O que faz uma reunião de crentes ser um
verdadeiro culto é a celebração do senhorio do Senhor Deus sem qualquer atitude
de desobediência, de irreverência ou de relaxamento.
O Senhor chama de ajuntamento de iníquos
a formalidade sem a correta espiritualidade (Is 1.13: Não continueis
a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as Festas da
Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar
iniqüidade associada ao ajuntamento solene), e de nada
adianta honrar ao Senhor com os lábios apenas, porque ele conhece o mais íntimo
de cada um que se apresenta em sua casa (Mc
7.6: Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías a respeito de vós,
hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu
coração está longe de mim).
O culto que o Senhor deseja é o de um
povo que o celebra porque reconhece pertencer-lhe (Sl 79.13:
Quanto a nós, teu povo e ovelhas do teu pasto, para sempre te daremos graças;
de geração em geração proclamaremos os teus louvores) e que só existe por causa da sua imensa misericórdia (Lm 3.22: As
misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas
misericórdias não têm fim).
TUDO QUE É CHAMADO DE CULTO É CULTO?
É facilmente perceptível do que muito do
que é chamado culto não é, nem de longe, o que o Senhor espera de seu rebanho (Is 8.12 Não
chameis conjuração a tudo quanto este povo chama conjuração; não temais o que
ele teme, nem tomeis isso por temível), simplesmente porque não é feito da maneira que ele
explicita em sua palavra (I Co 14.40:
Tudo, porém, seja feito com decência e ordem), onde a reverência
diante do Deus santo (Sl 96.9: Adorai o SENHOR na beleza da sua santidade; tremei diante
dele, todas as terras) é substituída pela
irreverência dos sentimentos mutáveis e corrompidos humanos (Ml 1.6-7 O
filho honra o pai, e o servo, ao seu senhor. Se eu sou pai, onde está a minha
honra? E, se eu sou senhor, onde está o respeito para comigo? — diz o SENHOR
dos Exércitos a vós outros, ó sacerdotes que desprezais o meu nome. Vós dizeis:
Em que desprezamos nós o teu nome? Ofereceis sobre o meu altar pão imundo e
ainda perguntais: Em que te havemos profanado? Nisto, que pensais: A mesa do
SENHOR é desprezível).
O TEMOR DE DEUS
Sem temor, sem reverência e sem a mais
absoluta confiança na misericórdia de Deus não há culto verdadeiro. Acreditar
que sabemos mais do que o Senhor, oferecendo-lhe culto à nossa maneira, é
simplesmente correr o mesmo risco que Caim correu: ser rejeitado pelo Senhor,
e, ainda que oferecendo ricas ofertas e o melhor de nós mesmos, ainda assim
será uma oferenda desprezível diante da qual o Senhor esconderá o rosto (Is 1.15: Pelo que,
quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando multiplicais as
vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue).
Não é nem mesmo a sinceridade que torna
um culto verdadeiro, pois sabemos bem que pessoas podem estar sinceramente
enganadas, e, pior, enganarem-se a si mesmos com toda a sinceridade possível.
Não custa lembrar as palavras de um político corrupto, organizador de um
esquema fraudulento que saiu-se com a seguinte afirmação: “Estou cada vez mais
convencido da minha inocência” - a despeito de todos os crimes que cometera.
Quando o crente adora o Senhor conhece o
seu coração. Deus não se limita ao exterior (I Sm 16.7: Porém o SENHOR
disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque
o rejeitei; porque o SENHOR não vê como vê o homem. O homem vê o exterior,
porém o SENHOR, o coração) e, embora ações possam
parecer emoções, Deus conhece as volições dos corações dos homens e sabe se
suas declarações de amor e devoção são sinceras e verdadeiras. É por isso que
precisamos da intercessão do Espírito e da ação da Palavra da verdade em nossos
corações.
IRREVERÊNCIA
A irreverência não é substituto adequado
para a alegria na presença do Senhor, antes, pelo contrário, é uma ofensa,
havendo mesmo quem se atreva a chamar ao Todo-poderoso de deusinho, paizinho ou
diminutivos frutos de uma pretensa intimidade, todavia, sem temor (Sl 25.14:
A intimidade do SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a
sua aliança). Oferecer ao Senhor o que ele não pediu
é querer ser senhor do culto – para o qual Deus deu normas claras e,
certamente, a atual irreverência não se enquadraria no que a palavra chama de
culto ordeiro (conversas, desfiles, passeios) e decente (vestes, atitudes).
Como pode alguém dizer que está prestando
adoração ao Senhor, buscando agradá-lo, mas, ao mesmo tempo, acrescenta
desobediência às suas ações? Davi nos diz algo importante sobre o culto público
ao questionar-se sobre o que dar ao Senhor pelos benefícios já recebidos. Ele
queria demonstrar gratidão porque o Senhor o tomou de detrás da malhada (I Cr 17.7:
Agora, pois, assim dirás ao meu servo Davi: Assim diz o SENHOR dos Exércitos:
Tomei-te da malhada e de detrás das ovelhas, para que fosses príncipe sobre o
meu povo de Israel) e o constituiu por cabeça
do povo de Deus.
É este Davi, que fora desprezado na
possibilidade de reinar pelo próprio pai, a ponto de Jessé precisar ser
inquirido por Samuel se, por acaso, não teria mais algum filho (I Sm 16.11:
Perguntou Samuel a Jessé: Acabaram-se os teus filhos? Ele respondeu: Ainda
falta o mais moço, que está apascentando as ovelhas. Disse, pois, Samuel a
Jessé: Manda chamá-lo, pois não nos assentaremos à mesa sem que ele venha), que vencera leões e ursos, que derrotara o gigante
Golias de Gate, que fora louvado pelas mulheres de Israel como aquele que
vencia os inimigos aos "dez milhares", que agora pergunta: que darei
ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?
Sua resposta é muito clara e direta:
I. Reconhecerei que sou pecador, que sou incapaz de fazer
algo em benefício de minha própria alma e por isso tomarei o cálice da salvação
que o Senhor me oferece;
II. Reconhecerei que meu bem mais precioso é a presença do
Senhor, e por isso invocarei seu nome (Sl
84.10: Pois um dia nos teus átrios
vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas
tendas da perversidade);
III. Cumprirei os meus votos feitos ao Senhor, farei
fielmente o que ele me ordenar, e isto com um testemunho público de fidelidade.
O QUE ENTREGAR COMO OFERTA
Davi, entendendo que
nada tinha para oferecer ao Senhor que não lhe tivesse sido dado pelo próprio
Senhor (I Cr 29.14: Porque quem sou eu, e
quem é o meu povo para que pudéssemos dar voluntariamente estas coisas? Porque
tudo vem de ti, e das tuas mãos to damos) questiona-se sobre como agradar ao Deus que
lhe deu tudo, transformando-o de um humilde pastor na casa de Jessé em rei de
Israel. Sua pergunta (Sl 116.12: Que darei ao SENHOR por
todos os seus benefícios para comigo?) deveria ser feita por cada cristão sincero, e
a resposta deveria, também, ser semelhante.
Antes de analisarmos alguns versos do Sl
116, precisamos apresentar uma informação sobre a estrutura da literatura
hebraica que muitas vezes adotava o paralelismo em sua poesia, repetindo ideias
intercaladas, como é o caso neste salmo. Davi responde a si mesmo na figura que
vimos anteriormente.
No intervalo entre os paralelos Davi
lembra quem ele é: um servo, apenas um servo. É preciso lembrar que, na
estrutura social e hierárquica hebraica ele era o rei, mas, diante do Senhor,
ele não passava de um servo, filho de uma serva, alguém que foi liberto e salvo
da morte. Como não ser grato a Deus? Como não ser-lhe obediente. Alguém que não
conhece a natureza humana pode dizer: "Mas Davi pecou". É verdade,
apenas Jesus não cometeu pecados (Hb
4.15: Porque não temos sumo sacerdote que não possa
compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas,
à nossa semelhança, mas sem pecado).
Davi era chamado de "o homem segundo
o coração de Deus" não porque não pecasse (I Rs 8.46:
Quando pecarem contra ti (pois não há homem que não peque), e tu te indignares
contra eles, e os entregares às mãos do inimigo, a fim de que os leve cativos à
terra inimiga, longe ou perto esteja), mas
porque ouvia a Deus mesmo quando houvesse cometido pecado, e, arrependido,
buscava lhe a presença e o perdão (Sl
32.3-6: Enquanto calei os meus
pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia.
Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em
sequidão de estio. Confessei-te o meu pecado e a minha iniqüidade não mais
ocultei. Disse: confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a
iniqüidade do meu pecado. Sendo assim, todo homem piedoso te fará súplicas em
tempo de poder encontrar-te. Com efeito, quando transbordarem muitas águas, não
o atingirão).
O QUE DETERMINA A NATUREZA DO CULTO VERDADEIRO
Nem o lugar nem os rituais fazem um culto
verdadeiro e aceitável, mas um coração contrito e obediente (Pv 21.3: Exercitar
justiça e juízo é mais aceitável ao SENHOR do que sacrifício). Por causa de um culto desobediente Saul, rei de Israel,
foi rejeitado pelo Senhor, e o trono foi dado a outro (I Sm 15.22:
Porém Samuel disse: Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e
sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor
do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros).
É obediência e fé que torna o pecador
aceitável (Sl 2.12: Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no
caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira. Bem-aventurados todos
os que nele se refugiam) diante do Senhor. Ele sabe
que se aproxima do Deus santo com base na santidade do mediador (I Tm 2.5:
Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem), Jesus Cristo (Hb
7.26: Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este,
santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que
os céus), e não em qualquer mérito próprio (Dn 9.18: Inclina, ó
Deus meu, os ouvidos e ouve; abre os olhos e olha para a nossa desolação e para
a cidade que é chamada pelo teu nome, porque não lançamos as nossas súplicas
perante a tua face fiados em nossas justiças, mas em tuas muitas misericórdias).
CONHECIMENTO DE DEUS GERA CONTRIÇÃO
É conhecendo a Deus que o homem se
conhece, e é conhecendo a si mesmo que o homem percebe sua incapacidade de
aproximar-se do santo confiando em qualquer pretensa justiça pessoal (Is 64.6: Mas todos
nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia;
todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos
arrebatam).
Um exemplo de adoração equivocada fruto
de falta de conhecimento é o da mulher samaritana. Os samaritanos tinham um
culto em que misturavam elementos hebraicos limitados ao pentateuco, acrescidos
de adoração a imagens e muito do misticismo persa.
UM CULTO SEM CONHECIMENTO OU ARREPENDIMENTO
O apego religioso dos samaritanos se
tornava ainda maior por ser um fator de identificação nacional frente aos seus
arqui-inimigos judeus (I Rs
12:27-28: Se este povo subir para
fazer sacrifícios na Casa do SENHOR, em Jerusalém, o coração dele se tornará a
seu senhor, a Roboão, rei de Judá; e me matarão e tornarão a ele, ao rei de
Judá. Pelo que o rei, tendo tomado conselhos, fez dois bezerros de ouro; e
disse ao povo: Basta de subirdes a Jerusalém; vês aqui teus deuses, ó Israel,
que te fizeram subir da terra do Egito).
Assim como o culto serviu de pretexto
para a morte de Abel, também o culto foi usado para afastar irmãos, judeus do
norte e do sul. Com a firmeza característica Jesus diz à mulher samaritana que
ela e seus ancestrais estavam errados, assim como os atenienses, cultuavam um
Deus desconhecido (At 17.23: ...porque, passando e observando os objetos de vosso culto,
encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois
esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio).
A adoração nacional de Samaria era
mística e idólatra, e Jesus condena tal culto ensinando à samaritana que o
culto que o Senhor requer é em Espírito e em verdade (Jo 4.23: Mas vem a
hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e
em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores). Após ser esclarecida, ela conheceu que ali estava o
Messias – e passa não somente a crer nele como a anuncia-lo em Samaria.
Outro exemplo de que a percepção da
natureza do Criador é fundamental para definir a transformação no caráter do
adorador é o de Isaías: ele viu a glória do Cristo (Jo 12.41:
Isto disse Isaías porque viu a glória dele e falou a seu respeito) e sentiu-se totalmente indigno até mesmo de permanecer
existindo (Is 6.5: Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem
de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos
viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!).
Esta atitude de reconhecimento de pecado,
chamada de contrição, tem estado ausente na vida e no culto de muitas Igrejas.
Está sobrando "visões" no mercado da fé (visões que remetem muito
mais a métodos, estratégias, marketing ou promoção de pretensos profetas,
sobram coisas para se ver e tocar), e permanece faltando a única visão que
realmente interessa, que à de que o nosso Deus é santo (Ap 4.8: E os
quatro seres viventes, tendo cada um deles, respectivamente, seis asas, estão
cheios de olhos, ao redor e por dentro; não têm descanso, nem de dia nem de
noite, proclamando: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso,
aquele que era, que é e que há de vir) e deve ser
adorado com integridade por aqueles que ele escolheu e salvou (Mt 22.37:
Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda
a tua alma e de todo o teu entendimento).
O PROBLEMA DO DISTANCIAMENTO
Como expressar esta adoração verdadeira,
estando há milhares de anos de distância, em uma cultura totalmente diferente
daquela em que os primeiros crentes experimentaram? A primeira pista é: os
primeiros cristãos viveram sua fé integralmente, e cultuaram a Deus em
ambientes tão antagônicos quanto a Palestina, a Samaria, a Grécia e Roma.
Aliás, o mandato missionário englobava todos estes locais (Mc 16.15:
E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura), numa sequência geográfica e ao mesmo tempo cultural.
Primeiro Jerusalém e
a Judéia, onde estavam os primeiros convertidos e onde os apóstolos estariam em
casa, depois a Samaria que, apesar de toda a dificuldade do antagonismo entre
as nações, já mencionado anteriormente, já conhecia a fama de Jesus. E,
finalmente, o evangelho para os confins da terra, isto é, as demais nações
pagãs (At 1.8: ...mas recebereis poder,
ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em
Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra), mandato que Paulo
evidencia ter sido o alvo a ser alcançado em seus dias (Rm 10.18: Mas pergunto:
Porventura, não ouviram? Sim, por certo: Por toda a terra se fez ouvir a sua
voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo).
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