sexta-feira, 19 de outubro de 2012

DA COMPLETA DERROTA PARA A MAIS EXULTANTE VITÓRIA

117 O só existir entre vós demandas já é completa derrota para vós outros. Por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano? 8 Mas vós mesmos fazeis a injustiça e fazeis o dano, e isto aos próprios irmãos! 9 Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, 10 nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. 11 Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.

I Co 6.7-11

Há alguns anos uma pequena cidade no interior do nordeste viu sua rotina ser alterada drasticamente. Corria o boato de que um morador havia ganho uma quantia vultosa na loteria. Cidade pequena, logo todos sabiam quem era o ganhador. E ele correu a curtir a vida, tinha muito dinheiro, comprou carros, logo abriu uma rede de padarias na cidade e tudo ia bem... até que, inesperadamente, ele ficou numa situação financeira extremamente delicada por obra de um plano governamental. Seu dinheiro ficou retido, suas empresas ficaram sem condições de pagar os fornecedores, e começaram a fechar, uma após a outra. Logo o ex-pobre se tornou um ex-novo rico... nunca mais conseguiu se recuperar, e hoje sobrevive com poucos recursos, suficientes mas não mais abundantes. De vencedor, passou a ser mais um perdedor – sua fortuna era terrena, e aqui os ladrões roubam, mesmo aqueles que usam colarinhos brancos e recebem grande quantidade de votos. Roubam em nome do povo, mas roubam – e roubam muito. O problema em Corinto era parecido. Foram resgatados do reino das trevas para o reino do amor de Deus [Cl 1.13: Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor] mas estavam voltando para o lamaçal, como porcas lavadas [II Pe 2.22: Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio vômito; e: A porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal].

Porque isto era assim?

7 O só existir entre vós demandas já é completa derrota para vós outros. Por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano?

Porque a Igreja em Corinto não podia ser vencedora, apesar de ter sido enriquecida em toda sorte de bênçãos, na palavra, no conhecimento do Senhor Jesus [I Co 1.5: ...porque, em tudo, fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento]? Não eram, afinal, mais que vencedores em Cristo Jesus como todos os demais cristãos [Rm 8:37: Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou]? A questão é que, para ser mais que vencedor, tem que ser por meio de Cristo, não à parte de Cristo, não fazendo o que o ofende.

Paulo usa uma expressão forte para informar qual era o real estado da Igreja em Corinto. Embora eles se julgassem ricos, poderosos, nobres, moradores em uma das melhores e mais influentes cidades da Ásia Menor eles não sabiam realmente como o Senhor os via – e Paulo lhes informa, sob inspiração do Espírito Santo como eles realmente esteavam: eles estavam em completa derrota porque, fosse quem fosse o vencedor em suas contendas internas e externas, o perdedor sofreria o dano, o pretenso vencedor perderia espiritualmente por estar ferindo o corpo de Cristo e todos sofreriam por causa do mau testemunho.

É como se Paulo estivesse tirando as mascaras dos coríntios para que eles vissem quem eles eram [crentes], como estavam agindo [ímpios] e como deveriam agir [santos]. Ele oferecia-lhes um novo ponto de vista, novos óculos para que pudessem enxergar a realidade. Não os óculos da fantasia, da presunção, da arrogância e da soberba – mas os óculos do Espírito Santo.

Paulo mostra diversos motivos pelos quais a Igreja estava em completa derrota:

CHEIA DE CONTENDAS

A Igreja estava derrotada porque não cumpria o mandamento de Jesus quanto às contendas [Mt 5.39-41: Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas]. Os coríntios, como cidadãos romanos, estavam acostumados a recorrer aos tribunais – e, convertidos, saíram do paganismo mas muito do paganismo ainda permanecia neles.

Ninguém gosta de sofrer – ninguém gosta de ser machucado, a menos que seja doente, que seja masoquista. Entretanto, o Senhor está ensinando a mostrar que o cristão é diferente – ao invés de resistir pela força insiste com o amor [Rm 12:21: Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem]. Seu exemplo é o mais perfeito exemplo. Injuriado, não elevou a voz. Sendo Senhor do céu e da terra, não clamou pelo auxílio dos seus anjos [Mt 26.53: Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos?] o caminho mais fácil era o da resistência, do confronto, do enfrentamento. Jesus preferiu o da obediência à vontade de seu pai.

Lembro-me de uma antiga história sobre um sábio chinês, preso durante a ocupação japonesa. Ele foi acusado injustamente, apareceram várias testemunhas de acusação, todas mentirosas. Quando ele era levado para o lugar onde seria morto, sua mulher chorava chamando a atenção de todos. Ele, então, pergunta à mulher: "Por que choras"?, ao que ela responde: "Por que morrerás sendo inocente", ao que ele retruca: "Preferias que eu morresse sendo culpado?". Para Jesus, sofrer sendo justo não é motivo de tristeza, mas de júbilo. Ser perseguido por causa da justiça é ser equiparado aos profetas e fonte de grande alegria e galardão [Mt 5.11: Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós].

Não pode o cristão é sofrer como bandido – os tais não herdarão o reino dos céus [I Pe 4.15-16: Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome].

A derrota da Igreja era devido ao fato que não havia disposição para sofrer por causa da justiça – havia, pelo contrário, o desejo do justiçamento, e isto ao ponto de comprometer o testemunho da Igreja tanto no que se refere à unidade quanto à pureza, pois estavam aceitando, para provar seus pontos de vista, assentarem-se na mesa dos demônios, usufruindo do seu ignóbil cálice.

CHEIA DE MALDADE

8 Mas vós mesmos fazeis a injustiça e fazeis o dano, e isto aos próprios irmãos!

A derrota também se devia ao fato de que cada membro da Igreja não apenas lutava mais por seus próprios interesses pessoais que pelo evangelho e por isso seu testemunho era francamente negativo, mas, também, pelo fato de ter se tornado um lugar onde irmãos estavam lutando, ferrenhamente, contra os próprios irmãos.

Tanta energia estava sendo gasta neste processo de ser vencedor na Igreja e não em Cristo que não sobrava energias para lutar contra o pecado, estavam de tal forma debilitados e feridos, sangrando por suas próprias mordidas [Gl 5.15: Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não sejais mutuamente destruídos] que não lhes sobrava qualquer folego para lutar ao lado de Jesus. Ao invés de ajudar, atrapalhavam, ao invés de contribuir, eram adversários [Mt 12.30: Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha].

Os coríntios queriam vencer suas lutas, queriam ganhar suas próprias batalhas, esquecendo-se que, mesmo que ganhassem o mundo inteiro, estavam colocando em risco de dano algo muito, muito mais precioso [Lc 9.25: Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou a causar dano a si mesmo?].

Para Paulo não importava quem tinha direitos ao recorrer aos tribunais –o ponto fundamental era que nenhum deles estava correto ao adotar procedimentos jurídicos contra irmãos. O erro não era, como dizem nos tribunais, de jus, mas de praxis. Não era quem tinha direitos, era como eles estavam sendo buscados, e o fato de eles serem colocados acima da unidade da Igreja de Cristo – estabelecida pelo seu precioso sangue.

Isto era causar dano à Igreja do Senhor, causar dano ao corpo de Cristo, ao templo do Espírito Santo – e ele já havia advertido estes mesmos coríntios do que aconteceria com aqueles que assim procedessem [I Co 3.17: Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado].

Quando um cristão entrava em um tribunal gentio ele já entrava como um derrotado, a menos que fosse para proclamar que Jesus Cristo é o Senhor, e não o imperador – mas, para entrar assim, ele entraria como acusado, como réu, sua vitória só seria possível se ele ali entrasse algemado. Só saía de lá vencedor se a gloria fosse dada ao Senhor da justiça, ao único justo [Is 51.7: Ouvi-me, vós que conheceis a justiça, vós, povo em cujo coração está a minha lei; não temais o opróbrio dos homens, nem vos turbeis por causa das suas injúrias], e nenhuma oferenda prestasse aos deuses pagãos.

Quando dois cristãos compareciam a um destes tribunais em contenda um contra o outro ambos eram perdedores, e levavam consigo a Igreja, maculando sua pureza e prejudicando seu testemunho. Ali não mais estavam cristãos sofrendo por sua fé [Jo 16.33: Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo], mas pecadores buscando seus interesses pessoais e lutando contra a unidade que o Senhor veio estabelecer e ordena aos seus discípulos que se esforcem por preservar [Jd 1.3: Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos]. Agiam assim porque lhes faltava humildade e mansidão, não estavam dispostos a dar aos irmãos o suporte amoroso que o Senhor exige dos seus [Ef 4.2-3: ...com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz].

O que se via em Corinto era algo diferente do que se esperava dos cristãos. Não eram ímpios a causarem danos aos cristãos. Irmãos oprimindo ao seu próximo. Não sabemos qual era o teor do processo [ou dos processos] que os levava aos tribunais, mas de uma coisa podemos ter certeza: eram questões terrenas [I Co 6.4: Entretanto, vós, quando tendes a julgar negócios terrenos, constituís um tribunal daqueles que não têm nenhuma aceitação na igreja].

Por desejarem demais as coisas terrenas [Fp 3.19: O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas] e passageiras [I Jo 2.17: Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente] que não deviam ser amadas o amor fraternal era esquecido, a unidade da Igreja era quebrada.

Os coríntios iam além da quebra do mandamento de amar ao próximo [Mc 12.33: ...e que amar a Deus de todo o coração e de todo o entendimento e de toda a força, e amar ao próximo como a si mesmo excede a todos os holocaustos e sacrifícios]... avançavam muito além da quebra do mandamento [Jo 13.34: Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros] probatório da obediência e amor a Jesus [Jo 13.35: Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros] aos olhos de todos, inclusive dos incrédulos.

Mas ali os crentes não apenas não se amavam, não apenas rejeitavam a ideia de sofrer dano como iam além, causando, eles mesmos, danos aos demais membros do corpo [I Co 12.26: De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam].

Há muitos anos fui fazer uma visita em uma fazenda, no interior de uma pequena cidade na Bahia, e deparei-me com uma situação curiosa: um cachorro tinha a sua boca presa por uma focinheira, e o que restava de sal pata traseira direita estava enrolada em folhas de bananeira. Fiquei curioso e perguntei o porque daquilo, e o dono me disse que era para que o próprio cão não comesse a perna ferida. Isto é algo anormal, não costuma acontecer – mas estava acontecendo e era espantoso e foi necessária a intervenção do dono do cão para que ele não se matasse aos poucos.

Quando Paulo escreve aos coríntios não era anormal um cristão ser injustiçado. Mas não era aceitável que o causador do dano fosse outro cristão. A tendência verificada em Corinto, de que uma Igreja de vida tranquila, próspera, gozando de relativo poder veja surgir em seu meio atitudes como essas vai se verificar na Igreja, em outras ocasiões, como aconteceu com Diótrefes [III Jo 1.9: Escrevi alguma coisa à igreja; mas Diótrefes, que gosta de exercer a primazia entre eles, não nos dá acolhida] ou, ao longo da sua historia, quando o cristianismo se tornou a religião oficial do império, perseguindo e matando gentios e especialmente cristãos que pensassem diferente da Igreja estabelecida; ou ainda nas cruzadas, algumas delas se esquecendo dos muçulmanos e perseguindo os próprios cristãos a ponto de destruir Constantinopla, a capital do império romano do oriente, literalmente abrindo as portas da Europa para a invasão destes mesmos muçulmanos; ou ainda a famigerada inquisição que tantos cristãos levou às fogueiras, alguns pelo simples crime de carregarem uma bíblia consigo e quererem viver em obediência ao que ali conseguiam ler. Até mesmo os protestantes incorreram neste mesmo erro em mais de uma ocasião.

Historicamente podemos ver o grande mal que a cristandade causou a si mesma com as suas perseguições internas. Espiritualmente é a mesma coisa. A Igreja de Corinto estava dividida. Suas disputas internas a enfraqueceram. Eram objeto de escárnio e não estavam se dando conta do fato que perderam o poder de testemunhar do amor salvador de Jesus. Possuíam gente capaz de discursos inflamados e poderosos, impressionantes, mas vazios de poder espiritual, por isso estavam dando tanta ênfase à filosofia e pouca à graça do Espírito.

Se já era absurdo um cristão recorrer a um tribunal romano, pelas implicações sociais e espirituais com a idolatria aos ídolos pagãos, Paulo considera totalmente inimaginável um irmão fazer isso contra outros irmãos, acusando uma parte do corpo de Cristo diante de demônios. É como se a mão, que não sente o ardor da pimenta, levasse-a aos olhos intencionalmente. Se isto lhe parece um absurdo, então você está certo: é realmente um absurdo, mas era o que estava acontecendo em Corinto.

Era uma espécie de auto envenenamento, de autodestruição. A casa coríntia estava dividida – e dividida como estava não podia subsistir [Mt 12.25: Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá]. Conhecedores desta verdade os romanos conquistaram o mundo antigo. Seu lema era "divida para conquistar". Eles faziam com que os povos se mantivessem divididos, e assim permaneciam frágeis, sendo presas fáceis para seus exércitos.

O inimigo da Igreja sabe muito bem disto. Sente prazer em ver a Igreja dividida para mais facilmente feri-la, ainda que não possa destruí-la. Certa vez, no Paraná, conheci uma pessoas que influenciavam a existência de vários grupos dentro da Igreja, promovendo divisões e, sendo, sempre, "amigos e parceiros" de cada um destes grupos, uns contra os outros.

Ficava muito fácil manipular os grupos – e assim controlar a Igreja. Um dia sua estratégia foi descoberta, perderam influência e deixaram de controlar a Igreja – preferiram, logo depois, deixa-la, não sem antes causar enorme estrago no seio da comunidade que até o dia de hoje ainda não se recuperou.

Ali foi possível ver com clareza a verdade bíblica de que uma casa dividida não pode subsistir. Por outro lado também encontramos exemplos na bíblia de um grupo que tinha tudo para dar errado. Era composto por proscritos, fugitivos, homens de espírito amargurado [I Sm 22.2: Ajuntaram-se a ele todos os homens que se achavam em aperto, e todo homem endividado, e todos os amargurados de espírito, e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens] mas unidos, prontos a se protegerem sob a liderança de Davi a ponto de se tornarem, anos mais tarde, grandes líderes do povo de Deus.

Aqueles amargurados não apenas se protegiam mas também abençoavam as cidades por onde viviam. Sofriam injustiça e perseguição, e revidavam com cuidados. Tinham especial amor pelos demais membros do povo de Deus faziam o bem a todos, cuidavam de sua família de fé.

CHEIA DE INJUSTIÇA EM BUSCA DE COISAS TERRENAS

9 Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, 10 nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus.

Paulo faz um agudo contraste entre o que os coríntios buscavam nos tribunais pagãos, coisas terrenas, e o que Deus daria com absoluta justiça a cada um deles. Uma tradução literal do verso 9 diz que "não sabem que de Deus os injustos não ganharam seu reino". Qual era a suprema aspiração dos coríntios? O que ocupava seus desejos? Em que tesouros estava seu coração [Mt 6.19-21: Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração].

Por causa de seu mundanismo, sede de poder e outras coisas que não é necessário mencionar novamente, eles estavam agindo sem a justiça de Deus, sem a única justiça que realmente importava [Rm 5.1: Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo]. Como injustos, recorriam à justiça dos injustos, aos métodos dos injustos, e só podiam receber a recompensa dos injustos: poder, filosofia, honra e tesouros terrenos.

Mas, e no reino de Deus, o que eles receberiam? O que podiam esperar daquele Deus que dos céus se inclina para ver o que fazem os filhos dos homens [Sl 113.5-6: Quem há semelhante ao SENHOR, nosso Deus, cujo trono está nas alturas, que se inclina para ver o que se passa no céu e sobre a terra?] e que a cada um retribui segundo as suas obras [Jó 34.11: Pois retribui ao homem segundo as suas obras e faz que a cada um toque segundo o seu caminho]?

Paulo lembra-lhes que os praticantes de impurezas sexuais, idolatria, adultérios, homossexualismo [tanto ativo quanto passivo, masculino ou feminino], roubos, avareza ou bebedices, ladrões de bens ou da honra alheia [maldizentes] não receberiam nada do reino de Deus.

Não sabemos se todos estes pecados eram encontrados na Igreja de Corinto, mas eles eram livremente praticados na cidade. O que fica claro é a natureza da ação injusta – todas, não importando o nome, eram igualmente reprováveis – e os amantes e praticantes da injustiça [Ap 22.15: Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira] evidenciavam o que lhes ia no coração.

Por amor a si mesmo e ao mundo evidenciavam desamor para com Deus. Podemos ver isso no caso do próprio Paulo: amava sua religião, era extremamente zeloso [Gl 1.14: E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais], mas seus valores precisavam ser revistos [Fp 3.7: Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo].

Paulo consente na morte de Estevão e passa a perseguir a Igreja. Mas quando alguém faz mal à Igreja na verdade está fazendo mal ao cabeça da Igreja, ao seu Senhor: perseguindo a Igreja, Paulo perseguia, na verdade, ao Senhor Jesus [At 22.7-8: Então, caí por terra, ouvindo uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Perguntei: quem és tu, Senhor? Ao que me respondeu: Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem tu persegues].

No entanto, esta Igreja, apesar de encontrar-se em completa derrota, apesar de não poder levantar-se, podia ser, ainda, levantada – como se fora um toco, a santa semente ainda podia germinar pela graça de Deus [Is 6.13: Mas, se ainda ficar a décima parte dela, tornará a ser destruída. Como terebinto e como carvalho, dos quais, depois de derribados, ainda fica o toco, assim a santa semente é o seu toco], como um vale de ossos secos aos quais os homens desprezariam, ainda podia haver vida se o Senhor resolvesse glorificar o seu nome ali [Ez 37.11-13: Então, me disse: Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel. Eis que dizem: Os nossos ossos se secaram, e pereceu a nossa esperança; estamos de todo exterminados. Portanto, profetiza e dize-lhes: Assim diz o SENHOR Deus: Eis que abrirei a vossa sepultura, e vos farei sair dela, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel. Sabereis que eu sou o SENHOR, quando eu abrir a vossa sepultura e vos fizer sair dela, ó povo meu].

ALVO DA GRAÇA DE DEUS PARA SEREM DIFERENTES

11 Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.

Diante dos coríntios Paulo coloca um quadro tenebroso dos que são destinados a ficarem de fora do reino de Deus, e lhes pergunta: vocês conhecem estas práticas? Vocês reconhecem tais práticas? Vocês não tem vergonha delas? Vocês não se lembram de que Deus lhes tirou destas práticas para que vocês fossem diferentes, zelosos de boas obras [Tt 2.14: ...o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras].

A lista de pecados dos quais os coríntios foram remidos é extensa – e os coríntios sabiam bem quem havia sido o que, em qual ou quais pecados cada um deles se sobressaia. Não era difícil encontrar praticantes de injustiças [ou, mais precisamente, destituídos da justiça de Cristo] em Corinto – a ênfase é no caráter destas pessoas, não necessariamente no que faziam. E esta injustiça era agravada por uma entrega ao pecado que estava arraigado na cultura daquela região, porque Corinto era um entreposto comercial, e nestes lugares os comerciantes deixam não apenas mercadorias, mas conceitos, práticas, pecados. É impossível que tais pessoas entrem na posse do reino de Deus, que é essencialmente santo. Deus não dará o seu tesouro a quem não pode usufruí-lo, não dará suas pérolas aos porcos [Mt 7.6: Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com os pés e, voltando-se, vos dilacerem]. Porcos querem porcarias, e disso Corinto estava repleta.

A impureza sexual era o principal produto de exportação coríntio. A cidade era famosa – corintianizar significava sucumbir à mais baixa moralidade possível. Não é de se surpreender que impuros e idólatras fossem encontrados ali em grande abundância. A idolatria, quanto mais avança, faz-se acompanhar de baixos padrões de moralidade, e não é sem razão que o culto idólatra é colocado no mesmo nível de qualidade de demonolatria [I Co 10.20: Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios]. A primeira parte da lista dos quais os coríntios faziam parte trata essencialmente das imoralidades sexuais associadas ao culto pagão reinante naquele lugar [adultério, travestismo e homossexualismo].

A segunda parte da lista trata das relações interpessoais num ambiente de rapinagem comercial. Ali havia de tudo. Desde pequenos ladrões a pessoas dominadas pelo desejo de ter cada vez mais, avarentos e roubadores. Todos estes amam o mundo e as coisas que há no mundo [I Jo 2.15: Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele] evidenciando que não tem qualquer tipo de relacionamento com o pai. Seu coração está onde está o seu tesouro, e o seu tesouro não está no céu [Mt 6.19-21: Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração]. O que torna o problema ainda maior é que eles eram os ladrões – e não roubavam apenas objetos, iam até onde podiam, roubando até a honra daqueles contra quem lançavam os dejetos que enchiam seus corações [Lc 6.45: O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração].

Mas Paulo pretende salientar não o passado dos coríntios – ele afirma que eles foram daquela maneira. Mas já não eram mais, como lhes diz na sua segunda carta [II Co 5.17: E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas]. A solução para a triste situação da Igreja coríntia era eles se lembrarem de quem eram, mas não para ficarem se lamentando pelo que foram [Ef 4.22-24: ...no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade] mas o que fariam dali pra frente [Ef 4.25: Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros]. Eles já não eram mais os impuros – pois foram lavados pelo lavar regenerador do Espírito [Tt 3.5: ...não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo]. Já não eram mais os ímpios – pois foram santificados em Cristo Jesus, como Paulo já lhes havida dito [I Co 1.2: ...à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso]. Sua impureza e impiedade foram removidas porque o próprio Deus os declarou justos [Rm 8.33: Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica] numa sentença contra a qual não cabe apelação de maneira alguma [Jó 11.10: Se ele passa, prende a alguém e chama a juízo, quem o poderá impedir?].

É a vitória que Cristo dá aos seus [I Jo 5.5: ...porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?] , que os capacita a vencer o pecado [I Co 15.57: Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.] que os assedia tão feroz e constantemente [Hb 12.1: Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta,] que faz deles mais que vencedores [Rm 8.37: Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou].

Por Cristo o crente pode bradar em alto e bom som que a morte foi vencida, que ela foi derrotada [I Co 15.55: Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?] que a vitória foi definitiva e completamente alcançada na cruz do calvário [Cl 2.15: ...e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz].

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