10 Ora, aos casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido 11 (se, porém, ela vier a separar-se, que não se case ou que se reconcilie com seu marido); e que o marido não se aparte de sua mulher.
12 Aos mais digo eu, não o Senhor: se algum irmão tem mulher incrédula, e esta consente em morar com ele, não a abandone; 13 e a mulher que tem marido incrédulo, e este consente em viver com ela, não deixe o marido. 14 Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos.
15 Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz. 16 Pois, como sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, como sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?
I Co 7.10-16
Estes não são os únicos princípios que podemos encontrar nas Escrituras. Com um pouco de cuidado podemos encontrar outros extremamente valiosos e que devem ser observados, como, por exemplo:
i. O marido assumir o seu papel como cabeça da família, líder que vai à frente, mostrando o caminho. Um cabeça que lidera com amor, amando sua esposa como Cristo ama a Igreja e deu a sua vida por ela [Ef 5.25: Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela];
ii. A esposa como auxiliadora, liderada, seguindo seu marido e contribuindo para o bem estar do seu lar, submetendo-se ao seu esposo por causa do amor que recebe, como a Igreja é amorosamente obediente ao seu Senhor [Ef 5.22: As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo];
iii. Ambos, esposo e esposa, criando os seus filhos no temor e na admoestação do Senhor [Ef 6.4: E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor] disciplinando-os de maneira bíblica e firme [Dt 8.5: Sabe, pois, no teu coração, que, como um homem disciplina a seu filho, assim te disciplina o SENHOR, teu Deus], cabendo ainda aos filhos honrar a seus pais [Dt 5.16: Honra a teu pai e a tua mãe, como o SENHOR, teu Deus, te ordenou, para que se prolonguem os teus dias e para que te vá bem na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá].
Também há um outro principio que o cristão deve observar, mas que vem sendo cada dia mais frequentemente rejeitado, que é o de casar-se no Senhor [I Co 7.39: A mulher está ligada enquanto vive o marido; contudo, se falecer o marido, fica livre para casar com quem quiser, mas somente no Senhor]. Podemos ver que os judeus levavam esta ordem em consideração, com absoluta seriedade [Ed 9.12: Por isso, não dareis as vossas filhas a seus filhos, e suas filhas não tomareis para os vossos filhos, e jamais procurareis a paz e o bem desses povos; para que sejais fortes, e comais o melhor da terra, e a deixeis por herança a vossos filhos, para sempre], a ponto de verem uma tribo quase chegar à extinção [veja Juízes 21]. Também foi uma preocupação dos reformadores após o retorno do exílio sob Esdras e Neemias [Ed 9:1-2: Acabadas, pois, estas coisas, vieram ter comigo os príncipes, dizendo: O povo de Israel, e os sacerdotes, e os levitas não se separaram dos povos de outras terras com as suas abominações, isto é, dos cananeus, dos heteus, dos ferezeus, dos jebuseus, dos amonitas, dos moabitas, dos egípcios e dos amorreus, pois tomaram das suas filhas para si e para seus filhos, e, assim, se misturou a linhagem santa com os povos dessas terras, e até os príncipes e magistrados foram os primeiros nesta transgressão], que logo perceberam e decidiram consertar os danos morais e espirituais para uma nação que deveria ser santa [Ed 10.11: Agora, pois, fazei confissão ao SENHOR, Deus de vossos pais, e fazei o que é do seu agrado; separai-vos dos povos de outras terras e das mulheres estrangeiras], povo de propriedade exclusiva do Senhor [I Pe 2.9: Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz] por quem ele pagou altíssimo preço [Ef 2.13: Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo].
Estes são princípios que devem ser aplicados às famílias em todo o tempo, em toda e qualquer circunstância – são princípios eternos, oriundos da palavra eterna do Deus eterno, que tem apenas um projeto para seus filhos – um propósito eterno e imutável [Ef 3.11: ...segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor,]. Um estudo no texto selecionado nos apresenta três princípios que devem ser observados pelos cristãos para que seu casamento não se torne uma fonte de tristeza, mas de alegria e, principalmente, de paz no Senhor.
I. O CASAMENTO É UMA ALIANÇA ESPIRITUAL E ETERNA
10 Ora, aos casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido 11 (se, porém, ela vier a separar-se, que não se case ou que se reconcilie com seu marido); e que o marido não se aparte de sua mulher.
O primeiro princípio que o cristão deve manter em relação ao casamento é que ele é uma instituição divina. Ou, dito de outra maneira, um cristão, casado com uma cristã, entende que o casamento é mais que uma simples união física, mais do que uma união financeira, é o tornar-se um com o seu cônjuge numa união que é também espiritual, numa aliança feita em Deus, diante de Deus e sustentada por Deus que faz deles uma só carne [Mt 19.5: ...e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne?]. Paulo afirma que a manutenção do matrimonio é uma ordenança do Senhor que deve ser cumprida [Mt 19.6: De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem]. Ele ordena que a mulher não sofra a separação nem o homem seja apartado de sua mulher, por qualquer que seja o motivo. O verbo usado por Paulo está na voz passiva, isto é, o cristão é influenciado, sofre pressão para agir desta ou daquela maneira – não parte dele, embora seja responsável pelo que vier a fazer em consequência desta pressão. Podemos considerar que motivos externos podem servir de desculpas para uma separação, podem ser a causa, mas Paulo afirma que marido e mulher não podem sofrer esta influência deletéria.
A ordem bíblica é que o cristão sequer cogite deixar a pessoa com quem estabeleceu uma aliança para toda a vida. A indissolubilidade do casamento para o cristão também requer, se necessário e possível, a busca da restauração e reconciliação, o oferecimento do perdão, lançando todas as dívidas aos pés da cruz de Cristo.
Por ser uma questão de amor e obediência Paulo traz à tona a questão do perdão – em caso de separação entre cristãos, cabe as mesmos envidar todos os esforços para buscar a reconciliação, a restauração dos laços que, devendo ser eternos, foram quebrados por algum motivo mundano e terreno, portanto, passageiro.
Paulo não menciona a exceção permitida por Cristo [Mt 5.32: Eu, porém, vos digo: qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério] porque não está tratando do divórcio em si, mas da estabilidade do casamento e respondendo a uma pergunta específica dos coríntios – ademais, ele não precisava mais tratar da impureza sexual porque já havia mencionado antes que aquelas eram obras infrutíferas das trevas [Ef 5.11: E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as] com as quais os coríntios não deveriam, de modo algum, participar. Eles foram partícipes delas [I Co 6.11:Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.] e viram que nenhum benefício obtiveram.
II. A NOVA FÉ É INSTRUMENTO PARA ABENÇOAR O CASAMENTO
12 Aos mais digo eu, não o Senhor: se algum irmão tem mulher incrédula, e esta consente em morar com ele, não a abandone; 13 e a mulher que tem marido incrédulo, e este consente em viver com ela, não deixe o marido. 14 Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos.
O segundo princípio que o cristão deve considerar é que, se casado com um incrédulo, deve ser instrumento de Deus para abençoa-lo. A vida do cristão, casado com um incrédulo, é uma dura prova, pois ele é colocado diante de um juiz severo, que é ao mesmo tempo testemunha de acusação e promotor. Sabemos que é no lar onde é mais difícil ser perfeito, andando diante de Deus num testemunho constante [Gn 17.1: Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o SENHOR e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito]. É possível ser aparentemente perfeito e honesto no trabalho, ser aparentemente perfeito e agradável no lazer, ser aparentemente santo e perfeito no ambiente da Igreja, dentro dos muros santos. Mas ser testemunha em seu lar é muito difícil, mas é essencial ao homem cristão assumir a direção do seu lar com o firme propósito de conduzi-lo aos pés de Cristo como Senhor e cabeça; é essencial à mulher o testemunho submisso, obediente, pois isto agrada a Deus e é a conduta do cristão que cala os opositores, não a sua fala [I Pe 2.12: ...mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação] demonstrando que a mulher cristã, mesmo que, muitas vezes, discorde do esposo, coloca a vontade de Deus acima da sua própria.
Embora Paulo não possa mencionar palavras diretas de Cristo sobre este assunto ele pode dar determinações à Igreja por considera ter, também ele, o Espírito de Cristo [I Co 7.40: Todavia, será mais feliz se permanecer viúva, segundo a minha opinião; e penso que também eu tenho o Espírito de Deus], isto é, ele também tem a autoridade apostólica [I Co 9.1: Não sou eu, porventura, livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Acaso, não sois fruto do meu trabalho no Senhor?] e a inspiração para orientar a Igreja em questões espirituais e até mesmo institucionais [I Co 7.17: Ande cada um segundo o Senhor lhe tem distribuído, cada um conforme Deus o tem chamado. É assim que ordeno em todas as igrejas]. Paulo está tratando de casais compostos por gentios que, no decorrer da sua caminhada matrimonial, viram um de seus cônjuges abraçarem a fé, enquanto o outro continua rejeitando-a. Em algumas situações os cristãos eram perseguidos até mesmo pelo próprio cônjuge, como atesta a história de Blandina [também chamada Brandina], cristã galesa do II séc. que, denunciada por seu marido e, embora frágil em sua constituição física, maltratada pelos carcereiros, mostrou-se uma gigante e não negou em absoluto a sua fé, morrendo sem negar o nome de Cristo, dando valioso testemunho para seus contemporâneos.
Para Paulo tais casamentos constituídos antes da conversão a Cristo, são considerados legalmente válidos, todavia, devem ser vistos em um grau de qualidade diferente, porque não podem ser ditos que foram feitos no Senhor [I Co 7.39: A mulher está ligada enquanto vive o marido; contudo, se falecer o marido, fica livre para casar com quem quiser, mas somente no Senhor]. Sua manutenção depende, em primeira análise, da atitude do inconverso. Cabe ao cristão fazer todo o esforço para que sua família seja mantida – todavia, no ambiente de perseguição que viviam, a decisão de apartar-se ou não caberia ao incrédulo. A atitude do cristão seria sempre amar a sua esposa ou ser submissa ao seu esposo – isto valia tanto para homem quanto para mulher. Se o incrédulo "considerava correto" manter-se casado com o convertido, cabe ao crente buscar santificar ao incrédulo, isto é, abençoa-lo não com a salvação [porque, afinal de contas, a conversão é fruto da ação do Espírito Santo – não por força ou por poder coercitivo humano [Zc 4.6: Prosseguiu ele e me disse: Esta é a palavra do SENHOR a Zorobabel: Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos.], mas com seu proceder justo]. As bênçãos de Deus seguem o cristão obediente [Dt 28.2: Se ouvires a voz do SENHOR, teu Deus, virão sobre ti e te alcançarão todas estas bênçãos] e inevitavelmente abençoam aqueles que estão sob sua influência – cônjuge e filhos, especialmente estes últimos, ainda mais quando criados segundo os ditames das Escrituras.
Se o incrédulo aceita viver com o cristão, mesmo quando este dá um testemunho eficiente, o cristão deve ver isto como uma oportunidade preciosa para falar e demonstrar o amor de Jesus por pecadores. Seu cônjuge é um campo missionário, próximo, constante, acessível – não deve o cristão desprezar esta preciosa oportunidade, tanto mais quanto amar o seu cônjuge.
III. A NOVA FÉ É CAMINHO DE LIBERDADE
15 Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz. 16 Pois, como sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, como sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?
Ainda tratando do relacionamento de um casal em que um dos cônjuges tenha se convertido após o matrimonio, Paulo trata de outra possibilidade, que é a do cônjuge inconverso não desejar continuar casado com o cristão – afinal, são princípios e práticas absolutamente diferentes. Os coríntios podem ter perguntado a Paulo: E quando o incrédulo resolve separar-se? E quando testemunho de fé torna-se um obstáculo para que o inconverso consiga conviver com o santo? Não deve o cristão lamentar uma decisão tão drástica do cônjuge. O cristão tem a convicção de que o casamento é uma instituição de Deus – e a lei de Deus é imutável. Mas esta lei só é observada amorosamente pelos cristãos. Só assim conseguimos compreender as leis que regem o casamento e o divórcio.
São as leis do nosso país, e como cidadãos nos submetemos a elas. Mas elas não são determinantes para nós – determinantes são as leis de Deus. É óbvio que as leis que regem o casamento, como um contrato social, são razoavelmente justas na medida em que o homem irregenerado consegue ser justo. Elas expressam leis naturais, preocupações naturais de homens naturais, não nascidos de novo. São acordos, contratos sociais que, como todo contrato, pode ser quebrado a qualquer momento.
Quando um incrédulo resolve romper a aliança, especialmente por causa da fé, ele faz o que lhe é natural, e em muitos casos, apesar da dor e do sofrimento, isto pode significar uma libertação de uma opressão espiritual e o chamado de Deus à paz.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para o cristão é claro que aquilo que Deus uniu ninguém separará. Ele entende que o casamento é uma aliança eterna – e por isso o cristão deve ter paz no coração quando um incrédulo prefere seguir as suas próprias inclinações pecaminosas e dissolver o que deveria ser até a morte. Apesar das lutas e sofrimentos que são resultados da quebra de uma aliança como esta, devemos lembrar que o Senhor nos chama à paz, e só será destruído o que o Senhor permitir que seja destruído.
E ele só permitirá que seja destruído o que ele não edificou, o que não veio do seu coração. Deste modo o homem deve ser espelho, representante de Deus, embaixador de Cristo em seu lar, e a mulher deve ser no lar uma pequena amostra do que é a Igreja de Cristo: amada pelo seu Senhor, amorosa para com o seu Senhor, submissa à sua vontade mesmo quando isto contrarie a sua própria vontade.
O cristão sabe que sua família não lhe pertence, como bem lembra Jó [Jó 1.21: ...e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!]. O cristão sabe que nem ele mesmo se pertence, foi comprado por preço, é de Deus [I Co 6.20: Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo]. Assim o cristão tudo entrega nas mãos de Deus, e aguarda o resultado que ele haverá de dar.
UMA PALAVRA FINAL
O cristão que casou-se no Senhor deve buscar a glória de Deus através do seu casamento, lembrando que sua aliança é, antes de qualquer outra coisa, eterna e espiritual, ainda que tenha que ser vivenciada enquanto aguardamos a completitude de todas as coisas.
Aquele que, casado, converteu-se e tem como cônjuge um descrente deve viver para glorificar a Deus, testemunhando sempre que possível e com sabedoria das transformações espirituais e morais que o Senhor faz na vida dos seus.
Aquele que, casado, vê seu cônjuge resolver partir por intolerância para com a sua fé deve viver de tal maneira que Cristo seja glorificado, que o ímpio não tenha motivo para falar contra si nem contra seu Senhor – e confiar que Deus vai usar tudo e todos para sua própria glória.
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