Ao invés de se prenderem a práticas
culturais, os cristãos atentaram a princípios estabelecidos para o culto
levando em consideração a Palavra de Deus. Tendo a Palavra de Deus como bússola
ficava impossível errar por causa de preferências pessoais ou por quaisquer
outros aspectos culturais ou geográficos. A forma de expressar a alegria de
estar na presença do Senhor tem mudado sensivelmente tanto no decorrer do
processo revelacional como, também, no processo histórico e social. Não há
ninguém, são de consciência, que queira oferecer hoje o mesmo tipo de culto
oferecido pelos judeus primitivos, erigindo altares de pedra em determinados
lugares.
Não há nem mesmo quem queira oferecer
sacrifícios como os que eram oferecidos no templo, inclusive com a prática da
circuncisão (tenho por óbvio que é possível que haja alguns poucos com
intenções semelhantes, mas são de tal forma exceções que sequer merecem ser
levados em conta por sua inexpressividade).
Também não podemos fechar os olhos para o
fato de que há grupos religiosos que se apropriam do simbolismo (arca,
candelabro, templo, sacrifícios) hebraico e pré-cristão com o intuito de
impactar um cultura que ainda carrega muito de misticismo.
É facilmente observável que, ao lado
deste simbolismo pré-cristão é colocada também alguma forma de misticismo
romanista e africano. Este sincretismo, que deu origem, no romanismo, a
práticas cúlticas como a lavagem da escadaria de uma Igreja ou ao puxar de uma
corda, também está inserindo-se no meio pseudo-evangélico com enorme força.
Mas nossa preocupação não é com o
pseudo-evangelicalismo brasileiro, e por isso voltamos os nossos olhos para o
contexto evangélico, cristão e protestante. Tal definição é importante porque,
se não for feita, acabamos navegando num mar de ondas absolutamente amorfas.
Assim, se queremos oferecer um culto que seja realmente cristão, livre das
amarras culturais, sem sofrer as imposições dos modismos prevalecentes e ao
mesmo tempo contextualizado, precisamos apresentar alguns princípios, sem os
quais nenhum culto é realmente um culto agradável ao Senhor - aliás, se não é
culto, não é agradável ao Senhor.
É a bíblia quem nos revela o Deus a quem
devemos adorar. Ela também nos ensina como adorar com reverência, temor e
tremor. Ela deve ser a base das orações dos santos, fonte do ensino, do consolo
e até mesmo dos louvores. É triste constatar que, em muitos casos, nem a oração
nem o louvor estão isentos da contaminação de um emocionalismo herético, onde o
“eu sinto” é muito mais importante do que “Tu és Senhor”. Ainda mais lamentável
é ver que em apenas raros casos o que se convenciona chamar de mensagem é
realmente a pregação da mensagem de Deus ao coração dos homens. A beleza da
verdadeira adoração está na sua simplicidade e biblicidade, sem quaisquer acréscimos
introduzidos por homens muitas vezes irregenerados, mas que lideram grupos que
se chamam pelo nome do Senhor.
NÃO TER OUTRO OBJETO DE CULTO
Não terás outros deuses diante de mim.
Ex 20.3
É óbvio que esta afirmação é,
aparentemente, mais que óbvia e redundante, mas se ela não fosse importante não
estaria inserida nas Escrituras de maneira veemente, e escrita pelo dedo do
próprio Deus nas tabuas da lei. Este cuidado especial de Deus contra a
idolatria reveste-se de especial importância pelo fato de que o homem, desde
que se afastou de Deus, tem construído ídolos de acordo com seus próprios
interesses e inclinações.
Podemos afirmar que o primeiro ídolo do
coração do homem foi o próprio homem (Gn
3.5: Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos
abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal), e o primeiro grande templo edificado com o intento de
mostrar a glória do homem em desobediência a Deus (Gn 9.1: Abençoou
Deus a Noé e a seus filhos e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos e
enchei a terra) foi o zigurate de Babel (Gn 11.4: Disseram:
Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos
céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda
a terra).
A despeito da idolatria
institucionalizada, da estupidez de edificar ídolos perante os quais se curvar
e aos quais servir (Is 44.15: Tais árvores servem ao homem para queimar; com parte de
sua madeira se aquenta e coze o pão; e também faz um deus e se prostra diante
dele, esculpe uma imagem e se ajoelha diante dela)
este assunto não será tratado aqui. O foco deste texto é a idolatria que se
edifica no coração, muito mais sutil, e ainda mais perniciosa porque na maioria
das vezes não é percebida nem mesmo pelo idólatra. Ninguém deve pensar que
adora ao Deus verdadeiro enquanto cria sua própria imagem de Deus, uma imagem
que lhe é confortável e, ao mesmo tempo, é politicamente correta. Uma adoração
com este caráter não é adoração, é idolatria do próprio eu.
O problema dos hebreus é que tanto o povo
como os sacerdotes desprezaram a revelação de Deus (Os 4.6: O meu povo
está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote,
rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas
sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu
me esquecerei de teus filhos) e este desprezo acaba
em desorientação e, historicamente, culto a outros deuses.
Um culto que não leve em conta, de
maneira totalmente autoritativa, a verdade revelada nas Escrituras não é culto.
Um culto que se baseie em opiniões, mesmo que estas se refiram a Deus, também
não é culto em Espírito e em verdade, porque despreza o Espírito da verdade (I Jo 4.6:
Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da
parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o
espírito do erro).
Deus não deseja adoradores que o adorem
de acordo com estatutos humanos, como os samaritanos faziam andando nos
caminhos de Jeroboão (I Rs 12.27-30: Se este povo subir para fazer sacrifícios na Casa do
SENHOR, em Jerusalém, o coração dele se tornará a seu senhor, a Roboão, rei de
Judá; e me matarão e tornarão a ele, ao rei de Judá. Pelo que o rei, tendo
tomado conselhos, fez dois bezerros de ouro; e disse ao povo: Basta de subirdes
a Jerusalém; vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do
Egito! Pôs um em Betel e o outro, em Dã. E isso se tornou em pecado, pois que o
povo ia até Dã, cada um para adorar o bezerro).
Observe que apesar de uma possível boa
vontade na mulher samaritana o seu culto não era correto nem verdadeiro (Jo 4.22: Vós
adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação
vem dos judeus).
Jesus coloca lado a lado algo que muitos
dos movimentos espiritualistas que enfatizam as experiências desprezam: a
adoração e o conhecimento. Aliás, o culto prestado a Deus tem que ser,
essencialmente, racional (Rm 12.1: Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que
apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é
o vosso culto racional). Não confundamos “adoração
em espírito” com adoração “no Espírito”. Toda adoração verdadeira é no
Espírito, e é, ao mesmo tempo, uma entrega total do adorador, com seu espírito
respondendo ao chamado de Deus mediante o Espírito Santo.
Mas, cuidado, não devemos correr o risco
de apresentar uma adoração estéril: adoração sem sentimento não é adoração, é
hipocrisia (Mt 15:8 Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está
longe de mim), não tem valor algum e causa repúdio em
Deus (Ml 1.10: Tomara houvesse entre vós quem feche as portas, para que
não acendêsseis, debalde, o fogo do meu altar. Eu não tenho prazer em vós, diz
o SENHOR dos Exércitos, nem aceitarei da vossa mão a oferta).
A simples ideia de o povo de Deus admitir
a existência de outros deuses é abominável ao Senhor (Ex 23.13:
Em tudo o que vos tenho dito, andai apercebidos; do nome de outros deuses nem
vos lembreis, nem se ouça de vossa boca) pelo
simples fato de que só há um Deus verdadeiro (Jo 17.3: E a vida eterna
é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem
enviaste).
Não há culto verdadeiro se não for
prestado ao Deus único, tendo Cristo como mediador (I Tm 2.5: Porquanto
há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem) e o Espírito Santo como conselheiro e guia (Jo 16.13:
...quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade;
porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos
anunciará as coisas que hão de vir), como
ajudador quando a ignorância é apenas um aspecto de um processo de
amadurecimento que está em curso (Rm
8.26: Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa
fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede
por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis).
A verdadeira adoração é essencialmente
bíblica, dirigida por Deus, e centralizada em Deus. Sentimentos e emoções são
usados por Deus na adoração, devem ser dirigidos a ele, e não podem, em
hipótese alguma, tornarem-se os dirigentes do culto. Lembremos que o alvo da
nossa adoração é o Deus trino: deixar de honrar a qualquer das pessoas da
trindade por sua obra significa não dar a Deus a glória que lhe é devida.
NÃO TER OUTRO MEDIADOR SENÃO JESUS
Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e
os homens, Cristo Jesus, homem.
I Tm 2.5
O segundo aspecto do culto verdadeiro é
que, para ser verdadeiro, ele tem que ser prestado ao Senhor Deus, ao Pai,
mediante a mediação do Senhor Jesus Cristo, pois foi ele quem pagou o preço das
nossas iniquidades e levou-as sobre si (Is
53.11: Ele verá o fruto do penoso
trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu
conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si).
Foi a ele que um número de pecadores que
jamais serão perdidos foi dado pelo Pai (Jo
17.12: Quando eu estava com eles,
guardava-os no teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu,
exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura). É em nome dele que devemos buscar o Pai em súplice
oração (Jo 14.13: E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de
que o Pai seja glorificado no Filho) em
quaisquer situações (Mt 18.20: Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome,
ali estou no meio deles), inclusive cultos.
Um requisito fundamental para a adoração
ser verdadeira é que ela seja prestada por aqueles que nasceram de novo,
mediante o Espírito de Deus. Qualquer um que se pretenda adorador e não tenha
nascido de novo não é verdadeiro adorador, pois só pode apresentar um culto
carnal (Jo 3.5-6: Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não
nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido
da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito). E só pode nascer de novo e ser feito filho de Deus se
tiver Cristo como mediador (Jo 1.12: Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de
serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome). Assim, toda forma de culto fruto de um coração
irregenerado é vã, e somente um regenerado pode prestar a Deus um culto
aceitável (Sl 40.3: E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao
nosso Deus; muitos verão essas coisas, temerão e confiarão no SENHOR).
Lamentavelmente, embora nos arraiais
evangélicos ou que, ao menos, ainda se digam evangélicos, há muito que a
doutrina que apresenta ao pecador Jesus como único intercessor perante o Pai
foi sendo esquecida (At 4.12: E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu
não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que
sejamos salvos) e, lamentavelmente, ao lado de objetos
tem também colocado pessoas. Enquanto o romanismo tem seus santos e santas, e,
acima deles exalta Maria como se a mesma fosse intercessora em mesmo nível de
igualdade com Jesus, chamando-a co-redentora, entre muitos arrais que assumem o
rótulo de evangélicos vez por outra ouvimos falar de homens e mulheres com
“orações poderosas” e de “apóstolos” capazes de fazer mais do que o próprio
Jesus fez.
Este ensino parte da liderança, mas os
membros das Igrejas acreditam que determinados líderes possuem maior poder de
persuasão diante de Deus, e que suas necessidades serão mais facilmente
atendidas com a oração de um destes “ungidos” - muitos dos quais gostam desta
carícia em seus inflados egos, e não apenas não corrigem ideias perniciosas
como estas como as estimulam, e o resultado final é que a membresia acaba
abandonando a doutrina do sacerdócio universal dos santos (Ef 2.18: ...porque,
por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito).
Para a hierarquia religiosa
isto é um bom negócio, uma vez que a liderança torna-se indispensável, visto
como um grupo de iluminados que tem acesso mais fácil e mais direto a Deus, ao
mesmo tempo que torna a religiosidade da maioria apenas uma forma de idolatria
e paganismo de bíblia na mão e muitos chavões evangélicos nos lábios,
entretanto, com o coração muito longe de Deus (Is 29.13-14:
O Senhor disse: Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com
os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu temor
para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu,
continuarei a fazer obra maravilhosa no meio deste povo; sim, obra maravilhosa
e um portento; de maneira que a sabedoria dos seus sábios perecerá, e a
prudência dos seus prudentes se esconderá).
Porque é um erro esperar a mediação de
qualquer outra criatura, que não Jesus Cristo? Antes de mais nada, porque foi
Cristo quem levou sobre si as nossas enfermidades e iniquidades (Is 53.4:
Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou
sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido). A condição de pecadores de todos os demais homens (Sl 14.3: Todos se
extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem um
sequer) impede-lhes de agir como mediadores porque eles não tem
mérito algum, nem para si, quanto mais para outros. O único caminho para chegar
a Deus é Jesus Cristo (Jo 14.6: Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a
vida; ninguém vem ao Pai senão por mim).
A mediação de Cristo é eficaz:
I. Na salvação de pecadores, mortos em delitos e pecados e
vivificados pela obra de Cristo (At
4.12: E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu
não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que
sejamos salvos). Ademais, é impossível achar ao Senhor
sem o seu chamado (Mt 11.28: Vinde a mim, todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei), pois,
tateando, ninguém pode acha-lo (At
17.27: ...para buscarem a Deus se,
porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós).
II. Na aceitação da oração de pecadores (Jo 14.14:
Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei). É Cristo quem nos representa diante de Deus, e somos
vistos por Deus em Cristo Jesus. Isto torna absolutamente ofensiva uma oração
que se esquece do senhorio e da mediação de Cristo e se torna declarativa ou
exigente, buscando atender a ímpia cobiça de pecadores insensatos (Tg 4.3: ...pedis e
não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres). Jesus nos representa diante de Deus como advogado, não
como serviçal de homens (I Jo 2.1: Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não
pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo,
o Justo).
III. Na aceitação do culto prestado a Deus, pois um culto
reverente e santo a Deus só pode ser prestado por meio de Jesus Cristo. Como
imaginar que um culto vai ser aceitável diante de Deus se desprezar o caminho (Jo 14.6:
Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao
Pai senão por mim) e a pessoa o filho (Sl 2.12: Beijai o
Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco
se lhe inflamará a ira. Bem-aventurados todos os que nele se refugiam)?
NÃO SER RELAPSO EM OFERECER O QUE DEUS PEDIU
Os estatutos e os juízos, a lei e o mandamento que ele
vos escreveu, tereis cuidado de os observar todos os dias; não tereis outros
deuses.
II Rs 17.37
O Senhor teve o cuidado de dizer
exatamente o que queria. Há quem se negue a ler e tenha relativo desprezo pelos
livros do pentateuco [especialmente Números, Levítico e Deuteronômio) por causa
das minúcias com as quais Moisés se refere ao povo, aos sacerdotes e ao culto.
Porque teve que ser assim? Porque o
Senhor queria que ficasse absolutamente claro que queria como seu povo aqueles
a quem ele elegeu; queria como ministrantes do culto, cada um em sua função,
aqueles a quem ele separou; e queria que a adoração fosse do jeito que ele
queria receber, numa prova de obediência (Lv 22.31: Pelo que
guardareis os meus mandamentos e os cumprireis. Eu sou o SENHOR) e amor (Jo
14.15: Se me amais, guardareis os
meus mandamentos), que, lamentavelmente,
degenerou em ritualismo vazio (Is
1.13: Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim
abominação, e também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações;
não posso suportar iniqüidade associada ao ajuntamento solene).
Entretanto, este ritualismo vazio não é
fruto de algum descuido de Deus, mas das inclinações más do coração do homem (Mc 7.6: Respondeu-lhes:
Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este
povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim).
Malaquias descreve uma nação que cultuava
o culto, mas não a Deus. Jeremias descreve um povo que idolatrava o templo, mas
não cultuava a Deus. Jesus foi odiado por pessoas que amavam cultuar (Mt 6.5: E, quando
orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas
sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos
digo que eles já receberam a recompensa - veja
também os versos 2 e 16), mas o objeto de culto não era Deus, mas eles
próprios e sua religiosidade vazia e meramente humana.
A tendência da criação caída é
degenerar-se. Tudo quanto existe sofre desta tendência. O homem não foge à
regra, aliás, ele não apenas sofre o efeito do pecado como é responsável pelo
atual estado de coisas. Para ilustrar este estado do homem Paulo afirma que o
homem está morto em delitos e pecados (Ef
2.1: Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e
pecados), andando segundo as inclinações de seu pecaminoso coração
(Ef 2.3: ...entre
os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa
carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza,
filhos da ira, como também os demais).
É absolutamente necessário lembrar a
tendência humana para a rejeição de padrões. Quando o Senhor Jesus fala sobre a
atitude de crianças que, convidadas a brincar, rejeitavam todas as sugestões,
ele, claro, não está falando de folguedos infantis, mas da negativa dos judeus
de fazer o que o Senhor lhes ordenava. Rejeitaram a excentricidade de João
Batista, e suas vestes estranhas, sua morada no deserto (Lc 7.33: Pois veio
João Batista, não comendo pão, nem bebendo vinho, e dizeis: Tem demônio!). Consideravam Jesus excêntrico por viver de maneira
simples e não se afastar daqueles que precisavam de um salvador: os publicanos
e pecadores (Lc 7.34: Veio o Filho do Homem, comendo e bebendo, e dizeis: Eis
aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores!), rejeitados pelos religiosos, mas amados por Deus (Mc 2.17: Tendo
Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os
doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores).
Uma rápida observação na história
bíblica, e, posteriormente, na história da Igreja, ilustra como a tendência do
homem para rejeitar a verdade e colocar em lugar as loucuras do seu coração se
manifestam (Rm 1.25: ...pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira,
adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito
eternamente. Amém!). Mas, o que Deus quer
realmente?
O entendimento que temos é que Deus quer
que seu povo o louve através de hinos e cânticos espirituais (Cl 3.16: Habite,
ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente
em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos
espirituais, com gratidão, em vosso coração), que
persevere na doutrina e na comunhão na verdade (II Jo 1.9:
Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem
Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho), que ore em todo o tempo (I Ts 5.17:
Orai sem cessar) e que use dos seus bens
para abençoar e não como uma armadilha que o prenda no egoísmo (I Tm 6.10:
Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se
desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores).
Negligenciar estes deveres é
desconsiderar a cruz de Cristo, profanando o Espírito da graça (Hb 10.29: De
quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou
aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi
santificado, e ultrajou o Espírito da graça?).
Lamentavelmente a Igreja do Senhor está cada vez mais longe de ser aquilo que
deveria ser, e, assim, precisa retornar aos retos caminhos (Ap 2.5: Lembra-te,
pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se
não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas).
Problemas causados pelo secularismo, com
uma interação cada vez mais intensa com o mundo causam a triste percepção de
que a Igreja está se esquecendo que é de Deus - e que o mundo jaz no maligno (I Jo 5.19:
Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno). A Igreja já admite, lamentavelmente, sem quaisquer
escrúpulos, que precisa ser mais parecida com o mundo para atrair as pessoas.
Igrejas funcionando em pubs, onde, entre uma oração e outra, serve-se cerveja e
whisky, são vistas como normais, contemporâneas, modelo de relevância.
E são, realmente, relevantes - falam a
língua do mundo, entendem o mundo e são como o mundo. São amadas, respeitadas e
influentes - no mundo. Mas não podem afirmar que são Igrejas como Cristo disse
que seriam (Jo 15.19: Se vós fôsseis do
mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo
contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia).
São Igrejas dignas no mundo, mas não são
Igrejas dos quais o mundo não é digno (Hb
11.38 ... (homens dos quais o mundo
não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos
antros da terra). Igrejas que se parecem com
salões de festa, discotecas, pistas de esportes, terreiros de umbanda, show de
auditório e tantas outras semelhanças com o mundo podem ser consideradas
Igrejas de Cristo? Igrejas que estão oferecendo fogo estranho serão aceitas
pelo Senhor (Nm 26.61: ...Nadabe e Abiú morreram quando levaram fogo estranho
perante o SENHOR)?
O apóstolo Paulo afirma que qualquer
coisa que vá além do mandato do Senhor é inútil, é anátema (Gl 1.9: Assim,
como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além
daquele que recebestes, seja anátema) e podemos
ver que muitas inovações modernas não encontram qualquer respaldo nas Escrituras.
Devemos lembrar que o Senhor ordenou seus mandamentos, e os mesmos foram dados
para serem cumpridos à risca (Sl
119.4: Tu ordenaste os teus
mandamentos, para que os cumpramos à risca) e
guardados como o que há de mais especial a ser protegido (Pv 7.2: Guarda os
meus mandamentos e vive; e a minha lei, como a menina dos teus olhos) como uma prova de amor ao Senhor (Jo 14.21:
Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele
que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele), logo, quem desobedece dá provas em contrário.
NÃO OFERECER O QUE DEUS NÃO QUER
Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu
incensário, e puseram neles fogo, e sobre este, incenso, e trouxeram fogo
estranho perante a face do SENHOR, o que lhes não ordenara. Então, saiu fogo de
diante do SENHOR e os consumiu; e morreram perante o SENHOR. E falou Moisés a
Arão: Isto é o que o SENHOR disse: Mostrarei a minha santidade naqueles que se
cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo. Porém Arão se calou.
Lv 10.1-3
Não devemos oferecer a Deus o que ele não
pediu ou que ele proibiu. No final do capítulo 9 e início do capítulo 10 o
Senhor envia, duas vezes, fogo por causa de sacrifícios. O primeiro, feito por
Moisés e Arão e de acordo com as orientações que o Senhor tinha dado, consumiu
a oferta. O segundo fogo, por causa do fogo impuro usado por Nadabe e Abiú,
consumiu os ofertantes inaceitáveis. A ofensa de Nadabe e Abiú foi tão forte
que até mesmo o seu pai foi proibido de ficar de luto pela morte deles.
Quando um falso adorador é removido a
Igreja não deve sentir-se prejudicada, pelo contrário, o que o Senhor fez foi
tirar o mal do meio do povo (Dt
13.5: Esse profeta ou sonhador será morto, pois pregou rebeldia
contra o SENHOR, vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito e vos resgatou da
casa da servidão, para vos apartar do caminho que vos ordenou o SENHOR, vosso
Deus, para andardes nele. Assim, eliminarás o mal do meio de ti).
Podemos traçar um paralelo com o atual
estado social de nosso país: muita violência, muito roubo, muitos escândalos.
Isto se dá, e está crescendo, por causa da impunidade. Como resolver? Aplicando
a bíblia à nossa realidade (Dt 24.7: Se se achar alguém que, tendo roubado um dentre os seus
irmãos, dos filhos de Israel, o trata como escravo ou o vende, esse ladrão
morrerá. Assim, eliminarás o mal do meio de ti). É
por isso que a Escritura afirma que a nação que teme ao Senhor é feliz (Sl 33.12:
Feliz a nação cujo Deus é o SENHOR, e o povo que ele escolheu para sua herança).
A definição que aprendemos desde cedo,
nos primeiros passos na vida cristã, é que o pecado é toda transgressão da lei
de Deus. Esta definição é normativa: se o adorador quer ser aceito pelo Senhor
deve se limitar ao cumprimento de sua vontade - Deus pede obediência, não
criatividade. Transgredir significa tanto fazer menos do que o ordenado, ou
fazer mais do que o determinado (Dt
17.11: Segundo o mandado da lei
que te ensinarem e de acordo com o juízo que te disserem, farás; da sentença
que te anunciarem não te desviarás, nem para a direita nem para a esquerda).
Tendo como norte esta definição de
pecado, e aplicando-a ao culto, afirmamos que o culto que agrada ao Senhor é
aquele que oferece apenas o que o Senhor pediu. Nem mais, nem menos. Queremos
que o Senhor se agrade de nós, e aceite a nossa oferta, da mesma maneira que
agradou-se de Abel e recebeu a oferta que ele apresentou (Gn 4.4: Abel, por
sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste. Agradou-se o
SENHOR de Abel e de sua oferta). Israel não aprendeu
esta lição, e Malaquias denuncia o desprezo que o povo tinha pelo Senhor e pelo
culto, oferecendo o que Deus não deseja receber (compare Lv 22.21:
Quando alguém oferecer sacrifício pacífico ao SENHOR, quer em cumprimento de
voto ou como oferta voluntária, do gado ou do rebanho, o animal deve ser sem
defeito para ser aceitável; nele, não haverá defeito nenhum com Ml 1.8: Quando trazeis animal cego para o sacrificardes, não é
isso mal? E, quando trazeis o coxo ou o enfermo, não é isso mal? Ora,
apresenta-o ao teu governador; acaso, terá ele agrado em ti e te será
favorável? —diz o SENHOR dos Exércitos).
Para tornar o quadro ainda mais
lamentável a atitude de Israel era de desprezo e, pior, consideravam sua oferta
imunda, suas sobras e seus rejeitos, uma espécie de favor que Deus teria que
aceitar de qualquer jeito (Ml 1.13: E dizeis ainda: Que canseira! E me desprezais, diz
o SENHOR dos Exércitos; vós ofereceis o dilacerado, e o coxo, e o enfermo;
assim fazeis a oferta. Aceitaria eu isso da vossa mão? — diz o SENHOR). A resposta de Deus é incisiva: considera que quem assim
procede não só não é aceito como é, à semelhança de Caim, amaldiçoado (Ml 1.14: Pois
maldito seja o enganador, que, tendo um animal sadio no seu rebanho, promete e
oferece ao SENHOR um defeituoso; porque eu sou grande Rei, diz o SENHOR dos
Exércitos, o meu nome é terrível entre as nações).
Quando os filhos de Arão ofereceram seu
incenso sobre fogo estranho perante o Senhor estavam sendo criativos -
hereticamente criativos. Tudo o que fugir ao estabelecido nas Escrituras não
passa de heresia criativa - mas, ainda assim, heresia. Nesta categoria podemos
colocar as águas bentas televisivas pseudo-evangélicas, as rosas ungidas, os
lenços suados, o sal grosso (que não é) do mar morto, o óleo (que também não é)
de Israel e tantas outras invenções que tem surgido que já não temos sequer
condições de acompanhar tal a criatividade do homem e seus assessores de
marketing.
Esta criatividade precisa ser exercitada
cada vez mais porque o coração do homem não se satisfaz com elas, quer sempre
mais (Pv 30.15: A sanguessuga tem duas filhas, a saber: Dá, Dá. Há três
coisas que nunca se fartam, sim, quatro que não dizem: Basta!). Sem receberem a Palavra que é verdadeiro alimento
estarão sempre famintos, nunca amadurecerão (Hb 5.12: Pois, com
efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes,
novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os
princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como
necessitados de leite e não de alimento sólido).
O que tão inventivos pseudo-adoradores
não percebem é que estão simplesmente caindo num abismo, e, de vaga em vaga,
acabarão despedaçados (Sl 42.7: Um abismo chama outro abismo, ao fragor das tuas
catadupas; todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim). O que oferecer, então, ao Senhor? Já mencionamos que o
culto deve constar da palavra, oração, cânticos e consagração, tanto de pessoas
quanto de ofertas.
Certamente a área onde a criatividade tem
sido mais exercitada na Igreja é na liturgia, especialmente nos cânticos. Deus
se agrada de cânticos espirituais, e ordena seu louvor através de salmos, hinos
e cânticos espirituais (Cl 3.16: Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo;
instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus,
com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração). Observe que Paulo une a Palavra (o estudo bíblico
constante) com a instrução (a pregação bíblica) e o louvor (salmos, cânticos e
hinos) e a consagração (fruto de gratidão no coração do adorador). A primazia
é, sem dúvida, da Palavra, e todas as demais atividades cúlticas são dela
decorrentes.
Lamentavelmente, não é o que temos visto
e ouvido. A liturgia do culto afasta-se cada vez mais da simplicidade do
evangelho, tornada, cada vez mais, uma apresentação teatralizada para agradar
olhos e ouvidos humanos, as letras dos cânticos expressam uma egolatria
chegando ao absurdo de propor que Deus assenta-se para chorar enquanto espera a
resposta do homem, tornado senhor do culto. Este humanismo e egocentrismo é uma
afronta a Deus, uma usurpação inaceitável (Is 42.8: Eu sou o
SENHOR, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a
minha honra, às imagens de escultura).
Os insensatos judeus eram mais sensatos
que os modernos adoradores, com suas extravagâncias, porque ao menos se
escondiam atrás de ídolos, enquanto que o homem moderno se entroniza, ou se
coloca acima do trono, fazendo e oferecendo tronos para o Senhor reinar - desde
que com a sua aquiescência e de acordo com a sua vontade. O Senhor é, na visão
desta moderna adoração, despido de sua soberania e majestade, e o homem,
revestido de suserania, é quem determina o modo de adoração.
Em decorrência disto, percebemos tantas
formas diferentes de adoração que somos obrigados a perguntar: tudo isto, todos
estes modelos cada vez mais aberrantes, são oferecidos ao mesmo Deus? Ao Deus
que não muda? Ao Deus que revelou sua vontade?
Tem proliferado,
dia-a-dia, o número de shows evangélicos. Pelo menos tais apresentações não são
chamadas de culto, porque culto a Deus não são. Mas, querendo ou não, tornam-se
culto a personalidades, que se exaltam e são exaltados numa fogueira de vaidades
que só não é maior do que os cachês que cobram por suas performances. Sua
adoração não é mais uma resposta ao chamado do Senhor, mas uma obrigação
contratual, com valores cada vez mais vultosos.
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