segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O CULTO E O SENHOR DO CULTO

Comumente parte-se da seguinte pergunta: qual o dia em que a Igreja deve cultuar a Deus? E perde-se tanto esforço, tanta energia nesta discussão que o principal acaba sendo esquecido, que é glorificar a Deus (I Co 11.16: Contudo, se alguém quer ser contencioso, saiba que nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus).
Qual deve ser a prioridade, então? Cultuar ao Deus vivo em Espírito e em verdade (Jo 4.23-24: Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade) sem se deixar, novamente, escravizar pela questão do dia, como aconteceu com os judeus (Mc 2.27: E acrescentou: O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado).

UMA BREVÍSSIMA HISTÓRIA DO CULTO

Creio que o primeiro tipo de culto era composto apenas de adoração, expresso na admiração santa de Adão e Eva diante da criação ainda sem a mancha do pecado. Creio que era isto o que acontecia quando o Senhor vinha até eles na viração do dia (Gn 3.8: Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim). Pensemos um pouco sobre isso:
Eles sabiam que era o Senhor quem vinha, reconheceram os sinais de sua aproximação;
Eles não estranharam que o Senhor viesse a eles o que indica que era algo comum e constante;
Eles se escondem porque sabiam que não podiam mais fazer o que estavam habituados a fazer.
Assim, podemos afirmar que o primeiro culto, o culto edênico, era representado pela totalidade do relacionamento entre o homem e o criador. Tudo era culto, e o culto era a vida de nossos primeiros pais.
Guardadas as devidas considerações, como, por exemplo, o fato de que o homem é concebido em pecado, e já nasce marcado com a iniquidade (Sl 51.5: Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe) podemos considerar que o culto dos pequeninos, da boca dos quais o Senhor tira perfeito louvor, é o que mais se pareceria com o culto edênico (Mt 21.16: Ouves o que estes estão dizendo? Respondeu-lhes Jesus: Sim; nunca lestes: Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor?) e quem quiser se aproximar de Deus deve tornar-se como uma criança, em confiança e obediência (Mc 10.15: Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele).

O CULTO FORA DO JARDIM

Diferente do culto edênico, do qual não podemos fazer nada mais que inferências, temos algumas indicações mais diretas sobre um culto sistemático fora do jardim, e uma das características deste culto era a entrega de ofertas ao Senhor (Gn 3.3-5: Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste. Agradou-se o SENHOR de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou. Irou-se, pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-lhe o semblante). As primeiras indicações que temos é que:
Havia uma tentativa de se aproximar de Deus e o adorador tinha consciência de uma certa indignidade, por isto se munia de ofertas, buscando, de alguma maneira, obter o favor de Deus – isto é, desejando que Deus lhes fosse propício, favorável;
Não havia, tanto em Caim quanto em Abel, o questionamento sobre o que ofertar e cada um deles trouxe ao Senhor o fruto do seu trabalho, daquilo que haviam conseguido com o suor do seu rosto, sua oferta tinha a marca da condenação proclamada no Éden (Gn 3.19: No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás) – e ainda não havia prescrições rígidas, ainda não havia a preocupação sobre se era ou não necessário o sangue de algum animal ser derramado. Como Caim e Abel já eram adultos, é provável que eles tenham visto seus pais fazerem ambos os tipos de ofertas;
Já em Caim e Abel a avaliação de Deus se dá em relação ao caráter do adorador, e não da oferta que é entregue. Deus se agrada de um e aceita sua oferta, e de outro não, e rejeita sua oferta.
Já neste primeiro momento há contendas por causa do culto cuja aceitação ou rejeição, em última instância, depende unicamente de Deus. Esta contenda se estendeu para fora do ambiente cúltico com resultados desastrosos. Aparentemente a presença de Deus era de tal maneira sentida pela primeira família que não havia a necessidade de invocação, e os adoradores apenas apresentavam suas ofertas – mas isto mudou com a morte de Abel.
A sensação de indignidade humana afastou-os ainda mais de Deus (Is 59.2: Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça) e duas gerações depois eles sentiram a necessidade de invocar o nome do Senhor (myihole)) – (Gn 4.26: A Sete nasceu-lhe também um filho, ao qual pôs o nome de Enos; daí se começou a invocar o nome do SENHOR).

O CULTO, DA PEREGRINAÇÃO AO TEMPLO

Noé mantém a preocupação com o culto ao sair da arca – até porque o Senhor já havia dado uma provisão cúltica ao determinar que de animais puros – próprios para consumo e culto – ele levasse 7 casais (Gn 7.2: De todo animal limpo levarás contigo sete pares: o macho e sua fêmea; mas dos animais imundos, um par: o macho e sua fêmea). A ideia de indignidade permanece, mesmo quando se trata de manifestar gratidão – os animais continuam sendo oferecidos como propiciação.
Este culto mais simples, familiar e pessoal, dá lugar ao culto mais formal, mais elaborado e adequado para uma nação com a ordem do Senhor de construir um tabernáculo (uma grande tenda) através de Moisés (Ex 25.9: Segundo tudo o que eu te mostrar para modelo do tabernáculo e para modelo de todos os seus móveis, assim mesmo o fareis). O tabernáculo era necessário para a adoração de um povo peregrino, e o tabernáculo, um templo móvel era adequado para uma comunidade ainda em processo de estabelecimento na terra.

O CULTO NACIONAL

Com a estabilidade social, e Israel tendo se tornado uma nação com território definido o passo seguinte é a construção de um templo – mas, apesar de toda a ritualização deste culto, a essência permanece: o homem não tem dignidade própria para se aproximar do Senhor – ele precisa de um propiciador, tipificado nos animais que oferece em sacrifício.
Entretanto, mesmo este culto perfeitamente regulamentado por Deus pôde ser desvirtuado pelos homens, a ponto do Senhor afirmar que muitos deles eram-lhe aborrecidos (Is 1.13: Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade associada ao ajuntamento solene) e que a simples presença física, mas sem a verdadeira adoração era-lhe repulsiva (Is 1.12: Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os meus átrios?) chegando mesmo a desejar a cessação de tais cultos (Ml 1.10: Tomara houvesse entre vós quem feche as portas, para que não acendêsseis, debalde, o fogo do meu altar. Eu não tenho prazer em vós, diz o SENHOR dos Exércitos, nem aceitarei da vossa mão a oferta).

O CULTO DE CRISTO

Por fim, em Cristo, o sacrifício final e perfeito (Hb 10.10: Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas) é finalmente oferecido, mas o Senhor ainda procura adoradores que o adorem em Espírito e em verdade (Jo 4.23-23: Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores) ou, usando as palavras de Davi, em absoluta integridade (Sl 103.1: Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o que há em mim bendiga ao seu santo nome).

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