quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A AUSÊNCIA DA BÍBLIA TORNOU NECESSÁRIA A REFORMA

A AUSÊNCIA DA BÍBLIA TORNOU NECESSÁRIA A REFORMA
Há uma intrínseca ligação entre o livro da Lei do SENHOR e a pureza religiosa – o povo sempre se afasta de Deus quando não conhece a sua Palavra – e isto é verdade até mesmo para os cristãos modernos, que acabam se afastando de Deus para seguirem gurus e falsos mestres, vendilhões de CDs e DVDs televisivos, como se fossem Sílvios Santos gospel. É por isso que, neste post, em vez de falar da ligação da Bíblia com a Reforma Protestante, vamos falar do motivo que levou à necessidade da Reforma.
No tempo de Jesus havia apenas os 39 livros que conhecemos por Antigo Testamento – a eles tanto Jesus quanto os apóstolos se referem como a Palavra de Deus.
A eles se juntariam os 27 escritos pelos apóstolos e seus colaboradores, o que conhecemos como Novo Testamento (como sabemos, Jesus não deixou nada escrito).
Marcion
Marcion (ou Marcião) foi o primeiro grande problema que a Igreja teve que enfrentar a respeito da autoridade e conservação das Escrituras Sagradas. Até o surgimento de Marcion (c. 150 d.C.,) a Igreja ainda não tinha se preocupado com a fixação de um cânon, mas o desafio dos hereges acabou estimulando esta preocupação.
Marcion foi um herege proeminente do segundo século Marcion nasceu em Sinope, Ponto, e seu pai, o bispo, excomungou-o por imoralidade, e parece que enriqueceu com o comércio marítimo. Chegou em Roma em 140, tornando-se discípulo do herege Cerdo, mas criou o seu próprio sistema religioso, superando o seu mestre, disseminando as suas idéias. Seus seguidores tornaram-se a maior ameaça à fé cristã, causando debates vigorosos. Sua teoria é baseada no sistema dualista: o Deus do Antigo Testamento não é o Deus do Novo Testamento. O Deus do Antigo Testamento é a causa do mundo e do mal, legalista, violento e vingativo, estabelecendo uma religião baseada em leis e demandas. O Deus de Jesus Cristo é perdoador, desconhecido a não ser que seja revelado em Jesus Cristo – como puro amor e clemência, sendo que Jesus Cristo veio para destruir a religião da lei. Defendia que Paulo foi o único que entendeu a diferença entre as duas religiões – sendo que recebeu a revelação diretamente de Deus, estabelecendo sua religião na antítese lei/graça. Seu cânon era constituído de apenas 10 epístolas paulinas – rejeitou ou não teve acesso às pastorais (I e II Tm, Tt) – e apenas uma parte de Lucas (amigo e companheiro de Paulo); rejeitou completamente o Antigo Testamento. Marcion rejeitou a humanidade de Jesus, defendendo uma teoria docética – apenas aparência, tendo aparecido já como adulto no 15o ano de Tibério.
Para responder ao perigo marcionita, os cristãos buscaram estabelecer quais os livros que realmente haviam sido inspirados por Deus. Irineu é o primeiro a citar Mt, Mc, Lc e Jo como os únicos evangelhos verdadeiros. Produziram também regras de fé, estabeleceram o que chamaram de “tradição e sucessão apostólica”. O marcionismo praticamente extinguiu-se no século II.
Também o gnosticismo, com seus sete pilares: 1 uma divindade transcendente puramente espiritual; 2 dualismo entre espírito e matéria, havendo a necessidade de uma ligação entre estes, feita pelo pleroma; 3 uma divisão no pleroma resultou na criação das coisas materiais por meio de um demiurgo, o Deus do Antigo Testamento; 4 uma faísca divina possibilitou a existência humana; 5 a libertação deste estado de fraqueza só se dá por meio de um despertamento (autoconsciência); 6 Jesus Cristo é o iluminador e revelador, e não o salvador vicário; 7 a salvação pelo conhecimento – principalmente auto-conhecimento. Para defender suas teses eles ameaçaram a constituição do Novo Testamento, modificando passagens dos Evangelhos, Apocalipse, Hebreus e Atos, aceitando outros evangelhos (Tomé). Foi preciso estabelecer um critério para a aceitação de quais livros eram ou não canônicos. E os critérios foram: a) Autoria ou endosso apostólico; b) Recepção uniforme pela Igreja; c) Harmonia perfeita com o restante das Escrituras.
O primeiro a estabelecer o cânon exatamente como o conhecemos foi Atanásio (367 d.C.,), que também recomendava a leitura do Didaché e do Pastor de Hermas. Já rejeitava os apócrifos. Além deles também defenderam esta coleção: Prisciliano (Espanha); Rufino (Aquiléia – França), Agostinho (Cartago), Inocêncio I (Roma).
O abandono da “letra” – imagens e figuras (símbolos)
Por volta do ano 200 surgiram ofertas em memória dos mártires – estas ofertas conduziram às ofertas pelos defuntos, e a intercessão a favor dos mortos.
Em 257 as vestimentas sacerdotais eram ‘consagradas’, e as Igrejas ‘adornadas’.
Em 260 surge o sinal da cruz como uma proteção, e não mais como ‘identificação’.
Em 300 surgimento dos altares e das relíquias de mártires – origem pagã nos “penates” greco-romanos.
Em 350 surge a missa – semelhante às ofertas gregas e egípcias.
Em 370 começa a invocação aos santos – não oficial.
Em 380 ocorreu a primeira tentativa de colocar quadros nas Igrejas – rejeitada ou ao menos repreendida.
Em 470 ocorreu a primeira invocação oficial aos santos e a Maria, a “mãe de Deus”.
Em 492 o vinho é negado aos leigos.
Em 500 as imagens são consideradas “monumentos históricos”.
Em 538 as velas são acesas em honra a Maria. Origem: culto aos antepassados tanto dos egípcios quanto greco-romanos.
Em 610 há a dedicação de templos aos santos.
Em 700 há a absolvição confessional – penalidade e não arrependimento.
Em 754 (Concílio de Constantinopla) ordena-se, sob pena de anátema, a invocação de Maria e outros santos.
Em 769 exige-se a veneração das imagens – ainda não no culto público.
Em 787 as imagens são finalmente admitidas no culto público.
Em 852-855 foram introduzidos a água benta e a festa da assunção de Maria.
Em 869 a Escritura deixou de ser a única regra de fé e prática da Igreja – a tradição precisava ser apoiada pela Escritura, mas não foi o que se verificou na prática.
Em 965 batizou-se o primeiro sino – S. João de Latrão em Roma.
Em 1001 a eucaristia definitivamente cede lugar à missa.
Em 1022 a pena por pecado cometido passou a ser comutada em dinheiro.
Em 1059 surge a transubstanciação.
Em 1151 surgiu o Direito Canônico – o terceiro braço da autoridade eclesiástica, ao lado da Escritura e da tradição.
Em 1160 Alexandre III decretou a canonização dos santos.
Em 1217 inicia-se a adoração da hóstia.
Em 1129 houve a proibição da leitura da Bíblia pelos leigos, por decisão do Concílio de Tolosa: "Também proibimos aos leigos que possuam os livros do Antigo Testamento e Novo Testamento; aqueles em quem foram mais intensos os sentimentos de devoção podem fazer uso de um saltério ou do breviário dos ofícios divinos. Proibimos terminantemente aos leigos que tenham em seu poder os mencionados livros na língua vulgar”.
Em 1238 o patriarca Gregório excomunga o bispo e a Igreja de Roma por simonia, usura e outros crimes.
Em 1478 estabelece-se a inquisição.
Em 1546 a tradição foi elevada acima da Escritura.
Estas datas servem para demonstrar apenas o paulatino distanciamento da Igreja do ensino das Escrituras Sagradas, portanto, voltemos a elas.
A primeira “tradução”
A primeira tradução completa da Bíblia foi a que ficou conhecida como “Vulgata’, por ter sido traduzida do grego para o latim vulgar, que era usado pelo povo.
A pré-reforma e a Bíblia (Wicliff e Huss)
John Wicliff, inglês, entrou em luta com o papado em 1375, e já era famoso como o homem mais culto da universidade de Oxford. Escreveu muitos tratados na língua do povo e iniciou a tradução da Bíblia, da vulgata para o inglês. Seus seguidores, os Lollardos, espalharam a Bíblia entre o povo, mesmo sob dura perseguição. Apesar de classificado como ‘herege’ morreu em paz. Seus ossos foram queimados em praça pública 30 anos depois, durante o julgamento de Huss.
Ian Huss, nascido na Boêmia, era muito culto e influente na universidade de Praga. Declarava que a Lei de Cristo (o Novo Testamento) era o guia suficiente da Igreja – não aceitava a tradição ou o direito canônico. Morreu queimado em Constança em 1415. Seus seguidores, os irmãos boêmios, foram importantes na disseminação da Reforma no século seguinte. Dois Concílios tentaram reformar a Igreja Romana, mas sem sucesso (Concílio Geral de Constança e de Basiléia) porque o edifício religioso romano estava por demais impregnado da podridão do paganismo, simonia (compra e venda de benefícios religiosos) e politicagem para poder ser reformado.
A grande descoberta de Lutero: sola fide, sola gratia, sola (tota) scriptura
Martinho Lutero nasceu em Eisleben, Saxônia, em 1483. Ingressou na universidade de Erfurt aos 18 anos para estudar direito, e 4 anos depois entra para um mosteiro, mas não encontrou ali a paz e segurança procuradas através de jejuns, vigílias, flagelações e confissões. Sua caminhada rumo à Reforma começou com o próprio superior de seu mosteiro, Staupitz, que lhe ensinou que Deus era misericordioso.
Em 1511 foi a Roma, de onde voltou escandalizado.
Em 1512 lia a Epístola aos Romanos quando encontrou estas palavras: “Mas o justo viverá (da) pela fé”, e entendeu que a salvação lhe pertencia simplesmente pela confiança, pela fé (sola fide) em Deus através de Jesus Cristo e não por algo que ele próprio realizasse (sola gratia). Continuou buscando orientação, lendo Agostinho, Anselmo, Salmos e Epístolas de Paulo. Já não lecionava apenas repetindo os padres e os doutores da Igreja, mas expunha as Escrituras (sola scriptura). Tudo corria muito bem por 4 anos, até que apareceu Tetzel, enviado pelo arcebispo da Mogúncia, vendendo indulgências (perdão pleno) para arrecadar dinheiro com o objetivo de construir a Igreja de São Pedro em Roma (a principal Igreja da famosa “Piaza de San Pietro”). Lutero, para combater seu ensino, afixa na porta do castelo de Wittenberg as suas famosas 95 teses, convidando quem quer que deseje para debater o assunto. O caminho está pronto para a Reforma.

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