamada, o conforto que todos tinham foi se transformando em desconforto, em incômodo a ponto de alguns fazerem menção de se retirar. O fato é que a palavra, quando proclamada, tem que ter o poder de mexer com o que está estabelecido. Ela é, afinal, martelo que esmiúça a penha. Ela vem para produzir transformação, e esta transformação tem que ser do pecador que está confortável em seu pecado, em suas conquistas, em seu cotidiano para um pecador que, insatisfeito com seu estado, procura refúgio em Cristo Jesus.
A Igreja que eu sonhei é diferente da Igreja dos meus sonhos. Já escrevi aqui sobre esta igreja. Ainda sonho com ela, ainda acho que é possível ter uma Igreja mais santa, mais consagrada, mais fiel. Onde pastores são fiéis na pregação da palavra, onde os membros sentem prazer na palavra de Deus, onde os jovens são fortes e vencem o maligno, onde os pais edificam os filhos e os filhos se alimentam da instrução que lhes é dada pelos pais. Esta Igreja com a qual eu sonho proclama a salvação em Jesus Cristo – haja ou não conforto físico, audiovisual ou semelhante. O conforto que esta Igreja tem é o de estar na mão do Senhor Jesus Cristo, sabendo que dali ninguém pode tirá-la, e que ele jamais vai lançá-la fora. A Igreja que está confortável no Senhor é a que sabe que nem a morte, nem a vida, nem coisas do presente nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura pode separá-la do amor de Deus que está em Cristo Jesus.
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