Comumente parte-se da seguinte pergunta: qual
o dia em que a Igreja deve cultuar a Deus? E perde-se tanto esforço, tanta
energia nesta discussão que o principal acaba sendo esquecido, que é glorificar
a Deus (I Co 11.16: Contudo, se alguém quer ser contencioso, saiba que nós
não temos tal costume, nem as igrejas de Deus).
Qual deve ser a prioridade, então?
Cultuar ao Deus vivo em Espírito e em verdade (Jo 4.23-24:
Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em
espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores.
Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em
verdade) sem se deixar, novamente, escravizar pela questão do dia,
como aconteceu com os judeus (Mc
2.27: E acrescentou: O sábado foi estabelecido por causa do
homem, e não o homem por causa do sábado).
UMA BREVÍSSIMA HISTÓRIA DO CULTO
Creio que o primeiro tipo de culto era
composto apenas de adoração, expresso na admiração santa de Adão e Eva diante da
criação ainda sem a mancha do pecado. Creio que era isto o que acontecia quando
o Senhor vinha até eles na viração do dia (Gn 3.8: Quando ouviram
a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se
da presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do
jardim). Pensemos um pouco sobre isso:
Eles sabiam que era o Senhor quem vinha,
reconheceram os sinais de sua aproximação;
Eles não estranharam que o Senhor viesse
a eles o que indica que era algo comum e constante;
Eles se escondem porque sabiam que não
podiam mais fazer o que estavam habituados a fazer.
Assim, podemos afirmar que o primeiro
culto, o culto edênico, era representado pela totalidade do relacionamento
entre o homem e o criador. Tudo era culto, e o culto era a vida de nossos
primeiros pais.
Guardadas as devidas considerações, como,
por exemplo, o fato de que o homem é concebido em pecado, e já nasce marcado
com a iniquidade (Sl 51.5: Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe) podemos considerar que o
culto dos pequeninos, da boca dos quais o Senhor tira perfeito louvor, é o que
mais se pareceria com o culto edênico (Mt
21.16: Ouves o que estes estão
dizendo? Respondeu-lhes Jesus: Sim; nunca lestes: Da boca de pequeninos e
crianças de peito tiraste perfeito louvor?) e quem quiser se aproximar de Deus deve tornar-se como uma
criança, em confiança e obediência (Mc 10.15: Em verdade vos
digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma
entrará nele).
O CULTO FORA DO JARDIM
Diferente do culto edênico, do qual não
podemos fazer nada mais que inferências, temos algumas indicações mais diretas
sobre um culto sistemático fora do jardim, e uma das características
deste culto era a entrega de ofertas ao Senhor (Gn 3.3-5:
Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao
SENHOR. Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura
deste. Agradou-se o SENHOR de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e de
sua oferta não se agradou. Irou-se, pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-lhe o
semblante). As primeiras indicações que temos é
que:
Havia uma tentativa de se aproximar de Deus e o adorador
tinha consciência de uma certa indignidade, por isto se munia de ofertas,
buscando, de alguma maneira, obter o favor de Deus – isto é, desejando que Deus
lhes fosse propício, favorável;
Não havia, tanto em Caim quanto em Abel, o questionamento
sobre o que ofertar e cada um deles trouxe ao Senhor o fruto do seu trabalho,
daquilo que haviam conseguido com o suor do seu rosto, sua oferta tinha a marca
da condenação proclamada no Éden (Gn
3.19: No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à
terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás) – e ainda não havia prescrições rígidas, ainda não havia
a preocupação sobre se era ou não necessário o sangue de algum animal ser
derramado. Como Caim e Abel já eram adultos, é provável que eles tenham visto
seus pais fazerem ambos os tipos de ofertas;
Já em Caim e Abel a avaliação de Deus se dá em relação ao
caráter do adorador, e não da oferta que é entregue. Deus se agrada de um e
aceita sua oferta, e de outro não, e rejeita sua oferta.
Já neste primeiro momento há contendas
por causa do culto cuja aceitação ou rejeição, em última instância, depende
unicamente de Deus. Esta contenda se estendeu para fora do ambiente cúltico com
resultados desastrosos. Aparentemente a presença de Deus era de tal maneira
sentida pela primeira família que não havia a necessidade de invocação, e os
adoradores apenas apresentavam suas ofertas – mas isto mudou com a morte de
Abel.
A sensação de indignidade humana
afastou-os ainda mais de Deus (Is
59.2: Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o
vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não
ouça) e duas gerações depois eles sentiram a necessidade de invocar
o nome do Senhor (myihole)) – (Gn
4.26: A Sete nasceu-lhe também um filho, ao qual pôs o nome de
Enos; daí se começou a invocar o nome do SENHOR).
O CULTO, DA PEREGRINAÇÃO AO TEMPLO
Noé mantém a preocupação com o culto ao
sair da arca – até porque o Senhor já havia dado uma provisão cúltica ao
determinar que de animais puros – próprios para consumo e culto – ele levasse 7
casais (Gn 7.2: De todo animal limpo levarás contigo sete pares: o macho
e sua fêmea; mas dos animais imundos, um par: o macho e sua fêmea). A ideia de indignidade
permanece, mesmo quando se trata de manifestar gratidão – os animais continuam
sendo oferecidos como propiciação.
Este culto mais simples, familiar e
pessoal, dá lugar ao culto mais formal, mais elaborado e adequado para uma
nação com a ordem do Senhor de construir um tabernáculo (uma grande tenda)
através de Moisés (Ex 25.9: Segundo tudo o que eu te mostrar para modelo do
tabernáculo e para modelo de todos os seus móveis, assim mesmo o fareis). O tabernáculo era necessário para a adoração de um povo
peregrino, e o tabernáculo, um templo móvel era adequado para uma comunidade
ainda em processo de estabelecimento na terra.
O CULTO NACIONAL
Com a estabilidade social, e Israel tendo
se tornado uma nação com território definido o passo seguinte é a construção de
um templo – mas, apesar de toda a ritualização deste culto, a essência
permanece: o homem não tem dignidade própria para se aproximar do Senhor – ele
precisa de um propiciador, tipificado nos animais que oferece em sacrifício.
Entretanto, mesmo este culto
perfeitamente regulamentado por Deus pôde ser desvirtuado pelos homens, a ponto
do Senhor afirmar que muitos deles eram-lhe aborrecidos (Is 1.13: Não
continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as
Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso
suportar iniqüidade associada ao ajuntamento solene) e que a simples presença física, mas sem a verdadeira
adoração era-lhe repulsiva (Is 1.12: Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos
requereu o só pisardes os meus átrios?) chegando
mesmo a desejar a cessação de tais cultos (Ml 1.10: Tomara houvesse
entre vós quem feche as portas, para que não acendêsseis, debalde, o fogo do
meu altar. Eu não tenho prazer em vós, diz o SENHOR dos Exércitos, nem
aceitarei da vossa mão a oferta).
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